sábado, 3 de maio de 2008

Maio 68


Querido filho,

Perguntas-me o que foi o Maio de 68. Desta vez, confesso, apanhaste-me de surpresa. Não é de repente que se fala dele. Mas posso dar-te umas pistas. Depois vai ao Google e terás muitas pontas por onde pegar. Mais do que as barricadas, ocupação de universidades e confrontos com a polícia - impressionei-me com o dia em que as porteiras (será que alguma era portuguesa?) desfilaram em Montmartre. Empunhavam cartazes onde se lia: "Nós também temos direito à palavra!" Fiquei a pensar. O Maio de 68 foi um tremor de terra que até levou as concierges para a rua.

Ao que parece tudo começou na universidade de Nanterre, ali perto, porque os estudantes queriam liberdade sexual. Depois o movimento alastrou à Sorbonne - fica no Quartier Latin -, um dos bairros onde se acolhiam intelectuais e estudantes. A Sorbonne é fechada, estudantes são presos. Seguiram-se manif's e barricadas. Em Paris só se andava a pé. Não havia gasolina nem transportes públicos. A polícia apanhou com muitas pedras retiradas das calçadas, deixando à vista a areia de Paris. A praia...Houve muitas centenas de estudantes e polícias feridos e carros incendiados. Na noite mais violenta os estudantes montaram dezenas de barricadas.

A certa altura os sindicatos entraram na festa dos estudantes. A greve geral deixa a pouco e pouco França num caos. Fábricas e empresas fecharam. Dez milhões sem trabalhar. Mas a simpatia inicial com que se ouvia os estudantes dizer " é proibido proibir", "não mudemos de emprego, mas o emprego da vida", "ter tempo para amar e para aprender a amar" -, acabou.

Quase no fim do mês os sindicatos conseguem aumentos e mais férias. Largam a estudantada, que os acusam de traidores. A maioria silenciosa gaullista faz uma imensa manif, sinal tudo estava a terminar. Mas o que parecia a derrota entrou nos costumes. As pessoas aprenderam a contestar, a ter autonomia, a respeitarem a diferença, a viverem a revolução sexual. E outras coisas. Olha, estou atrasada, há muito mais, mas tenho de ir trabalhar. Não te esqueças de ir ao Google. Deixo-te com uma das palavras de ordem: "Nem deus, nem dono". Que achas? Escreve-me. Mãe.

Texto: by Leonor Figueiredo, in www.dn.pt
Imagem: by me

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