Me by me
domingo, 30 de novembro de 2008
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
terça-feira, 25 de novembro de 2008
A rifa
Vejam lá se são capazes de imaginar:
Eu, este mesmo que vou assinando este espaço e que tenho com o futebol e a clubite uma relação de amor-ódio em que este último prevalece, eu mesmo comprei uma rifa para este quadro!
E, acreditem, não estava drogado, nem bêbado nem podre de sono! Bem acordado e consciente do que fazia, comprei uma rifa, por um euro, que me habilita a, em a sorte me sorrindo, ser o feliz contemplado com um quadro, feito em Arraiolos, com o emblema do Benfica!
O euro da rifa dou-o de barato, que foi a forma menos agressiva de pedir para fotografar a obra. Foi feito por uma senhora já idosa, mãe dos sócios do café aqui da rua. Tem ela este entretém, o de dar ao dedo e à agulha e ir fazendo coisas assim bordadas. E, desta vez, deu-lhe para isto!
Quando o levou para o café, estava eu por lá, ao balcão com a minha bicazita. E ela, exibindo-o orgulhosa, atirou para o ar que duvidava que alguém lhe desse os 100 ou 200 euros que isto poderia valer. E, em tom de brincadeira, disse-lhe eu para o rifar.
“Meu dito, seu feito!”
No dia seguinte já tinha o livrinho das rifas, daqueles de arrancar o talão pelo picotado, tal e qual os pequenotes fazem para sorteios da escola ou dos escuteiros. A um euro, para tentar a sorte dos mais azarentos!
E eu, que achei graça à coisa por ela feita e mais ainda ao facto de ela o ir mesmo rifar (esqueci-me de perguntar quando corre o sorteio!), já tinha para mim que talvez lho pedisse para fotografar. Foi hoje e, à laia de desculpa, comprei uma rifa.
Agora imaginem o tamanho do meu azar se, a mim que nunca me sai nada que não seja do bolso, me vai sair esta prenda! Logo a mim, que não ligo nada ao futebol e menos ainda aos fanáticos por um clube, seja ele qual for, ainda que pelo Benfica tenha uma aversãozinha extra de estimação.
Com a sorte que tenho, um destes dias vejo-me encalhado com isto nas mãos.
Se assim for, rifo-o também. Cem números, a correr numa lotaria nacional e com o preço de um donativo, feito pelo próprio e demonstrado, para qualquer associação de bombeiros voluntários à escolha.
Afinal, a cor dos bombeiros também é o vermelho!
Texto e imagem: by me
Eu, este mesmo que vou assinando este espaço e que tenho com o futebol e a clubite uma relação de amor-ódio em que este último prevalece, eu mesmo comprei uma rifa para este quadro!
E, acreditem, não estava drogado, nem bêbado nem podre de sono! Bem acordado e consciente do que fazia, comprei uma rifa, por um euro, que me habilita a, em a sorte me sorrindo, ser o feliz contemplado com um quadro, feito em Arraiolos, com o emblema do Benfica!
O euro da rifa dou-o de barato, que foi a forma menos agressiva de pedir para fotografar a obra. Foi feito por uma senhora já idosa, mãe dos sócios do café aqui da rua. Tem ela este entretém, o de dar ao dedo e à agulha e ir fazendo coisas assim bordadas. E, desta vez, deu-lhe para isto!
Quando o levou para o café, estava eu por lá, ao balcão com a minha bicazita. E ela, exibindo-o orgulhosa, atirou para o ar que duvidava que alguém lhe desse os 100 ou 200 euros que isto poderia valer. E, em tom de brincadeira, disse-lhe eu para o rifar.
“Meu dito, seu feito!”
No dia seguinte já tinha o livrinho das rifas, daqueles de arrancar o talão pelo picotado, tal e qual os pequenotes fazem para sorteios da escola ou dos escuteiros. A um euro, para tentar a sorte dos mais azarentos!
E eu, que achei graça à coisa por ela feita e mais ainda ao facto de ela o ir mesmo rifar (esqueci-me de perguntar quando corre o sorteio!), já tinha para mim que talvez lho pedisse para fotografar. Foi hoje e, à laia de desculpa, comprei uma rifa.
Agora imaginem o tamanho do meu azar se, a mim que nunca me sai nada que não seja do bolso, me vai sair esta prenda! Logo a mim, que não ligo nada ao futebol e menos ainda aos fanáticos por um clube, seja ele qual for, ainda que pelo Benfica tenha uma aversãozinha extra de estimação.
Com a sorte que tenho, um destes dias vejo-me encalhado com isto nas mãos.
Se assim for, rifo-o também. Cem números, a correr numa lotaria nacional e com o preço de um donativo, feito pelo próprio e demonstrado, para qualquer associação de bombeiros voluntários à escolha.
Afinal, a cor dos bombeiros também é o vermelho!
Texto e imagem: by me
Flores de outono
Não serão bem as últimas, mas quase, estas flores.
Numa árvore do Jardim da Estrela, em Lisboa, que alguns consideram sagrada, outros mágica e a maioria bonita.
E conheço quem, em momentos de maior aflição, se vá sentar na relva, ao seu tronco encostar e esperar que ela, a árvore, lhe transmita a calma e sabedoria de que necessita.
Não sei, em boa verdade, quem estará mais certo: se quem busca na natureza o encontrar do seu rumo, se quem se refugia na tecnologia dos Gigabites, novelas, futebois e afins.
Texto e imagem: by me
Numa árvore do Jardim da Estrela, em Lisboa, que alguns consideram sagrada, outros mágica e a maioria bonita.
E conheço quem, em momentos de maior aflição, se vá sentar na relva, ao seu tronco encostar e esperar que ela, a árvore, lhe transmita a calma e sabedoria de que necessita.
Não sei, em boa verdade, quem estará mais certo: se quem busca na natureza o encontrar do seu rumo, se quem se refugia na tecnologia dos Gigabites, novelas, futebois e afins.
Texto e imagem: by me
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
The end!
Este é o fim da estória. Pelo menos tanto quanto me é dado a saber!
Em 22 de Outubro coloquei aqui este POST.
Algum tempo depois este outro POST.
E este será o último, respondendo a algumas perguntas que, interessantemente, me foram colocadas a seu respeito.
Este espaço faz parte da linha de caminho de ferro da estação cá do meu bairro. Levadas pelo vento e deixadas ficar pela incúria, as folhas dos jornais gratuitos vão-se acumulando por ali.
Mas neste canto, e sob as folhas de cima, algumas estão bem calcadas, pisadas, acamadas. Era o local onde o canito dos posts anteriores dormia, que por ali não apanhava vento e estava ao abrigo da chuva.
Não o tenho visto nos últimos tempos e, pelo estado dos papeis, não tem aqui vindo dormir.
Ou bem que encontrou uma saída da grande prisão onde esteve, ou bem que alguém o recolheu e levou para algum outro lugar, ou bem que teve o fim que a todos nós está destinado: a morte. E não acreditando que tenha sido colhido por um comboio, resta-me supor que possa ter sido de doença ou de fome.
Um eventual fim para uma estória triste!
The end!
Texto e imagem: by me
Em 22 de Outubro coloquei aqui este POST.
Algum tempo depois este outro POST.
E este será o último, respondendo a algumas perguntas que, interessantemente, me foram colocadas a seu respeito.
Este espaço faz parte da linha de caminho de ferro da estação cá do meu bairro. Levadas pelo vento e deixadas ficar pela incúria, as folhas dos jornais gratuitos vão-se acumulando por ali.
Mas neste canto, e sob as folhas de cima, algumas estão bem calcadas, pisadas, acamadas. Era o local onde o canito dos posts anteriores dormia, que por ali não apanhava vento e estava ao abrigo da chuva.
Não o tenho visto nos últimos tempos e, pelo estado dos papeis, não tem aqui vindo dormir.
Ou bem que encontrou uma saída da grande prisão onde esteve, ou bem que alguém o recolheu e levou para algum outro lugar, ou bem que teve o fim que a todos nós está destinado: a morte. E não acreditando que tenha sido colhido por um comboio, resta-me supor que possa ter sido de doença ou de fome.
Um eventual fim para uma estória triste!
The end!
Texto e imagem: by me
Emptiness
domingo, 23 de novembro de 2008
Photoconclusão
O photocogitador observou que aqueles graffitis, novinhos em folha, ainda poderiam dar azo a uma photocrónica. E foi-os photocopiando.
No cimo das escadas, no piso térreo suburbano, três mocinhas aspirantes ainda a mulher, observavam. E uma delas perguntou, desafiadora:
“O senhor é photógrapho?”
O photoirónico exibiu a sua ferramenta e retorquiu com cara séria:
“Com isto na mão, dificilmente estarei a vender pneus!”
“Ah! Ah! Ah!”, riram em coro. E a terceira do trio atirou:
“Então tire-me uma photographia!”
“Está bem”, disse o photocaçador. E fazendo ponto de mira, disparou a photoarma.
Olhando para a culatra e depois para cima, desafiou:
“Pronto! Podes vir ver!”
“Você nem me photographou!”
“Anda ver”, disse, exibindo o phototroféu.
Descendo as escadas de três em três, a photocoquete perguntou:
“É daquelas que sai logo?” E vendo-se pequenina mas colorida, acrescentou: ”Olha, até fiquei gira!”
Lá no cimo, onde tinha ficado, a photoinquiridora afirmou:
“Você até é simpático!”
“Tem dias”, respondeu o phototrabalhador, afastando-se em direcção ao vídeotrabalho que o esperava, a 30km. “Tem dias!”
Já sentado no comboio, o photoescrevinhador foi pensando:
“As mais das vezes a importância de se ser photographado não está no resultado ou na pose. Reside, antes sim, no facto de alguém lhe atribuir valor suficiente para dele ou dela fazer uma photo.”
Quem disse que provocar um sorriso ou alimentar o ego é difícil ou sai caro?
Texto e imagem: by the photobloger
No cimo das escadas, no piso térreo suburbano, três mocinhas aspirantes ainda a mulher, observavam. E uma delas perguntou, desafiadora:
“O senhor é photógrapho?”
O photoirónico exibiu a sua ferramenta e retorquiu com cara séria:
“Com isto na mão, dificilmente estarei a vender pneus!”
“Ah! Ah! Ah!”, riram em coro. E a terceira do trio atirou:
“Então tire-me uma photographia!”
“Está bem”, disse o photocaçador. E fazendo ponto de mira, disparou a photoarma.
Olhando para a culatra e depois para cima, desafiou:
“Pronto! Podes vir ver!”
