domingo, 31 de outubro de 2010
Doçura ou travessura
Suponho que esta tradição foi importada do outro lado do Atlântico: os garotos irem de porta em porta, pedindo um doce para que não façam uma traquinice.
Amanhã, talvez, serão os mesmos a fazerem o mesmo périplo, desta feita com a frase “Pão por deus”, essa sim, de tradição popular portuguesa.
Acontece, porém, que eu consigo ser mais travesso que eles e elas: estava preparado!
Uns rebuçados comprados para o efeito e a câmara ali mesmo à mão de semear. E proponho-lhes o negócio: doces em troca de uma fotografia.
Umas vezes sim, outras não, mas é como os doces.
Doçura ou travessura!
Texto e imagem: by me
sábado, 30 de outubro de 2010
Jogadas
Não nos é estranho que o povo seja particularmente sábio nos seus dizeres e frases: Afinal, já levamos uns séculos valentes de existência e, de uma forma ou de outra, sempre vamos aprendendo qualquer coisa!
Notícia de quinta-feira, 28 de Outubro:
"Partidos e campanhas com cortes de 10%
Redução no financiamento do Estado à actividade política só vale até 2013
PS e PSD decidiram esta tarde um corte de 10% no financiamento público às campanhas eleitorais, ao financiamento dos partidos, e ao financiamento dos grupos parlamentares. Este corte no entanto é válido apenas até 2013.
A justificação dos dois maiores partidos é que a actividade partidária e os gastos nas campanhas eleitorais devem acompanhar a poupança que é pedida a todo país mas, após 2013, os encargos do Estado no financiamento destas actividades poderá voltar aos níveis actuais.
Esta foi a decisão mais importante do grupo de trabalho constituído para alterar a lei de financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais e mereceu críticas do CDS, BE e, sobretudo, do PCP. Todos estes partidos criticaram o corte "insuficiente" e "transitório" na subvenção do Estado às campanhas e aos partidos mas o PCP foi quem se apresentou com mais razões de queixa.
Os comunistas pretendiam, nesta alteração à lei, aumentar os limites de financiamento privado em numerário através de donativos dos militantes ou de ações de angariação de fundos.
Em causa está a Festa do Avante cujas receitas ultrapassam em muito os actuais limites de entrada de "dinheiro vivo" nos partidos. Segundo o líder parlamentar Bernardino Soares chegou a haver um princípio de entendimento para aumentar esses tectos que foi no entanto travado pela oposição do Bloco de Esquerda.
Por não haver consenso PS, PSD e CDS acabaram por deixar cair esta matéria deixando intactas as normas que o PCP contesta."
Os cortes nos salários da função pública, bem como o aumento de impostos e reduções nas prestações sociais são para ficar, a crer no que foi dito e insinuado pelos que estão no poder e decidem destas coisas.
Mas os cortes aos apoios à actividade política são a prazo, prazo esse que, só por coincidência, termina antes das próximas eleições legislativas calendarizadas.
Já todos sabíamos que, por cá, somos todos iguais, mas uns mais que outros.
E se não o sabíamos desta forma, sabíamo-lo pela velha frase popular:
“Quem parte e reparte, e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte!”
Texto e imagem: by me
(propositadamente, este texto foi escrito e re-escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Sandália de princesa
O que me deixa realmente espantado é encontrar-se tanto calçado desirmanado caído na rua.
Que será feito das outras metades dos pares?
By me
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Nomenclaturas
Em tempos, e no decorrer do meu projecto “Oldfashion”, um cidadão que quis ser fotografado com a minha câmara afirmou sobre o seu ofício:
”Carrego a merda dos outros!”
Não estava a ser irónico nem pretendia ser rude. Apenas assim definia o ser “Almeida” ou, por outras palavras, ser um dos que fazem a recolha dos resíduos sólidos urbanos. Mais prosaicamente, recolhe e transporta o lixo.
Há uns tempos surgiu uma nova definição de profissão ou actividade: politólogo. Nunca entendi muito bem o que fazem estas pessoas, bem como os que se denominam como analistas políticos ou comentadores políticos. Estudam, comentam e analisam a actividade dos políticos sem, no entanto, terem a coragem de irem para o terreno porem em prática as ideias que defendem ou corrigir o que entendem por errado nos outros.
