quarta-feira, 30 de setembro de 2009

If I were taller - Prazeres


Por vezes é assim:
Para chegarmos aos prazeres, temos que passar por sítios bem estreitos, onde só cabe um.
Mas também é verdade que o melhor da viajem não é o chegar, é o ir!


Texto e imagem: by me

Políticos


Não costumo circular a pé pelo centro da cidade de noite. Os meus trajectos habituais e os meus horários de trabalho a isso me levam.
Mas desta vez lá calhou descer a Av. Da Liberdade depois das 8 e tal da noite, após ter estado mais de duas horas a ouvir políticos a perorar. E, pior que ter estado a ouvi-los foi saber que estava, eu, ali de livre vontade.Tinha que respirar ar puro, que disso dependia a minha sanidade.
Pois ao cruzar a rua do Salitre oiço algo que me faz arrebitar a orelha, pelo insólito de aquilo ouvir bem no meio da cidade: um grilo.
Cantava ele de vontade, apenas se interrompendo quando alguém lhe escurecia o lugar onde se encontrava.
Lá fui eu, de lanterna em punho (Que diabo, se a tenho é para ser usada, mesmo que seja para encontrar grilos cantantes em Lisboa!), e dei com ele num buraco velho, na junção de pedras igualmente velhas, na fachada de um prédio que faz de embaixada não sei a quem. Sempre vigiada por um cívico.
Pois fiquei a ver o bicho a cantar, que até que era grande, até que o guarda, em acabando o telefonema com que matava o tempo, se aproximou sorridente e me informou que era companhia antiga. Há já três dias que ali estava, sobrepondo o seu cantar ao roncar dos carros que passavam.
E fui descendo a avenida, sentido que o grilo tinha sido a minha tábua de salvação, pois havia-me animado depois daquele debate que quase roçou a imundice, em que participei.
Já nos Restauradores, oiço outro. Estava mais longe, mas os motores não o abafavam. E passando à placa central, junto à estátua, fui-o procurando com olhos e ouvidos.
Mas não foram estes mas aqueles que deram com isto. A pouca distancia do grilo, que acabei por não encontrar, esta barata, com uns bons quatro a cinco centímetros de comprido. Simpática quanto baste para me ter deixado fazer esta fotografia e as duas que a antecederam, que o autofocos da câmara de bolso não estava a gostar da pouca luz.
Faz sentido. Faz mesmo todo o sentido com o que tinha acabado de viver!
No centro da capital, por entre os cantos dos grilos, as baratas aguardam pelo escurecer para fazer das suas. Mas, em plena campanha eleitoral, até se deixam fotografar.


Texto e imagem: by me

Conteúdos e metodologias


Dava logo para se perceber que se tratava de uma aula de fotografia. Alguns jovens, em volta de uma câmara num tripé, e um homem a falar com eles, como que a dar indicações.
Bem que reconheci o ambiente. E que me deu alguma saudade dos tempos em que eu mesmo estava a fazer aquilo. Mas o que me cativou mesmo foi a cabeça do tripé em uso: uma Manfrotto. Este modelo em particular é mais barato da gama, mas a sua forma de funcionamento é estranha de usar para quem não conhece. Mas, em criando hábito com ela, fica na alma e nas mãos. Para já não falar na sua versatilidade e rapidez de utilização. Falo assim porque, ainda que de um modelo mais robusto, possua uma, faz já muito tempo.
Acabei por não resistir e fui meter conversa, dando os parabéns pela escolha. A reacção foi simpática mas surpreendente.
Soube dizer-me que não havia sido uma escolha directa, mas tão só ditada pelas limitações orçamentais da escola. Problema que conheço igualmente bem.
Mas também me disse que estava ali porque o arquitecto responsável pelas obras de recuperação da escola ali ao lado havia entregue o laboratório em bruto, sem bancadas ou iluminação adequada, impossível de usar, portanto. Pelo que tinham vindo para a rua fazer uns exercícios práticos de profundidade de campo.
Como é?! As aulas começaram há uma semana e os exercícios iniciais são sobre profundidade de campo? E onde fica a estética? A composição? A perspectiva? A luz, nossa matéria-prima?
Ser-me-ia impossível, de todo, começar por aí, venham de onde vierem os conteúdos programáticos e a sua calendarização! Não sei quais as motivações criadas nos alunos nem como será possível começar pela profundidade de campo e conseguir que eles, os alunos, fiquem satisfeitos com os primeiros resultados obtidos.
Porque, e do meu ponto de vista, é vital que o aluno se vá sentindo satisfeito com o trabalho que vai produzindo, devendo quem vai organizando o trabalho ir aumentando gradualmente o grau de dificuldade e complexidade dos exercícios propostos.
Mas gostei de ver uma cabeça de tripé Manfrotto em uso!

Texto: by me
Imagem: in manfrotto.com

Um retrato- Àgueda


terça-feira, 29 de setembro de 2009

Photographia


Photographia é a luz que nos encanta!


By me

Simpatias no asfalto


Não quero nem saber o que o cavalheiro desta história entende por antipatia!
Foi ali para os lados da Estrela: No final de uma rua, num semáforo, um automóvel ocupava por inteiro a passagem de peões. Por sorte, ou por azar, alguém estava sentado no lugar de motorista.
Carregando o meu tripé no ombro e carrinho com o resto do equipamento atrás de mim, aguardei pelo verde de peões, atravessei até quase embater na janela, aberta, do referido carro, e pedi:
“Não se importa de tirar o carro para que eu passe?”
Olhando para mim com ar de espanto, respondeu com um “com certeza” e, ligando o motor, recuou uns bons dois metros, deixando mais de metade da passadeira livre.
Ainda mal eu tinha pisado o passeio, retomou ele a posição anterior, desligando o motor. Confesso que fiquei bem chateado! Ter estado onde estava era mau, mas o ter tirado a pedido teria sido o suficiente para relevar a falta. Agora retomar o lugar?!
Encostei o meu carrinho à parede e, com um óbvio encolher de ombros, tirei a câmara do cinto para mais um registo. E mal tive tempo para fazer o que aqui se vê, estavam, motorista e acompanhante a sair do carro, como que empurrados por molas, ele com o telemóvel em riste e dizendo-me:
“Já que fotografa ao meu carro, faço-lhe uma fotografia a si!”
A partir daí, e perante a minha anuência e indiferença ao que ele fazia, houve uma pequena “troca de galhardetes”, sempre dentro da urbanidade, mas raiando o insulto. O clímax da conversa foi atingido quando o automobilista afirmou, peremptoriamente:
“Eu até fui simpático e tirei o carro para que passasse!”
Entende o condutor da viatura em causa que é “ser simpático” deixar de cometer uma ilegalidade e garantir a segurança dos peões nas passadeiras.
Não quero nem saber o que este cavalheiro entende por um acto antipático!


