domingo, 5 de agosto de 2012

Uma fotografia que nada tem de especial




Tenho para mim que os fotógrafos só registam o fora do normal.
O bonito, o feio, o insólito, o incomum, a situação única. Diria mesmo que quando se fotografa algo de tão banal como, por exemplo, o quotidiano lavar de loiça, fazem-no porque de algum modo esse lavar de loiça é especial: pela loiça em causa, pela pessoa que o faz, pela refeição que sujou essa loiça, pelo lugar onde essa loiça foi usada… alguma coisa de especial aconteceu para que esse banalíssimo lavar de loiça merecesse uma fotografia.
Assim hoje, domingo, depois de um cafezinho bem tardio, decidi dar uma pequenina volta higiénica pelas imediações de onde moro. Nenhuma intenção especial que não uma voltinha higiénica e deixar que os olhos vagueassem pelo circundante em busca de algo de incomum que merecesse o registo. Que a minha câmara de bolso jaz jus ao seu nome e está sempre comigo.
Suponho que o problema fosse exclusivamente meu! Neste passeio dominical, ainda que curto, nada de incomum vi. Talvez que o não tão grande número de lugares vagos para estacionar quanto o que se esperaria dado ser Domingo e Agosto. Talvez que a menor quantidade de lixo fora dos contentores que o habitual. Talvez que o haver crianças pequenas a brincar na rua, coisa não habitual aqui por estes lados, fora do parques infantis. Talvez que ainda haver bandeiras nacionais em exibição, restos de um nacionalismo absurdo e sinónimo de desleixo na decoração exterior das casas. Talvez que o ter encontrado dois automóveis de matricula francesa, indicadores de ser Agosto e mês de férias p’la Europa fora. Talvez que, e para além do latido de um canito e as risadas da criançada, nenhum outro ruído se ouvisse. Talvez que pouca roupa pendura nas janelas. Talvez o já haver folhas de árvore secas e queimadas.
Mas o certo é que não dei por nada de invulgar ou merecedor de uma fotografia. Talvez que a minha mente tenha decidido que é Domingo e Agosto e tenha decidido gozar umas horas de férias, deixando-me incapaz de constatar o que de menos comum acontece em redor.
Restou-me, quase à porta de casa e no regresso, este sapato. Que nem ele sequer é incomum para mim, que parece que tenho “faro” para os que estão por aí abandonados.
E, para que se não dissesse que este pequeno passeio, física e intelectualmente higiénico, não foi profícuo, fiz o registo. Que, mesmo ele, nada tem de especial, que justifique um registo, que chame a atenção de um fotógrafo.

By me

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