Mas sendo a política o que é, comentá-la, analisá-la, estudá-la, não será mais função de “merdólogo”?
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
À pedrada
Muito se vai falando, por estes tempos, em lutas, reuniões, distribuição de riqueza e de sacrifícios, poder político, poder sindical, greves, impostos…
Mas saberão os que disso falam, e os que com isso sofrem, desde quão longe, no tempo, existem estas situações?
Eis aqui aquilo que se supõe ser a primeira greve da história ou, pleo menos, a que está documentada:
http://www.egiptomania.com/historia/huelga.htm
Imagem: by me
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Os olhos
A senhora tinha uns olhos lindíssimos.
Muito escuros, talvez pretos, com as pálpebras definindo um ovalado bem harmonioso, cercadas por algumas rugas, não muitas, mas mais do que seria de esperar para os seus trinta e muitos anos. A sua pele branca e loira, brilhava impoluta de tintas ou pigmentos, o que fazia realçar mais ainda os seus olhos, lindíssimos.
Mas o que primeiro me saltou à vista não foram os olhos, lindos que eram. Foi o ter entrado naquela pastelaria com três pimpolhos, todos a chamá-la de “mãe”. É que ter três filhos, nos tempos que correm, mais que incomum é um acto de coragem.
Pois a criançada, o mais velho com os seus 11/12 anitos, os restantes em escadinha por aí abaixo, encostaram no balcão, tentando escolher o doce ou bolo para o lanche. E a mãe, que tinha uns olhos lindos, disse-lhes com o à-vontade de quem está habituada a dizê-lo:
“Escolham coisas realmente saudáveis.”
Talvez mais que os olhos – lindos – e que a ranchada de filhos, foi a frase que me atraiu a atenção.
A mais pequenita ficou com um brigadeiro, o do meio com uma madalena, o mais velhito com um donuts, fabrico da casa. E foram sentar-se com os seus petiscos. O que a dona dos olhos lindos escolheu não fixei, que a minha atenção se dividia entre os seus olhos e o meu duchese regado com um café (cheio, assim tipo banheira, está ver?).
Mas a recomendação (e os olhos) ficaram-se-me na memória. Que raro é ver alguém com esta preocupação verbalizada para com crianças pequenas. E se a coisa me tinha marcado, haveria que fotografar, de preferência os olhos, que, se ainda não o disse, eram lindos.
Vim para a rua para aí a abordar e conseguir o registo daquela lindeza de olhos. O que não consegui fazer, ainda que se tivesse sentido lisonjeada, já que um ataque de modéstia, aliado ao insólito do pedido, levaram-na a recusar argumentando que não se sentiria à-vontade para tal.
Ficou-me, em alternativa, o fotografar os bolos sortidos da montra, atrás da qual aquela mãe de olhos lindíssimos havia pedido à pequenada que escolhesse doces saudáveis.
E se, com todo este palavreado, contei o “quê, “quem” e “como”, faltou-me o “onde” e o “quando”. Av. Do Uruguai, Benfica, hoje mesmo, pela tardinha.
Fico eu com a secreta esperança de um dia ali voltar, pela tardinha também, e re-encontrar aqueles olhos lindos, mesmo que não os fotografe.
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
Muito escuros, talvez pretos, com as pálpebras definindo um ovalado bem harmonioso, cercadas por algumas rugas, não muitas, mas mais do que seria de esperar para os seus trinta e muitos anos. A sua pele branca e loira, brilhava impoluta de tintas ou pigmentos, o que fazia realçar mais ainda os seus olhos, lindíssimos.
Mas o que primeiro me saltou à vista não foram os olhos, lindos que eram. Foi o ter entrado naquela pastelaria com três pimpolhos, todos a chamá-la de “mãe”. É que ter três filhos, nos tempos que correm, mais que incomum é um acto de coragem.
Pois a criançada, o mais velho com os seus 11/12 anitos, os restantes em escadinha por aí abaixo, encostaram no balcão, tentando escolher o doce ou bolo para o lanche. E a mãe, que tinha uns olhos lindos, disse-lhes com o à-vontade de quem está habituada a dizê-lo:
“Escolham coisas realmente saudáveis.”
Talvez mais que os olhos – lindos – e que a ranchada de filhos, foi a frase que me atraiu a atenção.
