domingo, 9 de junho de 2019

Sombras do passado




Quando eu passava a jornada de trabalho lidando com câmaras, objectivas, acessórios ópticos, tripés e demais parafernália, tinha o hábito de, de três em três semanas usar um tempo morto dos demais afazeres para cuidar das partes de vidro. Munido do material necessário, fazia uma ronda pelos equipamentos, cuidando da sua limpeza.
A frequência desta minha intervenção assim espeçada prendia-se com o facto de o local onde tudo isto está instalado não ser sujeito a mais lixo ou poeiras que qualquer ambiente fechado de estúdio normal e o sermos vários com o mesmo ofício. Entre todos e com os mesmos cuidados, não era de todo difícil manter quase imaculado todo o material óptico.
O tempo passou, eu deixei de ter essas funções, passando para a outra ponta dos cabos, e o restante pessoal foi sendo substituído. Por idade, por mudança de funções, por cansaço total.
Objectivas e demais meios óticos passaram a estar quase no limiar do imundo. Não apenas bera de ver mas com as consequências óbvias para o resultado final.
Fartei-me de protestar, de reclamar, de pedir, de sugerir, de instar, para quem os actuais “profissionais” que com estes equipamentos lidam tenham os cuidados devidos. Inútil! Ou quase, até ter feito chegar os meus protestos a um outro nível insuspeito.
Hoje, em chegando ao local de trabalho, vejo uma das pessoas que com objectivas trabalham, a fazer a sua manutenção. A cara de chateado, incomodado, gastado e outros termos acabados em –do era digna de ser ver.
E, tal como suspeitava, o resultado de tal tarefa que durante anos fiz sem reclamações e sem que para tal me incitassem, está abaixo do sufrivel.
Qualquer aluno meu que, no final do primeiro período do primeiro ano, não tivesse como rotina o guardar equipamento limpo e operacional teria negativa assegurada. Nunca tive necessidade de tal nota atribuir.
Talvez por isso são todos ou quase todos conceituados profissionais, com brio no que fazem e com mediana a boa situação profissional.
Mas, e como dizia um velho compincha e amigo, “há vinte anos que tento ensinar o meu cágado a fotografar e não consigo!”



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