Texto e imagem: by me

Um retrato - Ana


On photography - Feliz aniversário


Como tenho dito já muitas vezes, fazer retratos é das actividades fotográficas mais difíceis que conheço.
Estava a terminar a montagem da minha câmara quando surge este casal. Muito bem disposto, sempre a rir e falando em castelhano, quiseram fazer uma fotografia. E quando depois falámos mais um pouco, ele identificou-se como sendo António Skarmeta, o que me deixou a sentir bem pequenino, muito pequenino. O autor de “O carteiro de Pablo Neruda”.
Mas foram mais longe e disseram-me que era a véspera de aniversário da senhora. Em tom de brincadeira, propus-lhes fazer uma outra, como que prenda de anos. Desta feita com a Pentax. E quiseram que fosse feita dançando.
Fiz cinco imagens, que lhas mostrei, escolhi uma e imprimi. A de cima. Porque a alegria deles e o relacionamento feliz que transbordava não podia deixar de estar representado e o seu olhar imperava.
Pois a senhora preferiria que tivesse impresso a segunda, que os pés estavam bem mais em posição de baile.
Fazer passar a mensagem e, ao mesmo tempo, satisfazer o cliente, é a tarefa ingrata de quem fotografa pessoas.
Feliz aniversário!


Texto e imagem: by me

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Um depoimento


Fui convidado para participar num debate com forças políticas sobre o estacionamento nos passeios e passadeiras em Lisboa.
Da resposta que dei a esse convite aqui fica parte, a significativa:


Para já, acho que a questão não é para políticos. Estes, na Assembleia da República ou no Município, fazem as normas, as regras e as leis que regem a sociedade. E, sobre o tema, já existe lei QB: não é permitido estacionar nos passeios (impedindo a passagem dos peões), tal como não é permitido estacionar nas passadeiras de peões, com sinalização luminosa ou não. Mais, a lei define, sem azo a dúvidas, quais as sanções aos infractores.
Pôr os políticos a fazerem mais leis nacionais ou posturas municipais sobre a matéria é apenas complicar aquilo que já existe e que é simples.
O problema põe-se, antes de mais, no civismo (ou na sua falta) por parte de inúmeros cidadãos automobilistas. Mas como civismo e educação não se compram no super ou na net, restará a solução de fazer implementar as leis existentes, ou seja, que os agentes da lei actuem.
E aqui reside uma segunda parte do problema: a ineficácia dos agentes policiais ou fiscalizadores. Começando pela situação caricata de, por vezes, serem eles parte do problema e não da solução, com os inúmeros casos de carros da PSP, da Polícia Municipal ou da EMEL mal parqueados e impedidores do trânsito de peões. Por outro lado, a “vista grossa” que as patrulhas policiais, apeadas ou motorizadas, fazem aos casos em causa. Indo mais longe ainda, acontece não raramente que, ao serem as patrulhas incentivadas a fazer cumprir a lei, apresentarem desculpas esfarrapadas para não multarem os infractores. Não é recorrente, mas acontece. A isto acrescente-se a morosidade da justiça, as amnistias e as caducidades dos prazos e os cidadãos infractores sentem-se impunes ao bloquearem os direitos básicos de circulação e segurança dos peões.
Uma das soluções encontradas por partes dos autarcas, e bem visível nestes últimos tempos (ou não estivéssemos em campanha eleitoral) é a aplicação nos passeios de pilaretes, metálicos ou de cimento, impedindo o estacionamento irregular. E isto não é solução! Por um lado, apenas leva a que os automobilistas, que não respeitam os peões, procurem outros lugares, não bloqueados, para estacionarem a seu bel prazer. Por outro lado, e enquanto peão, é uma solução que me incomoda de sobre maneira, já que acaba por se assemelhar a uma prisão, o trajecto que percorro em segurança no passeio. Questionável será também, o critério usado na colocação desses pilaretes, já que são vistos em zonas nobres ou junto a edifícios em comercialização e, raramente, em zonas ditas populares ou em que não existam interesses imobiliários. Para já não falar na agressão que são, nas partes baixas, a quem circula com menos atenção ou sem capacidade de ver. Os pilaretes são, em última análise, algemas que se aplicam a todos os cidadãos, para que alguns não prevariquem. Não faz sentido e agride-me! Agride-nos a todos na liberdade que deveríamos ter em nos deslocarmos no espaço público.

Mas tudo isto são questões a jusante. Que o núcleo do problema está a montante! A existência em demasiadas de viaturas automóveis onde não há espaço para tantas. No caso particular da cidade de Lisboa, da migração diária de e para os subúrbios.
São dezenas de milhar de automóveis que todos os dias entram na cidade, trazendo pessoas para as suas lides e labutas. E trazem-nos, para além do já mais que falado comodismo, porque as soluções alternativas são reduzidas, se algumas.
A rede de transportes colectivos entre os subúrbios e a capital não é eficaz!
Desde logo porque os transportes colectivos rodoviários partilham as mesmas vias que as viaturas particulares, circulando com a lentidão que lhes é conhecida nas horas de ponta. Não são uma alternativa válida para quem possui automóvel e é egoísta.
Em seguida porque os nós de transportes colectivos entre subúrbios e a capital não possuem ligações de transportes locais eficazes. As mais das vezes terminam algures entre as 19 e as 21 horas, não sendo úteis a muitos dos que trabalham na capital. Os horários destas carreiras são, muitas vezes, afinados por horários escolares ou do comércio local, esquecendo os passageiros que vêm da capital.
Estes confrontam-se com trajectos a pé, por vezes de quilómetros ou, em alternativa, o uso do carro pessoal que poderiam ter deixado nas imediações.
E digo poderiam porque, em regra, não podem. Porque não existem, próximo desses nós de transportes colectivos, lugares em quantidade e gratuitos para que possam ser usados. Quando existem lugares em quantidade, são pagos e nem sempre a preços convidativos.
E o cidadão suburbano, em fazendo contas ao parqueamento no subúrbio, mais o ou os transportes colectivos que tem que usar, acrescido do incómodo, acaba por preferir o conforto da sua viatura, o respectivo consumo energético e ignorar por completo as consequências de estacionar numa cidade sobrelotada. E nem sempre respeitando os seus concidadãos.
E, ao falar em subúrbios e capital, falo também em bairros periféricos e núcleo antigo dos municípios circundantes a Lisboa (ou Porto, ou Coimbra, ou…)
A solução a todo este problema passaria por decisões integradas entre municípios, em opções em que a qualidade de vida dos cidadãos fosse sobrevalorizada quando comparada com custos de infra-estruturas, como parqueamentos (horizontais ou verticais), e condições de concessões de alvarás de exploração de transportes colectivos.
Acontece, porém, que cada município se preocupa com as soluções dos seus munícipes, deixando aos vizinhos as soluções que a eles dizem respeito. E curioso é viajar radialmente ao centro de Lisboa, e constatar onde acaba um município e começa outro. As fronteiras parecem “terra de ninguém”, onde os bairros de lata e a ausência de infra-estruturas, rodovias e parqueamentos incluídos, são bem notórios.
Por tudo isto quando há uns anos aconteceu um referendo sobre regionalização eu votei a favor. Para que houvesse uma entidade, algures entre o governo central e o municipal, que solucionasse este tipo de situações. Inconsequente a minha opinião, então e agora.
E vemos as grandes obras locais a aumentarem, no caso de Lisboa com as IC’s, as CRIL’s, as CREL’s e os túneis, a aumentarem de largura e a facilitarem que os cidadãos, mais preocupados com o seu umbigo que com o colectivo, usem o seu próprio automóvel para chegarem aos centros urbanos, capital ou outros. Sobrelotando os locais de estacionamento existentes e recorrendo a expedientes, como é apanágio do Português médio.
Resumindo:
Mais aplicação e fiscalização das leis existentes, mais meios alternativos eficazes e coordenados de transportes colectivos urbanos e suburbanos e teremos mais espaço seguro para que os peões possam andar em segurança.



