Passei metade das
férias da Páscoa de 1975 no sótão do liceu que então frequentava a reparar
mobiliário.
Eu e mais uns
quantos e quantas, que não fui nenhum herói solitário.
Os entusiasmos da
nova liberdade bem como a coexistência entre rapazes e raparigas, coisas novas
para todos, levaram a que carteiras, cadeiras e mesas se estragassem, chegando
ao ponto de haver salas onde uma cadeira suportava dois rabos.
Nem vandalismo nem
maldades. Apenas descontrolo juvenil.
O trabalho fez-nos
criar felizes bolhas nas mãos, que nem nós estávamos habituados a tais tarefas
nem as madeiras que serrávamos, martelávamos e aparafusávamos eram macias.
Alegres bolhas,
todos os dias escoadas com agulha e linha em casa.
Mas mais alegres
eram os nossos motivos, que sabíamos que o futuro haveria de sair das nossas mãos
e fazíamos por isso.
Hoje espera-se que
um ministério qualquer faça um concurso e que alguém decida a reposição do
mobiliário danificado.
Hoje todos esperam
que alguém faça algo por nós, que desistimos de lutar e construir o dia de
amanhã.
Hoje entregamos a
terceiros o nosso futuro e a nossa felicidade, na ilusão de que eles saberão
melhor que nós o que nos convém.
Triste herança que
deixamos aos vindoiros!
By me
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