quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Seguranças



Foi há já um bom pedaço de tempo. Talvez vinte anos.
Na altura, o dia 11 de Setembro era apenas a data do golpe de estado no Chile e o dia nacional da Catalunha, para além de outras efemérides que desconheço. E a segurança nos aeroportos e aviões em nada se parecia com o que é hoje.
Fui em serviço ao Funchal. Levava comigo uma câmara de vídeo de reportagem que, como era então habitual, viajava na cabine e não como bagagem de porão no avião. Como precaução natural nestas circunstâncias, o meu canivete suíço, que está sempre no meu cinto, ficou guardado na mala, esta sim transportada no porão, junto com a mala técnica com a restante parafernália que levava.
Fiz o trabalho que havia a fazer, quatro dias se a memória me não falha e, no regresso, tive um esquecimento. Quase fatal. Não coloquei o bendito canivete na mala.
Fui barrado na segurança do aeroporto e de nada adiantou toda a argumentação que usei: não podia o objecto viajar comigo.
Sendo certo que as malas já estavam despachadas e que não me apetecia deitar o canivete fora, a solução foi burocraticamente complicada.
O belo do instrumento ou ferramenta viajou para Lisboa ao cuidado da tripulação, numa embalagem especial que me foi fornecida e com a classificação de “perigoso”, indo eu, já em Lisboa, levantar a “encomenda” num balcão especial do aeroporto. Uma trabalheira e tempo perdido bem escusado.
Resolvida a questão, e ainda no Funchal, foi-me então permitido passar a segurança. Não sem que eu tivesse reclamado e levado os guardas ao limite.
É que, pasme-se, a câmara que levava comigo – uma Sony Betacam volumosa de vários quilos – passou no sistema de segurança sem sequer um piscar de olhos. Já do outro lado do pórtico e do raio-x, questionei-os sobre a certeza que teriam da veracidade da câmara. No seu interior caberiam, retirado todo o mecanismo e electrónica, duas pistolas, vários carregadores e uma ou duas granadas. Se a câmara fosse falsa, caberia ali dentro tudo aquilo que é absoluta e naturalmente interdito de viajar “solto” num avião.
A conversa soltou-se e foi-me dito que (e recordo que foi antes do 11 de Setembro) era habitual nos voos de regresso de férias no Funchal haver passageiros que se excediam na bebida e haver confusão a bordo. Nem mesmo aqueles canivetes de recordação, com um centímetro de lâmina, estavam autorizados.
Pouco tempo depois, a bordo e já no ar, recordei a conversa e fartei-me de rir e praguejar. Então não é que a simpática e plástica refeição fornecida vinha acompanhada com talheres de metal? Faca e garfo!
Se receavam que houvesse quem se embebedasse com o fornecido a bordo ou comprado no freeshop, esses talheres estavam bem à mão para um qualquer acto tresloucado. E disseminados por todo o avião.

Ainda hoje lamento não ter “palmado” o garfo e a faca, à laia de recordação de uma segurança para inglês ver. Que, além de bonitos, tinham a particularidade de ter gravado no cabo o logótipo da TAP, o que faria deles uma peça rara no bric-a-brac que aqui possuo.

By me

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