“Você nem me photographou!”
“Anda ver”, disse, exibindo o phototroféu.
Descendo as escadas de três em três, a photocoquete perguntou:
“É daquelas que sai logo?” E vendo-se pequenina mas colorida, acrescentou: ”Olha, até fiquei gira!”
Lá no cimo, onde tinha ficado, a photoinquiridora afirmou:
“Você até é simpático!”
“Tem dias”, respondeu o phototrabalhador, afastando-se em direcção ao vídeotrabalho que o esperava, a 30km. “Tem dias!”
Já sentado no comboio, o photoescrevinhador foi pensando:
“As mais das vezes a importância de se ser photographado não está no resultado ou na pose. Reside, antes sim, no facto de alguém lhe atribuir valor suficiente para dele ou dela fazer uma photo.”
Quem disse que provocar um sorriso ou alimentar o ego é difícil ou sai caro?
Texto e imagem: by the photobloger
Liberdade
Uma vez tive um pássaro.
Enfim, ninguém é perfeito, portanto porque não eu também?
A estória foi assim:
Estávamos em reuniões de avaliações de Natal. Enfiados todos os professores numa sala, íamos discutindo cada um dos alunos e “cantando” as notas para um de nós, que as ía lançando no computador.
A meio da tarde, na pausa que nos oferecemos para um cafezinho e um cigarrito, uma das funcionárias da secretaria veio falar com cada um, propondo-nos a compra de um periquito. Estranha a proposta, não fora o facto de ser uma espécie rara, um “periquito da Guiné”, trazido não sei como à revelia das autoridades.
Achei a coisa interessante para oferecer a uma garota novita, filha de um casal amigo, pelo natal. A pose e a responsabilidade por um ser vivo pode ser, para além de lúdico, pedagógico. Portanto, porque não?
Mas, quando já noite feita, fui buscar o bicho apalavrado, até me assustei. Com um tamanho intermédio entre um periquito convencional e um papagaio, ainda que novito, tinha umas patas que denotavam vir a ser bem grande no futuro. E nem sequer era particularmente bonito, de um tom verde pardacento.
Lá o levei para casa, comprei-lhe uma gaiola bem grande para o acomodar no futuro e tratei de saber e comprar o que comia o bicharoco. Decidi ficar com ele uns dias em minha casa, para perceber o que ele necessitava, antes do entregar à futura dona.
Ainda bem que o fiz!
Além de feioso, o seu grasnar era pouco menos que horripilante. A chiqueirada que fazia, com as asas e as cascas da comida, espalhava-se bem um metro em redor. E limpar ou dar de comer dentro da gaiola, só mesmo de luva, que o bicho deveria ser carnívoro ao tentar arrancar-me uns bons “bifes” dos dedos. Não sei quem estaria mais incomodado: Se eu com a trabalheira se ele com medo de mim.
Constatando todos estes inconvenientes, acabei por não o dar à garota. Seria uma “prenda de grego” para os pais, que ela não trataria dele e sobraria trabalho e aborrecimentos para eles. Se eu o tinha comprado, eu ficaria com ele.
Fui tratando dele conforme podia, tentando não o assustar em demasia e que se fosse habituando à minha presença, mantendo a higiene e alimentação nos padrões normais, dentro e fora da gaiola.
Um dia, quando me levantei, estava morto dentro dela.
Juro que me doeu!
Não que me tivesse afeiçoado ao bicho. Mas não lhe queria nada de mal e não me tinha apercebido que alguma coisa não estaria a correr bem.
Mas, pensando bem, a culpa terá sido minha. Por muito grande que seja a gaiola, é sempre uma prisão. E eu era o carcereiro.
Texto e imagem: by me
“ - O que é para si a Liberdade?”
“ - É ser livre numa prisão!
Todos nós vivemos numa prisão que nós mesmos construímos.
Porque nos impomos limites. Porque temos receio de os ultrapassar.
Acho que o próprio do Homem não é viver livre em liberdade de facto. É viver livre numa prisão!
Todos nós temos uma polícia política interna, cheia de proibições e de regras em relação as nós mesmos.”
António Lobo Antunes, in Grande Entrevista, RTP, 2006
Enfim, ninguém é perfeito, portanto porque não eu também?
A estória foi assim:
Estávamos em reuniões de avaliações de Natal. Enfiados todos os professores numa sala, íamos discutindo cada um dos alunos e “cantando” as notas para um de nós, que as ía lançando no computador.
A meio da tarde, na pausa que nos oferecemos para um cafezinho e um cigarrito, uma das funcionárias da secretaria veio falar com cada um, propondo-nos a compra de um periquito. Estranha a proposta, não fora o facto de ser uma espécie rara, um “periquito da Guiné”, trazido não sei como à revelia das autoridades.
Achei a coisa interessante para oferecer a uma garota novita, filha de um casal amigo, pelo natal. A pose e a responsabilidade por um ser vivo pode ser, para além de lúdico, pedagógico. Portanto, porque não?
Mas, quando já noite feita, fui buscar o bicho apalavrado, até me assustei. Com um tamanho intermédio entre um periquito convencional e um papagaio, ainda que novito, tinha umas patas que denotavam vir a ser bem grande no futuro. E nem sequer era particularmente bonito, de um tom verde pardacento.
Lá o levei para casa, comprei-lhe uma gaiola bem grande para o acomodar no futuro e tratei de saber e comprar o que comia o bicharoco. Decidi ficar com ele uns dias em minha casa, para perceber o que ele necessitava, antes do entregar à futura dona.
Ainda bem que o fiz!
Além de feioso, o seu grasnar era pouco menos que horripilante. A chiqueirada que fazia, com as asas e as cascas da comida, espalhava-se bem um metro em redor. E limpar ou dar de comer dentro da gaiola, só mesmo de luva, que o bicho deveria ser carnívoro ao tentar arrancar-me uns bons “bifes” dos dedos. Não sei quem estaria mais incomodado: Se eu com a trabalheira se ele com medo de mim.
Constatando todos estes inconvenientes, acabei por não o dar à garota. Seria uma “prenda de grego” para os pais, que ela não trataria dele e sobraria trabalho e aborrecimentos para eles. Se eu o tinha comprado, eu ficaria com ele.
Fui tratando dele conforme podia, tentando não o assustar em demasia e que se fosse habituando à minha presença, mantendo a higiene e alimentação nos padrões normais, dentro e fora da gaiola.
Um dia, quando me levantei, estava morto dentro dela.
Juro que me doeu!
Não que me tivesse afeiçoado ao bicho. Mas não lhe queria nada de mal e não me tinha apercebido que alguma coisa não estaria a correr bem.
Mas, pensando bem, a culpa terá sido minha. Por muito grande que seja a gaiola, é sempre uma prisão. E eu era o carcereiro.
Texto e imagem: by me
“ - O que é para si a Liberdade?”
“ - É ser livre numa prisão!
Todos nós vivemos numa prisão que nós mesmos construímos.
Porque nos impomos limites. Porque temos receio de os ultrapassar.
Acho que o próprio do Homem não é viver livre em liberdade de facto. É viver livre numa prisão!
Todos nós temos uma polícia política interna, cheia de proibições e de regras em relação as nós mesmos.”
António Lobo Antunes, in Grande Entrevista, RTP, 2006
sábado, 22 de novembro de 2008
Um pequeno exercício
Façamos um pequeno exercício que, pela sua impossibilidade, não passa disso mesmo - um exercício de imaginação:
Supúnhamos que, por um qualquer motivo, durante cinquenta anos apenas uma meia centena de pessoas frequentava por ano o ensino superior ou profissional em Portugal. E imaginemos também, para reforçar o exercício, que todos tinham excelente aproveitamento.
Passado este meio século, teríamos uma sociedade de “incultos”, de gente que não saberia trabalhar com os equipamentos que hoje existem que não fosse pelo hábito, teríamos médicos, engenheiros de diversas áreas, especialistas de tudo em final de vida.
Teríamos também duzentos e cinquenta pessoas altamente qualificadas que, por serem tão poucas e considerando o sistema de procura e oferta, se fariam pagar a peso de ouro, aplicando os seus saberes às elites endinheiradas, ficando todos os restantes sem canos, medicamentos, diagnósticos, motores, sistemas eléctricos, casas, trigo, bifes e tudo o mais que hoje usamos e de que queremos mais e melhor.
Deste exercício de imaginação se pode concluir com facilidade que o sistema ensino-aprendizagem é vital para a sociedade. E que, como tal, deveria ser realmente gratuito, fosse qual fosse o grau de qualificação que se considerasse. E não o mero “tendencial” que a lei prescreve! Dando oportunidade a que, quem tenha capacidades para ir longe no saber e no fazer o possa sem que isso seja um exercício de economia familiar. Trata-se de um investimento que a sociedade faz hoje para colher no futuro. Não tão distante quanto isso!
E, já agora também, considere-se que o que a imagem ilustra não pode ser a realidade. Nem o seu inverso! Nem os alunos são burros e os professores déspotas, nem os jovens os reis e senhores e os mestres os elos mais fracos.
Neste jogo de “aprender e ajudar a aprender”, cada qual tem o seu lugar e igual importância. E se ambas as partes de tal estiverem cientes e não se tratarem como adversários numa arena de mesas e cadeiras, todo o trabalho acontece com muito mais facilidade e resultados positivos.
Que é o que ambos querem e a sociedade deseja!
Texto e imagem: by me
Supúnhamos que, por um qualquer motivo, durante cinquenta anos apenas uma meia centena de pessoas frequentava por ano o ensino superior ou profissional em Portugal. E imaginemos também, para reforçar o exercício, que todos tinham excelente aproveitamento.
Passado este meio século, teríamos uma sociedade de “incultos”, de gente que não saberia trabalhar com os equipamentos que hoje existem que não fosse pelo hábito, teríamos médicos, engenheiros de diversas áreas, especialistas de tudo em final de vida.
Teríamos também duzentos e cinquenta pessoas altamente qualificadas que, por serem tão poucas e considerando o sistema de procura e oferta, se fariam pagar a peso de ouro, aplicando os seus saberes às elites endinheiradas, ficando todos os restantes sem canos, medicamentos, diagnósticos, motores, sistemas eléctricos, casas, trigo, bifes e tudo o mais que hoje usamos e de que queremos mais e melhor.
Deste exercício de imaginação se pode concluir com facilidade que o sistema ensino-aprendizagem é vital para a sociedade. E que, como tal, deveria ser realmente gratuito, fosse qual fosse o grau de qualificação que se considerasse. E não o mero “tendencial” que a lei prescreve! Dando oportunidade a que, quem tenha capacidades para ir longe no saber e no fazer o possa sem que isso seja um exercício de economia familiar. Trata-se de um investimento que a sociedade faz hoje para colher no futuro. Não tão distante quanto isso!
