domingo, 9 de abril de 2023

À tardinha




Uma ocasião, regressava eu a casa ao fim do dia e sou saudado por um motociclista numa esquina. Buzina e aceno.

Acenei de volta, claro está, que sou bem educado, mas não tinha a certeza de quem seria, ainda que o capacete e a moto me dessem algumas pistas.

Uns dias passados, em encontrando uma colega, questionei-a sobre o episódio e se teria sido ela então.

Retorquiu-me que sim e que tinha achado graça o ver-me ali, parado, no meio de quase nada.

Tentei explicar-lhe, mas não sei se consegui, que desde sempre ou quase que faço isso. Em não tendo motivos para andar depressa, caminho devagar, parando de quando em vez para apreciar o que me cerca e deixar que a mente me leve para outras ideias e paragens. Pessoas, espaços e luz, mesmo que conhecidos por ao pé de casa, são sempre diferentes, sempre apelativos, tanto quanto uma cidade desconhecida algures nos antípodas. E as ideias não têm nem tempo nem geografia.

Não sei se me entendeu. Consumidora dos últimos gadjets, alheada do que a cerca com música nos auscultadores, creio que a vida e o mundo passam por ela como chuva no vidro, protegida que está no mundo que escolheu e onde se refugia. À velocidade das redes de comunicação e das publicidades da tecnologia.

Sei-a mais ou menos feliz nesse rumo que segue. Pelo menos aparenta, que não somos próximos. Mas o seu mundo não é, garantidamente o meu. E, estou certo, muito do de belo que vou vendo e apreciando é-lhe tão rápido que nem dele se apercebe. Ou lhe altera a vida.

Vantagem de quem caminha, no lugar de se deslocar de moto.


By me

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