Texto e imagem: by me

12.30h.


Num domingo ensolarado e quente de Setembro.

Um olhar


Um olhar


domingo, 27 de setembro de 2009

Cosméticas


Já tinha estado em frente da minha câmara de madeira na véspera.
Na altura notei que estava a arranjar o cabelo, percebi o que queria mas, apesar de ter visto que não o tinha conseguido, entendi que não devia fazer nenhuma observação nesse sentido. Afinal, não posso nem devo fazer grandes alterações ao que os meus “clientes” querem mostrar em frente da objectiva.
Mas voltou no dia seguinte. Como se nada fosse e sempre tão divertida e bem disposta como aqui se vê, meteu conversa e pediu para fazer uma outra fotografia. E tornou a arranjar o cabelo.
Não pude deixar de me condoer com os seus esforços, e lá fui dar-lhe uma indicaçãozinha sobre até que ponto tinha que transformar o “rabo-de-cavalo” em “totó”, para que se visse.
E ela gostou tanto do retrato de corpo inteiro, que lhe fiz este outro, que levarei comigo impresso para lho dar.
Quem sabe se Tema Monteiro não será sua parente?


Texto e imagem: by me

Dúvida


E a dúvida que tenho é simples:
Foi deitado fora?
Foi esquecido?
Foi arrancado no decurso de uma saborosa e recíproca refrega?
As coisas e as dúvidas que encontramos, ao olharmos para o chão num bairro suburbano!


Texto e imagem: by me

Um retrato - Cap. Soares


sábado, 26 de setembro de 2009

Just another lost shoe


Coca-cola for ever


Há já um bom pedaço que estava a ouvir conversas no patamar da escada, e bem mais alto que o habitual, mas não lhes liguei importância, que não era nada comigo. Mas quando saí de casa, levando comigo o que arrastaria por hora e meia até à Estrela, deparo-me com três senhoras junto a uma porta, fechada.
Todas minhas vizinhas, duas tentavam, em vão, não mostrar nervosismo, enquanto a terceira chorava em coro com a filha de ano e meio, que ficara fechada em casa. E, para piorar a situação, a chave de reserva que uma das vizinhas possuía, não funcionava, que estava a da casa dentro da fechadura, por dentro.
Faz mais de vinte anos que não se deparava algo assim, nem que tinha resolvido um caso destes.
Da outra vez fora até interessante, que a vizinha em causa ficara na escada, usando, exclusivamente, pantufas, cueca e um negligée particularmente curto. Não me recordo se usaria relógio, nem sei se, na altura, o soube.
Nessa ocasião quis ser prestável e fazer como nos filmes, usando de um cartão para abrir o trinco, o que consegui para enorme espanto dela mas, principalmente, meu, que nunca pensei ser tão fácil.
Desta vez quis fazer o mesmo, mas a fechadura era de melhor qualidade e, pela certa, não fora fabricada em Hollywood. Não resultou!
Tentando manter a calma necessária entre as minhas vizinhas, voltei a casa em busca de algo mais comprido e com igual flexibilidade para o arrombamento, já que o deitar a porta abaixo não apenas seria por demais violento como a criança, de dentro, não gostaria.
Acabei por recorrer a uma garrafa de litro e meio de Coca-Cola que, cortada com o canivete, me forneceu um pedaço de plástico com tamanho suficiente.
No regresso, um outro meu vizinho tentava o que eu havia tentado, com um cartão, e com resultados iguais: coisa nenhuma! Só que eu, com o pedaço de garrafa também não, pelo que a solução encontrada foi telefonar para a polícia, que logo se prontificou em nos enviar um piquete dos bombeiros. Mas com o aviso que isso custaria uns bons 60 euros, mais coisa, menos coisa. Cobram caros, os bombeiros voluntários!
Mas, enquanto vinham e não vinham, tentei de novo e, para alegria de todos os presentes, de um lado e do outro da porta, lá esta se abriu. As lágrimas passaram de desespero a de alívio, mãe e filha misturaram-nas e acho que vi os olhos do meu vizinho a brilharem à luz da escada.
Lá ligámos de novo a cancelar a chamada e voltei a casa em busca dos meus pertences para seguir viagem.
Mas uma decisão tomei: Tal como tenho sempre em casa molas de roupa de madeira, clips, fita isoladora, e no cinto um canivete suisso e uma lanterna, também passará a fazer parte permanente da casa uma ou duas garrafas de litro e meio de Coca-Cola.
Não apenas mata a sede e fornece cafeína, como desentope canos, desenferruja pregos, limpa moedas, organiza os intestinos e, fiquei a saber, ajuda a arrombar portas.

Na imagem, outra utilização da antiga “água suja do imperialismo”: uma lata, trabalhada com o tal canivete, para pendurar no tripé e servir de receptáculo ás pontas de cigarro com que vou matando o tempo em redor da minha “Oldfashion”.
Seja como for, “Coca-Cola for ever”!


