By me
É verdade que sim! Gosto de me passear pelas feiras de rua,
em particular as de velharias e artesanato, por vezes tudo misturado na mesma
banca.
As mais das vezes o que consta por lá não me interessa, pelo
que acabo por não fazer despesa. Mas às vezes...
Às vezes aparecem, no meio de muita tralha, pequenas coisas
em que o meu olho se prende e acabo por trazer uma preciosidade. Claro que o
conceito de preciosidade varia muito com quem classifica.
Daquela vez foi num local onde não tinha ainda estado e não
ía com grandes ou pequenas expectativas: avaliar o locar e os vendedores, que
variam muito em função dos eventuais clientes da zona.
Numa banca, meio perdida, esta caixinha. Pequenina que é,
quase nem se notava, não fora a alvura da toalha, que a deixava em evidência.
Pedi para ver e era o que pensava: um rolo de película fotográfica. De um
formato que não conhecia, mas que mais tarde vim a saber ser 16mm, o mesmo que
consta nas cassetes formato 110.
Três coisas me atraíram: os três euros que me pediram por
isto, o formato e a data de validade. Junho de 1957. Confesso que rolos antigos
não são a minha paixão. É sabido que perdem qualidades de registo, ou
sensibilidade, com o passar do tempo. Creio ter lido ou ouvido algures que será
algo como metade da sensibilidade por cada dez anos.
Sendo certo que a embalagem tem escrito 30º Sch, que
corresponde a Scheiner, que o fabricante é alemão, o faz com a escala seja a
europeia e não a americana, e consultando uma tabela de equivalências de
diversas escalas de sensibilidade, temos que em 1957 a sensibilidade correspondia
a ISO 64, em valores e escalas actuais.
Usando a regra do “metade por cada dez anos”, temos que se
quisesse usar este rolo hoje, supondo que tenho câmara para ele e não tenho,
teria que pensar que tem uma sensibilidade de 1 a 2 ISO.
Já fotografei, há uns bons 40 anos, com película de
sensibilidade 6 ISO. Agora 1 ISO, juro que nunca.
Fica, como está, junto com algumas outras peças estranhas ou
incomuns, de âmbito fotográfico, que por aqui tenho.
Na fotografia ilustrativa, a caixa que comprei e a tampa de
uma caixa de um rolo de 35mm, hoje o habitual nas lojas.
By me
Na antiga Pérsia e nesta data astronómica celebrava-se o ano
novo.
Faz sentido, se pensarmos que é na primavera que temos as
primeiras colheitas, em que os dias se tornam maiores que as noites, em que o
clima se torna mais ameno. E é um momento ou um dia observável e importante,
não importa as guerras ou os nascimentos entre os homens.
Ainda hoje, e como tradição, tal efeméride é celebrada, pese
embora os calendários sejam outros e a cultura ocidental tenha imposto o seu
próprio ritmo pelo mundo fora. Ou tentado, pelo menos.
A todos vós feliz equinócio e bom novo ano.
By me
Isto de ter DNA (Data de Nascimento Antiga) tem as suas
vantagens. Principalmente se se lidar com fotografia com um valor quase tão
alto.
Em tentando dar um sentido lógico ao que por aqui tenho
(daqui por um ano a lógica será outra, um ano depois outra ainda e por aí fora),
acabo por dar com isto.
Dará pelo nome de “carril de focagem” e permite ajustar com
muito rigor a posição da câmara segundo dois eixos. Particularmente prático ou
útil se estivermos a fazer macro-fotografia e com grandes escalas de
reprodução. Por exemplo, com uma objectiva invertida directa na câmara, em que
o ajuste de focagem se faz variando a distância de trabalho. Distância esta que
é da ordem de dois centímetros ou perto disto.
Adquiri este conjunto há mais de trinta anos. Nos tempos em
que se encontravam diversas lojas de fotografia na cidade, rivalizando elas não
apenas nos preços e serviços mas principalmente nos artigos em venda. Quem procurasse
uma peça pouco comum teria apenas que fazer o périplo por elas, que acabaria
por encontrar. Ou, eventualmente, encomendar.
Nos tempos que correm esse périplo é inútil. Já são raras
essas casas, que os consumos se fazem via web. Mas ainda existem, com
vendedores dedicados ao seu trabalho,
procurando satisfazer e fidelizar clientes. Atitude que não se encontra
nas grandes superfícies, onde mais um menos um cliente é quase igual.
Um bom exemplo da atitude positiva foi o que me aconteceu um
destes dias:
Existe uma dessas lojas de bairro, já antiga, que vou
frequentando. Não que faça grandes negócios por lá, nem pouco mais ou menos.
Mas vai tendo peças Pentax, coisa que me interessa e pelas quais vou
perguntando. Tanto ou tão pouco que uma ocasião tinha à minha espera já nem sei
quantas tampas traseiras de objectivas, bem como de corpo, que tinha
encomendado para mim, sabendo que me interessava. Comprei todas, que o preço
era simpático.
