sábado, 16 de julho de 2022

Manias



 

O texto e a imagem têm dez anos, mais ou menos uns dias. O que acaba por ter graça é ter repetido as conversas e acções há poucos dias, agora noutro local. De facto, são manias.

 

“Manias

Há coisa de quinze dias tive uns técnicos de comunicações aqui em casa.

O trabalho implicava passar cabos e instalar equipamento, pelo que ainda demorou um pedaço.

A dada altura não resisti e perguntei-lhes se poderia fumar um cigarro.

Ficaram a olhar para mim, com cara de espanto, dizendo-me de seguida que naturalmente que sim, que eu estava em minha casa.

Ainda assim, fiquei na dúvida se a resposta foi de circunstância ou se, de facto, não se importavam que eu fumasse por perto.

É que, mesmo estando eles em minha casa, estavam também a trabalhar e não faria sentido obrigá-los a suportar os restos do meu vício.

Pouco tempo depois, numa jantarada de colegas num restaurante, um houve que não se conteve e, por duas vezes, tratou de acender um cigarro, às escondias de quem nos atendia. Era tarde e o espaço estava quase por nossa conta. Mas a noite estava simpática e aporta mesmo ali ao pé.

Ele há uns e há outros. Por mim, prefiro continuar a perguntar a quem recebo em casa, mesmo que em trabalho, se não incomodo.”


By me

sábado, 2 de julho de 2022

A explicitude e o seu oposto




O trabalho que tive em explicar a um profissional da imagem que a comunicação visual não tem que ser clara, explícita, inequívoca!
Esse é um dogma que se transmite em quase todas as escolas, manuais e workshops.
Mas não é verdade! Pelo menos não é uma verdade absoluta, universal.

Se falamos de consumo rápido de imagens – fotográficas, videográficas, cinematográficas – esse dogma aplica-se. Simplicidade na forma para facilitar o acesso ao conteúdo.
Mas posso querer eu, enquanto fotógrafo, não ser assim tão explícito. Querer obrigar quem vê o que faço a não entender de imediato, a parar para perceber, a questionar e questionar-se naquilo para onde olha e a, mais que olhar, ver.
O desconcerto na leitura, a dúvida, a procura de significado… também isto é comunicação, visual no caso da fotografia.
Dir-me-ão, talvez, que esta forma de comunicação reduz a muito poucos os que a lêem, na medida em que a dificuldade de acesso ou de interpretação, nos tempos que correm e com a rapidez de consumo de conteúdos, afasta os mais apressados ou menos curiosos.
Mas talvez nem sempre eu queira comunicar com esses, pouco me importando se entendem ou não. Ou melhor: ficando satisfeito se o entendem mas nada preocupado com o seu oposto.
Fazer diferente, mesmo que fora dos códigos habituais de comunicação, é uma necessidade que a todos assola de quando em vez.
A diferença entre a grande maioria dos que usam a fotografia e de alguns que também a usam, é que estes, nestes casos, pouco se importam com a reacção ou interpretação do público. “Likes” e “Coments” são “Cenas que não os assistem”.
Fazem-no e exibem-no porque lhes apeteceu, porque foi assim que alinharam a cabeça, o olho e o cérebro. E não para que outros gostem, ou mesmo que interpretem, entre dois clicks ou o passar rápido das páginas de um site ou revista.

Se o objectivo de um fotógrafo for a comunicação de massas, o chegar a todos, o fazer passar uma mensagem, o ganhar apreço ou dinheiro, mesmo que seja com uma pasta de dentes ou com um pôr-do-sol, esqueça-se tudo o que disse acima. Sigam-se as regras da academia, as fórmulas e os algoritmos, as modas e as convenções.


Mas se o objectivo for colocar a sua alma no que faz e mostra, pouco preocupado com as interpretações ou opiniões de terceiros…

By me