Texto e imagem: by me

Memórias literárias


Quando eu era pequeno lia tudo o que havia para ler lá em casa. Enfim, creio que não de seguida o dicionário, tal como saltei o Livro de Pantagruel e a Lista Telefónica.
Quanto ao resto, foi tudo, de romances, a policiais, de ficção científica a ensaios, de história às artes, teatro, fotografia, cinema, livros técnicos… Tudo o que tivesse letras era para ser lido, fosse ou não para a minha juvenil idade.
E alternava entre os que encontrava em casa e os que encontrava em casa dos meus companheiros de brincadeiras, que levava para casa com a simpática autorização dos seus pais e a secreta esperança que este meu gosto passasse também para os seus rebentos. Nuns casos assim foi, noutros nem por isso.
Pois entre os livros que li, e que passou pelas mãos e olhos de todos nós foi o “John, o chauffeur russo”, de Max du Veuzit. Ao que recordo, um romance meio trágico, passado em paris na primeira metade do séc. passado, envolvendo donzelas endinheiradas, príncipes russo, fugidos da Rússia vermelha, e pobres, palácios, parques frios de neve e, naturalmente, limusinas.
Foi um livro que todos lemos com gosto, por entre o Júlio Verne, a Enid Blyton, o Eça, o Herculano, o Dantas e outros
Há umas semanas entrei numa dessas livrarias itinerantes a que pomposamente chamam de “feira de livro”. Numa bancada, logo à entrada, vejo-o. Reconheci-o de imediato pela capa, ainda hoje igual à que foi, e de seguida pelo nome e autor. E não resisti a comprá-lo, que mesmo que não fosse tão barato quanto foi, haveria de o reler. Ainda aguarda oportunidade, numa das pilhas dos que aguardam por tal, aqui em casa.
Mas tive o desencanto de, no dia em que o comprei, o ter levado para o trabalho e de nenhum dos que com quem falei o reconhecer. Fosse qual fosse o estrato social ou cultural, ou mesmo a idade. Completamente desconhecido hoje, fiquei na dúvida se a sua popularidade de então não teria sido restrita lá à minha rua e aos meus compinchas.
Um destes dias entrei noutro espaço comercial equivalente, que pululam nas estações de caminho de ferro da capital. E comprei um outro que, não conhecendo, me pareceu apetitoso: “O retrato” de Nokolai Gógol. Sendo que a compra foi a caminho do Jardim da Estrela, lá usei da minha confortável cadeira de lona para o começar a ler. E a minha previsão confirmou-se, que é, de facto, uma delicia, em forma e conteúdo. Mais ainda a quem se dedica à reprodução visual do mundo que o cerca.
E, estava eu entretido, quando passa uma senhora. Da minha idade, mais coisa, menos coisa, olha para capa do que eu tinha na mão e diz qualquer coisa como isto: “Bem escolhido, que isso é muito bom!”
Não perdi a oportunidade e entabulei conversa. Que o tema me interessava e sempre podia ela ser uma potencial cliente do meu “Oldfashion”. Não foi!
Foi, antes sim, uma surpresa quando, a propósito de livros, lhe falei do tal outro romance
Toda a sua cara se iluminou, e soube citar, de cor, o nome do autor e o aspecto da capa, perguntando-me se ainda seria a mesma azul de então. Era! E afastou-se para um banco de jardim onde, de um saco que trazia, foi almoçando, ao mesmo tempo que ia lendo o que também trazia no saco.
E eu, que não fiz aquela fotografia, fiquei menos solitário nas minhas recordações literárias. E com a promessa feita, de mim para mim, que o “John, o chauffeur Russo” será o próximo livro a consumir nos bancos da CP, de e para o trabalho.
A fotografia? Bem, não são os olhos relatados em “O retrato” de Gógol. Até porque nada têm de demoníacos. Mas não me lembrei de melhor forma de ilustrar esta estória recente.


Texto e imagem: by me

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Códigos


Palavras? Etiquetas? Rótulos? Para quê?
Não se está mesmo a ver qual é qual?
Haverá alguém que confunda a mostarda com o ketchup?
A menos que haja algum daltónico na sala, claro!


Texto e imagem: by me

Questões de saúde


Este é um cartaz publicitário. Está ele no meu bairro, como alguns outros cartazes e como em muitos outros bairros.
Podemos ver nele, agora, as vantagens em comprar o carro que nele se vê, as maravilhas da tecnologia aplicada e a excelência do preço.
Mas já lá pudemos ver, e saber, que detergente está na moda, que seguro é recomendável, que comida congelada é mais saborosa e, se fosse antigo quanto bastasse, nele poderíamos ter visto o sabonete das estrelas.
Mas também o que pudemos ver, antes deste e no mesmo lugar, foi um cartaz do ministério da saúde, avisando de quais os cuidados básicos a ter para evitar a propagação da gripe A, que parece estar aí em força para nos contaminar a todos.
Um cartaz que se recomenda e que se recomenda ver com frequência, até que a mensagem fique gravada no subconsciente.
Acredito, no entanto, que o ministério da saúde entenda que o nosso subconsciente esteja bem à superfície e permeável a todas as suas campanhas. Que apenas esteve ali durante duas semanas, se tanto. Ou, em alternativa, será bem mais importante para o país, a compra de um carro novo, sejam quais foram as condições de crédito, que garantir a saúde dos cidadãos.
Que os políticos estão aí, ainda no poder ou a candidatarem-se a ele, para nos tratar da saúde. É já no dia 27 que ficamos a saber!


