Vi no peitoril da janela um pequeno insecto. Oblongo, do
tamanho de uma unha, preto e vermelho. Voador.
Achei que seria interessante fotografá-lo e comecei a dar
tratos de imaginação sobre o como o fazer.
A primeira coisa foi prende-lo dentro de um copo invertido,
para que não fugisse.
Mas os copos são redondos, pelo que não seria fácil uma
imagem nítida e não deformada. Além do mais, a área do copo era demasiado
grande para garantir que ficaria focado.
E tive uma ideia brilhante. Sacrifiquei uma caixa de filtro
fotográfico e cortei o fundo. No seu lugar colei um pedaço de vidro que havia
mandado fazer para uns efeitos com vaselina e negro de fumo.
Sendo a caixa baixa como sabemos, ficaria na zona de foco e
seria apenas esperar que ficasse na área do enquadramento.
Preparei toda a parafernália (câmara, fole, objectiva,
fundo, luz...) e, com todo o cuidado, transferi o bichinho para a caixa,
colocando-a no local previsto.
Quando espreitei pelo visor foi a tempo de o ver
contorcer-se até morrer.
Doeu-me! Doeu-me a alma até ao tutano. Não queria de forma alguma
fazer mal ao pobre coitado, sendo que depois da fotografia seria para o soltar
de novo. Não aceitava eu, tal como não aceito hoje, o fazer mal a um ser vivo
para o meu prazer fotográfico. E vê-lo morrer assim foi atroz.
Levei algum tempo a perceber o que havia acontecido, entre o
racional e o emocional. Mas dei com o motivo: a cola usada para segurar o vidro
não estava completamente seca e os vapores haviam envenenado fatalmente o
bichinho.
Não me recordo do que fiz da caixa mortal. Creio que a
joguei fora de raiva.
Já o fole foi este mesmo, que o havia comprado pouco tempo
antes. O conjunto completo: fole, copiador de negativos ou slides, suportes
laterais para película, régua para calcular a extensão, cabo disparador
duplo...
Tenho o conjunto desde então, usando-o quando necessário e
conservando-o tão bem quanto posso. Mais de quarenta anos passados sobre o
episódio está quase como novo.
O único senão que tem, nos dias de hoje, é não aceitar a
Pentax K1 directamente, que a câmara é uns milímetros grande demais. Mas um
pequeno anel de extensão atrás resolve a situação.
Pentax K1
mkII, Tamron SP Adaptal2 90mm 1:2,5
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