Quem quer que alguma vez tenha feito fotografia de palco sabe
que o maior inimigo do fotógrafo é o baixo nível luminoso existente.
Não é isto um defeito: é uma característica.
A iluminação de um espectáculo, seja ele de teatro, de música
ou de bailado, não é apenas para que ele seja visível. É criar ambiências
compatíveis com o que acontece nas tábuas, ajustando as zonas de luz e cor ao
desenrolar dos acontecimentos.
Se alguns espectáculos teatrais (pensemos em revista à
portuguesa, por exemplo) sugerem uma luz uniforme, garrida e de fácil leitura,
outros exigem bem o oposto, criando zonas de penumbra ou mesmo escuridão total.
Acontece que o olho humano é muito mais sensível às amplitudes
lúmicas que os materiais foto sensíveis. Sejam eles electrónicos ou
fotoquímicos. Uma relação de contraste de 1:100 ainda tem leitura para o ser
humano, é o contraste total para uma câmara.
E os espectáculos são feitos para serem vistos pelas pessoas,
ao vivo e a cores.
Em havendo equipamentos de captação de imagem (fotografia,
vídeo, cinema) ou bem que há reforço luminoso ou bem que os contrastes são
terríveis na grande maioria dos casos. Daí que, em sendo captados, há sempre
ajustes na iluminação de cena, mesmo que com prejuízo para o público na
plateia.
Em tempos bem recuados fui fotógrafo de teatro. Um trabalho
que me deu muito gozo, que aconteceu quase que por acaso e no qual aprendi
muito. Sobre fotografia, sobre teatro, sobre o género humano.
Claro está que os níveis luminosos eram baixíssimos. As peças
ali levadas à cena assim o exigiam. Tal como a exiguidade do equipamento de
iluminação, acrescente-se.
De vontade ou não, fui obrigado a usar película em preto e
branco. E por vários motivos.
Por um lado devido à temperatura de cor. Há quarenta e tal anos
a película preparada para luz artificial era, na melhor das hipóteses, de
sensibilidade limitada a ISO 800. E, mesmo assim, difícil de encontrar à venda
e dificílimo de encontrar quem bem a trabalhasse.
Por outro porque o “grão” que as altas sensibilidades tinham
sempre foram pouco admissíveis em cor. No preto e branco aceitava-se, como
sendo parte integrante do processo. Agora em cor… só em trabalhos de autor e,
mesmo assim, o público não o aceitava lá muito bem.
Por fim porque, não tendo eu laboratório de cor, seria
particularmente dispendioso o mandar imprimir com correcção de enquadramento. E
moroso. Desta forma, tendo eu o laboratório de P&B, os ajustes eram feitos
à minha medida. E esta era em função do quanto o grão ficava visível e da
objectiva que tinha podido usar.
Isto porque, à época, a panóplia de objectivas que tinha era
limitada e não muito luminosas, para além, naturalmente, da 50mm. Mas esta
apenas permitia mostrar o palco, não o contar da história, que era o que eu
queria e o motivo de me terem contratado com exclusividade.
O uso do Preto e Branco nem sempre é uma opção estética. Por
vezes, não havia outra solução.
Na imagem, o actor João Guedes, então integrante do TEL,
Teatro Estúdio de Lisboa, interpretando a peça “O homem que se julgava Camões”,
1981.
Entendo a fotografia em preto e branco como um caso particular
da fotografia.
Não a tenho por melhor ou pior que a fotografia colorida,
apenas se adequa ou não nalguns casos.
Como as cores saturadas, como os High Key, como as silhuetas…
Pentax MX, Pentax 75-150 1:4
By me