domingo, 19 de outubro de 2025

O chato




Sou uma péssima companhia para ver uma exposição. Pelo menos essa será a opinião de alguns que foram comigo.

Gosto de ver uma exposição sem ser influenciado por aquilo que o curador, o autor ou comentador queiram que eu veja ou sinta.

Quero ter um diálogo virgem de preconceitos perante o que me mostram, sentir o que a minha alma decida sentir, apenas levada por aquilo que vejo junto com as minhas memórias ou experiências. A obra e eu, puros, nús, sem enfeites nem apertos.

No final do périplo, tomar conhecimento então do que me querem dizer sobre o exposto, com palavras mais ou menos caras e com as interpretações que quiserem dar. Sobre as obras e sobre o autor.

Depois, só depois, uma segunda volta pelo espaço, lembrando o que li ou foi dito e acedendo às legendas se as houver. Comparando então os meus próprios sentimentos com os que querem que eu tenha.

Em havendo tempo, e se se justificar, um terceiro passeio pelo espaço, demorando-me junto daquelas que justificam mais tempo porque me agradaram ou porque o que senti está em contradição com o que me contaram.  

Claro que quem me acompanha não tem, as mais das vezes, paciência para tal percurso. E, ou fica com um enfado bem visível, ou vai-me puxando para a saída com pretextos vários.

Esta minha abordagem a exposições é um dos motivos (mas não o único) que me leva a evitar as inaugurações. Para além do que possa estar afixado ou escrito na folha de sala, haverá ainda que ouvir (se se quiser ser urbano) aquilo que nos querem contar, quantas vezes discursando antes de poder dar a “minha voltinha prévia”. Um pouco pior, as mais das vezes esses discursos prévios acontecem pela voz do autor, condicionando quase até ao limite a nossa sensibilidade à dele, fazendo-nos ver quase que em exclusivo sob o seu ponto de vista.

Não quero, não gosto e fujo das inaugurações ou lançamentos como o diabo da cruz.

Com aqueles que tiveram a fatalidade de me aturar em sala de aula fiz algo de semelhante, com alguns ajustes:

Antes da visita de estudo (os Encontros de Fotografia de Coimbra eram sacro-santos) fazia-lhes uma pequena explicação sobre o ou os autores, os enquadramentos estéticos, sociais e técnicos das suas épocas. E pedia-lhes que, se conseguissem vencer a curiosidade, se abstivessem de ler o que lá estivesse para tal. E que haveria uma segunda ronda, esta já com mais informação. Enquanto eles iam vendo, eu ia acompanhando os pequenos grupos que se iam formando, conversando e tentando que abrissem a alma ao que viam, que partilhassem opiniões e sentimentos.

Já cá fora, provocava trocas de opiniões e sentimentos com uma pequena conversa em grupo.

Claro que isto não funcionava em pleno com todos os grupos e eu tinha que ajustar tempos e profundidades de temas em função dos grupos e dos interesses que lhes conhecia.

Serei um chato nestas questões, mas no que toca a expressão pessoal de terceiros temos que poder ver com os nossos olhos e não apenas aquilo que querem que vejamos. E fazer isto também se aprende.

 

Em que medida é que tudo isto se relaciona com a fotografia junta? Fica ao vosso critério a resposta.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax-M macro 100mm 1:4



By me

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