quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Teorias e práticas



Tenho para mim que é exactamente isto que está na origem de muitos dos problemas que atravessamos: o dinheiro.
Que se ele não existisse não haveria bancos, impostos, empréstimos com juros, disputas inúteis apenas para aumentar as mais valias do trabalho alheio.
Nas sociedades ditas primitivas, onde ele não existe, nada disto acontece.
Mas, mais que acreditar nisto, faço o que posso para lhe passar ao lado. É um “passar ao lado” meio estranho, já que o recebo e uso, mas eu disse que faço o que posso.
Eis um dos exemplos:
Uma ocasião fui chamado, meio de urgência, a uma escola. Havia por lá uma questão não muito simples para resolver e o meu papel seria fazer um conjunto de sessões, em estilo de workshop, para passar métodos de trabalho aos alunos.
A ideia agradou-me: o desafio era grande e implicava uma boa dose de imaginação da minha parte, mas nada que, pensei, não pudesse ser feito. Aceitei.
Mas coloquei uma condição específica, para além de outras de ordem prática inerentes ao decorrer dos trabalhos: eu não seria pago em dinheiro.
Não tinha actividade aberta (e continuo a não ter) e não me apetecia abrir só para aquele trabalho.
Propus, então, ser pago em géneros. Eu diria o que queria receber, no caso acessórios de informática, e eles tratariam de os arranjar para mos dar. As questões de contabilidade seriam problema deles.
O meu interlocutor, que já me conhecia, aceitou mas com reservas, que haveria de saber se possível. E demorou bem duas semanas a confirmar o negócio, que propostas destas não são bem aceites por contabilistas e gestores, engomadinhos e ciosos dos seus belos livros de contabilidade.
Mas o trabalho acabou por ser feito, a contento meu, da escola em geral e, suponho, dos alunos envolvidos. Que, além de tudo o que era suposto ouvirem e fazerem no âmbito do projecto e conteúdos em causa, ainda foram informados da forma como o negócio fora acertado. (Aproveito, sempre que posso para “por um pauzinho na engrenagem”).
Nunca mais fui chamado.
Para pena minha, que gosto de fazer o que fiz. Para prejuízo dos alunos, que perdem oportunidade de conhecerem outras formas de pensar e agir. Para prejuízo da sociedade, com continua atávica e baseada no seu maior cancro, que alastra sem dó.
Por mim, continuo a pôr em prática o que penso e sempre que posso, bem para além de regras e normas morais.

Que são sempre as morais dos outros.

By me

Sem comentários: