quarta-feira, 23 de novembro de 2022
domingo, 13 de novembro de 2022
Futuro
As notícias vão-nos contando os actos de manifestação
juvenil em prol do ambiente e do futuro. Alguns destes actos a decorrerem em
museus, com algum tipo de “vandalismo” ou “agressão” sobre obras de arte.
A estes, pese embora entenda os excessos juvenis e o
desespero perante a quase inutilidade dos seus protestos, gostava de lembrar o
seguinte:
Por muito que queiramos preservar o futuro e o planeta,
recorrendo a energias limpas e renovaveis, renovando o coberto vegetal e evitar
a extinção de espécies, nunca se esqueçam que aquilo que a humanidade pode e
deve deixar de herança aos vindoiros é a cultura.
Sem ela, e do ponto de vista humano e civilizacional, será
quase inconsequente proteger o planeta.
By me
segunda-feira, 7 de novembro de 2022
Fiquei esclarecido
A fotografia da esquerda foi feita por mim. Foi assim que a
concebi, foi assim que a concretizei, foi assim que a exibi.
A imagem da direita foi o resultado da edição que alguém
decidiu fazer como forma de divulgar a primeira.
Convenhamos que são bem diferentes. Que contam histórias ou
estórias bem diferentes. Que provocam em quem as vê sentimentos diferentes.
Mal comparado (bem mal comparado) será como transformar o
clássico verso de Luis de Camões “Alma minha gentil, que te partiste” em “Alma
gentil, que te partiste”. Quase as mesmas palavras, mas em que a ausência de
uma transforma todo o conteúdo. E com uma métrica e ritmo completamente
diferentes. Para já nem falar na cacofonia existente que assim desaparece.
Não gosto que o façam com fotografia alguma. Minha ou não.
Menos gosto quando tal acontece sem que haja uma referência
a que se trata de um trabalho pessoal sobre o trabalho de outrem. Trata-se,
aqui, não apenas da adulteração de um trabalho original como da apropriação da
criatividade de terceiros. A sociedade em geral e a lei em particular também
não gostam e dão-lhe um nome feio.
Desgosto por completo quando tal sucede num site ou rede
social dedicado à fotografia. Deveria haver aqui um maior respeito pelo
trabalho de cada um, já que todos exibem o que sabem fazer, gerindo cada pedaço
do espaço fotográfico (enquadramento) como quiseram ou sentiram.
Apenas admitiria alterações, nestas circunstâncias, se com o
objectivo didático ou discussão sobre a gestão de espaço e linhas criadas para
um determinado efeito ou passagem de mensagem ou sentimento. E assumir essa
discussão enquanto tal.
Mas faz-me sair do sério quando tal alteração não apenas não
é didática como é efectuada por alguém que gere um espaço virtual sobre
fotografia.
Faz-me ficar a saber o que essa pessoa (ou conjunto de
pessoas) pensam ou sabem sobre estética e eficácia de comunicação. E, muito
principalmente, sobre ética.
Recentemente fui alvo daquilo que exibo na imagem.
Em mensagem privada a quem o fez manifestei o meu desagrado,
explicando-o.
Como resposta, recebi um pedido de desculpas caso o meu “orgulho
fotográfico” tivesse sido “ferido”. E a informação de que as minhas fotografias
deixarão de ser consideradas para destaques.
Por outras palavras, que não me preocupasse porque não
voltariam a adulterar as minhas imagens, mas que o continuariam a fazer com as
de outros autores.
Fiquei esclarecido!
By me
domingo, 6 de novembro de 2022
A memória
Na minha mesa de trabalho em casa, pequena que é, cabe pouca
coisa. O que acaba por ser uma sorte, ou ela estaria cheia com ainda mais
coisas úteis e inúteis do que está agora. Coisas que considerei importante
guardar temporariamente e que acabaram por ir ficando, coisas necessárias a que
acedo amiúde, coisas que ali coloquei por, no momento, não ter melhor local
para as colocar... coisas.
Pequena que é, a “secção” de “memórias” é igualmente
pequena, deixando à vista coisas igualmente pequenas mas que tenho por
importante naquilo que acordam na minha memória.
Agora entrou uma nova peça. Rara ou única, por ser uma
fotografia. E, ainda mais estranha, por não conhecer nenhuma das pessoas
fotografadas.
A dar fé em quem me vendeu a peça, numa feira de rua onde as
velharias da semana passada ganham dezenas de anos de idade, esta pequena
moldura e respectiva fotografia datarão do séc. XIX. Pois, eu também sou
aldrabão!
Se assim fosse p’la certa, não me pediria a michuruquice que
pediu, fazendo em cima disso um desconto “porque simpatizou comigo”. Ora batatas!
Em qualquer dos casos, acho que posso datar o objecto de
suficientemente antigo para que as duas crianças aqui representadas já não serem
vivas. Ou lá muito perto disso.
Desvaneceram-se da vida quase como que da fotografia.
Mas foram suficientemente importantes para que alguém
mandasse fazer uma fotografia de estúdio dos dois petizes e a emoldurasse.
Talvez que tenha estado anos a fio numa cómoda, num aparador ou numa pequena
mesa redonda coberta com uma toalha especial, mostrando os filhos ou sobrinhos
ou netos. E o olhar para este pequeno objecto (tem cerca de 5cm de largo) terá
feito recordar a quem o via aquelas crianças e as relações de afecto e de
família que existiam.
Desvaneceu-se quem emoldurou e lhe deu apreço,
desvaneceram-se os fotografados e a fotografia quase que se desvanece,
sobrevivendo firme a moldura. Já ninguém dá valor às anónimas crianças
especialmente fotografadas. Talvez algum neto, se isto encontrasse, dissesse “Olha!
Parece a avó em pequena!”
Mas tal como as pessoas desvanecem e as fotografias
desvanessem, também os objectos desvanessem, encaixotados ou engavetados até
serem desvanecidos de vez pelo novo proprietário do móvel e do imóvel, que nada
quer saber destes quase fantasmas visuais.
As fotografias digitais de hoje não desvanessem assim com
esta facilidade. A menos, claro, que se avarie um disco rígido ou um servidor
web se destrua. Conservam, enquanto existirem, as mesmas características
lúmicas, os mesmos contrastes, as mesmas cores e tons...
Mas terão estas modernas recebido com a mesma frequência e
intensidade os olhares afectuosos de quem as possui? Terão estes
permanentemente efémeros zeros e uns recebido afagos ou beijos enquanto se
limpa o pó do móvel? Terão estas imagens luminosas recebido o mesmo valor de “único”
quanto esta moldura com cristais de prata enegrecidos? Terão as fotografias
digitais a mesma carga afectiva quanto as impressas e emolduradas?
Não creio!
O digital na fotografia veio “democratizar” a sua produção, na
facilidade de acesso a todo o processo de captar e divulgar a imagem. Mas, em
contrapartida, veio retirar emoções no seu consumo ou observação, que a não
materialização e a superabundâcia do digital tornaram cada fotografia tão banal
e/ou importante a batata frita que se comeu na semana anterior.