segunda-feira, 2 de junho de 2025

Primas




Quando perdi o uso do olho direito zanguei-me.

Zanguei-me com a vida, zanguei-me com o mundo, zanguei-me comigo, zanguei-me com a fotografia. Logo eu, que fazia do fazer imagem técnica o alimento do corpo e o alimento da alma, havia de perder a capacidade de ver em três dimensões.

Zanguei-me!

A minha actividade profissional – vídeo – fui mantendo, com as adaptações possíveis, mas deixei a fotografia bem de parte. E assim foi durante algum tempo até me reconciliar com tudo com que me tinha zangado e regressei à fotografia. Desta feita no digital, aproveitando o que então era novidade e sem grandes rigores ainda.

Neste intervalo muita coisa aconteceu na tecnologia e disso nem me fui apercebendo. E quando regressei, não me preocupei com o que havia sido essa mudança nem o que de novidades tinham acontecido.

Foi assim que a época da Pentax com este tipo de câmaras e características foi um espaço vazio no meu conhecimento e experiência. E algum “não gostar” do aspecto e sensação de muito plástico, que me fez manter-me longe destas séries.

Até que há alguns anos, quando comecei a, primeiro a juntar, depois a colecionar, descobrir que estes aparentes “brinquedos”, para além de úteis, têm características simpáticas, mesmo que não sejam muito sólidas por fora e por dentro. E divertidos de usar.

Da série MZ tenho estas quatro “primas”, compradas no mercado de usados e feiras de rua, a preços quase escandalosamente baixos já que o digital veio quase extinguir o uso de película. É uma questão de oportunidade de mercado e de dinheiro disponível.

Sabemos que não é a ferramenta que faz o artista. E eu nem sequer sou artista. Mas dá-me prazer usar de quando em vez as que há uns anos produziam boas fotografias, sabendo tirar partido do que tinham nas mãos.

E, no fim de contas, isso é o importante.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4 


By me

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