Texto e imagem: by me

The dark lamp


Um caso de abuso de imagem


A história teve inicio em meados de Maio deste ano.
Fui abordado, no jardim da Estrela, por uma jovem de microfone em punho e um cavalheiro de câmara de vídeo profissional ao ombro. Disseram trabalhar para um nova estação de televisão on-line, a TVLisboa, e estavam ali para recolher opiniões sobre os jardins de Lisboa. E se eu quereria colaborar.
Claro que quis, que apoiar novas iniciativas é sempre bom, e lá disse para a câmara e micro o que tinha a dizer.
Imagine-se a minha surpresa quando, dias mais tarde, em casa e em frente do computador, constato que o dito canal mais não é que uma página web com vídeos a suportar a candidatura de Pedro Santana Lopes à câmara municipal de Lisboa.
Para já, senti-me enganado ao não ter sido informado qual o fim último daquela reportagem. E, se o tivesse sabido, não teria colaborado com o depoimento, que não sou munícipe em Lisboa, não colaboro com nenhum partido político e não simpatizo de forma alguma com o candidato em causa.
Sendo que não sou pessoa de ficar calado quando me sinto incomodado, agi!
Depois de dormir sobre o assunto e de ter pedido a opinião a gente que considero no campo dos media, enviei e-mails para diversos organismos oficiais, relatando os factos, pedindo que actuassem e que disso me dessem conhecimento.
Alguns desses organismos responderam-me com textos pró-forma, acusando a recepção mas informando-me que o caso não seria com eles mas antes com outra entidade. Este jogo do empurra acabou por ter graça, porque dois deles atribuíram-se reciprocamente a autoridade sobre a matéria. Portugal e Portugueses!
Pois acabo de receber, quatro meses passados, um e-mail emitido da Comissão Nacional de Protecção de Dados.
Nele sou informado que a Comissão Nacional de Eleições lhes tinha enviado o caso, que nele tinham sido encontradas infracções à lei vigente, contra-ordenacionais ou criminais, pelo que enviavam o caso para o Ministério Púbico, o DIAP para ser mais exacto.
Fui consultar as leis referidas e fiquei a saber que, de acordo com as interpretações possíveis, os autores das infracções eram passíveis de pagar multa (ainda expressa em escudos) ou pena de prisão até um ano.
Tenho que admitir que não acredito que no decurso deste ano o caso se resolva. Afinal, isto é Portugal e a justiça por cá é o que é. Mais para mais, envolvendo políticos de grande visibilidade e sendo eu um cidadão sem mais peso que o ser.
Também acredito que a responsabilidade dos factos não pertença ao candidato em causa. A conversa e os factos não se passaram com ele nem sequer na proximidade e nem sequer acredito que ele estivesse a par dos métodos usados.
Mas espero que o caso vá mesmo a tribunal e que dele haja uma condenação, multa que seja. Para que os media e os cidadãos possam aprender, se forem capazes, que a posse de uma câmara e de uma carteira profissional não lhes dá direito a tudo. Tal como o facto de se ser político ou de se trabalhar para um também não.
E, à medida que o caso se for desenrolando e do seu desfecho, darei toda a publicidade que puder, aqui bem como recorrendo aos media que tal quiserem usar.
Com a dúvida de, à velocidade que a justiça acontece por cá, se será antes ainda das eleições autárquicas ou legislativas de 2013.


Texto: by me
Imagem: edit by me

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Dorme?


Dorme? Está doente? Nada disso!
Apenas que, apesar de chamarem aos pombos os “ratos com asas”, eles não são parvos de todo. Bem pelo contrário!
E nesta tarde de Setembro, anormalmente quente, em que nem uma aragem corre, os pombos recorreram à relva fresca, acabada de regar, para se refrescarem.
Conheço muito boa gente, eu próprio incluído, que passa pelo calor e não se refresca assim.


Texto e imagem: by me

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Um retrato - Joana


E a questão que se pode por é:
Será que Joana, a dona desta cara bonita, é uma das praxadas ou é umas das veteranas, naquele evento tradicional universitário, que aconteceu a escassos metros, por vezes centímetros, da minha câmara “À-lá-minuta”.
A roupa talvez que pudesse ser um indício, se fosse visível, já que veterano que se preze veste traje académico e praxado, que remédio, uma T-shirt para conspurcar.
Talvez a posse da câmara fotográfica pudesse ajudar, já que os caloiros mal têm mãos para segurar as “indignidades” que os finalistas lhes impõem, enquanto que estes se deliciam com as “malvadezas a que os submetem, e tudo isso é para mais tarde recordar. Mas, no meio das tropelias, sempre poderia haver um momento para se ver nos outros aquilo que o próprio está a viver…
Talvez mesmo pelo sorriso soubéssemos dizer se se trata de um “estreante” ou de um “acabante”. Mas se entre uns e outros a frescura e juventude é a tónica dominante, a verdade é que os sorrisos dos mais novos, nestas alturas, são bem mais amarelos que este que aqui se vê.
Mas, se dúvidas pudessem existir, terminariam ao afirmar que a identificação se faz, e sem lugar a erros, pela limpeza da cara. Que nenhum caloiro, a meio de uma praxe iniciática ao ensino superior, tem a cara isenta de cores, riscos e dizeres!
Joana é, nesta fotografia, uma veterana a iniciar assim o seu último ano como estudante universitária (se tudo correr pelo melhor!)

Nota extra: esta fotografia não era para acontecer.
Enquanto as cerimónias (se assim lhe podemos chamar) decorriam mesmo ali ao meu lado, a minha vontade em as registar era grande. Mas este é um evento que, ainda que num local público, é privado. É deles, dos estudantes, e os restantes cidadãos apenas estão ali quase que por acaso ou, na melhor das hipóteses, como elementos involuntários a ajudar nas malandrices que acontecem.
Uma qualquer fotografia que eu fizesse seria uma intrusão da minha parte.
Mas não resisti a “fazer uma perninha” num tema que me agrada: fotografar o acto fotográfico! A concentração, a pose, o manuseio da câmara fotográfica tem sido, ao longo dos tempos, um dos temas que tenho vindo a registar. Que assim o fotógrafo (idade, estrato social, à-vontade com o equipamento) e o equipamento de per si, para já não falar nos assuntos registados, são um manancial quase que inesgotável para fotografar e pensar em fotografia.
Pois preparava-me eu para fotografar aquela câmara que quase que não se vê, quando a sua dona volta a cara, em busca não sei de quê. E o meu instinto de caçador de troféus não resistiu e click, apanhei-a.
Mas que fiquei com pesos na consciência, lá isso fiquei! A pontos de, quando pouco depois passaram de volta, a ter interpelado, lhe ter mostrado a fotografia em causa, lhe ter pedido desculpa de a ter feito e de lhe ter pedido autorização para a usar. E, de caminho, qual o nome que deveria apor na imagem, no meu arquivo.
Foi assim que Joana, finalista numa escola superior da zona, foi apanhada à meia-volta e não se importou com isso. Vantagem minha, que fiquei com mais um bonito troféu.


