sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Então é assim:




Pediram-me para fazer um texto, particularmente complexo, acompanhado de um retrato meu. A data limite era hoje e eu, sendo português, guardei para a última o fazê-lo.
Estava eu bem concentrado no texto quando oiço a campainha da porta. Logo seguida do bater da mão na respectiva porta.
Naturalmente que interrompi o que estava afazer (e o respectivo raciocínio) para ver quem com aquela urgência me queria falar.
Pois quem assim batia na minha porta era um vendedor. Quis ele fazer-me crer que não vendia mas antes pedia contribuições para uma qualquer instituição, com a qual colaboraria a Abraço, a Casa do Gil e já não sei que outras.
Não gostei nem um nico. E fiz-lho saber.
Não gosto que toquem a campainha e batam na porta ao mesmo tempo, a menos que seja um caso de muita urgência. A resposta deixou-me siderado: “Mas tenho eu urgência em falar consigo. O meu nome é (não fixei) e estou a falar com?” estendendo-me a mão.
“Com o tipo que foi interrompido no que estava a fazer por si para coisas em que não quero colaborar!” e não lha apertei nem me identifiquei.
Insistiu no seu assunto e só faltou mesmo, para me deixar em paz, o bater-lhe com a porta na cara, na verdadeira acepção do termo.
Entendo que cada um faz pela sua vida. Mas interromperem a vida de cada um com aquilo que querem fazer é, no mínimo uma agressão. Principalmente se não entendem que estão a incomodar.
O cúmulo desta história é que, passado algumas horas, estava eu a tentar fazer esta fotografia e acertar a respectiva luz, quando tocam a campainha, logo seguido do bater na porta com os nós dos dedos.
“Hoje estou mesmo com azar!” pensei.
Não estava! Era o mesmo fulano, que repetia a tentativa.
Quando me viu, e notou a minha cara de pior que urso acordado a meio de hibernação, abanou, pediu imensas desculpas, justificou-se com a desorganização dos seus apontamentos e quase correu pela escada abaixo.
Agora digam lá se eu não sou um herói: não lhe toquei nem com um dedo!

Quanto à fotografia, saiu isto. O texto, é privado.

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Um olhar - Ricardo



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(Des)equilíbrios




Completam-se hoje 15 anos que faleceu Lady Diana.
No próximo dia 5 de Setembro completam-se igualmente 15 anos que faleceu Madre Teresa de Calcutá.
Aposto dobrado contra singelo em como hoje se falará um pouco sobre a primeira morte e em como daqui por seis dias ninguém falará da segunda.
É o que dá em comparar uma mulher boa com uma boa mulher.


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Anedotas




Lembram-se daquela anedota, estúpida como qualquer anedota, em que o sargento chama um soldado do seu pelotão e lhe diz:
“Houve um grande incêndio na tua aldeia e morreram todos!”
“Oh não!” reage o praça, quase desmaiando de emoção.
“Está lá descansado, que foram só os teus pais!” continua o sargento.
“Ah bom! Ainda bem!” foi a resposta aliviada.

E recordam-se daquele aviso feito ao país sobre o fechar de um dos canais de TV de serviço público, o entregar de mão beijada o outro, ainda pagar por cima e o despedir os seus trabalhadores?
Com o respectivo protesto por parte dos portugueses, organizados ou não?
Consigo imaginar a continuação disto, que não é nem história nem anedota:
“Estejam lá descansados que não se fecha nenhum canal, não se vai pagar nada a ninguém. Vais ser só o despedir de pessoas.”
“Ah bom! Assim está bem!” será a resposta colectiva. 

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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Passagem




O que é idade?
É bem mais que aquilo que medeia entre este momento e o em que nascemos.
É aquilo como nos sentimos, bem para além daquilo que o corpo sente.
É aquilo que nos apetece fazer, apesar do que aprendemos, do que nos ensinaram, do que impõem.
É o que leva a que os nos olhos brilhem de desejo, mesmo que proibido.

Que idade tenho, eu que passei para o outro lado, que conduzia a local algum sem que coisa alguma lá fosse fazer, nem mesmo fotografar?

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Registos




Foi há uns dias.
Primeiro vi-o afastar-se de um automóvel com uma vassoura e começar a varrer a calçada.
Era domingo, não estava fardado e a vassoura era demasiado frágil nas suas cerdas para ter sido concebida para aquela função.
Estranhei e deixei-me ficar.
Quando constatei que só se preocupava com os desenhos da calçada, fiquei com uma quase certeza que decidi confirmar perguntando, ou não tivesse eu o nariz comprido.
Quaisquer dúvidas que ainda existissem na minha mente, ainda antes de entabular conversa, dissipar-se-iam quando vi que na traseira do carro pouco havia que não uma mala de equipamento, pequena, e este escadote.
Ainda lhes sugeri o uso do monopé com câmara, levantado bem alto: mais leve e fácil de transporte, permite colocar a câmara bem na vertical do assunto, evitando a perspectiva lateral e eventuais sombras. E demonstrei-o.
Rui-se ela, riu-se ele com sotaque francófono. E foram eles para o que ali os levara e que aqui se vê, fui eu para o que ali me levara, já no interior do jardim.
Um destes dias, e só por teimosia, faço-o à séria e sistematizado. Até porque, mais cabo, menos cano, um destes dias já não haverá desenho nas calçadas para registar.
O que eu não lhes disse, e que guardei como truque meu, é que um pouco de água e uma esfregona escurecem os interstícios na calçada, deixando em evidência a união das pedras brancas.
Mas não se pode contar tudo.