E, já agora também, considere-se que o que a imagem ilustra não pode ser a realidade. Nem o seu inverso! Nem os alunos são burros e os professores déspotas, nem os jovens os reis e senhores e os mestres os elos mais fracos.
Neste jogo de “aprender e ajudar a aprender”, cada qual tem o seu lugar e igual importância. E se ambas as partes de tal estiverem cientes e não se tratarem como adversários numa arena de mesas e cadeiras, todo o trabalho acontece com muito mais facilidade e resultados positivos.
Que é o que ambos querem e a sociedade deseja!
Texto e imagem: by me
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Bilhetes
Teria eu 11 anos? Talvez, pelo que recordo do trajecto desta história.
No autocarro onde viajava naquele dia, a caminho da escola, levantou-se reboliço.
A altercação punha em campos opostos um façanhudo cobrador da Carris, que exigia o pagamento do bilhete, e uma senhora, que afirmava ter deixado o porta-moedas em casa e não poder pagar.
De alicate em riste, o zeloso funcionário ameaçava com multa, ameaçava com polícia, ameaçava com os quintos do inferno. Com os olhos já húmidos, a senhora bem que rebuscava a carteira em busca do porta-moedas, mas este não parava por lá. A coisa estava a ficar feia e nenhum de nós, passageiros, estava a gostar de ver.
Pegando no meu próprio porta-moedas, com uma coragem que não me conhecia, propus-me pagar eu o bilhete.
Quinze tostões (seriam?) depois, o bilhete regulamentarmente arrancado do bloco e obliterado pelo tenebroso alicate, e as coisas acalmaram.
Não me recordo de que mais coisas terei falado com aquela passageira, mas alguma coisa foi, certamente.
Passado algum tempo (dias, semanas?), foi um alvoroço em minha casa. Fora encontrada na caixa do correio uma carta que me era dirigida. Devidamente estampilhada e carimbada pelos correios. Nunca eu tinha recebido uma carta pelo correio e o espanto foi natural.
Do tamanho de um cartão de visita (correio normalizado era coisa desconhecida) continha um cartão e selos.
No verso do cartão de visita, a referida senhora escrevera umas palavras amáveis de agradecimento (não me recordo de quais) e os selos correspondiam ao valor do bilhete que lhe havia pago.
Não me recordo em que mês se passou este episódio.
Mas, fosse qual fosse, chamar-se-ia Dezembro certamente.
Afinal, é Natal quando um homem, mulher ou criança quiser.
Texto: by me
Imagem: algures na web
No autocarro onde viajava naquele dia, a caminho da escola, levantou-se reboliço.
A altercação punha em campos opostos um façanhudo cobrador da Carris, que exigia o pagamento do bilhete, e uma senhora, que afirmava ter deixado o porta-moedas em casa e não poder pagar.
De alicate em riste, o zeloso funcionário ameaçava com multa, ameaçava com polícia, ameaçava com os quintos do inferno. Com os olhos já húmidos, a senhora bem que rebuscava a carteira em busca do porta-moedas, mas este não parava por lá. A coisa estava a ficar feia e nenhum de nós, passageiros, estava a gostar de ver.
Pegando no meu próprio porta-moedas, com uma coragem que não me conhecia, propus-me pagar eu o bilhete.
Quinze tostões (seriam?) depois, o bilhete regulamentarmente arrancado do bloco e obliterado pelo tenebroso alicate, e as coisas acalmaram.
Não me recordo de que mais coisas terei falado com aquela passageira, mas alguma coisa foi, certamente.
Passado algum tempo (dias, semanas?), foi um alvoroço em minha casa. Fora encontrada na caixa do correio uma carta que me era dirigida. Devidamente estampilhada e carimbada pelos correios. Nunca eu tinha recebido uma carta pelo correio e o espanto foi natural.
Do tamanho de um cartão de visita (correio normalizado era coisa desconhecida) continha um cartão e selos.
No verso do cartão de visita, a referida senhora escrevera umas palavras amáveis de agradecimento (não me recordo de quais) e os selos correspondiam ao valor do bilhete que lhe havia pago.
Não me recordo em que mês se passou este episódio.
Mas, fosse qual fosse, chamar-se-ia Dezembro certamente.
Afinal, é Natal quando um homem, mulher ou criança quiser.
Texto: by me
Imagem: algures na web
Testemunha orgulhosa
Está para fazer anos, não sei quantos nem em que dia, que Nelson Mandela foi libertado da prisão.
Mais um, dirão uns; um escaruma transformado em herói, dirão outros; já foi tarde, dirão ainda outros.
Com direito a transmissão televisiva, no antes, no durante e no depois, era eu um jovem adulto e não perdi pitada (ou frame).
Pondo de parte a questão emotiva de eu próprio o ter vivido ainda que à distância, este foi o facto mais relevante do séc. XX.
As tendências e as revoluções – populares ou ditatoriais – as guerras e os regimes vêm e vão como marés na areia. Influenciam apenas os que as vivem e marginalmente os vindouros. Ficarão na história como mais um facto a ser estudado nos bancos da escola ou nos anfiteatros da universidade.
Mas o fim da última lei de segregação racial, onde por lei e por nascimento se decidia o que se podia ser, fazer, dizer, pensar, existir…
Isto é digno de um feriado mundial!
Não são os decretos que mudam as mentalidades, nem as revoluções ou tomadas de poder. Existem, e ainda existirão, zonas onde os intocáveis co-existem com as pedras e os bichos; onde aspirar a este paraíso ou aquele Mag Mell será motivo para ódios e mortes; onde uma civilização sem tradição escrita ou ruínas de pedra não merece mais que a atenção de uns estudiosos bafientos e entediantes que, de quando em vez, publicam uns textos ou vídeos com curiosidades.
O género humano conseguiu – ou quase - ao longo dos tempos, extinguir os escravos e a pena de morte, o direito de pernada e as oligarquias hereditárias. Ainda falta a excisão feminina, os vistos e os passaportes, o salário e o crédito…
Mas a segregação racial foi banida de todas as leis nacionais!
E eu sou contemporâneo disso.
Sou orgulhosamente contemporâneo disso!
Texto: by me
Imagem: algures na Web
Mais um, dirão uns; um escaruma transformado em herói, dirão outros; já foi tarde, dirão ainda outros.
Com direito a transmissão televisiva, no antes, no durante e no depois, era eu um jovem adulto e não perdi pitada (ou frame).
Pondo de parte a questão emotiva de eu próprio o ter vivido ainda que à distância, este foi o facto mais relevante do séc. XX.
As tendências e as revoluções – populares ou ditatoriais – as guerras e os regimes vêm e vão como marés na areia. Influenciam apenas os que as vivem e marginalmente os vindouros. Ficarão na história como mais um facto a ser estudado nos bancos da escola ou nos anfiteatros da universidade.
Mas o fim da última lei de segregação racial, onde por lei e por nascimento se decidia o que se podia ser, fazer, dizer, pensar, existir…
Isto é digno de um feriado mundial!
Não são os decretos que mudam as mentalidades, nem as revoluções ou tomadas de poder. Existem, e ainda existirão, zonas onde os intocáveis co-existem com as pedras e os bichos; onde aspirar a este paraíso ou aquele Mag Mell será motivo para ódios e mortes; onde uma civilização sem tradição escrita ou ruínas de pedra não merece mais que a atenção de uns estudiosos bafientos e entediantes que, de quando em vez, publicam uns textos ou vídeos com curiosidades.
O género humano conseguiu – ou quase - ao longo dos tempos, extinguir os escravos e a pena de morte, o direito de pernada e as oligarquias hereditárias. Ainda falta a excisão feminina, os vistos e os passaportes, o salário e o crédito…
Mas a segregação racial foi banida de todas as leis nacionais!
E eu sou contemporâneo disso.
Sou orgulhosamente contemporâneo disso!
Texto: by me
Imagem: algures na Web
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Condenado!
Havia duas! E em tendo esta fechado, resta uma em toda a cidade de Lisboa.
Refiro-me a chapelarias, lojas que vendem, ou vendiam, chapéus, luvas e afins.
Resta, aos consumidores e utilizadores de chapéus na cabeça, como eu próprio, o recurso a bonés, de pano ou fazenda, que ainda vamos encontrando em algumas lojas especializadas em gente nova ou, em alternativa, as feiras sazonais, onde os mais velhos vão fazendo ainda as suas compras.
A que ainda sobra, no Rossio e ali mesmo ao lado do palácio da Independência e do teatro D. Maria, tem de tudo um pouco - cartolas, cocos, de caça, de cavaleiro, bonés, panamás, palhinhas, de noiva, de escuteiro, etc. Mas sabendo-se única no mercado, faz disso uso e os seus preços reflectem-no.
Restará, em fechando ela também, ir até à província, àquelas cidades que vivem de serviços aos campos e agricultores em redor, e esperar que por lá se encontre algo que agrade. O que é raro.
Por este andar, acredito que estarei condenado a andar em cabelo!
Texto e imagem: by me
Refiro-me a chapelarias, lojas que vendem, ou vendiam, chapéus, luvas e afins.
Resta, aos consumidores e utilizadores de chapéus na cabeça, como eu próprio, o recurso a bonés, de pano ou fazenda, que ainda vamos encontrando em algumas lojas especializadas em gente nova ou, em alternativa, as feiras sazonais, onde os mais velhos vão fazendo ainda as suas compras.
A que ainda sobra, no Rossio e ali mesmo ao lado do palácio da Independência e do teatro D. Maria, tem de tudo um pouco - cartolas, cocos, de caça, de cavaleiro, bonés, panamás, palhinhas, de noiva, de escuteiro, etc. Mas sabendo-se única no mercado, faz disso uso e os seus preços reflectem-no.
Restará, em fechando ela também, ir até à província, àquelas cidades que vivem de serviços aos campos e agricultores em redor, e esperar que por lá se encontre algo que agrade. O que é raro.
Por este andar, acredito que estarei condenado a andar em cabelo!
Texto e imagem: by me
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
Poema: By António Gedeão
Imagem: by me
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
Poema: By António Gedeão
Imagem: by me
Isish coffee
As noites começam a estar frias e longas!
Nestas ocasiões não apetece fazer seja o que for que não seja aquecer um pouco, o corpo e a alma.
A minha receita é fácil, desde que não se abuse!