Texto e imagem: by me

domingo, 20 de setembro de 2009

Um olhar - Ana


Um retrato - Sr. Luis


Um retrato - D. Beatriz


The last summer day


Não é fácil


Não é fácil ser-se diferente! Não aquele ser-se diferente porque se quer ser diferente, ou por pura rebeldia ou para ser-se visto ou notado.
Refiro-me àquele “ser-se diferente” apenas porque apetece ser-se assim, independentemente dos códigos em vigor, das opiniões dos circundantes ou das reacções que se provoca. Ser-se diferente apenas porque se o é e nada mais. Não é fácil!
E no Jardim da Estrela é fácil encontrar-se quem seja diferente.
Desde logo eu mesmo que, para além da minha figura, estou ali a ofertar fotografias por um qualquer motivo obscuro. Que alguns entendem, que outros toleram e que outros ainda, porque não entendem ou toleram, insultam ou denigrem.
Há o caso, igualmente diferente, daquele que se diz pintor de construção civil e que é visto e ouvido no jardim quase todos os dias. Em regra, ouvimo-lo antes de o vermos, que tem na sua bicicleta um potente rádio a pilhas, ao estilo dos velhos “tijolos”, que vai ouvindo enquanto pedala, impondo aos demais utentes do jardim a sua escolha musical. Goste-se ou não dela! E, claro está, basta um olhar para o sabermos um adepto incondicional do Benfica, pela cor com que pintou o velocípede e pela portentosa e colorida bandeira que lhe está acoplada.
Temos também aquela outra senhora, já na casa dos sessentas, bem gorda e volumosa, que transporta sempre consigo uma enorme e pesada mochila. Nunca soube o que lá tem, que nunca o mostrou nem dela falou. Nem mesmo quando o álcool a faz ser menos normal ainda e se torna conflituosa para com passa por ela, falando-lhe ou não.
E temos o caso presente. De idade indefinida, mas avançada, cabeça sempre rapada, pescoço taurino, nariz adunco e andar elástico, nunca
O vi a falar com quem quer que fosse. Nem mesmo um sorriso ou um acenar de cabeça. E vejo-o todos os dias que estou no Jardim da Estrela.
Invariavelmente, quando chega dirige-se a um dos aparelhos de ginástica que lá estão e usa uns bons vinte minutos a pedalar com genica. Em seguida, senta-se num dos bancos do jardim, isolado, e está uma boa meia hora a dar de comer aos pombos. Mas fá-lo como aqui se vê ou, mais complicado ainda, agarrando-os (que eles se deixam agarrar por ele) e, um por um, leva-lhes o bico à mão para que depeniquem. Deve conhecer cada um deles, que a uns aceita e a outros recusa, como que a dizer “Hoje não é a tua vez!”
Os pombos, esses, conhecem-no à distância, e fazem bando no chão, por vezes ainda antes de ele lá chegar.
Esta fotografia é uma raridade, já que aconteceu quando, por uma vez sem exemplo, ele parou no caminho de regresso e aconteceu o que aqui vedes. Nunca ele tinha estado tão perto de mim a alimentá-los, nem eu tinha tido a coragem de dele me aproximar e quebrar a sua intimidade com eles para um registo.
Deste seu aspecto e comportamento resulta ser um dos que “São Diferentes”. E, em torno dessa diferença, bem inofensiva, muito se pode congeminar. Por mim, talvez devido à cultura cinematográfica norte-americana, consigo imaginá-lo como alguém que cumpriu uma longa e dura pena de prisão e que, lá dentro, se refugiou nos pombos como o símbolo da liberdade que não tinha. E que, em saindo e sentindo-se desenraizado, manteve o hábito e os amigos alados.
Não passa tudo isto de uma ficção, criada por alguém que passa horas a fio em torno de uma caixa de madeira encavalitada num tripé vetusto.
Mas… Quem sou eu para criticar o “Ser-se Diferente” dos outros? Não sei eu que não é fácil sê-lo?


Texto e imagem: by me

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Num outro tempo


Foi num outro tempo, numa outra rua, com um outro automóvel.
Aquela minha vizinha tinha um horário de trabalho invertido em relação à maioria das pessoas que ali moravam: Saía para o trabalho já quase todos tinham regressado e chegava casa quando os parqueamentos estavam desertos.
O seu carro, bem mais pequeno que este que aqui se vê, era estacionado ainda mais ao arrepio das marcas no chão que este exemplo. A tal ponto que a vizinhança, em chegando a casa, protestava contra ela ocupar três lugares, ao invés de um só como seria de esperar.
Uma manhã, ia eu a caminho de um cafezinho, e dou com a dita viatura. E, ainda que nada fosse comigo, entendi que poderia e devia fazer algo. Rapando de um bloco de notas, deixei-lhe um bilhete preso no limpa-vidros com uma recomendação ou pedido de boa vizinhança e respeito para com quem queria usar o estacionamento. Um pouco paternalista, talvez, mas a não deixar dúvidas sobre o incómodo que causava ali na rua.
Não mais esse carro ficou mal parado. A tal ponto foi, que fiquei convencido da utilidade do meu bilhetinho. Como eu me enganava!
Uns meses depois, em conversa no café, veio a estória à baila. E ficou um vizinho espantado por esse bilhete ter sido escrito por mim. É que, contou ele, nesse mesmo dia tinha encontrado todos os lugares ocupados, incluindo os três daquela senhora e, para alem de chateado e de ter lido o papel, achou que ele não chegava e esvaziou-lhe os quatro pneus. Medida radical, convenhamos, mas que terá servido de lição àquela minha vizinha.
Fiquei eu a salvo de uma qualquer resposta do mesmo nível, que não assinei o recado. Quando não, sobrariam para mim as consequências do que não havia feito.


Texto e imagem: by me

Sorrisos rotundos


No meu bairro há uma rotunda!
Bem, se quisermos ser factuais, podemos dizer que no meu bairro há muitas rotundas, tal como acontece em muitos bairros por esse país fora. Boas para regular o trânsito, boas para as empresas que as constroem.
Mas esta é uma rotunda especial. Para além de ser das maiores cá do bairro, serve-lhe de entrada, pelo menos de um dos lados. Alem do mais, numa das suas esquinas há um supermercado Modelo, noutra há um supermercado Lidl, noutra ainda há um Macdonald’s. Na quarta esquina há, por enquanto, um baldio com árvores e arbustos. Esperemos que esta se mantenha assim por longos anos, que de bosques de betão estamos nós fartos.
Acontece que, com tantas rotundas em tantos bairros, é fácil um incauto perder-se. “Vai daí”, as entidades que se interessam com o bem-estar dos cidadãos, residentes ou passantes, plantaram em redor da rotunda toda uma panóplia de cartazes indicadores. Quem quer que por ali passe não pode deixar de saber como cuidar da sua vida e que rumo lhe dar.
Numa das esquinas, flamulando ao vento, três orgulhosas bandeiras do MacDonald’s. Impossível de não ver, ainda que não sejam de plástico como o que ali vendem.
Na esquina contigua, dois avisos à navegação: Um, com duas frentes estratégicas e iluminadas dia e noite, avisa qual o melhor carro para usar. Claro que os critérios mudam e, volta e meia, ficamos a saber qual a melhor rede de telemóveis, qual o melhor iogurte, qual o melhor… Junto a este aviso um outro, bem mais modesto nas dimensões mas que não hesita em informar que o melhor partido para votar nas eleições é, agora e sempre, o Bloco de Esquerda. Em caso de dúvidas, é exibida a cara meio séria meio sorridente do seu líder.
Claro que, na esquina seguinte, vemos mais dois sorrisos bem maiores no tamanho e, talvez, nos motivos que os provocam: PS e PSD mostram os seus líderes e afirmam-se, cada um, como a melhor solução para o país.
Sobra uma esquina, que esta rotunda tem quatro delas. Também com um sorriso, talvez porque a sua corrida não é a mesma que os restantes sorrisos aqui exibidos, vemos o candidato à reeleição para a presidência da Câmara Municipal cá do sítio. E vemos também o aviso mais antigo cá do bairro. Com uma setinha, indica-nos o caminho para o Conservatório de Música de Sintra. É o mais pequeno aviso ou indicador da rotunda, mais pequeno ainda que os restantes institucionais, como Lisboa, Sintra, IC19, Finanças, etc..
O seu tamanho diminuto e o facto de estar parcialmente tapado por um bem grande sorriso, deve-se, suponho, à sua idade avançada, qual velhinha simpática em banco de jardim. Ou talvez que o seu tamanho, por comparação aos restantes avisos da rotunda e por não ter sorriso incluso, se deva à importância relativa da aprendizagem e produção musical.
De facto, que importância tem a satisfação da alma e da criatividade com o consuma, consuma, consuma e o vote, vote, vote?
Mandasse eu alguma coisa…