A mais pequenita ficou com um brigadeiro, o do meio com uma madalena, o mais velhito com um donuts, fabrico da casa. E foram sentar-se com os seus petiscos. O que a dona dos olhos lindos escolheu não fixei, que a minha atenção se dividia entre os seus olhos e o meu duchese regado com um café (cheio, assim tipo banheira, está ver?).
Mas a recomendação (e os olhos) ficaram-se-me na memória. Que raro é ver alguém com esta preocupação verbalizada para com crianças pequenas. E se a coisa me tinha marcado, haveria que fotografar, de preferência os olhos, que, se ainda não o disse, eram lindos.
Vim para a rua para aí a abordar e conseguir o registo daquela lindeza de olhos. O que não consegui fazer, ainda que se tivesse sentido lisonjeada, já que um ataque de modéstia, aliado ao insólito do pedido, levaram-na a recusar argumentando que não se sentiria à-vontade para tal.
Ficou-me, em alternativa, o fotografar os bolos sortidos da montra, atrás da qual aquela mãe de olhos lindíssimos havia pedido à pequenada que escolhesse doces saudáveis.
E se, com todo este palavreado, contei o “quê, “quem” e “como”, faltou-me o “onde” e o “quando”. Av. Do Uruguai, Benfica, hoje mesmo, pela tardinha.
Fico eu com a secreta esperança de um dia ali voltar, pela tardinha também, e re-encontrar aqueles olhos lindos, mesmo que não os fotografe.
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Notícias
Oiço, num noticiário televisivo, que os hipermercados se queixam de terem perdas na ordem dos 400 milhões de euros, por ano, devido a roubos.
No mesmo noticiário, oiço que o ministério das finanças se prepara para fazer aumentar os preços dos transportes públicos em 5%, bem acima do previsto para os valores da inflação.
Fico também a saber que os noticiários televisivos têm várias secções sobre criminalidade!
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
Sandália
Tê-la encontrado não me espanta. Nem sequer o ser prateada o que, convenhamos, não é o mais comum.
O que me deixou boquiaberto foi estar no asfalto, bem no meio da faixa de rodagem. Aliás, tive que ser rápido para conseguir fazer a fotografia.
Como raio vai uma sandália parar ao meio da rua e consegue não ser atropelada?
By me
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Ouvido e recordado
O exemplo típico da “sopeira”, passe-se a expressão: trabalhou toda a vida como empregada doméstica, casou com um soldado que conheceu no Jardim da Estrela, enquanto passeava os filhos do patrão.
Toda a conversa surgiu por ter sido mais ou menos ali que conheceu o futuro marido, por ter sido mais ou menos ali que fizeram a primeira fotografia juntos… Mas tinha algum receio em fazer uma agora já que, e nas suas palavras:
“Sou feia! Agora sou feia! Mas quando era nova, valha-me Deus, não podia dar um passo fora de casa que não estivesse guardada! Olhe, até doutores de lei e de medicina namorei. Houve um – eu até gostava de ir à televisão contar a história ao Artur Agostinho – que era juiz de direito e não me largava.
Trabalhava eu na casa de uma patroa, ali em Campo de Ourique. Era ela e a filha, já mulher feita.
Uma vez, já ao fim do dia, diz-me a patroa para ir ali, à taberna, buscar vinho que já não havia para o jantar. Eu pus a garrafa num saco de pano e vim à rua. A taberna era como que daqui ali, umas quatro portas de distancia.
Mas do outro lado do passeio estava o juiz. Queria falar comigo, que eu fosse com ele e eu que não, que as patroas estavam à espera do vinho para o jantar. Mas tanto insistiu, tanto teimou, que acabámos por ir de eléctrico até à estrela. Está a ver: o eléctrico a andar devagar, as patroas à espera e nós à conversa. Foi o ir e o vir. Uma demora!
Quando voltei a casa, já com o vinho, ia cheia de medo da patroa. Mas lá inventei, fazendo-me de zangada, que na taberna não havia meio de me atenderem, que só estavam a ouvir o relato. E eu a querer o vinho e eles a ouvir o relato do Artur Agostinho. E eu sem saber se havia ou não jogo ou relato! Mas a filha lá me safou, dizendo em voz baixa para a mãe que sim, que estava a dar um relato na telefonia e que até tinha ouvido quando marcaram um golo.