Por esta ordem no copo:
Uma parte de whisky (eu uso Canadian Club, mas é uma questão de gosto);
Três partes de café. Bem forte, bem quente.
Uma parte de natas batidas (os gulosos podem bate-las com açúcar, ainda que eu dispense)
A isto dá-se o nome genérico de “Irish Coffee”.
É suposto ser servido num copo de pé alto (e eu recomendo-o) para que não nos queimemos ao segurá-lo mas possamos ir aquecendo as mãos.
Mas eu dou-lhe um toque pessoal de que gosto particularmente: uma (ou duas) pitadas de canela por cima.
Não será tão tradicional quanto isso, mas que gosto, lá isso gosto.
Gosto quase tanto quanto o partilhar esta bebida com boa companhia.
Texto e imagem: by me
Nestas ocasiões não apetece fazer seja o que for que não seja aquecer um pouco, o corpo e a alma.
A minha receita é fácil, desde que não se abuse!
Por esta ordem no copo:
Uma parte de whisky (eu uso Canadian Club, mas é uma questão de gosto);
Três partes de café. Bem forte, bem quente.
Uma parte de natas batidas (os gulosos podem bate-las com açúcar, ainda que eu dispense)
A isto dá-se o nome genérico de “Irish Coffee”.
É suposto ser servido num copo de pé alto (e eu recomendo-o) para que não nos queimemos ao segurá-lo mas possamos ir aquecendo as mãos.
Mas eu dou-lhe um toque pessoal de que gosto particularmente: uma (ou duas) pitadas de canela por cima.
Não será tão tradicional quanto isso, mas que gosto, lá isso gosto.
Gosto quase tanto quanto o partilhar esta bebida com boa companhia.
Texto e imagem: by me
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Liberdade
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, musica, o luar, e o sol, que peca
só quando, em vez de criar, seca!
O mais do que isto
É Jesus Cristo
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Poema: by Fernando Pessoa
Imagem: by me
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, musica, o luar, e o sol, que peca
só quando, em vez de criar, seca!
O mais do que isto
É Jesus Cristo
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Poema: by Fernando Pessoa
Imagem: by me
A saia
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Wheels versus legs
Há poucos meses abri um outro espaço na web. Chamei-lhe Wheelsverusulegs tem como objectivo a denúncia daquilo que considero atentados à segurança de peões através do estacionamento automóvel.
De então para cá, e sem que seja uma obsessão, sempre que encontro uma viatura estacionada no passeio ou passadeira e que obrigue quem circule a pé a seguir pelo asfalto, fotografo-a. E publico a imagem, com a respectiva matricula, indicando a data e o local onde foi feita.
Não é um espaço muito visitado, bem pelo contrário. Até porque o nome foi bem mal escolhido. Mas vou fazendo alguma publicidade dele junto de quem conheço. Não para que veja as estatísticas a mudarem mas antes para que quem quer que o visite verifique o erro das atitudes ali mostradas.
Bem curioso de verificar são as reacções de quem o vê, em função dos seus comportamentos habituais. Há quem fique escandalizado com aquilo que constata, o que me deixa surpreso, já que é o nosso quotidiano, infelizmente.
Há quem ponha em causa a legalidade do blog, tendo em atenção a vertente da protecção de dados. Mas, até eu que sou um defensor acérrimo desta questão, aqui não vejo problema. Acontece, porém, que estes que levantam este tipo de objecções (e outros), são exactamente aqueles que sei, por suspeita ou constatação, que praticam o estacionamento selvagem, ignorando quem anda a pé.
Os quatro piscas e o argumento de ser apenas por um minuto (os minutos deles têm, em regra, muitos segundos) são o suficiente para justificar este tipo de parqueamento. E os peões que se desviem, que sempre é mais fácil eles irem para o asfalto que a viatura arrumada na faixa de rodagem a impedir a circulação das demais. Quanto mais não seja porque, neste caso, haverá pela certa uma qualquer patrulha de polícia a autuar, o que não sucede nos passeios.
Por mim, continuarei a fotografar e a publicar, quanto mais não seja como forma de protesto. Ainda que não adiante enviar o link para as autoridades, a fim de evitarem que nesses locais tal suceda. Fechar os olhos dá bem menos trabalho que tratar de papelada.
Além do mais, e sei-o em primeira mão, algumas das viaturas assim parqueadas pertencem a agentes de forças policiais, e não ficaria bem levantar problemas a camaradas!
De então para cá, e sem que seja uma obsessão, sempre que encontro uma viatura estacionada no passeio ou passadeira e que obrigue quem circule a pé a seguir pelo asfalto, fotografo-a. E publico a imagem, com a respectiva matricula, indicando a data e o local onde foi feita.
Não é um espaço muito visitado, bem pelo contrário. Até porque o nome foi bem mal escolhido. Mas vou fazendo alguma publicidade dele junto de quem conheço. Não para que veja as estatísticas a mudarem mas antes para que quem quer que o visite verifique o erro das atitudes ali mostradas.
Bem curioso de verificar são as reacções de quem o vê, em função dos seus comportamentos habituais. Há quem fique escandalizado com aquilo que constata, o que me deixa surpreso, já que é o nosso quotidiano, infelizmente.
Há quem ponha em causa a legalidade do blog, tendo em atenção a vertente da protecção de dados. Mas, até eu que sou um defensor acérrimo desta questão, aqui não vejo problema. Acontece, porém, que estes que levantam este tipo de objecções (e outros), são exactamente aqueles que sei, por suspeita ou constatação, que praticam o estacionamento selvagem, ignorando quem anda a pé.
Os quatro piscas e o argumento de ser apenas por um minuto (os minutos deles têm, em regra, muitos segundos) são o suficiente para justificar este tipo de parqueamento. E os peões que se desviem, que sempre é mais fácil eles irem para o asfalto que a viatura arrumada na faixa de rodagem a impedir a circulação das demais. Quanto mais não seja porque, neste caso, haverá pela certa uma qualquer patrulha de polícia a autuar, o que não sucede nos passeios.
Por mim, continuarei a fotografar e a publicar, quanto mais não seja como forma de protesto. Ainda que não adiante enviar o link para as autoridades, a fim de evitarem que nesses locais tal suceda. Fechar os olhos dá bem menos trabalho que tratar de papelada.
Além do mais, e sei-o em primeira mão, algumas das viaturas assim parqueadas pertencem a agentes de forças policiais, e não ficaria bem levantar problemas a camaradas!
Texto e imagem: by me
domingo, 16 de novembro de 2008
Governação democrática
---A ministra da educação diz que não se sente intimidada com manifestações e que as políticas decididas são para manter. Isto apesar de 120.000 professores, quatro quintos destes profissionais, se terem manifestado contra essas mesmas políticas.
---O comandante da PSP decide que deixará de divulgar para o público o número de participantes nas manifestações por não acrescentar nenhuma mais-valia para a polícia.
---A líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, reconheceu em Ourém, que o partido está a ter dificuldade em passar a sua mensagem, sobretudo na televisão pública, chegando mesmo a afirmar que "não pode ser a comunicação social a seleccionar aquilo que transmite".
Este é o governo que temos, saído de uma maioria democraticamente eleita.
Estas são as polícias que temos, geridas por um governo democraticamente eleito.
Esta é a oposição que temos e que se candidata a ser democraticamente eleita como governo.
Apetece-me dizer, com todo o perigo que tal afirmação contém:
“Será que vale a pena continuara a alimentar a democracia?”
Claro que vale a pena e valerá sempre!
A questão põe-se, muito seriamente, em saber escolher para os cargos de decisão, aqueles que demonstrem um perfil de honestidade, de integridade, de respeito pelo cidadão.
E este perfil pode e deve ser avaliado pelas obras feitas, pelos actos tidos, pelos comportamentos públicos e privados, e não apenas pelas promessas dadas, pelas cores das gravatas, pelos sorrisos e beijinhos distribuídos ou pela simpatia que um dado partido possa ter na população!
E acrescentar a tudo isto a capacidade técnica para gerir com eficácia um país.
Mas, talvez, acima de tudo isto, ou em paralelo com tudo isto, ser alguém que honre o compromisso assumido aquando da eleição e que não se esqueça que o seu papel é o de cumprir um mandato passado pelo povo, ser merecedor da confiança que os eleitores lhe depositaram e saber que, em democracia, os governantes são os executores da vontade dos cidadãos.
Texto e imagem: by me
---O comandante da PSP decide que deixará de divulgar para o público o número de participantes nas manifestações por não acrescentar nenhuma mais-valia para a polícia.
---A líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, reconheceu em Ourém, que o partido está a ter dificuldade em passar a sua mensagem, sobretudo na televisão pública, chegando mesmo a afirmar que "não pode ser a comunicação social a seleccionar aquilo que transmite".
Este é o governo que temos, saído de uma maioria democraticamente eleita.
Estas são as polícias que temos, geridas por um governo democraticamente eleito.
Esta é a oposição que temos e que se candidata a ser democraticamente eleita como governo.
Apetece-me dizer, com todo o perigo que tal afirmação contém:
“Será que vale a pena continuara a alimentar a democracia?”
Claro que vale a pena e valerá sempre!
A questão põe-se, muito seriamente, em saber escolher para os cargos de decisão, aqueles que demonstrem um perfil de honestidade, de integridade, de respeito pelo cidadão.
E este perfil pode e deve ser avaliado pelas obras feitas, pelos actos tidos, pelos comportamentos públicos e privados, e não apenas pelas promessas dadas, pelas cores das gravatas, pelos sorrisos e beijinhos distribuídos ou pela simpatia que um dado partido possa ter na população!
E acrescentar a tudo isto a capacidade técnica para gerir com eficácia um país.
Mas, talvez, acima de tudo isto, ou em paralelo com tudo isto, ser alguém que honre o compromisso assumido aquando da eleição e que não se esqueça que o seu papel é o de cumprir um mandato passado pelo povo, ser merecedor da confiança que os eleitores lhe depositaram e saber que, em democracia, os governantes são os executores da vontade dos cidadãos.
Texto e imagem: by me
sábado, 15 de novembro de 2008
Candidate
Where I stand for my project “Oldfashion”, I have all kinds of visitors.
With or without money, with or without education. All kinds!
Yesterday I got a new kind: a candidate to politics! Maybe to government!
I just don’t know its affiliation, but I suppose that is not important!
Texto e imagem: by me
With or without money, with or without education. All kinds!
Yesterday I got a new kind: a candidate to politics! Maybe to government!
I just don’t know its affiliation, but I suppose that is not important!
Texto e imagem: by me
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Maria
Maria, a cigana, a vidente, a viúva.