Texto e imagem: by me

Invasões


Sentado num restaurante barato em Lisboa, sou confrontado com um televisor ligado. A minha escolha, na zona, é limitada, pelo que tenho que o suportar.
Mas, queira ou não queira, acabo por ir olhando para ele. Sintonizado num canal português de notícias, vai exibindo um debate político cujos argumentos não consigo acompanhar. É que o som está cortado, felizmente.
Apesar do silêncio televisivo, não consigo impedir uma valente gargalhada entre duas garfadas. O suficiente para quase me engasgar e fazer a sala olhar para mim. Que, na pantalha tamanho gigante que está lá no alto, leio uma legenda:
“Luís Fazenda: O combate à invasão fiscal deve ser uma prioridade dos portugueses.”
Não acredito que quem quer que tenha escrito o texto tenha sido fiel ao que ouviu. Apesar da factualidade da “invasão fiscal”, nos tempos que correm, suponho que quem dedilhou a frase saiba a diferença entre isso e “evasão fiscal”.
O que eu não acredito é que alguém, por lá, tenha lido o que foi emitido, que nenhuma correcção foi feita. A menos que não tenha sido inocente!



Texto e imagem: by me

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Novos verdes na cidade


Antigamente encontrávamos nos passeios das cidades árvores.
Eram plantadas ainda pequenas, cuidadas ao longo dos anos, regadas, podadas, desinfestadas, para que nos fossem fornecendo o oxigénio de que necessitamos, a sombra que nos agrada e o verde que nos enche a alma.
Hoje, fruto da evolução tecnológica, vamos encontrando na berma dos passeios estas hastes, também verdes, que não nos fornecem oxigénio nem sombra, nem nos enchem a alma. Com a vantagem de não requerem mais cuidados que o não lhe acertarmos acidentalmente com o entre-pernas ou o pára-choques de uma viatura.
É uma espécie peculiar, que não cresce e só desabrocha de quatro em quatro anos, em períodos pré-eleitorais.


Texto e imagem: by me

Um olhar - D. Maria


By me

Um olhar


Aprendizagens ao vivo!


Aprender é uma necessidade que temos. Pelo menos eu tenho.
É por isso que, sempre que posso, tento aprender com quem sabe mais que eu. Ou aparente saber. Não importa a idade ou o que faz, que outras experiências são outros saberes.
Estava meio sentado meio de pé, apoiado nas costas de um dos bancos do jardim. Que isto de estar horas a fio de pé cansa! Pois sou abordado por dois homens, um na casa dos vinte e tal, o outro já em finais dos trintas. E o mais novo, em estendendo-me a mão, diz-me:
“Olá! Sou o XXX!” (o nome não é importante) “Estamos aqui no jardim a fazer uma produção fotográfica com YYY.” (o nome também não é importante, mas era uma figura do domínio público) “E ao fazer a reperage do local, achámos interessante inclui-lo a si numa das fotografias, para dar um ar nostálgico. Importa-se?”
Claro que não me importei. Afinal, fotografia é fotografia e temos que ser uns para os outros. Até porque eu mesmo já andei em situações semelhantes, pelo que os entendo bem.
Mas não pude deixar de achar graça à expressão “produção fotográfica”. Bem como ao termo “Reperage”.
E se a primeira é entendível pelo comum dos mortais, já o segundo é um termo técnico, hermético, que faz tempo que não ouvia. Significa ele fazer o reconhecimento do local de produção, escolher os melhores pontos de tomada de vista, tendo em conta a luz, o cenário, as perspectivas, o tema a tratar… Acessoriamente, reconhecer as eventuais dificuldades e encontradas as respectivas soluções, bem como as autorizações necessárias.
Não acredito, para ser sincero, que a esmagadora maioria dos portugueses conheça o termo, de origem francesa e quase exclusivamente usado em cinema, vídeo ou mesmo fotografia, como era o caso.
Passado um pedaço, lá vieram eles: o chefe do grupo, talvez produtor, o fotógrafo, a maquiadora e a figura a fotografar, bem como a filha, que também estava a ser alvo das câmaras.
Conversámos um pouco, expliquei-lhes como e onde eu actuava e optou-se por um outro local, tendo por fundo o coreto. Suponho que para enquadramento geográfico e para dar um ar retro ou saudosista às fotografias. E posicionámo-nos:
Eu e a manha câmara de frente para o coreto e o sol, as fotografadas sentadas no chão, à sombra e de costas para ele e para todo o largo fortemente iluminado pelo sol cruel. E o fotógrafo atrás de mim. A distância entre a minha câmara e as fotografadas, que me foi pedido para ajeitar, era tão diminuta que tive que fazer uma ginástica razoável para conseguir eu mesmo fazer a minha fotografia. Mas fi-la, que não me atrapalho muito. Ao mesmo tempo que o fotógrafo, lá atrás, ia fazendo o que tinha que fazer.
Acabada a função, entreguei a minha fotografia, fiz o questionário da ordem, bem como mais uns dedinhos de conversa, e fui curioso: Pedi ao fotógrafo, o tal da casa dos vintes e tais, que me deixasse dar uma olhada no que tinha feito. Cumplicidade entre “mestres do mesmo ofício” e tentar aprender mais qualquer coisa nesse dia.
Mas mais valia que não o tivesse pedido e que eu mesmo tivesse ficado na ignorância! Que ele, tirando partido da excelência do material que possuía e da grande angular que usava, tinha feito o que podia ou queria, mais ou menos da seguinte forma: próximo das minhas costas, de corpo inteiro, elas no chão, já pequenas no “boneco” em virtude da perspectiva usada e o coreto e árvores em fundo, tão pequenos que mal se distinguiam um das outras. Sendo que tudo isto em contra-luz violento, que o sol forte no chão não perdoava. E, por aquilo que pude ver no pequeno ecrã da câmara dele, o controlo de exposição fora a mediania, não permitindo nem uma correcta exposição às altas luzes nem às zonas de sombra.
Fiquei tão curioso com o que vi que decidi que compraria a revista a que o trabalho se destinava, quando sair para as bancas. Ainda que revistas femininas ou de sociedade não sejam onde gaste o meu dinheiro ou use o meu tempo. Eu quero ver se aquelas fotografias em particular foram usadas e com que resultado. Ainda que não acredite, que tanto a perspectiva como a luz, mais que não serem as melhores, eram mesmo as piores, da forma como vejo a situação.
É que fotografar não é apenas apontar e premir o botão, deixando os automatismos tratarem da coisa e os editores de imagem corrigirem os erros. Há que saber ver a fotografia ainda antes de levar a câmara à cara, há que saber tirar partido das perspectivas possíveis e adequadas, há que saber ler e usar da luz existente. E conjugar tudo isso com aquilo que se quer contar com o resultado final.
E desta minha experiência de aprendizagem com um fotógrafo profissional de imprensa, fiquei a saber com exactidão como não fazer algumas fotografias. Que aprender nem sempre é pela positiva!


