domingo, 10 de agosto de 2008

Um domingo de manhã


Viver no subúrbio não é nem bom nem mau! É, apenas! E o pensarmos pelo melhor ou pior aspecto depende, em exclusivo, do nosso estado de espírito e da forma como analisamos a coisa.
Se pensarmos que eu faço questão de acordar pelo menos hora e meia antes de sair de casa – duas horas é o ideal – e que do trajecto desta até ao trabalho posso demorar entre hora e meia a duas, temos contas fáceis de fazer se disser que há que entrar pelas 9 da manhã: acordar pelas cinco!
Acrescente-se que, para cumprir estes tempos, num domingo em pleno verão, implica encontrar o bairro completamente deserto, sem que se veja vivalma que não uns pombos madrugadores e uns eventuais noctívagos de regresso cambaleante a casa. Some-se-lhe o facto de, numa manhã destas apenas ser possível tomar o café expresso da minha tranquilidade bem lá em baixo, já só junto à estação de comboios, e nem sempre servido de muitos bons modos. Acabamos por ter uma equação em que o sinal negativo/positivo começa a ter forma, bem como o estado de espírito.
Mas exactamente por ser domingo de verão e a estas horas, a conjugação dos diversos transportes colectivos que tenho que usar (um comboio, outro comboio, um autocarro e, se as coisas correrem mal, outro autocarro) torna-se complicada. A frequência é significativamente menor, pelo que o tempo de espera para cada um aumenta na mesma proporção.
Claro que, nestes casos, não se é surpreendido e já se conta com o pior. O que não significa que tal antecipação nos melhore o humor matinal, apenas o torna um pouco menos agreste nas arestas acutilantes.
E o chegar ao trabalho, nestas circunstancias, não acontece com a mesma frescura dos outros dias, da semana ou do ano. Em regra, nada bem disposto! Mas, por vezes…
Por vezes acontecem aqueles pequenos nadas que invertem as situações e nos fazem ficar de bem com o mundo e com a vida, apesar dos contratempos!
O ultimo autocarro que apanhei e que me deixou a umas centenas de metros do meu destino gastou, hoje, quase o dobro do tempo habitual. Em cada paragem, e depois das entradas e saídas do costume, as portas fechavam-se e ali ficávamos, uns segundos, parados. Dez segundos, vinte segundos, uma delas mais de trinta segundos.
Nestas condições, cada segundo parece meia hora, pelo que já havia quem protestasse. No caso, um velhote com francos sintomas de mau génio congénito.
Mas o motorista mantinha-se na sua e ali ficava aqueles pedacinhos. Até que abria de novo a porta da frente e dava entrada àquele ou àqueles passageiros que tinha visto em passo acelerado, ou mesmo de corrida, na tentativa de ainda neste carro embarcar.
Posso garantir que, depois de ver estes gestos desinteressados por parte deste motorista, o dia ficou bem mais bonito e nem pensei no tempo que já tinha gasto no trajecto.
Não lhe registei o nome, e muito menos a cara, ao motorista. Mas aqui fica, feita a correr, a imagem da traseira do autocarro, quando dele desci.
Aquela mesma imagem que aqueles passageiros por quem esperou não viram.
Bem haja!


Texto e imagem: by me

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