Maria, que diz que mulher que enviúva veste de preto e não tem outro homem, ou não é mulher séria. Que são “crenças cá da raça”.
Maria, que em tendo já passado dos setenta anos, usa os dias nos jardins lendo a sina, se São Pedro ajudar.
Maria, que depois de receber dois retratos, um de corpo inteiro como quis e um só de busto, não teve coragem de me propor ler-me a mão.
Maria, que antes de abandonar o banco onde esteve umas horas publicitando o seu dom a quem passava, me soube desejar saúde e sol para o meu projecto.
Maria cigana, para quem "A terra é a minha pátria, o céu o meu tecto, a liberdade a minha religião!”
Maria, que diz que mulher que enviúva veste de preto e não tem outro homem, ou não é mulher séria. Que são “crenças cá da raça”.
Maria, que em tendo já passado dos setenta anos, usa os dias nos jardins lendo a sina, se São Pedro ajudar.
Maria, que depois de receber dois retratos, um de corpo inteiro como quis e um só de busto, não teve coragem de me propor ler-me a mão.
Maria, que antes de abandonar o banco onde esteve umas horas publicitando o seu dom a quem passava, me soube desejar saúde e sol para o meu projecto.
Maria cigana, para quem "A terra é a minha pátria, o céu o meu tecto, a liberdade a minha religião!”
Texto e imagem: by me
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Imagem da justiça
Tenho vindo a constatar, através do contador de visitas do blog, que existem inúmeros cidadãos do mundo que procuram imagens da justiça.
Efectivamente, não será fácil de encontrar, para além dos estereótipos do martelo ou da moça vendada com balança e espada na mão.
É que justiça é, não apenas uma questão cultural e geográfica como, e principalmente, abstracta. Nem sempre a aplicação das leis se traduz por justiça, nem sempre a aplicação de justiça corresponde ao que consta nas leis. Até porque o que hoje é correcto, amanhã poderá já não o ser.
Assim, talvez que esta possa ser uma imagem de justiça: o edifício onde ela é decidida, a polícia que a faz cumprir e o estandarte da nacionalidade que define a zona de influencia dessa mesma justiça.
Tudo sob um céu azul, límpido, sem mácula, aquele mesmo céu que tudo cobre, que não conseguimos atingir e que é testemunha silenciosa de como os Homens são fúteis em perseguir algo que não existe!
Texto e imagem: by me
Efectivamente, não será fácil de encontrar, para além dos estereótipos do martelo ou da moça vendada com balança e espada na mão.
É que justiça é, não apenas uma questão cultural e geográfica como, e principalmente, abstracta. Nem sempre a aplicação das leis se traduz por justiça, nem sempre a aplicação de justiça corresponde ao que consta nas leis. Até porque o que hoje é correcto, amanhã poderá já não o ser.
Assim, talvez que esta possa ser uma imagem de justiça: o edifício onde ela é decidida, a polícia que a faz cumprir e o estandarte da nacionalidade que define a zona de influencia dessa mesma justiça.
Tudo sob um céu azul, límpido, sem mácula, aquele mesmo céu que tudo cobre, que não conseguimos atingir e que é testemunha silenciosa de como os Homens são fúteis em perseguir algo que não existe!
Texto e imagem: by me
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Ética jornalística? Onde?
Pedaço de um noticiário televisivo onde a informação se mistura com a publicidade.
Resta saber qual tem mais relevo.
Texto: by me
Imagem: from the video quoted
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Surprise!
Some times we can surprise our self’s with our automatic behavior.
Those two pictures were taken some days ago, in a church. While a friend was looking around its interior, I was in the rear, near the door, waiting.
When looking at this candle and window, it seamed that it would make a nice picture, and I did the one on the left. Standing where I was, against the door, I use a rather long exposure time for a hand held camera with a medium f/ stop.
Looking it, in the small screen of the camera, it looked a little underexposure, so I did another one, on the right, using a bigger f/ stop.
And, as always, in both cases I framed thinking of a later cropping.
What did surprise me was the fact that I put the candle in the exactly same spot in both pictures. No measures, no tripod, no specials thinkings. Just framing, exposuring and trying to balance both elements – window and candle.
They are failed pictures! If I had time and my mind in the right place, I would do the exposure of the first and the framing of the second. But, I guess, the candle would be for ever in the same place.
Texto e imagem: by me
Those two pictures were taken some days ago, in a church. While a friend was looking around its interior, I was in the rear, near the door, waiting.
When looking at this candle and window, it seamed that it would make a nice picture, and I did the one on the left. Standing where I was, against the door, I use a rather long exposure time for a hand held camera with a medium f/ stop.
Looking it, in the small screen of the camera, it looked a little underexposure, so I did another one, on the right, using a bigger f/ stop.
And, as always, in both cases I framed thinking of a later cropping.
What did surprise me was the fact that I put the candle in the exactly same spot in both pictures. No measures, no tripod, no specials thinkings. Just framing, exposuring and trying to balance both elements – window and candle.
They are failed pictures! If I had time and my mind in the right place, I would do the exposure of the first and the framing of the second. But, I guess, the candle would be for ever in the same place.
Texto e imagem: by me
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Chips
They first came for the Communists,
and I didn't speak up
because I wasn't a Communist.
Then they came for the Jews,
and I didn't speak up
because I wasn't a Jew.
Then they came for the trade unionists,
and I didn't speak up
because I wasn't a trade unionist.
Then they came for the Catholics,
and I didn't speak up
because I was a Protestant.
Then they came for me —
and by that time no one was left
to speak up.
and I didn't speak up
because I wasn't a Communist.
Then they came for the Jews,
and I didn't speak up
because I wasn't a Jew.
Then they came for the trade unionists,
and I didn't speak up
because I wasn't a trade unionist.
Then they came for the Catholics,
and I didn't speak up
because I was a Protestant.
Then they came for me —
and by that time no one was left
to speak up.
Haverá quem diga: Lá está ele de novo!
Mas não posso deixar de me preocupar com a crescente e quase que imparável onda de controlo electrónico que este governo quer impor aos cidadãos!
Após a ideia peregrina do Cartão do Cidadão, que conterá dados sobre o seu portador a que ele não terá acesso mas que autoridades terão e onde poderão elas acrescentar elementos sem que o seu portador possa obstar o que quer que seja, vem agora o “Chip” para matriculas automóveis.
De acordo com notícia publicada no “Diário Económico”, este sistema terá múltiplas aplicações que não apenas as de controlo e fiscalização de viaturas por parte das autoridades policiais.
O secretário de Estado das Obras Públicas, Paulo Campos, diz que este sistema poderá ser usado por companhias de seguras, portagens em auto-estradas, acesso a zonas urbanas restritas ou mesmo o simples abrir de um portão de garagem.
Significa isto que os mecanismos de leitura do referido Chip estarão disponíveis nas mãos de privados, instituições ou indivíduos, podendo mesmo, e pensando no caso dos portões, serem vendidos em lojas ou mesmo nas feiras.
No caso dos seguros, este sistema permitirá que apenas estejam passíveis de seguro as viaturas em circulação e que aquelas guardadas só o activem quando na via pública. Donde, haverá sistemas de leitura desses chips em tudo quanto é lado e o correspondente registo de quando e onde um carro estará a circular.
Tão ou mais grave que isto, as novas auto-estradas vão poder fazer as suas cobranças de portagens recorrendo a este sistema e, sendo ele obrigatório para todas as viaturas, poderão deixar de ter portagens manuais. O que implica que quem quer que queira usar as auto-estradas deixará de poder pagar o seu uso em dinheiro, sendo obrigado a possuir conta bancária para tal. Ou seja, e por outras palavras, o dinheiro emitido pelo estado deixará de ter valor em algum lugar, no caso, nas auto-estradas.
Comentada esta questão entre conhecidos, houve logo quem perguntasse: “Então e os estrangeiros?” Suponho que estes serão obrigados a comprar um chip temporário, se quiserem circular nas vias de maior qualidade, ficando igualmente sujeitos a constarem em bases de dados que informam quem circula onde e quando, tal como acontecerá com os nacionais.
Claro está que este novo sistema, para além de obrigatório, será pago pelos possuidores de automóvel, tal como acontece com a renovação do bilhete de identidade.
Não posso, de forma alguma, concordar com esta permanente vigilância e controlo dos cidadãos. A privacidade de cada um vai morrendo aos poucos, sendo o Estado e as empresas comparáveis ao Grande Irmão, que tudo sabe e decide. Nem podemos deixar que sejamos escravos da tecnologia. Esta existe para nos servir e não para que nós a sirvamos.
A simples existência de objectos ou técnicas não é nem pleno de bondade nem cheio de maldade. É o seu uso que pode ser útil ou danoso. E a criação e imposição de técnicas que permitam o controlo dos cidadãos dá acesso a que a maldade se imponha.
A título de exemplo, apenas um, um dos grandes impulsos nas tecnologias de informação e tratamento de dados foi feito pelo então gigante IBM na gestão dos judeus, na Alemanha nazi. Que cada um deles possuía um numero de série tatuado.
Será isto muito diferente dos chips no cartão de cidadão ou nas matrículas dos automóveis?
“Primeiro eles vieram pelos judeus
e eu não falei,
porque não era judeu.
Depois vieram pelos comunistas
e eu não falei,
porque não era comunista.
Depois procuraram os católicos
e eu não falei,
porque era protestante.
Depois vieram pelos sindicalistas
e eu não falei,
porque não era sindicalista.
Então vieram por mim
mas aí não havia ninguém
para falar por mim.”
Texto e imagem: by me
Poema: by Martin Niemöller, 1938
Mas não posso deixar de me preocupar com a crescente e quase que imparável onda de controlo electrónico que este governo quer impor aos cidadãos!
Após a ideia peregrina do Cartão do Cidadão, que conterá dados sobre o seu portador a que ele não terá acesso mas que autoridades terão e onde poderão elas acrescentar elementos sem que o seu portador possa obstar o que quer que seja, vem agora o “Chip” para matriculas automóveis.
De acordo com notícia publicada no “Diário Económico”, este sistema terá múltiplas aplicações que não apenas as de controlo e fiscalização de viaturas por parte das autoridades policiais.
O secretário de Estado das Obras Públicas, Paulo Campos, diz que este sistema poderá ser usado por companhias de seguras, portagens em auto-estradas, acesso a zonas urbanas restritas ou mesmo o simples abrir de um portão de garagem.