Depois de lhes servir o jantar, vim espreitar devagarinho atrás das cortinas para a rua. O juiz ainda lá estava, ora olhando para as janelas, ora olhando para a porta, andando de um lado para o outro.
Sabe, depois fiquei a pensar e é que percebi. O que ele queria era que eu fosse despedida logo naquela noite para me por conta num quarto que já tinha alugado, ali à Graça. É que, naqueles tempos, nem um beijinho podíamos dar na rua. E ele sempre era um juiz, mais velho, casado e tudo!
Depois, já a trabalhar noutra patroa, acabei por encontrar o meu homem. Já morreu, coitado!
Agora estou feia. Mas naquele tempo, benza-me Deus, nem podia vir à rua!”
Este relato é fiel ao que ouvi. Tão fiel quanto o é possível, escrito umas duas horas depois de ouvido.
Mas enquanto vai escorrendo a tinta no papel, vou-me perguntando como o irei ilustrar. Tenho dela duas fotografias, uma à-lá-minuta, outra um retrato à minha maneira, com a reflex. Que, olhando para ela, ainda que com idade avançada, se lhe reconhecem nas feições e no corpo a beleza que tinha e tem, testemunho ainda iluminado do brilhante que foi na juventude. Acredito que de fazer parar o trânsito.
Mas sinto pudor em aqui e assim a exibir. Estas estórias de antanho, assim contadas a um estranho, fazem parte do seu tesoiro de vida. Que ela almeja contar no ecrã. Espero que o possa fazer, na primeira pessoa, que não serei eu que ligarei relato com rosto.
Fiquem apenas a saber que foi aqui que mo contou. Não importa quando!
Texto e imagem: by me
Toda a conversa surgiu por ter sido mais ou menos ali que conheceu o futuro marido, por ter sido mais ou menos ali que fizeram a primeira fotografia juntos… Mas tinha algum receio em fazer uma agora já que, e nas suas palavras:
“Sou feia! Agora sou feia! Mas quando era nova, valha-me Deus, não podia dar um passo fora de casa que não estivesse guardada! Olhe, até doutores de lei e de medicina namorei. Houve um – eu até gostava de ir à televisão contar a história ao Artur Agostinho – que era juiz de direito e não me largava.
Trabalhava eu na casa de uma patroa, ali em Campo de Ourique. Era ela e a filha, já mulher feita.
Uma vez, já ao fim do dia, diz-me a patroa para ir ali, à taberna, buscar vinho que já não havia para o jantar. Eu pus a garrafa num saco de pano e vim à rua. A taberna era como que daqui ali, umas quatro portas de distancia.
Mas do outro lado do passeio estava o juiz. Queria falar comigo, que eu fosse com ele e eu que não, que as patroas estavam à espera do vinho para o jantar. Mas tanto insistiu, tanto teimou, que acabámos por ir de eléctrico até à estrela. Está a ver: o eléctrico a andar devagar, as patroas à espera e nós à conversa. Foi o ir e o vir. Uma demora!
Quando voltei a casa, já com o vinho, ia cheia de medo da patroa. Mas lá inventei, fazendo-me de zangada, que na taberna não havia meio de me atenderem, que só estavam a ouvir o relato. E eu a querer o vinho e eles a ouvir o relato do Artur Agostinho. E eu sem saber se havia ou não jogo ou relato! Mas a filha lá me safou, dizendo em voz baixa para a mãe que sim, que estava a dar um relato na telefonia e que até tinha ouvido quando marcaram um golo.
Depois de lhes servir o jantar, vim espreitar devagarinho atrás das cortinas para a rua. O juiz ainda lá estava, ora olhando para as janelas, ora olhando para a porta, andando de um lado para o outro.
Sabe, depois fiquei a pensar e é que percebi. O que ele queria era que eu fosse despedida logo naquela noite para me por conta num quarto que já tinha alugado, ali à Graça. É que, naqueles tempos, nem um beijinho podíamos dar na rua. E ele sempre era um juiz, mais velho, casado e tudo!
Depois, já a trabalhar noutra patroa, acabei por encontrar o meu homem. Já morreu, coitado!
Agora estou feia. Mas naquele tempo, benza-me Deus, nem podia vir à rua!”
Este relato é fiel ao que ouvi. Tão fiel quanto o é possível, escrito umas duas horas depois de ouvido.