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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Uma visão comprometida




O local que tínhamos escolhido para acampar estava interdito. Pelo que continuámos, de mochila às costas, em busca de outro.
A escolha recaiu num terreiro, bem liso e horizontal, mesmo ao lado de uma igreja, numa aldeola próxima.
Além da “barraca” que armámos, montámos a tenda e comemos do farnel que levávamos. E, citadinos que éramos, decidimos ir tomar um café no tasco, do outro lado da rua e da igreja.
Mesas de pedra, copos de vinho, dominó… Chegados ao balcão, pedimos as bicas. E fez-se um silêncio denso, pesado. Entreolhámo-nos e olhámos em redor, tentando perceber o que havíamos dito ou feito.
Nessa noite não havíamos feito, que eram colegas que o estavam a fazer.
Num velho televisor, alto na parede, havia começado o telejornal e todos ali paravam para o ver.
Nessa noite aprendi, mais que de qualquer outra forma, algo que nunca mais esqueci, tantos anos que já passaram:
Que aquilo que fazemos, por vezes com a displicência do quotidiano, são os olhos e os ouvidos dos nossos concidadãos para o mundo.

E isso que fizemos, fazemos e queremos continuar a fazer, entalados entre poderes políticos e económicos e permanentemente escrutinados pelas entidades que o devem fazer e pela população, chama-se serviço público de rádio e de televisão.
Sem pressões de audiências, sem pressões económicas, sem accionistas que querem apenas ver o seu investimento lucrar.
Mas se fecharem um ou mais dos canais de rádio e de televisão, se privatizarem os restantes ao sabor de teimosias políticas e pseudo imposições orçamentais, a preço da chuva, os dominós continuarão a serem virados, tal como os copos, porque quem estiver sentado à mesa saberá que ver a RTP será o mesmo que ver qualquer outro canal.

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Necessidade




Nos tempos que correm, e bem mais que um prazer, é uma urgência, uma necessidade imperiosa o pisar a relva.
Uma, duas, muitas, um dois, muitos pés.

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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Estranho negócio este




Levarem os portugueses a investir em novos equipamentos para acederem aos canais televisivos que já tinham, de borla, e agora retirarem-lhes um deles.
Talvez faça sentido perguntar-se quem pertence a rede de emissores.
Que, por sinal, já foi propriedade de todos os portugueses, já que pertencia à RTP e foi-lhe retirada para permitir a chegada de canais privados. Passando a RTP a pagar pela utilização do que tinha sido seu. Nosso!
Também fará sentido perguntar-se que outros negócios tem a empresa que possui a rede de emissores.
Também fará sentido recordar uns zun-zuns, uns boatos, umas acusações que aconteceram aqui há uns anos, aquando do concurso para um quinto canal de televisão, em sinal aberto, e que foi chumbado por falta de qualidade dos candidatos. E recordar quem eram os candidatos. Empresas e pessoas. Claro que os boatos foram desmentidos, os zun-zuns calaram-se e as acusações deixaram de ser feitas.
Cheira-me a queimado e não tenho nada ao lume, caramba!

As setas




Pergunto-me se, no lugar de “histórico”, estivesse escrito “comercial” não seria bem mais proveitoso para a economia em crise?
Mas também me pergunto, nesse caso, quantas setas haveria e se o poste não teria que ser bem mais alto?

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A folha e a tesoira




Se com a minha pobre e fraca tesoira do meu canivete Suisso consigo isto sobre uma folha de relva, imagine-se o que todos nós conseguiríamos se usássemos tesoiras de costura, tesoiras de papel, tesoiras de podar, tesoiras de peixe, tesoiras de chapa…
Não haveria reinado, perdão, relvado que resistisse!

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Comparações




Convenhamos: eu e a França não temos uma relação que prime por amena.
As suas atitudes nesta última vintena d’anos, no tocante a migrações, armamento e tentativa de domínio no jogo político europeu não me têm agradado nem um nico.
A ponto de, e sempre que me é possível, recusar o que quer de lá venha. Manias minhas.
No entanto, o seu a seu dono! A revolução Francesa foi um marco indelével na história da humanidade, fazendo dela a origem de muito do que de então para cá aconteceu. De cariz político, de cariz social, de cariz económico, de cariz filosófico.
Talvez que por isso mesmo ainda hoje mexe comigo o ouvir hino francês, escrito nesses tempos de convulsão.  
E, que me perdoem qualquer comparaçaõzinha, começa de facto a fazer sentido que, por cá, se ponha de pé e em prática, a frase que então ficou célebre:
“Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.


