Temos sabido pelas notícias sobre as manifestações de
violência contestatária em França.
Sejamos honestos: o ou os motivos originais para esta onda
de contestação já se perderam ao longo desta semana. Sobra a contestação pela
contestação numa sociedade que não resolveu ainda problemas antigos que passam
pela recuperação (ou não) da guerra, do colonialismo, dos guetos, das elites
num país supostamente igualitário...
As reações institucionais a esta onda de contestação
violenta aconteceram há dois dias, salvo erro.
No meio de tudo o que foi destruído e dos confrontos entre
autoridade policial e manifestantes, foi incendiada a residência de um autarca,
não sei já em que cidade.
Foi perante isto que os políticos franceses usaram o termo “inaceitável”.
Porque os manifestantes ousaram tocar na elite política. Não lhes bastou
destruirem lojas e instituições oficiais. Não lhes bastou ficarem ruas inteiras
com carcaças de carros queimados e mobiliário urbano reduzido à ínfima
essência. Ousarem tocar num político, num eleito, num membro das elite
governativa, isso já é inaceitável e contra isso se unirão todas as forças de
investigação e repressão.
Aos franceses devemos a Revolução Francesa e o conceito “Liberdade,
Igualdade, Fraternidade”. Que está por cumprir, pois haverá sempre por lá uns
mais iguais que outros. Também lhes devemos a Comuna de Paris, que teve o
desfecho que conhecemos.
Entre mosquetes e cassetetes, gadanhas e petardos, Bastilhas
e Maios ’68, as revoltas têm sido e serão muitas. E enquanto a expressão “piet
noir” não for algo tão antigo quanto um qualquer trisavô, elas continuarão a
existir.
Desde que as elites não sejam postas em causa, ou a mostarda
ou pólvora lhes subirá ao nariz.
By me