Este é um bolo da minha
infância.
Fazia-nos abrir os olhos,
quais faróis de nevoeiro, quando os víamos no expositor do café de bairro ou na
padaria, de permeio com arrufadas ou pães de leite.
Os orçamentos familiares eram
magros pelo que, em acontecendo comer-se um, era dia de festa. O chocolate, o
creme branco e a cereja ver-me-lha no topo do bolo faziam uma combinação
perfeita. O difícil, mas difícil mesmo, era comer o bolo à mão e conseguir
deixar creme e cereja – o melhor – para o fim.
Dizia-se que era um bolo de
pobres, já que o recheio era composto de restos de outros bolos. Coisa que só
poderia afectar os ricos, já que em casa comer os restos da refeição anterior
sempre foi o habitual. E ainda o é, nos dias que correm.
Mas o que esta imagem se me
sugere é de outro cariz. Fotografia.
Qualquer um que se dedique
um pouco mais a sério ao acto fotográfico sabe que, para além do assunto
principal, haverá que considerar a luz, que molda volumes e distâncias, o
circundante ao assunto principal e a relação entre entre ambos.
Quem quer que se “entretenha”
a criar assuntos para fotografar sabe também que, se a luz é “domável” e a
perspectiva é opção nossa, o circundante é o mais difícil de controlar.
Ou bem que se possui um bom
armário ou armazém de fundos e objectos que ajudem a “compor o ramalhete” ou
bem que haverá que improvisar com o disponível um ambiente que, de algum modo,
seja consentâneo com o assunto e com os sentimentos que queremos transmitir.
Nem sempre é fácil, convenhamos.
Em contra-partida o pintor
não tem esta dificulade. Confrontado com um assunto principal, que quererá que
seja fiel na tela, pode inventar todo um terceiro plano, objectos circundantes
ou mesmo um primeiro plano. Até, em o querendo, nada colocar atrás ou ao lado
do assunto principal, deixando-o a “flutuar” na tela virgem e branca.
Por mim, que não sou
pintor, que não tenho um armazém nem domino as IA da actualidade, remeto-me ao
que encontro aqui por casa. Mas não deixo de vadiar pelas feiras de rua com
velharias e bric-à-brac solto, bem como pelas lojas de inutilidades ou de
tecidos. Há sempre este ou aquele objecto que pode ser útil como fundo ou
complemento.
Em não tendo outra opção...
Bem, “Com um fundo preto nunca me comprometo”.
Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5
By me
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