“Não se importa de me dar lume?”
Cinquentona, quiçá mais, muito pintada, estava sentada num murete baixo do cais da estação cá do meu bairro.
E, enquanto acabava de abrir o maço de cigarros e de tirar um, acrescentou:
“Sabe, devo ter um isqueiro aqui na mala, mas não há jeito de dar com ele.”
A mala em questão estava no chão, entre as suas pernas. Enorme e disforme, mostrava uma capacidade de conter objectos apenas usada pela metada. O que significava, a olho nú, que deveria conter meia infinidade de objectos insuspeitos.
Dei-lhe lume, que entre fumadores é daquelas coisas que não se recusam, e continuei o meu deambular pelo cais, tentando com isso matar o tempo até à chegada do comboio.
E, quando de regresso do seu extremo, vejo-a de novo de conversa com um passante. Desta feita um rapazola que se debruçava sobre ela, suspeito que para manter o tom da conversa em reservado.
Deveria ter sido ele a aborda-la, já que, e ainda que à distância, a vejo a rebuscar no seu malão meio cheio e a dele retirar o maço de cigarros. E a dar-lhe um.
Ficou ela, sentada, com o malão entre pernas. Seguiu ele um pouco mais à frente, para outro ponto do murete onde, sentando-se, o acendeu com um isqueiro que tirou do bolso das calças.
Entre fumadores é assim. Uns dão lume, outros cigarros, dependendo do tom do pedido e da disposição de quem oferece.
O pulmão, esse, cada um com o seu, que nada de promiscuidades.
Texto e imagem: by me
Cinquentona, quiçá mais, muito pintada, estava sentada num murete baixo do cais da estação cá do meu bairro.
E, enquanto acabava de abrir o maço de cigarros e de tirar um, acrescentou:
“Sabe, devo ter um isqueiro aqui na mala, mas não há jeito de dar com ele.”
A mala em questão estava no chão, entre as suas pernas. Enorme e disforme, mostrava uma capacidade de conter objectos apenas usada pela metada. O que significava, a olho nú, que deveria conter meia infinidade de objectos insuspeitos.
Dei-lhe lume, que entre fumadores é daquelas coisas que não se recusam, e continuei o meu deambular pelo cais, tentando com isso matar o tempo até à chegada do comboio.
E, quando de regresso do seu extremo, vejo-a de novo de conversa com um passante. Desta feita um rapazola que se debruçava sobre ela, suspeito que para manter o tom da conversa em reservado.
Deveria ter sido ele a aborda-la, já que, e ainda que à distância, a vejo a rebuscar no seu malão meio cheio e a dele retirar o maço de cigarros. E a dar-lhe um.
Ficou ela, sentada, com o malão entre pernas. Seguiu ele um pouco mais à frente, para outro ponto do murete onde, sentando-se, o acendeu com um isqueiro que tirou do bolso das calças.
Entre fumadores é assim. Uns dão lume, outros cigarros, dependendo do tom do pedido e da disposição de quem oferece.
O pulmão, esse, cada um com o seu, que nada de promiscuidades.
Texto e imagem: by me
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