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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Assaltos




Leio, num jornal português, que os reis suecos foram assaltados enquanto dormiam.
De acordo com a notícia, “Os ladrões forçaram a porta da cafetaria do palácio e levaram a caixa-forte. Fugiram num veículo que estava estacionado perto da habitação, mas acabaram por abandoná-lo na zona norte da ilha. Carlos Gustavo e Sílvia da Suécia só se aperceberam do furto quando acordaram. (… )”
Isto seria impossível de acontecer por cá.
Desde logo por Portugal é uma Republica, não havendo reis para roubar.
De seguida porque sabemos que os nossos governantes, nos seus diversos cargos, não passam férias em palácios ou ilhas.
Por fim porque, dados os acontecimentos recentes e o estado em que o país se encontra, não seria nunca de prever que os nossos governantes dormissem sem forte escolta e/ou vigilância. Não fora dar-se o caso de os intrusos, mais que quererem levar algo, quisessem deixar algo. Chumbo, por exemplo.

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domingo, 26 de agosto de 2012

O quiosque




Áh pois é! 50 cêntimos mesmo!
Do lado de cá da ruazinha (em boa verdade, é um acesso à antiga piscina do areeiro, agora fechada sine die), a bica ultrapassa os sessenta cêntimos, dependendo se é ao balcão, sentado numa mesa ou cá fora, sentado na esplanada, onde o cigarro pode suceder ao café.
Não fora estar cansado nesse dia (alvorada às 3.30 da madrugada) e querer uma mesa para escrever, teria tirado as teimas quanto a qualidade. Da próxima prometo: vou alimentar o pequeníssimo negócio deste quiosque alfacinha numa zona que já foi muito nobre.

By me 



De tanto se dizer que os deuses não existem, eles ainda vão acabar por ter uma crise de identidade!
Altura em que psicólogos e psiquiatras terão muito trabalho. 

Alternativas




E para quem gosta de outro tipo de fotografia que não a que sai directamente da câmara, aqui fica um brilhante exemplo, feito por Jerry N. Ueslmann (1934-    ).
“Room”, 1963
Vale a pena dar uma voltinha na web, para quem não tem versões impressas que, desde que em bons livros, têm sempre mais qualidade.
Aliás, mesmo nos tempos que correm, recomenda-se um investimento, forçosamente lento como é óbvio, em boa literatura fotográfica. Não creio que, por melhor que possam ser as versões on-line, nunca chegarão aos calcanhares daquilo que está impresso.
Desde logo pelas compressões que as imagens são objecto, a fim de não tornarem as páginas demasiadamente pesadas. Que retiram muitos dos cambiantes subtis que o autor quis que o trabalho tivesse. Em seguida, porque quantos monitores de computador conhecem que estejam, de facto, calibrados, a ponto de terem a certeza que o que estão a ver é o que o autor quis que vissem? Brilho, contraste, saturação, gama, temperatura de cor…?
Levando a questão aos seus limites, quem quer que tenha visto um bom livro com imagens de Ansel Adams ou dos seus pares recusa certamente gastar mais de cinco segundos com uma reprodução on-line.
Em qualquer dos casos, a net tem a vantagem de abrir o apetite. Espero que isto ajude.

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sábado, 25 de agosto de 2012

Chhhhhhhh




Quando os nazis levaram os comunistas, eu calei-me, 
porque, afinal, eu não era comunista. 
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, 
porque, afinal, eu não era social-democrata. 
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, 
porque, afinal, eu não era sindicalista. 
Quando levaram os judeus, eu não protestei, 
porque, afinal, eu não era judeu. 
Quando eles me levaram, 
não havia mais quem protestasse"

Martin Niemöller


Equivalências




Ver alguém, cuja responsabilidade na questão é apenas a de emitir opinião, dizer com o maior dos desplantes que se a solução for despedir gente, pois que se faça, é o mesmo que todos nós, que até somos parte envolvida na questão, dizer de quem nos anda a tramar o futuro:
“Enforcá-los? E porque não? Até já tenho um candeeiro da minha preferência!”

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Temp(l)os




Os tempos mudam, tal como os templos.
Neste espaço, de oração e devoção a um deus, já aconteceram orações e devoções a outro deus.
Mas se este agora é imaterial, cuja existência é defendida por fé e escritos que o atestem, o anterior era palpável, comerciável e fazia presença, ou faz presença, em casa de grande parte dos portugueses. Como que uma espécie de altar, em torno do qual cada um faz as suas próprias preces e rituais.
Aqui, onde vedes uma igreja, já foi uma das melhores e mais conceituadas lojas de informática cá do burgo, chegando a vir gente de mais de trinta quilómetros em redor fazer negócio e acautelar o futuro dos seus negócios e equipamentos. Reparavam-se máquinas e restauravam-se confianças na tecnologia. Exorcitavam-se demónios e vírus com rezas tecnológicas e hardware abençoado por bites e bytes.

Acho que ali lançar uns búzios e olhar umas folhas de chá, tentando adivinhar qual o próximo templo que aqui assentará arraiais. Quem sabe se um banco?

