sexta-feira, 25 de junho de 2010

Foi ali



Foi ali. Ali ao fundo desta avenida, há já quase 20 anos.
Quando comecei a trabalhar e a ganhar a vida, abri conta num banco. Não escolhi este ou aquele em particular, mas cingi-me ao que trabalhava com a minha empresa e que me garantia que o salário era pago na data aprazada. E mantive-me com ele uns quanto de anos de seguida.
Acontece, porém, que eu fazia parte daquele grande número de clientes que usam o banco apenas para movimentar o ordenado. Nem conta poupança, nem aplicações, nada que lhes desse muito lucro mas, seguramente, lhes dava trabalho. Vai daí que, ao fim de algum tempo, clientes como eu passaram a ter tratamento de segunda classe, notório em quase todos os balcões da instituição bancária.
E eu não gostei. Nem um pouco. A ponto de fechar a conta que ali tinha e migrar para um outro, aberto havia pouco tempo e que, por sinal, até ficava mais perto do trabalho.
Ao fim de algum tempo, talvez uns dois anos, começaram a surgir uns rumores. Primeiro de boca em boca, depois nos media e nas organizações de direitos laborais. Como não gosto de rumores não constatados, e até dizia respeito ao banco com que trabalhava, fui saber em primeira mão. Não inquiri directamente, mas fui observar a situação em variados balcões. Era verdade!
E não gostei. Nem um pingo mesmo. Gostei mesmo tão pouco, ainda que situação não me afectasse directamente, que decidi fechar a conta e abrir outra noutro banco.
Desta feita, fizeram questão que eu preenchesse um impresso com os motivos do meu desagrado e de de lá sair. E eu não me fiz rogado!
Tentando que a minha caligrafia fosse bem legível para qualquer olho que naquele papel pousasse, deixei bem claro:
“Não faço negócio com entidades que se recusam a aceitar mulheres para os seus quadros, com o pretexto de serem mais absentistas”!

Os anos passaram e, pelo que li hoje em jornais, a instituição bancária celebrou agora o 25º aniversário. A casa mãe mantém-se e com o mesmo nome, ainda que o atendimento ao público tenha mudado de designação e de aspecto. Soube eu, entretanto, que a política de admissão de funcionários mudou. E atrás dos balcões já se vêem caras femininas.
E, tal como o banco continua ali ao fundo, na esquina desta avenida, eu continuo a não ter vontade alguma de dar dinheiro a ganhar a um banqueiro que teve uma ideia e decisão deste calibre.

Texto e imagem: by me

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