Deu tempo para parar em frente de um dos cafés da minha juventude de estudante e recordar um pouco de então.
Deu tempo para me decidir a entrar para ter a certeza sobre se os bolos de hoje ainda são, ali, tão saborosos quanto o eram há 35 anos.
Deu tempo para me sentar a uma mesa e pedir um quarto de leite Vigor e um Bábá. E constatar que a minha memória e as minhas papilas gustativas estavam em pleno acordo.
Deu tempo para puxar do portátil e, ali mesmo na mesa do café, analisar e tratar uma imagem para publicar.
Deu tempo para, passar a limpo o rascunho rabiscado no comboio, agora com a certeza da ilustração, e de, juntando-os, fazer os três up-loads habituais.
Deu tempo para que o meu olhar se cruzasse com o do empregado e de lhe pedir a conta. E pagá-la, já agora.
Deu tempo para sair da “Nova Bagdad”, na Av. da Igreja, e continuar a ouvir aquela maldita e desconcertante buzina de automóvel. Que, de tanto ser usada de seguida, já estava a ficar rouca.
Aproximei-me do carro que assim protestava e verifiquei tratar-se de um pequeno utilitário, regular e legalmente estacionado, com parquímetro pago e tudo, que tinha ficado “entalado” por um outro, estacionado em segunda fila, ocupando uma das faixas de rodagem.
Meteu conversa uma comerciante da zona, cansada como eu de tanto aquilo ouvir. Meti eu mesmo conversa, no caso para lhe perguntar se já teria ligado para a polícia.
Não tinha, que estava sem bateria no telelé. Tal com estava chateada até à medula dos seus 20 anos ou coisa parecida, de ali ter ficado presa e de há mais de meia hora estar a protestar sem que o dono ou dona do carro aparecesse.
Lá lhe cedi o meu telemóvel, ligando primeiro para as informações a fim de saber o numero da divisão de trânsito. Ela queixou-se e, disse-me de seguida, avisaram-na que a patrulha e respectivo reboque tanto poderiam demorar 5 minutos como duas horas, dependia do trabalho que lhes estivesse atribuído e das prioridades.
Estava-mos nesta quando os meus olhos se arremelgaram: do café do outro lado da avenida saiam dois quarentões, com ar despreocupado, trazendo um deles umas chaves de automóvel na mão. E se tivesse apostado em como vinham para ali, teria ganho.
Confrontado o dono do carro com a situação, tratou de se desculpar, que tinha estado na conversa na pastelaria e não tinha dado pelos protestos.
Fiquei na dúvida se o haveria de impedir de seguir viagem ou de o encaminhar directo para um otorrino, que deveria de padecer de surdez grave e crónica.
Acabou por se ir embora, que eles estavam com pressa. Bem como a mocinha, que estava possessa com o caso.
Por mim, ainda tive tempo para acabar o passeio, meio em jeito de turismo na terra natal, que é uma boa forma de ganhar alento para se enfrentar uma noite longa de trabalho, enfiado num estúdio sem luz solar e a ouvir descrever parte das trafulhices dos políticos de hoje.
Até mesmo aquela mais de meia hora de buzina me pareceu soft, perante o que me esperava.
Texto e imagem: by me
Deu tempo para me decidir a entrar para ter a certeza sobre se os bolos de hoje ainda são, ali, tão saborosos quanto o eram há 35 anos.
Deu tempo para me sentar a uma mesa e pedir um quarto de leite Vigor e um Bábá. E constatar que a minha memória e as minhas papilas gustativas estavam em pleno acordo.
Deu tempo para puxar do portátil e, ali mesmo na mesa do café, analisar e tratar uma imagem para publicar.
Deu tempo para, passar a limpo o rascunho rabiscado no comboio, agora com a certeza da ilustração, e de, juntando-os, fazer os três up-loads habituais.
Deu tempo para que o meu olhar se cruzasse com o do empregado e de lhe pedir a conta. E pagá-la, já agora.
Deu tempo para sair da “Nova Bagdad”, na Av. da Igreja, e continuar a ouvir aquela maldita e desconcertante buzina de automóvel. Que, de tanto ser usada de seguida, já estava a ficar rouca.
Aproximei-me do carro que assim protestava e verifiquei tratar-se de um pequeno utilitário, regular e legalmente estacionado, com parquímetro pago e tudo, que tinha ficado “entalado” por um outro, estacionado em segunda fila, ocupando uma das faixas de rodagem.
Meteu conversa uma comerciante da zona, cansada como eu de tanto aquilo ouvir. Meti eu mesmo conversa, no caso para lhe perguntar se já teria ligado para a polícia.
Não tinha, que estava sem bateria no telelé. Tal com estava chateada até à medula dos seus 20 anos ou coisa parecida, de ali ter ficado presa e de há mais de meia hora estar a protestar sem que o dono ou dona do carro aparecesse.
Lá lhe cedi o meu telemóvel, ligando primeiro para as informações a fim de saber o numero da divisão de trânsito. Ela queixou-se e, disse-me de seguida, avisaram-na que a patrulha e respectivo reboque tanto poderiam demorar 5 minutos como duas horas, dependia do trabalho que lhes estivesse atribuído e das prioridades.
Estava-mos nesta quando os meus olhos se arremelgaram: do café do outro lado da avenida saiam dois quarentões, com ar despreocupado, trazendo um deles umas chaves de automóvel na mão. E se tivesse apostado em como vinham para ali, teria ganho.
Confrontado o dono do carro com a situação, tratou de se desculpar, que tinha estado na conversa na pastelaria e não tinha dado pelos protestos.
Fiquei na dúvida se o haveria de impedir de seguir viagem ou de o encaminhar directo para um otorrino, que deveria de padecer de surdez grave e crónica.
Acabou por se ir embora, que eles estavam com pressa. Bem como a mocinha, que estava possessa com o caso.
Por mim, ainda tive tempo para acabar o passeio, meio em jeito de turismo na terra natal, que é uma boa forma de ganhar alento para se enfrentar uma noite longa de trabalho, enfiado num estúdio sem luz solar e a ouvir descrever parte das trafulhices dos políticos de hoje.
Até mesmo aquela mais de meia hora de buzina me pareceu soft, perante o que me esperava.
Texto e imagem: by me
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