By me 

O cano de uma pistola pelo cu




14 de Agosto de 2012. "O cano de uma pistola pelo cu" e "As relações impossíveis: Economia real- Economia financeira", eram os dois títulos do texto que Juan José Millás publicava na secção de cultura do El Pais. Em poucos dias  tornou-se viral: 19000 shares no Facebook, 15 mil tweets, um país indignado. Hoje, o Dinheiro Vivo publica em exclusivo - e pela primeira vez em português - o texto sobre o capitalismo que incendiou Espanha


O cano de uma pistola pelo cu
Se percebemos bem - e não é fácil, porque somos um bocado tontos -, a economia financeira é a economia real do senhor feudal sobre o servo, do amo sobre o escravo, da metrópole sobre a colónia, do capitalista manchesteriano sobre o trabalhador explorado. A economia financeira é o inimigo da classe da economia real, com a qual brinca como um porco ocidental com corpo de criança num bordel asiático.

Esse porco filho da puta pode, por exemplo, fazer com que a tua produção de trigo se valorize ou desvalorize dois anos antes de sequer ser semeada. Na verdade, pode comprar-te, sem que tu saibas da operação, uma colheita inexistente e vendê-la a um terceiro, que a venderá a um quarto e este a um quinto, e pode conseguir, de acordo com os seus interesses, que durante esse processo delirante o preço desse trigo quimérico dispare ou se afunde sem que tu ganhes mais caso suba, apesar de te deixar na merda se descer.

Se o preço baixar demasiado, talvez não te compense semear, mas ficarás endividado sem ter o que comer ou beber para o resto da tua vida e podes até ser preso ou condenado à forca por isso, dependendo da região geográfica em que estejas - e não há nenhuma segura. É disso que trata a economia financeira.

Para exemplificar, estamos a falar da colheita de um indivíduo, mas o que o porco filho da puta compra geralmente é um país inteiro e ao preço da chuva, um país com todos os cidadãos dentro, digamos que com gente real que se levanta realmente às seis da manhã e se deita à meia-noite. Um país que, da perspetiva do terrorista financeiro, não é mais do que um jogo de tabuleiro no qual um conjunto de bonecos Playmobil andam de um lado para o outro como se movem os peões no Jogo da Glória.

A primeira operação do terrorista financeiro sobre a sua vítima é a do terrorista convencional: o tiro na nuca. Ou seja, retira-lhe todo o caráter de pessoa, coisifica-a. Uma vez convertida em coisa, pouco importa se tem filhos ou pais, se acordou com febre, se está a divorciar-se ou se não dormiu porque está a preparar-se para uma competição. Nada disso conta para a economia financeira ou para o terrorista económico que acaba de pôr o dedo sobre o mapa, sobre um país - este, por acaso -, e diz "compro" ou "vendo" com a impunidade com que se joga Monopólio e se compra ou vende propriedades imobiliárias a fingir.

Quando o terrorista financeiro compra ou vende, converte em irreal o trabalho genuíno dos milhares ou milhões de pessoas que antes de irem trabalhar deixaram na creche pública - onde estas ainda existem - os filhos, também eles produto de consumo desse exército de cabrões protegidos pelos governos de meio mundo mas sobreprotegidos, desde logo, por essa coisa a que chamamos Europa ou União Europeia ou, mais simplesmente, Alemanha, para cujos cofres estão a ser desviados neste preciso momento, enquanto lê estas linhas, milhares de milhões de euros que estavam nos nossos cofres.

E não são desviados num movimento racional, justo ou legítimo, são-no num movimento especulativo promovido por Merkel com a cumplicidade de todos os governos da chamada zona euro.

Tu e eu, com a nossa febre, os nossos filhos sem creche ou sem trabalho, o nosso pai doente e sem ajudas, com os nossos sofrimentos morais ou as nossas alegrias sentimentais, tu e eu já fomos coisificados por Draghi, por Lagarde, por Merkel, já não temos as qualidades humanas que nos tornam dignos da empatia dos nossos semelhantes. Somos simples mercadoria que pode ser expulsa do lar de idosos, do hospital, da escola pública, tornámo-nos algo desprezível, como esse pobre tipo a quem o terrorista, por antonomásia, está prestes a dar um tiro na nuca em nome de Deus ou da pátria.

A ti e a mim, estão a pôr nos carris do comboio uma bomba diária chamada prémio de risco, por exemplo, ou juros a sete anos, em nome da economia financeira. Avançamos com ruturas diárias, massacres diários, e há autores materiais desses atentados e responsáveis intelectuais dessas ações terroristas que passam impunes entre outras razões porque os terroristas vão a eleições e até ganham, e porque há atrás deles importantes grupos mediáticos que legitimam os movimentos especulativos de que somos vítimas.

A economia financeira, se começamos a perceber, significa que quem te comprou aquela colheita inexistente era um cabrão com os documentos certos. Terias tu liberdade para não vender? De forma alguma. Tê-la-ia comprado ao teu vizinho ou ao vizinho deste. A atividade principal da economia financeira consiste em alterar o preço das coisas, crime proibido quando acontece em pequena escala, mas encorajado pelas autoridades quando os valores são tamanhos que transbordam dos gráficos.

