quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Num fast-food




Faço o pedido. Vem a bebida. Chegam as entradas. Trazem o prato principal. Mas… Faltam os talheres.

Olhando para um lado e o outro, em busca de uma solução em auto-suficiência, acabo por recorrer a um expediente. Arriscado e de consequências não muito previsíveis.
Jogando a mão ao cinto, saco do canivete suíço. Com um gesto rápido de hábito antigo e um clic mais que conhecido, abro-o e empunho-o.
Obedecendo como que a uma batuta de aço, as conversas em redor baixam de tom ou silenciam-se, alternando com exclamações abafadas de espanto. Algumas cadeiras arrastam-se no chão.
Primeiro com o olhar, depois com um gesto da mão esquerda, livre, chamo a atenção de um dos empregados, que se aproxima hesitante. Em tom baixo, adequado à privacidade da situação, digo-lhe:
“Posso usar a minha própria ferramenta, mas creio que seria bem mais fácil se me arranjasse um garfo e uma faca.”
Endireitou-se de imediato, as faces recuperaram a cor e, acto contínuo, dirigiu-se a uma gaveta, num armário ali perto. A uma distância respeitosa, dois empregados e uma empregada observavam o que se passava. Ela com um discreto sorriso nos lábios, que já me conhecia.
Depois de uma curta viagem por outras gavetas e por uma mesa já pronta, o rapaz que me atendia regressou com os talheres em causa, entregando-mos com um pedido de desculpas titubeado.
Ao recebe-los, fechei o canivete com o seu ruído característico e ouviu-se, em jeito de surround, um coro de alivio e o retomar das conversas e barulhos de baixela.
E o resto do jantar decorreu com normalidade, com as pseudo prata-da-casa.

Não acredito que, naquela casa de pronto-a-comer, se tornem a esquecer de ter as mesas prontas.
Não vá dar-se o caso de eu passar por lá de novo!
Nem me esqueço do sorriso divertidíssimo da empregada que, aquando da minha saída, me piscou o olho, cúmplice.

By me

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