Mas enquanto vai escorrendo a tinta no papel, vou-me perguntando como o irei ilustrar. Tenho dela duas fotografias, uma à-lá-minuta, outra um retrato à minha maneira, com a reflex. Que, olhando para ela, ainda que com idade avançada, se lhe reconhecem nas feições e no corpo a beleza que tinha e tem, testemunho ainda iluminado do brilhante que foi na juventude. Acredito que de fazer parar o trânsito.
Mas sinto pudor em aqui e assim a exibir. Estas estórias de antanho, assim contadas a um estranho, fazem parte do seu tesoiro de vida. Que ela almeja contar no ecrã. Espero que o possa fazer, na primeira pessoa, que não serei eu que ligarei relato com rosto.
Fiquem apenas a saber que foi aqui que mo contou. Não importa quando!
Texto e imagem: by me
domingo, 24 de outubro de 2010
Atitudes
A inépcia é pior que a incompetência!
Há uns anos valentes, estava eu a fazer um trabalho de bastante minúcia sobre uns mapas e iluminuras quinhentistas e sentia uma terrível dificuldade em executar os movimentos de câmara que me eram pedidos.
Não porque os não quisesse fazer ou porque eu próprio fosse inapto para tal.
Antes porque as instalações e o equipamento onde o trabalho decorria eram bastante antigas, velhas mesmo.
A cabeça do tripé com que estava a trabalhar apresentava inúmeras folgas e lixo, impossibilitando o rigor e suavidade que era exigido.
Farto de “dar murro em ponta de faca” e porque já há muito tempo que vínhamos pedindo a reparação ou substituição desta peça, tomei uma das atitudes bruscas que, volta e meia, tomo:
Interrompi os trabalhos, deixando toda a equipa parada, e fui ao gabinete ter com a chefia.
Junto dele, pedi-lhe que fosse comigo ao estúdio, que havia um problema.
A resposta foi a costumeira:
“Que não podia de momento, que estava cheio de trabalho, que talvez mais tarde…”
“Bem, respondi, eu não vou se não me acompanhar, e como os trabalhos não se fazem sem mim…”
Acabou por se levantar e ir comigo ao estúdio em causa.
Em chegando lá, disse-lhe:
“Pedem-me para fazer este trabalho. Eu não o sei fazer. Como meu chefe e mais competente, quer me mostrar como se faz?”
Inchado, logo pegou na câmara e tentou fazê-lo. Foi incapaz, tal como eu tinha sido.
Mandou suspender os trabalhos até depois de almoço e saiu.
Quando regressamos, estava lá colocada uma cabeça reparada que sabíamos existir em armazém, parada, havia meses.
E os trabalhos decorreram como se esperava.
Texto e imagem: by me
Há uns anos valentes, estava eu a fazer um trabalho de bastante minúcia sobre uns mapas e iluminuras quinhentistas e sentia uma terrível dificuldade em executar os movimentos de câmara que me eram pedidos.
Não porque os não quisesse fazer ou porque eu próprio fosse inapto para tal.
Antes porque as instalações e o equipamento onde o trabalho decorria eram bastante antigas, velhas mesmo.
A cabeça do tripé com que estava a trabalhar apresentava inúmeras folgas e lixo, impossibilitando o rigor e suavidade que era exigido.
Farto de “dar murro em ponta de faca” e porque já há muito tempo que vínhamos pedindo a reparação ou substituição desta peça, tomei uma das atitudes bruscas que, volta e meia, tomo:
Interrompi os trabalhos, deixando toda a equipa parada, e fui ao gabinete ter com a chefia.
Junto dele, pedi-lhe que fosse comigo ao estúdio, que havia um problema.
A resposta foi a costumeira:
“Que não podia de momento, que estava cheio de trabalho, que talvez mais tarde…”
“Bem, respondi, eu não vou se não me acompanhar, e como os trabalhos não se fazem sem mim…”
Acabou por se levantar e ir comigo ao estúdio em causa.
Em chegando lá, disse-lhe:
“Pedem-me para fazer este trabalho. Eu não o sei fazer. Como meu chefe e mais competente, quer me mostrar como se faz?”
Inchado, logo pegou na câmara e tentou fazê-lo. Foi incapaz, tal como eu tinha sido.
Mandou suspender os trabalhos até depois de almoço e saiu.
Quando regressamos, estava lá colocada uma cabeça reparada que sabíamos existir em armazém, parada, havia meses.
