segunda-feira, 3 de julho de 2023

Revoluções




Temos sabido pelas notícias sobre as manifestações de violência contestatária em França.

Sejamos honestos: o ou os motivos originais para esta onda de contestação já se perderam ao longo desta semana. Sobra a contestação pela contestação numa sociedade que não resolveu ainda problemas antigos que passam pela recuperação (ou não) da guerra, do colonialismo, dos guetos, das elites num país supostamente igualitário...

As reações institucionais a esta onda de contestação violenta aconteceram há dois dias, salvo erro.

No meio de tudo o que foi destruído e dos confrontos entre autoridade policial e manifestantes, foi incendiada a residência de um autarca, não sei já em que cidade.

Foi perante isto que os políticos franceses usaram o termo “inaceitável”. Porque os manifestantes ousaram tocar na elite política. Não lhes bastou destruirem lojas e instituições oficiais. Não lhes bastou ficarem ruas inteiras com carcaças de carros queimados e mobiliário urbano reduzido à ínfima essência. Ousarem tocar num político, num eleito, num membro das elite governativa, isso já é inaceitável e contra isso se unirão todas as forças de investigação e repressão.

Aos franceses devemos a Revolução Francesa e o conceito “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Que está por cumprir, pois haverá sempre por lá uns mais iguais que outros. Também lhes devemos a Comuna de Paris, que teve o desfecho que conhecemos.

Entre mosquetes e cassetetes, gadanhas e petardos, Bastilhas e Maios ’68, as revoltas têm sido e serão muitas. E enquanto a expressão “piet noir” não for algo tão antigo quanto um qualquer trisavô, elas continuarão a existir.

Desde que as elites não sejam postas em causa, ou a mostarda ou pólvora lhes subirá ao nariz.


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