Tropeço num artigo do jornal “O Globo” do Brasil que, por
sua vez, me indica que o original foi publicado no “New York Times”.
Fala-nos o artigo sobre um conjunto de 2000 fotografias
feitas em Pequim aquando do movimento de estudantes há trinta anos.
Conta-nos que o fotógrafo tinha vinte anos aquando dos
acontecimentos, era fotógrafo de moda, que usou uma câmara analógica e cerca de
60 rolos, que as imagens são fortes e que ele as manteve guardadas até agora,
tendo sido trazidas em Março para os EUA por um amigo e digitalizadas.
Acrescenta que as divulgou porque a sua filha adolescente,
que estudou na China até 2016, nunca tinha ouvido falar no massacre.
O artigo original está assinado por Tiffany May, está datado
de trinta de Maio e o fotógrafo chama-se Jian Liu.
Não gostaria de colocar em causa a autenticidade da história
contada. Sabemos que Tiananmen foi uma chacina e que o regime chinês sempre
tentou ocultar o que ali se passou.
Mas o meu espírito desconfiado deixa-me algumas perguntas
sem respostas satisfatórias.
Porquê só 30 anos passados se divulgam imagens fortes como
estas sobre um tema controverso?
Porquê o auxílio de uma ONG de apoio aos dissidentes chineses,
sediada na California?
Como é que, à época, um jovem fotógrafo tinha, à revelia do
sistema, 60 rolos disponíveis?
Porque é que só agora, em plena guerra comercial entre a
China e os EUA é que tais imagens e história são divulgadas?
Se as imagens então feitas e agora recuperadas são assim tão
fortes onde estão, que não apenas as da multidão?
Se quem fotografou é um fotógrafo que se manteve no activo,
migrando para os EUA em 2016, como foi capaz de manter tantos anos esta
reportagem oculta? Fotógrafo é fotógrafo!
Como é que alguém que tenha vivido aquele aqueles dias e os
tenha fotografado não os tenha contado e/ou mostrado à família?
Numa época em que tanto se fala de “fake news”, pró e contra
o sistema, é sempre recomendável ter um espírito crítico ao que nos aparece na
comunicação social. Conteúdos, origem, divulgador e momento.
Na imagem, duas das fotografias do artigo referido
By me
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