Aqui se modifica o preço das nossas vidas todos os dias sem que ninguém resolva o problema, ou mais, enviando as autoridades para cima de quem tenta fazê-lo. E, por Deus, as autoridades empenham-se a fundo para proteger esse filho da puta que te vendeu, recorrendo a um esquema legalmente permitido, um produto financeiro, ou seja, um objeto irreal no qual tu investiste, na melhor das hipóteses, toda a poupança real da tua vida. Vendeu fumaça, o grande porco, apoiado pelas leis do Estado que são as leis da economia financeira, já que estão ao seu serviço.

Na economia real, para que uma alface nasça, há que semeá-la e cuidar dela e dar-lhe o tempo necessário para se desenvolver. Depois, há que a colher, claro, e embalar e distribuir e faturar a 30, 60 ou 90 dias. Uma quantidade imensa de tempo e de energia para obter uns cêntimos que terás de dividir com o Estado, através dos impostos, para pagar os serviços comuns que agora nos são retirados porque a economia financeira tropeçou e há que tirá-la do buraco. A economia financeira não se contenta com a mais-valia do capitalismo clássico, precisa também do nosso sangue e está nele, por isso brinca com a nossa saúde pública e com a nossa educação e com a nossa justiça da mesma forma que um terrorista doentio, passo a redundância, brinca enfiando o cano da sua pistola no rabo do sequestrado.

Há já quatro anos que nos metem esse cano pelo rabo. E com a cumplicidade dos nossos.

Texto: in “dinheirovivo.pt”

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Pequenos nadas




A vida é feita de pequenos nadas, disse o poeta. E quem sou eu para contrariar um poeta?!
Mas sendo a fotografia parte integrante da vida, também ela é feita de pequenos nadas. Pequenos nadas vitais, pequenos nadas que agradam e pequenos nada que desagradam.
Um dos pequenos nadas vitais uma fotografia, pelo menos para mim, é o ar. Aquela coisa que só sentimos quando se mexe mas que quando não existe sentimos-lhe a falta.
Este ar ou espaço, é o que é parte integrante do que fotografamos, o espaço que lhe é inerente, o espaço ou ar de que necessita para existir. Ou movimentar-se. Ou ser usado. Ou usar. Ou respirar.
A fotografia da esquerda tem o ar ou espaço habitual a um fotógrafo: espaço à frente do corpo, para onde está virado; espaço à frente da objectiva, na zona onde estará, eventualmente, a fotografar. Eu diria que é uma fotografia equilibrada, satisfazendo as necessidades, curiosidades e tranquilidades de quase todos os espectadores. E fotógrafos.
Já a fotografia do centro é o seu oposto. Não tem espaço à frente do corpo, não tem espaço à frente da objectiva e, em contrapartida, tem muito espaço, quiçá em demasia, atrás do corpo. De onde não se espera que venha coisa alguma mas que, assim mostrada, nos pode indiciar que algo irá surgir, de bom ou de mal. Não é uma imagem convencional, tranquilizadora ou que agrade à maioria. Fotógrafos ou não. Mas pode ser intencional, para provocar incómodo ou desassossego em quem a vê.
Já a fotografia da direita não é nem carne nem peixe. Nem o ar à frente nem o ar atrás são suficientes para induzir ao que quer que seja. Nem o que pode surgir nem para onde se está a apontar. Nem o “natural” nem o “indutor”. É um “pequeno nada” a mais de um lado ou um “pequeno nada” em falta do outro.
Mas é também o colocar o centro de interesse bem ao meio, daquela forma que fazem os atiradores de elite ao fazer ponto de mira.
Este colocar o centro de interesse bem ao centro da imagem quando os seus elementos pedem ar para respirar, movimentarem-se, existirem (explícita ou implicitamente) é daqueles pequenos nadas que me incomodam, que me fazem indagar sobre que diabo estaria a pensar o fotógrafo que tal fez: em fotografia ou tiro ao alvo?


By me

Num fast-food




Faço o pedido. Vem a bebida. Chegam as entradas. Trazem o prato principal. Mas… Faltam os talheres.

Olhando para um lado e o outro, em busca de uma solução em auto-suficiência, acabo por recorrer a um expediente. Arriscado e de consequências não muito previsíveis.
Jogando a mão ao cinto, saco do canivete suíço. Com um gesto rápido de hábito antigo e um clic mais que conhecido, abro-o e empunho-o.
Obedecendo como que a uma batuta de aço, as conversas em redor baixam de tom ou silenciam-se, alternando com exclamações abafadas de espanto. Algumas cadeiras arrastam-se no chão.
Primeiro com o olhar, depois com um gesto da mão esquerda, livre, chamo a atenção de um dos empregados, que se aproxima hesitante. Em tom baixo, adequado à privacidade da situação, digo-lhe:
“Posso usar a minha própria ferramenta, mas creio que seria bem mais fácil se me arranjasse um garfo e uma faca.”
Endireitou-se de imediato, as faces recuperaram a cor e, acto contínuo, dirigiu-se a uma gaveta, num armário ali perto. A uma distância respeitosa, dois empregados e uma empregada observavam o que se passava. Ela com um discreto sorriso nos lábios, que já me conhecia.
Depois de uma curta viagem por outras gavetas e por uma mesa já pronta, o rapaz que me atendia regressou com os talheres em causa, entregando-mos com um pedido de desculpas titubeado.
Ao recebe-los, fechei o canivete com o seu ruído característico e ouviu-se, em jeito de surround, um coro de alivio e o retomar das conversas e barulhos de baixela.
E o resto do jantar decorreu com normalidade, com as pseudo prata-da-casa.

