quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Sobre um debate


Faço televisão há muito tempo. Para ser mais rigoroso, faço televisão há mais de 31 anos. E, durante todos esses anos não tem havido como fugir às transmissões em directo ou às gravações de entrevistas e debates com políticos. De todos os quadrantes, de um extremo ao outro. Mais líder, menos candidato a tal, mais deputado, menos fazedor de opinião, todos me têm passado pela objectiva.
E, ao longo destes anos, sempre me tenho queixado de ter que o fazer, da hipocrisia que constato em frente às câmaras e quando estão desligadas, de como todos se intitulam vencedores ou vítimas, consoante é mais útil à estratégia do momento. E de como esgrimem argumentos, quantas vezes sem a coerência e a honestidade que seria de desejar.
No entanto tenho que admitir, a partir de ontem, que me considero um privilegiado. Que as pessoas que têm passado pelo meu percurso profissional têm conseguido manter uma boa dose de urbanidade e de civismo, apesar das estocadas recíprocas.
E se a minha opinião mudou foi porque constatei que tenho tido a sorte de trabalhar com a nata dos nossos políticos. Capazes de chamar um nome feio a um adversário com um sorriso e, no fim, ainda receberem um agradecimento, passe-se o exagero.
Que ontem estive a assistir a um debate com segundas figuras da política, promovido pelo blog “passeio livre”. E na mesa, da esquerda para a direita: Carlos Moura, candidato à Câmara de Lisboa pela CDU, Helder de Sousa, candidato pelo BE, José Victor Malheiros, jornalista e na qualidade de moderador, António Carlos Monteiro, candidato pela lista “Lisboa com sentido” e Nunes Silva, candidato pela lista “Unir Lisboa / PS”.De tudo o que ouvi (e anotei), pouco soube de novo. Excepto que alguns políticos da nossa praça conseguem, sem usarem palavrões ou quejandos, fazer corar de inveja alguns estivadores.
Dois dos presentes travaram-se de razões a tal ponto que um deles ameaçou sair da mesa, não impedindo, no entanto, que algumas pessoas da assistência abandonassem a sala, enojadas. Os outros dois tiraram partido da contenda, afinando pelo outro extremo da escala.
Salvou-se Malheiros no papel de moderador. Não sei, melhor, sei que eu mesmo não conseguiria manter a classe que demonstrou, por entre sorrisos. O meu aplauso daqui, bem como o que se ouviu por parte do público, à sua actuação
O debate foi em torno da ocupação ilegal e incómoda dos passeios por parte dos automóveis. E se todos eles reconheceram a situação como um flagelo contemporâneo, as alternativas propostas versaram o tornar mais fluido o trânsito na cidade, no lugar de proteger os peões. Com algumas, poucas, excepções, esta foi a tónica dominante.
Saí de lá como entrei: nenhum me surpreendeu nas propostas apresentadas nem nos argumentos exibidos. E eu continuarei, por aquilo a que assisti, satisfeito por não ser munícipe em Lisboa.
Resta-me o desconsolo de o ser em Sintra, onde o panorama do estacionamento abusivo e ilegal é o mesmo e os políticos serem frutos do mesmo cesto.


Texto e imagem: by me

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