Já não há fascismo. Já não há PIDE. Já não há censura. Já
não há guerra colonial. Já não há caciques. Já não há bufos.
Não é verdade!
Ainda há censura, embora encapotada.
Ainda há caciques, embora com vários cartões.
Ainda há bufos, mas não ideológicos: ambições de carreira,
actualmente.
As revoluções são momentos específicos no tempo. As mais das
vezes, o mais notório que dá origem aos actos revolucionários extingue-se de um
modo ou de outro.
Mas aquilo que é inerente ao ser Humano mantém-se. Por cultura
ou por genética.
Quase meio século passou sobre Abril. E festeja-se a data
com alegria. Mesmo que a maioria dos cidadãos não saiba, na pele, o que foi o “antes
de”. Saberão por aquilo que leram, por aquilo que ouviram aos antigos, pelos
filmes e séries, por aquilo que romancearam.
Mas quando alguém é afastado de funções porque a chefia não
gostou do olhar que recebeu; quanto se ouve “cala-te, que falas e escreves
demais”; quando se “inventa um caso” para esconder outro; quando há figuras que
são alvo de notícia, várias vezes ao dia, em detrimento de outras; quando os
representantes representam os seus próprios interesses ou ideias, em detrimento
dos representados; quando os ideais políticos e partidários semelhantes aos de
antigamente ganham força entre os cidadãos...
Abril acabou há quase meio século. Hoje estamos em Maio,
ou Outubro, ou Fevereiro. O mês é outro, os ingredientes e métodos são outros,
as guerras fazem-se com petro-dolares ou petro-rublos.
Se não estivermos alerta para o regresso daquilo que não
quisémos, se não nos acautelarmos para novas ditaduras e métodos repressivos,
se não escutarmos com espírito crítico os discursos castrantes, mais ou menos
inflamados, se não afastarmos os candidatos a não democratas no poder...
De nada servirá descermos a avenida dando vivas ao que foi.
O que será virá igual com outras roupagens e outras formas de servidão
famélica.
Festeje-se a revolução. Mas acautele-se o futuro. Todos os
dias.
By me
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