Não acredito que, naquela casa de pronto-a-comer, se tornem a esquecer de ter as mesas prontas.
Não vá dar-se o caso de eu passar por lá de novo!
Nem me esqueço do sorriso divertidíssimo da empregada que, aquando da minha saída, me piscou o olho, cúmplice.

By me

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Trocos e estratégias




Vem em tudo quanto é comunicação social: os grandes grupos de supermercados decidiram (ou estão em vias disso) deixar de aceitar os meios de pagamento electrónico para facturas abaixo de vinte euros.
Sobre isso já se disse muita coisa: falaram os grupos, falaram os bancos, falou quem gere o sistema de cartões (débito e crédito), ouviu-se o povo, ouviram-se organizações de defesa de consumidores…
Excepção feita, naturalmente, a quem tomou a decisão, todos estão contra. Por este ou por aquele motivo.
Mas eu gostaria de deixar aqui uma ou duas reflexões, em paralelo com os comentários e doutas opiniões.

Em primeiro lugar, aquilo que corresponde ao valor que possuímos e nos permite fazer trocas é dinheiro. Em papel ou moeda, mas dinheiro. Todos os outros sistemas são substitutos, condicionados ao negócio em causa (veja-se a exigência de cheques visados, por exemplo).
Mais ainda, e é coisa que a maioria não considera, o uso de qualquer sistema de pagamento que não o dinheiro vivo implica um contrato com uma instituição bancária, enquanto que dinheiro não implica coisa nenhuma excepto a sua posse.
Em segundo lugar, não creio que o que esteja em causa, nesta recusa de aceitar cartões para compras abaixo de um certo valor, seja as tais “taxas” que serão cobradas pelas entidades gestoras dos cartões. Estou mesmo convencido que o facto de ficarem os supermercados com mais dinheiro em caixa no final de um dia de comércio, em vez de imediatamente transferido para as respectivas contas, e considerando os valores assim geridos, será mais dispendioso que as tais taxas.
Note-se que só os pequenos comerciantes, que têm pouca capacidade negocial para com bancos e gestores de cartões, divulgam quanto lhes é cobrado por cada transacção. Os grandes grupos económicos, clientes muito queridos e amados de quem negoceia dinheiro nas suas diversas formas, não dizem quanto pagam nem os acordos que têm com bancos e afins. Afinal, o segredo é a alma do negócio.
Quer-me parecer – e desculpem se pareço céptico – que os motivos são outros, bem mais mesquinhos e de raiz mercantilista.

1 - O comum do cidadão, ao entrar numa loja de onde trará vários produtos, passará a pensar quanto irão custar. Se o preço do conjunto for bem abaixo do tal limite de vinte euros, pois usará dinheiro vivo. Agora se for perto desse valor, digamos que 18,5 euros, provavelmente trará algo mais para que o valor total ultrapasse o tal limite imposto.
Dito de outra forma, o consumidor é levado, para sua comodidade, a gastar mais dinheiro nas suas compras. E não se apercebe que está a ser “forçado” a gastar mais dinheiro.
Para quem reverte o lucro do aumento do consumo? Não será para os tais gestores de cartões, que continuam a cobrar as tais taxas, nem para os bancos, de onde não sai, usado desta forma, nenhum valor. Apenas para quem teve a ideia brilhante e recusar compras com cartões abaixo de vinte euros.

2 - Mas, vistas as coisas de outra forma:
É óbvio que os bancos não gostam deste ideia. Nem os gestores de cartões.
Que se os cidadãos passarem a usar dinheiro vivo – moedas e notas -, se deixarem de usar o dinheiro às pinguinhas e se tiverem todo o pouco que recebem depois de impostos, este não está nos bancos, não podem os poucos euros de cada um estarem a ser emprestados e renderem juros. Aos bancos, muito naturalmente. E se o valor correspondente não circular nas contas de quem gere o negócio de cartões de débito e crédito, lá se lhe vai o lucro da actividade.

3 - Do ponto de vista do cidadão comum, que tem o seu dinheiro no banco e usa cartões para as suas despesas, também esta medida é proveitosa.
Com o uso de dinheiro falso (cartões de débito ou crédito) o valor que ele tem torna-se diminuto para os mais incautos ou desorganizados. Do ponto de vista prático, entre gastar 15,4 euros ou 15,7 euros é praticamente o mesmo, se não tiver que contar, factualmente, as notas e moedas. Agora tendo que as contar, recebendo o troco e vendo como o peso e volume diminui… cada um controla-se mais facilmente nas despesas que faz, gastando menos ou mais racionalmente.

Não acredito que esta medida agora anunciada se baseie na questão das despesas mas antes como forma de aumentar a facturação.
Agora, sendo certo que todas as decisões têm efeitos secundários, mesmo que não previstos ou desejados, talvez que todos nós ganhemos com esta medida, que só peca por ter um limite muito baixo.