Significa isto que os mecanismos de leitura do referido Chip estarão disponíveis nas mãos de privados, instituições ou indivíduos, podendo mesmo, e pensando no caso dos portões, serem vendidos em lojas ou mesmo nas feiras.
No caso dos seguros, este sistema permitirá que apenas estejam passíveis de seguro as viaturas em circulação e que aquelas guardadas só o activem quando na via pública. Donde, haverá sistemas de leitura desses chips em tudo quanto é lado e o correspondente registo de quando e onde um carro estará a circular.
Tão ou mais grave que isto, as novas auto-estradas vão poder fazer as suas cobranças de portagens recorrendo a este sistema e, sendo ele obrigatório para todas as viaturas, poderão deixar de ter portagens manuais. O que implica que quem quer que queira usar as auto-estradas deixará de poder pagar o seu uso em dinheiro, sendo obrigado a possuir conta bancária para tal. Ou seja, e por outras palavras, o dinheiro emitido pelo estado deixará de ter valor em algum lugar, no caso, nas auto-estradas.
Comentada esta questão entre conhecidos, houve logo quem perguntasse: “Então e os estrangeiros?” Suponho que estes serão obrigados a comprar um chip temporário, se quiserem circular nas vias de maior qualidade, ficando igualmente sujeitos a constarem em bases de dados que informam quem circula onde e quando, tal como acontecerá com os nacionais.
Claro está que este novo sistema, para além de obrigatório, será pago pelos possuidores de automóvel, tal como acontece com a renovação do bilhete de identidade.
Não posso, de forma alguma, concordar com esta permanente vigilância e controlo dos cidadãos. A privacidade de cada um vai morrendo aos poucos, sendo o Estado e as empresas comparáveis ao Grande Irmão, que tudo sabe e decide. Nem podemos deixar que sejamos escravos da tecnologia. Esta existe para nos servir e não para que nós a sirvamos.
A simples existência de objectos ou técnicas não é nem pleno de bondade nem cheio de maldade. É o seu uso que pode ser útil ou danoso. E a criação e imposição de técnicas que permitam o controlo dos cidadãos dá acesso a que a maldade se imponha.
A título de exemplo, apenas um, um dos grandes impulsos nas tecnologias de informação e tratamento de dados foi feito pelo então gigante IBM na gestão dos judeus, na Alemanha nazi. Que cada um deles possuía um numero de série tatuado.
Será isto muito diferente dos chips no cartão de cidadão ou nas matrículas dos automóveis?
“Primeiro eles vieram pelos judeus
e eu não falei,
porque não era judeu.
Depois vieram pelos comunistas
e eu não falei,
porque não era comunista.
Depois procuraram os católicos
e eu não falei,
porque era protestante.
Depois vieram pelos sindicalistas
e eu não falei,
porque não era sindicalista.
Então vieram por mim
mas aí não havia ninguém
para falar por mim.”
Texto e imagem: by me
Poema: by Martin Niemöller, 1938
domingo, 9 de novembro de 2008
(...)
… e quando a mãe-natureza se manifesta, numa das suas muitas formas atraentes e sadias, o bicho-homem refugia-se debaixo de telha, amarrado aos fios eléctricos e pendurado das antenas.
Para não se sentir filho dessa natureza, que trata como bastarda, nem se sentir só, dentro dos muros que ele mesmo constrói!
Por vezes, gostava de não ser co-responsável por este isolamento, não tendo o ofício que tenho!
Que as histórias contadas na soleira da porta ou desenhadas nas estrelas são, as mais das vezes, muito mais ricas e saborosas!
Texto e imagem: by me
Feiuras e belezas
É uma teoria cá muito minha. Será polémica, pela certa, mas é fruto da minha observação. E qualquer outra que seja enunciada em sentido oposto será tão válida, ou tão pouco, quanto esta.
Tenho para mim que há um qualquer factor meio desconhecido que faz com que a maioria de quem trabalha em limpezas seja feio.
Não me refiro ao seu aspecto geral, já que acredito que quem tem este tipo de oficio não se preocupe em demasia com as roupas ou maquiagens. Refiro-me, antes sim, às formas do corpo e ao desenho do rosto. Regra geral são feios e pouco apelativos.
Encontramos o oposto, gente bonita e cativante fisicamente, em quem trabalha no comércio ou qualquer outra actividade que se relaciona com público. Mas nas limpezas – industriais, domésticas, urbanas - ou mesmo nas cozinhas, lá onde os comensais não enxergam, são em regra feias.
Para quem tiver dificuldade em acreditar no que afirmo, faça um exercício: olhando para quem cuida da sujeira dos demais, imagine-o ou a sem aquela farda, bata ou touca. Ou, igualmente eficaz, espere que saia do trabalho e observe a pessoa em questão com o aspecto que tem fora dele. Constatará, pela certa, que o que aqui escrevo é verdade. Nas grande maioria dos casos, que excepções existem.
Quanto à mocinha aqui retratada, será difícil atribuir-lhe esse tipo de ocupação pelo que aparenta. Na verdade, ela fabrica e vende adornos que os outros, os feios, compram para que se lhe assemelhem.
E, considerando estas constatações, pergunto eu:
Será que existe uma qualquer lei não enunciada que separa bonitos de feios por ocupações? Ou acontecerá uma transformação corporal em função do trabalho de cada um?
Entenda-se, no entanto, que o conceito de feiura ou de beleza depende de quem observa e que em nada retrata o que se passa no interior de quem é observado, que quem vê caras não vê corações!
Texto e imagem: by me
Tenho para mim que há um qualquer factor meio desconhecido que faz com que a maioria de quem trabalha em limpezas seja feio.
Não me refiro ao seu aspecto geral, já que acredito que quem tem este tipo de oficio não se preocupe em demasia com as roupas ou maquiagens. Refiro-me, antes sim, às formas do corpo e ao desenho do rosto. Regra geral são feios e pouco apelativos.
Encontramos o oposto, gente bonita e cativante fisicamente, em quem trabalha no comércio ou qualquer outra actividade que se relaciona com público. Mas nas limpezas – industriais, domésticas, urbanas - ou mesmo nas cozinhas, lá onde os comensais não enxergam, são em regra feias.
Para quem tiver dificuldade em acreditar no que afirmo, faça um exercício: olhando para quem cuida da sujeira dos demais, imagine-o ou a sem aquela farda, bata ou touca. Ou, igualmente eficaz, espere que saia do trabalho e observe a pessoa em questão com o aspecto que tem fora dele. Constatará, pela certa, que o que aqui escrevo é verdade. Nas grande maioria dos casos, que excepções existem.
Quanto à mocinha aqui retratada, será difícil atribuir-lhe esse tipo de ocupação pelo que aparenta. Na verdade, ela fabrica e vende adornos que os outros, os feios, compram para que se lhe assemelhem.
E, considerando estas constatações, pergunto eu:
Será que existe uma qualquer lei não enunciada que separa bonitos de feios por ocupações? Ou acontecerá uma transformação corporal em função do trabalho de cada um?
Entenda-se, no entanto, que o conceito de feiura ou de beleza depende de quem observa e que em nada retrata o que se passa no interior de quem é observado, que quem vê caras não vê corações!
Texto e imagem: by me
sábado, 8 de novembro de 2008
Tabuleiros e umbigos
É fácil de perceber como os que nos circundam encaram a vida e o seu relacionamento com quem os cerca. Basta estar alerta para pequenos gestos, daqueles mesmo insignificantes e feitos sem pensar.
No caso, trata-se dos tabuleiros de uma cantina que cada utilizador deve, após a refeição, colocar num carrinho de recolha.
Cada um dos carrinhos tem calhas onde se apoiam os tabuleiros, a dois por calha. E sendo que estas possuem um “fim de curso” para evitar que o primeiro caia quando empurrado, é o lado oposto ou “frente” que é apresentado aos utilizadores. Nada de especial até aqui. Não fora a forma como os tais tabuleiros são colocados!
Podem ser colocados no carrinho à altura das mãos de quem os transporta, nas calhas de cima ou nas de baixo. Em regra, utilizam-se as que nos ficam mais acessíveis. Mas em encontrando estas já ocupadas, temos que nos baixar ou elevar os braços para aceder aos espaços vazios. Também nada de especial até aqui.
O que já não é tão agradável a quem chega é constatar que todas as calhas já estão ocupadas. Não por falta de recolha por parte de quem o deve fazer mas antes porque apenas a parte frontal do carrinho está ocupada. A esmagadora maioria dos utilizadores coloca os tabuleiros logo no inicio das calhas, obrigando a quem vem depois a usar o seu próprio tabuleiro para os empurrar para o fundo a fim de ter espaço. É um exercício de pontaria e equilíbrio o usar o topo de um tabuleiro para acertar noutro a ponto de ser empurrado e sem deixar tombar o seu conteúdo. E ficaria bem mais facilitada a vida de todos se, ao colocar o tabuleiro, este fosse empurrado logo para o fundo. Desta forma, quem quer que venha depois encontra espaço livre para o colocar sem estar com jogos de pontaria e sentimentos menos simpáticos para com quem o antecedeu.
Mas estes mesmos, os que não gostam de terem falta de espaço, são os primeiros, em regra, a não o deixar para os demais.
Esta situação, ainda que quase insignificante no dia-a-dia, vivo-a eu onde trabalho. Com frequência faço reparos a quem comigo coloca os tabuleiros sobre a questão, mostrando os incómodos que provoca e o quão simples é modifica-la. Inútil!
Na refeição seguinte, voltam a fazer o mesmo, ocupando a entrada e não deixando espaço a quem os siga.
Olhar para o umbigo é ou pode ser bom. Muito principalmente se olharmos para o umbigo dos outros, o que é muito mais fácil que para o nosso próprio e onde se encontram alguns muito bonitos. Afinal, basta levantarmos os olhos!
Texto e imagem: by me
No caso, trata-se dos tabuleiros de uma cantina que cada utilizador deve, após a refeição, colocar num carrinho de recolha.
Cada um dos carrinhos tem calhas onde se apoiam os tabuleiros, a dois por calha. E sendo que estas possuem um “fim de curso” para evitar que o primeiro caia quando empurrado, é o lado oposto ou “frente” que é apresentado aos utilizadores. Nada de especial até aqui. Não fora a forma como os tais tabuleiros são colocados!
Podem ser colocados no carrinho à altura das mãos de quem os transporta, nas calhas de cima ou nas de baixo. Em regra, utilizam-se as que nos ficam mais acessíveis. Mas em encontrando estas já ocupadas, temos que nos baixar ou elevar os braços para aceder aos espaços vazios. Também nada de especial até aqui.
