Sabemos que comunicar passar por usar códigos. Explícitos ou
implícitos, conhecidos ou apenas interiorizados.
E sabemos que, consoante eles são utilizados por quem emite
a “mensagem”, assim são interpretados por quem a recebe.
Dois exemplos, simples, sobre comunicação verbal:
1 – Numa redacção de um órgão de comunicação social foi
alterado o verbo usado sobre a morte de um líder político. Ele morreu em
virtude de uns mísseis disparados por helicóptero inimigo.
Inicialmente falou-se em “foi assassinado” e foi imposto por
quem podia fazê-lo “foi abatido”. Aparentemente será o mesmo, mas o verbo “assassinar”
tem uma carga de ilicitude ou crime, enquanto o verbo “abater” tem uma carga de
legitimação do acto.
Ficou assim clara a posição sobre o conflito armado de quem
impôs um verbo em alternativa ao outro
2 – “Eu comi um bife” versus “Um bife foi comido por mim”. As
clássicas formas gramaticais “voz activa” e “voz passiva” que aprendemos na
escola.
Se no primeiro caso o centro da acção é quem come, no
segundo é o bife. E isto altera a importância do que é contado.
Trata-se de uma técnica usada frequentemente por quem usa a
comunicação como forma de ganhar a vida. E de moldar opiniões.
Na linguagem visual o mesmo se passa: pequenas mudanças nos
contrastes de luz ou de perspectiva fazem toda a diferença na interpretação
subjectiva que se faz do que se vê.
Uma luz que resulte em maiores contrastes evidencia sombras
e, consequentemente, rugas. “Envelhecendo” a pessoa ou tornando o seu semblante
mais duro ou agressivo. O contrário é igualmente verdade.
De igual forma, a perspectiva ou ponto de vista induz quem
vê a gostar mais ou menos o que é mostrado. Ou a criar maior ou menor ansiedade
ou expectativas.
Vejamos os exemplos da imagem:
No caso da mocinha, não temos qualquer dúvida que o centro
de atenção no exemplo da esquerda é o olhar dela. Já no exemplo da direita é a
mão e, mais concretamente, o boneco que segura.
Isto é definido, queiramos ou não, pelo sentido de leitura
que temos na nossa sociedade (esquerda/direita) e pelo facto de, em havendo uma
figura humana, procurarmos inconscientemente o local para onde estará a olhar,
conduzindo o nosso olhar inexoravelmente para lá. Por esta ordem de
importância.
Já no caso do boneco com óculos, se do lado esquerdo nos
centramos nele, tal como com a mocinha, no caso do lado direito a nossa atenção
será levada para fora da imagem, tentando perceber para onde estará ele a
olhar.
Estes exemplos são clássicos na composição de imagem e na
comunicação visual. Nada terá de novo para quem se debruce sobre o assunto a
sério, quer como autodidacta quer como estudante da matéria.
Acontece que o público em geral não tem este tipo de
conhecimentos específicos e o mais que lhe acontece é ser levado por eles sem
deles se aperceber. E ser induzido a ter as sensações e as interpretações que
que queremos.
Sabem disto os publicitários, sabem disto os cineastas,
sabem disto os profissionais de imagem.
Mas se isto será útil na venda de um produto ou na criação
de um filme, novela ou musical, já se torna particularmente perigoso quando
falamos de política, dentro ou fora de campanhas eleitorais.
O modo como essas figuras são mostradas ao público, em
suporte impresso ou electrónico, molda opiniões, ajusta sensibilidades e induz
o comum do cidadão a gostar mais ou menos de quem nos é mostrado. Sem que disso
se aperceba.
Assim, não é de todo inocente colocar num debate político os
intervenientes do lado esquerdo ou do lado direito. Um lado e outro não têm a
mesma força, não “contam a mesma estória” e não têm o mesmo efeito no público.
Num mundo onde a imagem é rainha omnipresente, deveria ser
conteúdo obrigatório no ensino o saber interpretar imagens e descodificar
mensagens visuais, tal como o é com a palavra escrita.
By me
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