Nota extra: nunca pago bens usando cartões de débito. Pago em dinheiro vivo, mesmo que fiquem a olhar para mim quando o faço. Não por nenhum dos motivos acima descritos, mas por outros mais abrangentes.
Quanto ao resto, não simpatizo com quem lucra em gerir o resultado do trabalho dos outros.
Visto de outra forma: do trabalho de um cavador, ganha o patrão ou empregador, que fica com as chamadas “mais valias” do que ele cava; ganha o estado, através dos impostos que cobra e, dos quais, cada vez o cavador vê menos resultados úteis; ganham os bancos, que o já magro salário passa por eles e que cobram para que o cavador tenha um cartão que o faz sentir rico sem o ser.
Em jeito de remate: estaríamos – portugueses ou não – na chamada “crise” em que estamos se no lugar de dinheiro virtual apenas se usasse dinheiro real?


By me

208 - A alternativa




Por estranho que possa parecer, quase que preferiria estar à espera do 208 que de qualquer um dos outros dois.
Bem sei que ele só funciona de madrugada e tão espaçado que quase dá tempo para fazer o trajecto a pé.
Mas certo é que, se estivesse à espera dele, significaria que não estaria toda esta luz crua e agressiva, com o respectivo calor.

By me 

Imaginando




Imaginem que durante quinze minutos desceram uma avenida, olhando invejosos as árvores que sombreiam do lado de lá de muros e cercas.
Imaginem que são cerca das duas da tarde, quase doze horas depois de acordarem.
Imaginem que, e para além de algum esporádico automóvel, o principal som que ouvem são as cigarras, muitas, que tagarelam entre si.
Imaginem que, ao dobrar a esquina, ainda conseguem ver o vosso autocarro que se afasta da paragem, sabendo o próximo dali a vinte minutos.
Imaginem que esta é a maior sombra, num raio de quase duzentos metros.
Imaginem que o que escorre p’las costas consegue passar p’lo cós das calças.

Conseguiram imaginar tudo isso? Então conseguiram viver virtualmente o mesmo que vivi ontem, em saindo do trabalho.

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terça-feira, 21 de agosto de 2012

O rei-sábio




Contaram-me (ou li, já não sei) que algures na antiguidade um rei (seria imperador?), tentando melhorar o nível qualitativo da cultura e ciência do seu país, mandou chamar sábios de todos os cantos do mundo conhecido de então.
Não se conheciam, não partilhavam a mesma história, cultura, conhecimentos ou mesmo língua.
Mas seria nessa diversidade total que o tal imperador (seria rei?) apostava. Que, em nada havendo em comum, o que desta junção resultasse seria algo de completamente novo, algo que levaria o mundo a abrir a boca de espanto com tanto saber e modernidade.
Não sei o resultado de tal reunião. Pois se nem sei onde era, quando foi ou mesmo o nome do rei (seria imperador?).
O que sei, isso sem sombra de dúvidas, é que hoje, quando se juntam pessoas para conversar, a atitude generalizada é de exibição e afirmação das suas próprias certezas, fechando as mais das vezes o espírito ao que os outros terão para contar.
Mas sendo que partilham do mesmo contexto (cultural, ideológico, linguístico) também não têm, as mais das vezes, algo de verdadeiramente novo ou diferente para contar. Que as premissas são as mesmas e as conclusões são, por exclusão de partes, as mesmas. Enfeitadas, claro está, com o ego de quem discursa.
Evidentemente que há excepções. Tantas quantas, talvez, os tais sábios que o tal imperador (seria rei?) juntou. São aqueles que, mais que querer contar o que sabem, querem aprender o que os outros podem saber e, com isso, criar a novidade. São aqueles que, mais que querem exibir-se, querem partilhar e aprender o saber e o pensar. Falando ou não a mesma língua.
Faz falta que surja um rei, imperador, descamisado, endinheirado ou qualquer outra coisa que trate de os juntar e criar algo de realmente novo.
Hoje!

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Velharias para coisas actuais




Comprei uma borracha à moda antiga!
Paulatinamente e sem grandes pressas, estou a usá-la para apagar do meu círculo de convívio voluntário aqueles que não prestam.
Espero que ela dure tanto quanto a tarefa mas, para já, vou conseguindo ficar com a lista em branco.

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Novinhos




Ao longo dos anos tenho fotografado um sem número de sapatos abandonados na rua. Uns caídos em lugares insuspeitos, outros meramente jogados fora. E a maioria solitários, que é o que mais me estranha.
Com toda essa diversidade, já deveria estar habituado às situações mais invulgares: tipo, estado de conservação, local, envolventes…
Mas, desta vez, a surpresa foi total!
Confesso que nunca esperei ver um par de sapatos, ainda dentro daquilo que suponho ser a caixa original, e que, a avaliar pelo estado das solas, com poucos idas, se tanto de uso. Junto a contentores de lixo e com os atacadores bem atacados.


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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Citando




“On résiste à l’invasion des armées; on ne resiste pas à l’invasion des idées.”
Victor Hugo

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Fixe!




