quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Memórias


 


Tive um tio que fazia todo o tratamento técnico de arte gráfica numa pequena fábrica de estamparia. Fotografava, retocava, imprimia e positivava nas sedas que haveriam de receber e deixar passar as tintas…

Tudo aquilo era quase magia para mim, que era pequenote. E ele tentava passar alguns dos truques ou técnicas que usava. A maioria “passou-me ao lado”, mas algumas ficaram.

Uma delas tenho-a recordado nestes últimos dias:

Pela primeira vez na vida tenho o princípio de frieiras. Talvez da idade, talvez do frio, talvez por raramente usar luvas… Nada de grave ou incómodo, mas é um princípio. E quem sabe o que acontecerá num outro ano ou local, com dias tão frios como os que tivemos agora.

Pois esse meu tio dizia que tinha um remédio quase milagroso para as frieiras e que os ingredientes eram um sub-produto do seu trabalho.

De acordo com ele, faz-se uma pequena “boneca” com algodão e compressas (ou equivalente) embebe-se em revelador exausto (gasto) e aplica-se leve e repetidamente nas zonas de frieiras. Sem esfregar e por alguns minutos. E, após o tratamento, lava-se a zona com água morna. E repete-se o tratamento alguns dias seguidos

Segundo o que ele dizia, a alcalinidade do revelador “queima” a superfície da pele, permitindo que recupere e cicatrize com facilidade.

Nunca usei tal “mezinha”. Nunca tive frieiras até agora e muito menos nos tempos em que tinha o laboratório fotográfico activo.

Agora não tenho o espaço, pese embora tenha o equipamento guardado. E não tenho os químicos, muito menos exaustos.

Quem sabe, um dia… Em voltando a revelar película e/ou papel e em tendo frieiras a ponto de necessitar trata-las.

E pergunto-me o que dirá um médico ou farmacêutico destes tratamentos que os antigos sabiam e usavam.

 

Na imagem: técnicas de antigamente.

Um copo fotografado quatro vezes no mesmo diapositivo, com posições diferentes da câmara.

Recordo ter usado uma Linhoff Kardan Collor, com uma Xenar 150mm f/4,5 e película rígida 9x12 Agfachrome  160T.

Tal como recordo ter usado duas lâmpadas de 500W com papel vegetal como difusor e muita cartolina preta presa com arame  e molas para controlar o fluxo luminoso.

E que os suportes das lâmpadas, porque os tripés de iluminação eram caros e raros por cá, feitos com varões extensíveis de casa de banho, apoiados no chão e no tecto.

E recordo, com alguma vivacidade, as broncas que ouvi pela confusão que montei de noite na sala de jantar da família.

Mas, há quarenta anos, não tinha alternativa.


By me

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