Pois um destes dias, em passando na rua e entrando, diz-me
ele que tinha ali algo que talvez eu quisesse: uma câmara Pentax P30. O preço
era bom mas o seu estado de consevação não, pelo que ficou por lá. Mas sorri
quando a vi, já que em tempos comprei para a escola onde trabalhei seis conjuntos
fotográficos baseados nesta câmara. Memórias!
Quanto a este carril de focagem, está com uma pátine
notória. Tive-o bastante tempo em exposição e o pó foi assentando. Foi
propositado o não o limpar para a fotografia, coisa que acontecerá hoje ainda.
Deixando-o em condições der colocado no mercado virtual, rivalizando com os
raros dois equivalentes mas de outras marcas que encontrei. Coisa que não
acontecerá, como se imagina.
Que não apenas é peça rara, ainda que de pouco valor em
negócio, como tenho apego ao que possuo. E nunca sei quando me apetecerá
fotografar uma cabeça de alfinete ou o amolgado de uma ervilha. Poderei sempre
optar por isto, pelo tubo de extensão variável ou pelo fole que tenho guardados,
mas sem pó.
E, já que falo nisto, vou ali às malas ver se encontro os
aneis de inversão. Tanto o de aplicação directa no corpo da câmara como o de
fixação de uma objectiva invertida noutra. Como se trabalha com cada um dos sistemas?
Fica para outra ocasião, que gastaria o dobro destas linhas para explicar cada
um deles.
By me
Esta é uma chávena de café.
O interessante é pensarmos que, apesar da frase e de ser a
maior coisa visível na imagem, a chávena propriamente dita é algo a que pouca
atenção prestamos.
Não nos preocupamos ou sequer fotografamos o banal, o comum,
o ordinário. Só entendemos por importante o que sai da rotina, o
extraordinário, aquilo que incomoda a regularidade uniforme da vida.
Numa chávena de café como esta, reparamos no fumegar e
deduzimos que o café estará quente. De igual forma, podemos imaginar o aroma ou
o paladar. Mas quem se importa com o facto de a chávena ser preta?
Talvez faça sentido prestarmos atenção ao que a mente não
vê, pese embora os olhos mostrarem. Que é no banal que assenta o quotidiano, a
nossa tranquilidade. E, no entanto, o banal está tão pleno de pequenos incomuns
que sobre ele se poderiam encher um sem número de bibliotecas.
Pouca atenção damos à chávena propriamente dita. Mas é ela
que levamos à boca.
By me
Termos que nos deslocar a pé na cidade tem destas coisas:
ser surpreendido com mercados de rua onde podemos encontrar pequenos tesoiros. Foi
o caso.
Este livro, usado, custou-me cinco euros. Quase o preços da
chuva, convenhamos. Mas o seu valor é muito superior, se considerarmos outros
factores que não os de capa.
Para além de fazer parte de uma série de livros que existe
desde há 40 anos, ao que sei, que são razoavelmente bem impressos para o preço,
no seu conjunto abordam todas as vertentes da fotografia. Monografias por autor
ou temáticas.
Claro está que um livro temático depende, no seu conteúdo,
das opções do editor. Que pode não deixar de ser tendencioso e terá,
certamente, preferências. Este exemplar é um exemplo oposto num aspecto.
Ao contrário da esmagadora maioria das obras sobre o nu fotográfico,
este não se atém ao nu feminino. Contendo fotografias desde 1855 até 1984,
talvez que 20% delas são masculinas, o que é particularmente raro.
Começa, desde logo, por geralmente se fazerem muito menos
fotografias de nu de homens que de mulheres. Suponho que haverá algum receio
por parte dos homens fotógrafos de serem chamados de “bichas” se o fizerem.
Depois porque, e isto aplica-se na pintura também, a maioria
dos consumidores de fotografia (em livro, em revistas ou individuais) serem
homens. Quer os que compram avulso, quer os que encomendam aos autores para
comprar. E, não nos enganemos, a grande maioria dos consumidores de fotografia,
bem assim como os produtores, fazem-no como substituto daquilo que não podem
possuir. Seja um pôr-do-sol, seja um castelo, seja um automóvel, seja um ser
humano. Um acto de cobiça, se quiserem ir longe nos conceitos. Sendo a maioria
dos consumidores e produtores de fotografia homens, faz algum sentido que cobicem
mulheres. Na posse ou na produção de fotografias, as mais das vezes, o sentido
estético pesa objectivamente. Mas a posse do fotografado pesa subjectivamente,
sem que disso nos apercebamos.
Como se tudo isso não bastasse, existe um conceito bacoco em
que o belo no corpo humano apenas acontece no feminino. Só as mulheres são
belas, só os corpos das mulheres podem acordar a líbido, só os corpos das
mulheres podem evocar sentimentos. Conceito bacoco e machista! Sugiro que
perguntem às mulheres se assim acontece.