Gosto à brava de ver como os mesmos números dão títulos diferentes, quiçá opostos, nos media portugueses. 

No jornal Público lê-se:
“Actividade económica e consumo privado mantiveram-se fortemente negativos em Junho
Os indicadores de actividade económica e de consumo privado do INE mantiveram-se quase inalterados em Junho, em níveis fortemente negativos.
No caso da actividade económica, o indicador do INE (variação percentual de médias móveis de três meses) teve uma pequena recuperação face a Maio, passando de -2,4% para -2,5%. Estava em forte queda desde Setembro de 2010 e entrou em terreno negativo em Outubro do ano passado, divulgou nesta segunda-feira o INE, na sua Síntese Económica de Conjuntura.”

O Diário de Notícias conta-nos:
“Actividade económica melhora pela 1.ª vez desde 2010
A actividade económica melhorou pela primeira vez desde setembro de 2010, revelou hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE).
O indicador de actividade económica atingiu em maio -2,4%, uma décima mais acima dos -2,5% registados no mês anterior. Desde setembro de 2010 que o indicador de actividade mantinha uma tendência negativa.
"O indicador de actividade económica aumentou de forma ténue em junho, suspendendo o acentuado perfil negativo apresentado desde setembro de 2010", revela o documento do INE.”

Antigamente os jornais eram usados, entre outras coisas, para forrar os caixotes do lixo. Hoje, já nem isso!

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Excertos




Constituição da República Portuguesa


Artigo 12.º
Princípio da universalidade
1. Todos os cidadãos gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição.
Artigo 13.º
Princípio da igualdade
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

Artigo 26.º
Outros direitos pessoais
1. A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à protecção legal contra quaisquer formas de discriminação.
2. A lei estabelecerá garantias efectivas contra a obtenção e utilização abusivas, ou contrárias à dignidade humana, de informações relativas às pessoas e famílias.
….

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domingo, 19 de agosto de 2012

Pecados




A primeira parte desta história aconteceu ainda este telemóvel era um sonho num futuro próximo.
Num restaurante onde entrei para jantar com um casal amigo, tinha eu que fazer um telefonema.
Depois de feito o pedido, perguntei se teriam telefone público, indicaram-mo e fui.
No entanto, senti na sala, que estava razoavelmente vazia, uma espécie de silêncio estranho, como se algo de errado tivesse acontecido.
No regresso, já mais tranquilo, fui olhando em redor. Em cima de cada mesa, mesmo ao lado dos talheres, exibiam-se telefones celulares, bem maiores que este, mas que eram a última coqueluche do momento. E fui olhado de lado, como que perguntando que espécie de pelintra seria eu que não possuía também uma daquelas engenhocas.

A segunda parte deste desta história passou-se num momento em que este aparelho de comunicação já pertencia à arqueologia dos telemóveis.
Desafiei um colega para jantar durante o horário de trabalho. O costume, quando o trabalho de ambos o permite.
Partilhámos a sala, a mesa, por mero acaso a comida que escolhemos o mesmo prato. Mas ficámos por aí no que toca a partilhas.
Que, durante todo o bendito jantar esteve ele muito entretido à conversa não sei com quem, mas várias pessoas, usando o Messenger que o seu smartphone permite usar. Termos estado os dois ali ou um naquela sala e o outro nos antípodas teria sido rigorosamente o mesmo.
Não fiz nenhum comentário. Não adiantaria. Acabando eu de jantar, levantei-me e fui à minha vida, sem mais explicações. Mas certo é que, da próxima vez em haja oportunidade de partilharmos uma refeição, pedir-lhe-ei que deixe o aparelho na sua sala. Ou que jante com o aparelho que eu irei a outro lado.

A terceira parte desta história é intemporal, que começou bem antes de haver aparelhos portáteis de comunicações e terminará comigo.
Em minha casa a refeição é sacrossanta. Durante ela o televisor está desligado e os telefones não se atendem. Em havendo necessidade, atrasar-se-á a refeição para que se assista a algo importante. E se o telefone – qualquer um – tocar, que deixem recado, que é para isso que serve o atendedor de chamadas incorporado.
A refeição é uma partilha, de comida, de ideias, de presenças. Interromper ou subverter essa partilha é pecado. Que em minha casa se não comete, esteja quem estiver presente.


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Ao ar livre




E há mais, muito mais para desfrutar. É uma questão se escolher aquilo de que se gosto com o calendário e o mapa. O resto é esperar que o São Pedro seja simpático.
Procure-se por “lisboanarua”
No caso de ontem foi “Lisboa, crónica anedótica”, que já conhecia em episódios mas nunca tinha visto de seguida. E sabem o que me doeu?
Foi o ter-me sentido velho, já que reconheci cada pedaço de rua (ou quase todos) e reconheci como vividos por mim algumas das coisas ali retratadas. Outras roupas, outros veículos, outros anúncios, mas reconheci-os. É curioso (ou triste) constatar que Lisboa não mudou assim tanto em meio século ou pouco mais.
Para quem tiver curiosidade, encontra-os quase todos no youtube.

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