Uma ocasião, regressava eu a casa ao fim do dia e sou
saudado por um motociclista numa esquina. Buzina e aceno.
Acenei de volta, claro está, que sou bem educado, mas não
tinha a certeza de quem seria, ainda que o capacete e a moto me dessem algumas
pistas.
Uns dias passados, em encontrando uma colega, questionei-a
sobre o episódio e se teria sido ela então.
Retorquiu-me que sim e que tinha achado graça o ver-me ali,
parado, no meio de quase nada.
Tentei explicar-lhe, mas não sei se consegui, que desde
sempre ou quase que faço isso. Em não tendo motivos para andar depressa,
caminho devagar, parando de quando em vez para apreciar o que me cerca e deixar
que a mente me leve para outras ideias e paragens. Pessoas, espaços e luz,
mesmo que conhecidos por ao pé de casa, são sempre diferentes, sempre
apelativos, tanto quanto uma cidade desconhecida algures nos antípodas. E as
ideias não têm nem tempo nem geografia.
Não sei se me entendeu. Consumidora dos últimos gadjets,
alheada do que a cerca com música nos auscultadores, creio que a vida e o mundo
passam por ela como chuva no vidro, protegida que está no mundo que escolheu e
onde se refugia. À velocidade das redes de comunicação e das publicidades da
tecnologia.
Sei-a mais ou menos feliz nesse rumo que segue. Pelo menos
aparenta, que não somos próximos. Mas o seu mundo não é, garantidamente o meu. E,
estou certo, muito do de belo que vou vendo e apreciando é-lhe tão rápido que
nem dele se apercebe. Ou lhe altera a vida.
Vantagem de quem caminha, no lugar de se deslocar de moto.
By me
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