O que já não é tão agradável a quem chega é constatar que todas as calhas já estão ocupadas. Não por falta de recolha por parte de quem o deve fazer mas antes porque apenas a parte frontal do carrinho está ocupada. A esmagadora maioria dos utilizadores coloca os tabuleiros logo no inicio das calhas, obrigando a quem vem depois a usar o seu próprio tabuleiro para os empurrar para o fundo a fim de ter espaço. É um exercício de pontaria e equilíbrio o usar o topo de um tabuleiro para acertar noutro a ponto de ser empurrado e sem deixar tombar o seu conteúdo. E ficaria bem mais facilitada a vida de todos se, ao colocar o tabuleiro, este fosse empurrado logo para o fundo. Desta forma, quem quer que venha depois encontra espaço livre para o colocar sem estar com jogos de pontaria e sentimentos menos simpáticos para com quem o antecedeu.
Mas estes mesmos, os que não gostam de terem falta de espaço, são os primeiros, em regra, a não o deixar para os demais.
Esta situação, ainda que quase insignificante no dia-a-dia, vivo-a eu onde trabalho. Com frequência faço reparos a quem comigo coloca os tabuleiros sobre a questão, mostrando os incómodos que provoca e o quão simples é modifica-la. Inútil!
Na refeição seguinte, voltam a fazer o mesmo, ocupando a entrada e não deixando espaço a quem os siga.
Olhar para o umbigo é ou pode ser bom. Muito principalmente se olharmos para o umbigo dos outros, o que é muito mais fácil que para o nosso próprio e onde se encontram alguns muito bonitos. Afinal, basta levantarmos os olhos!
Texto e imagem: by me
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Time line
Temos a largura, a altura e o comprimento. E inventamos maneiras e processos de subir mais alto, de viajar mais longe, de controlar a nossa largura.
Mas sobre a quarta dimensão pouco mais podemos fazer que constatá-la. Sobre o tempo, podemos medi-lo, podemos saber o que existe numa das semi-rectas cuja origem é o instante em que nos encontramos e cujo prolongamento é o passado. Sobre a outra, sobre o futuro, mais não podemos fazer que especular, supor, desejar.
Mas talvez porque sobre o futuro não temos certezas, procuramos ter todas as possíveis sobre o passado. É uma espécie de monomania da humanidade, o saber o que aconteceu. E a isto chama-se História. Que tanto existe enquanto ciência e investigação quanto por curiosidade individual.
Esta preocupação sobre a Historia prende-se, creio eu, com a necessidade de sabermos o que somos ou porque somos. E vamos buscar no passado e às raízes da humanidade ou às árvores genealógicas os argumentos que nos definem ou caracterizam. Como povos, civilizações, pessoas ou famílias.
Claro que também é ao passado que vamos buscar as bases das regras sociais, as que definem relações e comportamentos. Porque, se no passado eram regras e métodos que deram certo, mantenhamo-las. Que inventar ou inovar dá trabalho!
E se nas civilizações mais antigas, solidamente instaladas na linha do tempo e do espaço, esta procura do saber não tem foros de preocupação, naquelas outras que resultam da fusão de povos por migração ou colonização, pode ser uma obsessão.
Saber quem foram os pais, avós, bisavós, qual a linhagem, se ainda há parentes vivos por lá, de onde se descende, é uma afirmação ou resposta comum, como que uma identificação social. E não o saber acaba por ser, em muitos casos, uma pesquisa a efectuar.
Em tempos conheci uma senhora via web que tinha como objectivo na vida o encontrar os vestígios da sua origem. Nascida no Brasil, havia que procurar por cá, Portugal, de onde tinham ido os antepassados.
De alguma forma colaborei nessa investigação, sem mesmo sair daqui do computador, e vim a encontrar referencias que remontavam ao reinado de D. Sebastião e a sua expedição africana.
Por outro lado, conheço alguém cuja relação com a história e raízes é exactamente a oposta.
Tendo também nascido no Brasil, possui um antepassado oriundo de terras lusas. Questionado sobre de onde, soube dizer, depois de evitar a pergunta, que nem desconfiava, já que ele tinha rumado para lá na condição de degredado.
O orgulho ou o seu oposto – a vergonha – nos que os antepassados foram ou fizeram repercute-se na pele de cada um. Uma espécie de continuo do tempo, como se fossemos a perpetuação da glória ou delito do passado. A mácula do pecado original ou o orgulho do povo eleito.
Mas se o espaço não é modificável, que uma distancia é uma distância, também o tempo é imutável. E o importante no caminho que fizemos – nós mesmos ou os antepassados – é com ele aprendermos e, na nossa própria viagem ou da dos vindouros, evitarmos repetir os erros e melhor contornarmos os escolhos.
Até porque a luz alumia-nos o caminho à frente, não importando muito as sombras atrás de nós.
Texto e imagem: by me
Mas sobre a quarta dimensão pouco mais podemos fazer que constatá-la. Sobre o tempo, podemos medi-lo, podemos saber o que existe numa das semi-rectas cuja origem é o instante em que nos encontramos e cujo prolongamento é o passado. Sobre a outra, sobre o futuro, mais não podemos fazer que especular, supor, desejar.
Mas talvez porque sobre o futuro não temos certezas, procuramos ter todas as possíveis sobre o passado. É uma espécie de monomania da humanidade, o saber o que aconteceu. E a isto chama-se História. Que tanto existe enquanto ciência e investigação quanto por curiosidade individual.
Esta preocupação sobre a Historia prende-se, creio eu, com a necessidade de sabermos o que somos ou porque somos. E vamos buscar no passado e às raízes da humanidade ou às árvores genealógicas os argumentos que nos definem ou caracterizam. Como povos, civilizações, pessoas ou famílias.
Claro que também é ao passado que vamos buscar as bases das regras sociais, as que definem relações e comportamentos. Porque, se no passado eram regras e métodos que deram certo, mantenhamo-las. Que inventar ou inovar dá trabalho!
E se nas civilizações mais antigas, solidamente instaladas na linha do tempo e do espaço, esta procura do saber não tem foros de preocupação, naquelas outras que resultam da fusão de povos por migração ou colonização, pode ser uma obsessão.
Saber quem foram os pais, avós, bisavós, qual a linhagem, se ainda há parentes vivos por lá, de onde se descende, é uma afirmação ou resposta comum, como que uma identificação social. E não o saber acaba por ser, em muitos casos, uma pesquisa a efectuar.
Em tempos conheci uma senhora via web que tinha como objectivo na vida o encontrar os vestígios da sua origem. Nascida no Brasil, havia que procurar por cá, Portugal, de onde tinham ido os antepassados.
De alguma forma colaborei nessa investigação, sem mesmo sair daqui do computador, e vim a encontrar referencias que remontavam ao reinado de D. Sebastião e a sua expedição africana.
Por outro lado, conheço alguém cuja relação com a história e raízes é exactamente a oposta.
Tendo também nascido no Brasil, possui um antepassado oriundo de terras lusas. Questionado sobre de onde, soube dizer, depois de evitar a pergunta, que nem desconfiava, já que ele tinha rumado para lá na condição de degredado.
O orgulho ou o seu oposto – a vergonha – nos que os antepassados foram ou fizeram repercute-se na pele de cada um. Uma espécie de continuo do tempo, como se fossemos a perpetuação da glória ou delito do passado. A mácula do pecado original ou o orgulho do povo eleito.
Mas se o espaço não é modificável, que uma distancia é uma distância, também o tempo é imutável. E o importante no caminho que fizemos – nós mesmos ou os antepassados – é com ele aprendermos e, na nossa própria viagem ou da dos vindouros, evitarmos repetir os erros e melhor contornarmos os escolhos.
Até porque a luz alumia-nos o caminho à frente, não importando muito as sombras atrás de nós.
Texto e imagem: by me
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Chinelo citadino
Dez e trinta da noite.
No centro da cidade, na chamada “zona nobre”, no passeio bem junto ao carros que por ali circulam, um chinelo caído.
A ponta de cigarro que ali jaz rivaliza no abandono e no pedido de recolha pelos serviços municipalizados de limpeza.
Um exercício para levar aos limites as capacidades fotográficas do meu telefone.
Numa noite de Novembro, em Lisboa, quem andará, satisfeito por não chover, com um pé descalço?
Texto e imagem: by me
No centro da cidade, na chamada “zona nobre”, no passeio bem junto ao carros que por ali circulam, um chinelo caído.
A ponta de cigarro que ali jaz rivaliza no abandono e no pedido de recolha pelos serviços municipalizados de limpeza.
Um exercício para levar aos limites as capacidades fotográficas do meu telefone.
Numa noite de Novembro, em Lisboa, quem andará, satisfeito por não chover, com um pé descalço?
Texto e imagem: by me
Castelos e dragões
Estive a acompanhar um forasteiro pela cidade de Lisboa.
Ruas, vielas, praças, um pouco de história, descrições de comportamentos contemporâneos, episódios pitorescos, viu-se e falou-se de tudo um pouco.
Mas, a dado passo, surgiu o que eu esperava que não acontecesse: uma olhada no castelo da cidade, de São Jorge de seu nome. E esperava que o pedido não acontecesse porque se trata da minha vergonha. Da minha e da de muitos que, como eu, são aqui nascidos e criados mas que, fruto das pressões das grandes urbes, imobiliárias e outras, temos que residir fora da cidade.
Na entrada, fui obrigado a pagar ingresso, para visitar o que pertence a mim e a todos os alfacinhas!
Mas poderia eu até nem protestar muito se, desse pagamento, tivesse um retorno valido. Não é o caso!
Logo à entrada encontramos uma estatueta num vitrine, do santo padroeiro. Quem me acompanhava constatou de imediato que faltava o dragão. E quando perguntámos por ele ou se haveria algum no interior, o guarda enfardado de uma empresa de segurança, olhou para nós atónito e soube nos dizer que não, apenas um leão. Não creio que o salário que recebe seja suficiente para entender o humor.
Transposto o torniquete, somos confrontados com casal, vestido com o que se imagina serem trajes medievais, que quase nos solicitam a fazerem-se fotografar connosco, à laia de recordação. Claro que é tudo bem moderno e verificamos a incongruência da aqueles dois serem acompanhados por um moderníssimo PC portátil onde as imagens são tratadas e impressas, tal como os DVD’s que constam no álbum que nos exibem.
