Sou uma péssima companhia para ver uma
exposição. Pelo menos essa será a opinião de alguns que foram comigo.
Gosto de ver uma exposição sem ser influenciado
por aquilo que o curador, o autor ou comentador queiram que eu veja ou sinta.
Quero ter um diálogo virgem de preconceitos
perante o que me mostram, sentir o que a minha alma decida sentir, apenas
levada por aquilo que vejo junto com as minhas memórias ou experiências. A obra
e eu, puros, nús, sem enfeites nem apertos.
No final do périplo, tomar conhecimento então
do que me querem dizer sobre o exposto, com palavras mais ou menos caras e com
as interpretações que quiserem dar. Sobre as obras e sobre o autor.
Depois, só depois, uma segunda volta pelo
espaço, lembrando o que li ou foi dito e acedendo às legendas se as houver. Comparando
então os meus próprios sentimentos com os que querem que eu tenha.
Em havendo tempo, e se se justificar, um
terceiro passeio pelo espaço, demorando-me junto daquelas que justificam mais
tempo porque me agradaram ou porque o que senti está em contradição com o que
me contaram.
Claro que quem me acompanha não tem, as mais das vezes,
paciência para tal percurso. E, ou fica com um enfado bem visível, ou vai-me
puxando para a saída com pretextos vários.
Esta minha abordagem a exposições é um dos motivos (mas não
o único) que me leva a evitar as inaugurações. Para além do que possa estar
afixado ou escrito na folha de sala, haverá ainda que ouvir (se se quiser ser
urbano) aquilo que nos querem contar, quantas vezes discursando antes de poder
dar a “minha voltinha prévia”. Um pouco pior, as mais das vezes esses discursos
prévios acontecem pela voz do autor, condicionando quase até ao limite a nossa
sensibilidade à dele, fazendo-nos ver quase que em exclusivo sob o seu ponto de
vista.
Não quero, não gosto e fujo das inaugurações ou lançamentos
como o diabo da cruz.
Com aqueles que tiveram a fatalidade de me aturar em sala de
aula fiz algo de semelhante, com alguns ajustes:
Antes da visita de estudo (os Encontros de Fotografia de
Coimbra eram sacro-santos) fazia-lhes uma pequena explicação sobre o ou os
autores, os enquadramentos estéticos, sociais e técnicos das suas épocas. E pedia-lhes
que, se conseguissem vencer a curiosidade, se abstivessem de ler o que lá
estivesse para tal. E que haveria uma segunda ronda, esta já com mais
informação. Enquanto eles iam vendo, eu ia acompanhando os pequenos grupos que
se iam formando, conversando e tentando que abrissem a alma ao que viam, que
partilhassem opiniões e sentimentos.
Já cá fora, provocava trocas de opiniões e sentimentos com
uma pequena conversa em grupo.
Claro que isto não funcionava em pleno com todos os grupos e
eu tinha que ajustar tempos e profundidades de temas em função dos grupos e dos
interesses que lhes conhecia.
Serei um chato nestas questões, mas no que toca a expressão
pessoal de terceiros temos que poder ver com os nossos olhos e não apenas aquilo
que querem que vejamos. E fazer isto também se aprende.
Em que medida é que tudo isto se relaciona com a fotografia
junta? Fica ao vosso critério a resposta.
Pentax K1 mkII,
SMC Pentax-M macro 100mm 1:4
By me


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