quarta-feira, 21 de maio de 2008

À pedrada


Tendo já passado horas a fio, de pé e sem poder arredá-lo, num cruzamento de duas ruas e uma praça num grande jardim de Lisboa, acabo por trocar alguns dedos de conversa com os habituais do jardim, aqueles ali vão todos os dias, bem como com aqueles que só lá vão de quando em vez. E até com aqueles que nunca lá tinham estado e, provavelmente, não voltarão a estar.
Para com os habituais, acabo por já quase que fazer parte da mobília, sendo que algumas das conversas extravasam de longe o tempo, o negócio, as recordações ou um qualquer outro episódio inconsequente.
Para alguns destes, as conversas entram mesmo no campo das confidências, ouvindo eu detalhes das suas vidas privadas, actuais ou distantes. Umas com graça, outras mesmo sem graça nenhuma.
E destas últimas, das que não têm graça nenhuma, bem pelo contrário, já perdi a conta às vezes que ouvi dizer que, este mês, não deu para comprar os remédios todos. São sempre idosos, reformados, que ali vão ocupar o tempo, quando o clima está de feição e as maleitas da idade o permitem.

E quando, em paralelo com estes desabafos, vejo estes anúncios na cidade, enaltecendo os hospitais privados, os sistemas de saúde privados, os seguros de saúde privados, e tudo o mais que se relaciona com a saúde e que só alguns alcançam…
Sinto vontade de começar à pedrada!
À pedrada aos anúncios, à pedrada aos hospitais, à pedrada àqueles que neles se inscrevem para tirar umas rugas da idade enquanto que tantos outros não conseguem sequer pagar o remédio para dar conta das dores da idade, aquelas que os impedem de sair à rua para desabafarem sobre as mesmas dores com os outros que por lá estão, com ou sem essas dores.

Eles gostam de nós, dizem eles!
O que eles não dizem é quais são as condições económicas que temos que ter para que eles gostem de nós.

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