É assim, pelo acima dito sumariamente e por tudo o que não é
dito que longo seria, que um livro que aborde a fotografia do nu e inclua
fotografias de nus masculinos se torna numa peça rara de encontrar. Numa
livraria, numa feira de rua ou numa biblioteca. Excepção feita à minha, onde
constam alguns.
Acrescento que imagem da capa que mostro está assumidamente
censurada por mim para evitar que os puritanos (humanos ou algoritmos) das
redes sociais a bloqueiem tão rápido a encontrem ou seja denunciada.
By me
Vivemos sob a tirania de quatro dimensões: largura, altura, profundidade e tempo.
Sobre esta afrmação muito há que possa ser dito para a contestar. Tentarei ser breve e, no final, explicarei porque é que eu, enquanto fotógrafo, me preocupo com isso.
Desde logo o "vivemos". Há quem defenda que não vivemos mas antes existimos. Exstimos na mente de outros seres que, se eles deixarem de pensar em nós, deixamos de existir. Ou, abordada a expressão de outro modo, há uma grande diferença entre viver e existir e que a maior parte de nós, que passamos o dia a labutar pela sobrevivência, apenas existimos, não tendo oportunidade de viver.
Analizemos o termo "tirania". Entendemos como conveniente o uso dessas dimensões, que nos situa algures no centro delas e nos organiza em relação aos nossos iguais. Mais: rotulamos como "louco" alguém que não tem noção do espaço e do tempo. Assim, ser trania ou vantagem e voluntária dá para muito versar.
A quantidade de dimensões também é discutível. As três primeiras são de consenso generalizado. Já sobre o tempo há divergências, havendo quem o não considere como dimensão mas antes uma invenção humana. Alguns, muito poucos, entendem ainda a existência de mais uma dimensão, com o conceito dos universos paralelos. E há os muito raros que argumentam existir ainda uma sexta dimensão, variavel em função dos que a partilhem. Estranho e difícil de entender.
Quanto às restantes três, as de conceito generalizado, mesmo assim não são partilhados por por todos os humanos. Se prestarem atenção ao comportamento dos bebés muito pequenos, percebem que o seu relacionamento com o espaço só é eficaz em duas delas: largura e altura. O conceito e a percepção de profundidade é algo que tem que aprender, interpretando as diversas formas de disso se aperceber e com isso reagir. Mais: as crianças, quando desenham pesssoas ou paisagem, nem se preocupam em representar a profundidade, nas suas diversas formas possíveis.
Resta incluir a profundidade, algo que, como disse, é coisa que se aprende com o crescimento da criança e que usamos para construir e deslocar. E sonhar. Com o horizonte ou com as estrelas.
Se a bi-dimensionalidade da largura e altura pode se interpretada como uma parede que nos bloqueia, um quadro nessa mesma parede ou a superfície da cama junto a essa parede, já a trimensionalidade, com o acréscimo da profundidade, pode ser interpretada como uma janela nessa tal parede, uma escultura no lugar de pintura ou corpos sob as cobertas da tal cama.
Nós fotógrafos, na nossa qualidade de humanos normais, lidamos com a multiplicidade das dimensões usando as quatro mais banais. Mas só modemos mostrar explicitamente com o nosso trabalho duas delas: largura e altura. Será uma limitação, mas também uma oportunidade para execer o nosso mister com maior ou menor qualidade ou criatividade.
A profundidade mostramo-la com a perspectiva e com a luz e as sombras. O que está perto ou longe com os seus tamanhos aparentes e com as sombras mais ou menos anguladas e comparadas com os assuntos que as provocam.
O tempo é bem mais difícil de explicitar no estático e bidimensional da fotografia, Ou bem que há algo "termido" na imagem, evidenciando movimento (relação espaço/tempo) ou bem que, estando tudo bem nítido, no evidenciar a passagem de tempo com o início de uma acção mostrada e o momento da obturação . Um coto de vela aceso, os rastos de pneus no asfalto... ou isto.
By me
Eu ignorante me confesso: não sei o que seja “Fotografia fine
art”!
Vejo on-line (e em alguns livros) a classificação mas,
olhando com atenção, não vejo nada de excepcional no que me é mostrado.
Nem do ponto de vista estético, nem do ponto de vista
técnico, nem do ponto de vista semiotico, nem do ponto de vista conceptual.
Por outro lado, vejo nos mesmos meios fotografias de
excepção, sob um ou mais conceitos, daquelas que me prendem o olhar, que me dão
vontade de continuar a ver, daquelas que falam comigo e que me provocam emoções.
E que não levam esse carimbo. Nem as fotografias nem os fotógrafos.
Talvez que seja eu o ignorante nestas coisa de fotografia e
que melhor seria dedicar-me à pesca ou ao cultivo de hortícolas.
By me