Foi há já um bom
pedaço de tempo. Talvez vinte anos.
Na altura, o dia
11 de Setembro era apenas a data do golpe de estado no Chile e o dia nacional
da Catalunha, para além de outras efemérides que desconheço. E a segurança nos
aeroportos e aviões em nada se parecia com o que é hoje.
Fui em serviço ao
Funchal. Levava comigo uma câmara de vídeo de reportagem que, como era então
habitual, viajava na cabine e não como bagagem de porão no avião. Como precaução
natural nestas circunstâncias, o meu canivete suíço, que está sempre no meu cinto,
ficou guardado na mala, esta sim transportada no porão, junto com a mala
técnica com a restante parafernália que levava.
Fiz o trabalho que
havia a fazer, quatro dias se a memória me não falha e, no regresso, tive um
esquecimento. Quase fatal. Não coloquei o bendito canivete na mala.
Fui barrado na
segurança do aeroporto e de nada adiantou toda a argumentação que usei: não
podia o objecto viajar comigo.
Sendo certo que as
malas já estavam despachadas e que não me apetecia deitar o canivete fora, a
solução foi burocraticamente complicada.
O belo do instrumento
ou ferramenta viajou para Lisboa ao cuidado da tripulação, numa embalagem
especial que me foi fornecida e com a classificação de “perigoso”, indo eu, já
em Lisboa, levantar a “encomenda” num balcão especial do aeroporto. Uma
trabalheira e tempo perdido bem escusado.
Resolvida a questão,
e ainda no Funchal, foi-me então permitido passar a segurança. Não sem que eu
tivesse reclamado e levado os guardas ao limite.
É que, pasme-se, a
câmara que levava comigo – uma Sony Betacam volumosa de vários quilos – passou no
sistema de segurança sem sequer um piscar de olhos. Já do outro lado do pórtico
e do raio-x, questionei-os sobre a certeza que teriam da veracidade da câmara.
No seu interior caberiam, retirado todo o mecanismo e electrónica, duas
pistolas, vários carregadores e uma ou duas granadas. Se a câmara fosse falsa,
caberia ali dentro tudo aquilo que é absoluta e naturalmente interdito de
viajar “solto” num avião.
A conversa
soltou-se e foi-me dito que (e recordo que foi antes do 11 de Setembro) era
habitual nos voos de regresso de férias no Funchal haver passageiros que se
excediam na bebida e haver confusão a bordo. Nem mesmo aqueles canivetes de
recordação, com um centímetro de lâmina, estavam autorizados.
Pouco tempo
depois, a bordo e já no ar, recordei a conversa e fartei-me de rir e praguejar.
Então não é que a simpática e plástica refeição fornecida vinha acompanhada com
talheres de metal? Faca e garfo!
Se receavam que
houvesse quem se embebedasse com o fornecido a bordo ou comprado no freeshop,
esses talheres estavam bem à mão para um qualquer acto tresloucado. E disseminados
por todo o avião.
Ainda hoje lamento
não ter “palmado” o garfo e a faca, à laia de recordação de uma segurança para
inglês ver. Que, além de bonitos, tinham a particularidade de ter gravado no
cabo o logótipo da TAP, o que faria deles uma peça rara no bric-a-brac que aqui
possuo.
By me
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