Lá dentro, bem lá dentro é uma tristeza! As pedras que vemos em nada ou quase se relacionam com a história que ali esperamos poder ver ou constatar, uma mistura caótica de tempos e estilos, pouco diferindo de uma depósito casual resultante de uns nós dados nas linhas do tempo. Até poderia ser aceitável se algo o identificasse, uma legenda, uma tabuleta ou semelhante. Mas nada de nada. Quem quiser que imagine o que aquilo é! E ficamos a pensar se aquelas mesas redondas de pedra, com os respectivos assentos igualmente frios, seriam os assentos reais ou nobliaticos ou se, em alternativa, terão sido inaugurados por um qualquer presidente de câmara, de freguesia ou mesmo de um instituto perdido nos apoios estatais.
Em passando para o interior, o ambiente confrangedor mantém-se. Parte dos pátios que circundam as torres originais, boa parte deles, estão vedados ao público. Atrás da rede verde com os seus dois metros de altura, entrevemos aquilo que parece ser uma intervenção arqueológica. Zonas escavadas e cobertas por toldos. Bem, afinal o que paguei para entrar está a servir para isto. Nem tanto, que a maior parte do espaço vedado serve de parqueamento a viaturas privadas, entras as quais não se vislumbra nenhuma municipal, mas antes algumas da empresa de segurança e outras onde, nos bancos de trás, constam cadeiras de criança. Viaturas privadas, ao serviço de privados, parqueadas em espaços públicos que é pago para ser visitado mas que está vedado.
Dentro da zona das torres, a pobreza do espaço é acabrunhante! Pátios envolvidos pelas altas muralhas, de terra bem batida em redor de pedras hiper-polidas dos milhares de turistas e escadas íngremes e perigosas em que o simples imaginar da subida já assusta. Nenhuma referencia à utilização dos espaços, das idades ou mesmo um simulacro do que poderia ter sido. O mais que vemos são oliveiras que competem em anos vivido com as pedras.
Num destes pátios aquilo que quem me acompanhava apelidou de menestrel. Nome pomposo para quem está sentado num banquinho portátil, tangendo uma viola, tirando partido da acústica do local mas que, pudicamente, cobre com um pano o amplificador eléctrico do instrumento. E o seu estar ali, que pode agradar a quem passa mas cujos acordes em nada se aproximam do que ali se ouviu em tempos recuados, não o faz pelo simples prazer de o fazer. À sua frente, e de uma forma inequívoca, uma mesinha desmontável exibe um chapéu aberto para cima e um conjunto de CD’s para venda. Afinal, toca a troco de trocos, com a esperança que lhe comprem os panfletos fonográficos. Extra, entenda-se, ao preço do ingresso no lugar!
O melhor de tudo é auditivo e visual! Junto à ponte que cruza o fosso, seco, estava uma moça pintando a aguarela. Paisagens de Lisboa, feitas de memória que de onde estava apenas via pedras e transeuntes. É alvo de fotografias, porque até que bonita. Mas soube protestar, com um tom e vocábulos que nada tinham de agradáveis ou simpáticos, que nada de abusos, que os trabalhos não podiam ser fotografados, ainda que ali exibidos a descorar ao sol de Outono. Não fora eu estar acompanhado, e ela ouviria aquilo que não gostaria e que a sua mãezinha lhe terá ensinado que não se deve dizer!
Quanto ao dragão, de facto não constava, como o guarda portão nos tinha dito. Apenas uns leões de pedra, que não os do Marquês nem do futebol, que enquadravam um restaurante cujos preços e qualidade nem quis investigar para não ficar ainda mais envergonhado.
Restaram, para além dos demais turistas, apenas dois gatos dorminhocos e este cachorro. Em redor da antipática pintora de paisagens fictícias.
Mas, em boa verdade, que poderíamos esperar nós por cinco euros extorquidos à entrada? A estátua de um dragão mitológico ou o protegido Dragão de Komodo, que nem sabe que São Jorge existiu?
Da próxima vez que um forasteiro me perguntar pelo castelo da cidade, levá-lo-ei a uma loja de brinquedos a ver um de fadas, comprarei um baralho de cartas e construirei um ou pô-lo-ei a olhar para as nuvens para que imagine um. Que não gosto de passar por vergonhas!
Texto e imagem: by me
Ruas, vielas, praças, um pouco de história, descrições de comportamentos contemporâneos, episódios pitorescos, viu-se e falou-se de tudo um pouco.
Mas, a dado passo, surgiu o que eu esperava que não acontecesse: uma olhada no castelo da cidade, de São Jorge de seu nome. E esperava que o pedido não acontecesse porque se trata da minha vergonha. Da minha e da de muitos que, como eu, são aqui nascidos e criados mas que, fruto das pressões das grandes urbes, imobiliárias e outras, temos que residir fora da cidade.
Na entrada, fui obrigado a pagar ingresso, para visitar o que pertence a mim e a todos os alfacinhas!
Mas poderia eu até nem protestar muito se, desse pagamento, tivesse um retorno valido. Não é o caso!
Logo à entrada encontramos uma estatueta num vitrine, do santo padroeiro. Quem me acompanhava constatou de imediato que faltava o dragão. E quando perguntámos por ele ou se haveria algum no interior, o guarda enfardado de uma empresa de segurança, olhou para nós atónito e soube nos dizer que não, apenas um leão. Não creio que o salário que recebe seja suficiente para entender o humor.
Transposto o torniquete, somos confrontados com casal, vestido com o que se imagina serem trajes medievais, que quase nos solicitam a fazerem-se fotografar connosco, à laia de recordação. Claro que é tudo bem moderno e verificamos a incongruência da aqueles dois serem acompanhados por um moderníssimo PC portátil onde as imagens são tratadas e impressas, tal como os DVD’s que constam no álbum que nos exibem.
Lá dentro, bem lá dentro é uma tristeza! As pedras que vemos em nada ou quase se relacionam com a história que ali esperamos poder ver ou constatar, uma mistura caótica de tempos e estilos, pouco diferindo de uma depósito casual resultante de uns nós dados nas linhas do tempo. Até poderia ser aceitável se algo o identificasse, uma legenda, uma tabuleta ou semelhante. Mas nada de nada. Quem quiser que imagine o que aquilo é! E ficamos a pensar se aquelas mesas redondas de pedra, com os respectivos assentos igualmente frios, seriam os assentos reais ou nobliaticos ou se, em alternativa, terão sido inaugurados por um qualquer presidente de câmara, de freguesia ou mesmo de um instituto perdido nos apoios estatais.
Em passando para o interior, o ambiente confrangedor mantém-se. Parte dos pátios que circundam as torres originais, boa parte deles, estão vedados ao público. Atrás da rede verde com os seus dois metros de altura, entrevemos aquilo que parece ser uma intervenção arqueológica. Zonas escavadas e cobertas por toldos. Bem, afinal o que paguei para entrar está a servir para isto. Nem tanto, que a maior parte do espaço vedado serve de parqueamento a viaturas privadas, entras as quais não se vislumbra nenhuma municipal, mas antes algumas da empresa de segurança e outras onde, nos bancos de trás, constam cadeiras de criança. Viaturas privadas, ao serviço de privados, parqueadas em espaços públicos que é pago para ser visitado mas que está vedado.
Dentro da zona das torres, a pobreza do espaço é acabrunhante! Pátios envolvidos pelas altas muralhas, de terra bem batida em redor de pedras hiper-polidas dos milhares de turistas e escadas íngremes e perigosas em que o simples imaginar da subida já assusta. Nenhuma referencia à utilização dos espaços, das idades ou mesmo um simulacro do que poderia ter sido. O mais que vemos são oliveiras que competem em anos vivido com as pedras.
Num destes pátios aquilo que quem me acompanhava apelidou de menestrel. Nome pomposo para quem está sentado num banquinho portátil, tangendo uma viola, tirando partido da acústica do local mas que, pudicamente, cobre com um pano o amplificador eléctrico do instrumento. E o seu estar ali, que pode agradar a quem passa mas cujos acordes em nada se aproximam do que ali se ouviu em tempos recuados, não o faz pelo simples prazer de o fazer. À sua frente, e de uma forma inequívoca, uma mesinha desmontável exibe um chapéu aberto para cima e um conjunto de CD’s para venda. Afinal, toca a troco de trocos, com a esperança que lhe comprem os panfletos fonográficos. Extra, entenda-se, ao preço do ingresso no lugar!
O melhor de tudo é auditivo e visual! Junto à ponte que cruza o fosso, seco, estava uma moça pintando a aguarela. Paisagens de Lisboa, feitas de memória que de onde estava apenas via pedras e transeuntes. É alvo de fotografias, porque até que bonita. Mas soube protestar, com um tom e vocábulos que nada tinham de agradáveis ou simpáticos, que nada de abusos, que os trabalhos não podiam ser fotografados, ainda que ali exibidos a descorar ao sol de Outono. Não fora eu estar acompanhado, e ela ouviria aquilo que não gostaria e que a sua mãezinha lhe terá ensinado que não se deve dizer!
Quanto ao dragão, de facto não constava, como o guarda portão nos tinha dito. Apenas uns leões de pedra, que não os do Marquês nem do futebol, que enquadravam um restaurante cujos preços e qualidade nem quis investigar para não ficar ainda mais envergonhado.
Restaram, para além dos demais turistas, apenas dois gatos dorminhocos e este cachorro. Em redor da antipática pintora de paisagens fictícias.
Mas, em boa verdade, que poderíamos esperar nós por cinco euros extorquidos à entrada? A estátua de um dragão mitológico ou o protegido Dragão de Komodo, que nem sabe que São Jorge existiu?
Da próxima vez que um forasteiro me perguntar pelo castelo da cidade, levá-lo-ei a uma loja de brinquedos a ver um de fadas, comprarei um baralho de cartas e construirei um ou pô-lo-ei a olhar para as nuvens para que imagine um. Que não gosto de passar por vergonhas!
Texto e imagem: by me
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
domingo, 2 de novembro de 2008
Quão grande pode a prisão ser?
Dez dias depois deste post, continua na mesma demanda: como sair daqui.
Caminha muito mais devagar, a cada dez ou vinte passos pára para se coçar, encontrou um local abrigado, e com alguns jornais levados pelo vento, para dormir.
No entanto, continua a ser uma prisão de uns 30 Km de comprido e uma cinquentena de metros de largo, no máximo.
Qual é o diâmetro do globo terrestre?
Texto e imagem: by me
Caminha muito mais devagar, a cada dez ou vinte passos pára para se coçar, encontrou um local abrigado, e com alguns jornais levados pelo vento, para dormir.
No entanto, continua a ser uma prisão de uns 30 Km de comprido e uma cinquentena de metros de largo, no máximo.
Qual é o diâmetro do globo terrestre?
Texto e imagem: by me
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