Texto e imagem: by me

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Em campanha


Apareceram já a luz definhava e eu pensava em abandonar o jardim. Um grupo com bandeiras, exibindo o símbolo do seu partido sobre fundo branco (que estas coisas das campanhas eleitorais custam dinheiro!) Iam de banco em banco, tentando “impingir” os panfletos que traziam. E, para que não houvesse qualquer dúvida, a frente do opúsculo tinha a fotografia da mais alta figura do partido, sorrindo, justamente aquela que, em ganhando as eleições, poderá vir a ocupar o lugar de primeiro-ministro.
O facto de eu estar ali plantado, deambulando em torno da minha câmara e com outra pendurada no ombro, faz com que, por vezes, seja invisível. O que é uma sorte nestes casos. Mas não neste dia, nem para mim, nem para eles.
Depois dos velhotes, solitários ou não, nos bancos e do bando de garotos que ali festejava o primeiro dia de aulas e, consequentemente, o primeiro dia em que faltavam às aulas, foi a minha vez.
A cara dela não me era estranha e acredito que já a tivesse tido em frente da minha câmara, em estúdio de TV. Mas foi ele que fez as despesas da conversa e da função: Estendeu-me o folheto e perguntou-me “Quer ficar informado?”
A resposta já eu a tinha pronta, desde que os havia visto lá ao fundo: “Com isto ao peito, acha que iria votar em vocês?”
Estacaram, surpresos, e ela exibiu um sorriso amarelo quando viu aquilo que eu apontava. Já ele corou um pouco. Mas, se como disse antes, a cara dela me não era estranha, a dele não conhecia mas não esquecerei pela certa. Que a sua resposta, pronta, esteve ao nível.
“Já tivemos alguns a votar em nós. Já foram mais, mas já tivemos alguns e bons a votar em nós!”
E, estendendo-me a mão, afastaram-se, não sem antes ele acrescentar:
“Continue a querer mudar a coisa. O truque é esse: não desistir!”
O que ele não sabe é que, bem mais que “Querer mudar a coisa”, faço por isso todos os dias e vou-a mudando: Com o preço das minhas fotos, com os alertas sobre os actuais Big Brothers, com as intervenções sociais, com as conversas com os miúdos e graúdos que vou encontrando.
A revolução faz-se todos os dias, em todas as circunstâncias. Não apenas em campanha eleitoral!


Texto e imagem by me

Um olhar


Dois olhares


Pertinente será saber o que os prende.
By me

Olha mãe!


Este foi o primeiro dia de escola e esta é a mochila nova. Que bom que foi!

Imagem: by me
Texto: p'la pequenita

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Um olhar


Três flores


Fotografar duas amigas no dia em que ambas comemoram o seu vigésimo aniversário é um privilégio e uma alegria.
A da esquerda é mesmo só uma flor!

Parabéns!


Texto e imagem: by me

Lixo em directo


No passado sábado fui um dos que assistiu ao debate entre o líder do Partido Socialista e a líder do Partido Social-democrata.
Devo confessar que, se o fiz, não foi com o intuito de me esclarecer sobre qual dos dois partidos receberá o meu voto no próximo dia 27. A minha opção tem sido, de há muito, votar no partido menos mau e nenhum destes preenche esse requisito.
Mas se vi o debate e, indo ainda mais longe, se o gravei foi para ver até que ponto estas duas pessoas conseguiam ir, sendo que os partidos que representam se encontram particularmente próximos nas últimas sondagens feitas. Valham as sondagens o que valerem!
E ambos conseguiram o feito de não me surpreenderem!
Desde logo porque, e tal como pensava, conheço gente que tem o hábito de dizer palavrões e de largar piropos pouco edificantes às garotas que passam e que conseguem ter discussões bem mais civilizadas e urbanas que aquela que vimos na TV. Com falinhas mansas estes dois conseguiram ser particularmente agressivos e insultuosos!
Em seguida, conseguiram também não esclarecer ninguém sobre os projectos políticos ou filosofias dos partidos que lideram. Centraram tudo, ou quase, o que foi dito sobre as duas pessoas presentes, o que pensam fazer e o que fizeram, como o adversário errou e como o próprio acertou, independentemente dos conteúdos programáticos ou estatutos dos respectivos partidos. Foi uma luta entre pessoas e não entre partidos políticos!
Acontece, porém, que no próximo dia 27 de Setembro, quando os cidadãos forem votar, fá-lo-ão em listas de candidatos a deputados, unidos por e representando partidos e respectivos programas e ideais de sociedade. Os dois que ali se apresentaram, mais não são, para além de líderes, candidatos a deputados pelos respectivos partidos!
Mas o que ali aconteceu foi ainda pior: Naquilo que foram dizendo, acusando e prometendo, foi assumido que os eleitores, ao votarem, o estarão a fazer para escolher o primeiro-ministro. Um de entre aqueles dois, garantidamente. Em tudo o que ali se ouviu não coube a possibilidade, eventualmente remota mas existente, de os portugueses darem mais votos a uma qualquer outra lista de um qualquer outro partido que não a do PS ou a do PSD. Como se a democracia, por cá, se resumisse à escolha entre duas pessoas de dois partidos e que os restantes mais não fossem que folclore ou paisagem. O que, manifestamente e há luz da democracia e da constituição, assim não acontece!
Neste debate de sábado vimos os lideres dos dois partidos até hoje mais votados a demonstrarem a importância dos seus próprios umbigos, esquecendo os seus correligionários de partido, os eleitores e as regras por que nos regemos.
Faz tempo que não via tanta porcaria em televisão!


Texto: by me
Imagem: in SIC

domingo, 13 de setembro de 2009