É verdade que sim: tenho uma opinião muito pouco lisonjeira
sobre a chamada “fotografia de rua”. Há todo um conjunto de questões éticas que
me levam a tal.
Em qualquer dos casos, de quando em vez há que pensar e
repensar sobre os nossos conceitos. Colocá-los em causa, rever argumentos,
aceitar como válidas outras perspectivas. Pode sempre acontecer que o que temos
por certo desde há muito acabe por se demonstrar errado.
Por isso mesmo estive este fim de semana numa palestra onde
o tema era Fotografia de Rua, defendido por quem a pratica. Tentei estar de
mente tão aberta e tão ausente de preconceitos quanto o possível.
O que fui ouvindo até parecia lógico e aceitável, com
algumas abordagens técnicas e éticas válidas e algum tipo de separação entre a
satisfação do fotógrafo e o respeito pelo fotografado. Quase me convenceu.
E digo quase porque o orador “borrou a pintura” com uma das
fotografias que exibiu: um homem barbudo e com cara de zangado, numa bicicleta
e acompanhado por dois cães, fazendo um inequívoco e bem visível pirete para a
câmara. A grande angular usada e perspectiva próxima e baixa usada não
permitiam não ver o gesto de protesto para com o fotógrafo e o que fazia.
Interrompi o discurso e questionei porque motivo, sendo bem
notório o protesto contra o fazer daquela fotografia, se ignorava a vontade do
fotografado e se a exibia.
A resposta esteve bem em linha com o que eu pensava antes de
entrar naquela sala: “Sim, mas eu gosto tanto dela...”! “E”, acrescentou alguém
que estava presente aquando do fazer da imagem, “o homem não voltou atrás para
protestar.”
Toda a capa protectora que eu tinha a envolver os meus
preconceitos e opiniões se esbroou. Que estava ali bem plasmada a relatividade
de importâncias entre a vontade do fotografado e a vontade do fotógrafo. E a
ausência de escrúpulos deste perante aquele.
É interessante pensarmos que o acto de premir o obturador da
câmara fotográfica é conhecido por “disparar”. Como quem dispara a caçadeira
sobre a sua presa. Cujo troféu se pendura na galeria, real ou virtual,
demonstrando a habilidade ou saber do caçador.
Pentax MX, Pentax-M 28 1:2,8, TriX, 24/12/1979