E os trabalhos decorreram como se esperava.
Texto e imagem: by me
sábado, 23 de outubro de 2010
A dúvida
Confesso que, quando aqui cheguei, fiquei na dúvida sobre o que mais gostava. Ou o que mais importante era: Se as rosas encostadas à fachada de um prédio modesto num bairro igualmente modesto, se a cortina na janela que pudicamente impede que se veja o interior mas permitindo a quem lá esteja desfrutar do que plantou e cuidou.
O que me levou a decidir foi uma conversa.
Quando ali cirandava, deliciando-me com os roseirais e tentando fotografar apesar da luz não ajudar, fui, à passagem, interpelado por um velhote. Pela idade já reformado, e com trajes a condizer com o bairro, soube afirmar, em tom de pergunta, se elas eram realmente bonitas. E quando o confirmei, até porque verdade, acrescentou, em tom de convite e com um sorriso de orelha a orelha, que haveria de lá ir pela primavera, que então veria o que é uma beleza de jardim, com tudo florido e de diversas cores e formas. Rematou, cheio de orgulho, com um:
“Sabe, somos nós aqui que cuidamos disto, ainda que o terreno seja da câmara.”
Entendi a cortina. E as cadeiras, desirmanadas, junto a uma sebe. E as paredes limpas de graffitis, apesar do bairro. E os caminhos arranjados. E a ausências de carcaças automóveis. E…
E mais que da flor, bonita que é, gostei da cortina!
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Pré-epitáfio
Em tempos conheci um mestre!
Sócio na traineira que comandava, nos mares algarvios e na costa Vicentina, o Mestre Luís Benjamim era um homem ímpar.
Firme no leme e no sonar, assim como com a companha, a sua generosidade para com o mar e a gente que o amanhava era enorme. Mas bem maior que ela era o gosto que tinha pelo que fazia. Meio a sério, meio a brincar, costumava dizer que era no mar e junto da roda do leme que gostaria de morrer.
A vida, mãe ou madrasta como quiserem, fez-lhe a vontade. Uma noite o coração colapsou-se-lhe enquanto que com as mãos na roda buscava cardume.
Quando o soube, muito tempo depois, sorri e disse de mim para mim que era assim que gostaria de morrer: fazendo algo de que goste!
Há pouco, quando preparava o saco da “tralha” antes de sair, não tive dúvidas!
Não sei o que o futuro me reserva, ainda que certamente decidido por mim. Mas se puder escolher ou dar uma ajudinha, gostaria que fosse a fotografar. A tentar fazer com que a luz que vejo se materialize no papel ou no fósforo, se possível provocando algumas reacções a quem as veja.
E na minha tumba, se a isso tiver direito e se se justificar, no lugar de uma cruz coloquem uma objectiva encastrada num cérebro.
Afinal, é isso que tenho feito quase toda a vida!
Texto e imagem: by me
Sócio na traineira que comandava, nos mares algarvios e na costa Vicentina, o Mestre Luís Benjamim era um homem ímpar.
Firme no leme e no sonar, assim como com a companha, a sua generosidade para com o mar e a gente que o amanhava era enorme. Mas bem maior que ela era o gosto que tinha pelo que fazia. Meio a sério, meio a brincar, costumava dizer que era no mar e junto da roda do leme que gostaria de morrer.
A vida, mãe ou madrasta como quiserem, fez-lhe a vontade. Uma noite o coração colapsou-se-lhe enquanto que com as mãos na roda buscava cardume.
Quando o soube, muito tempo depois, sorri e disse de mim para mim que era assim que gostaria de morrer: fazendo algo de que goste!
Há pouco, quando preparava o saco da “tralha” antes de sair, não tive dúvidas!
Não sei o que o futuro me reserva, ainda que certamente decidido por mim. Mas se puder escolher ou dar uma ajudinha, gostaria que fosse a fotografar. A tentar fazer com que a luz que vejo se materialize no papel ou no fósforo, se possível provocando algumas reacções a quem as veja.
E na minha tumba, se a isso tiver direito e se se justificar, no lugar de uma cruz coloquem uma objectiva encastrada num cérebro.
Afinal, é isso que tenho feito quase toda a vida!
Texto e imagem: by me
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Transições
As crianças e os jovens encaram a vida assim:
Preto no branco, sempre a direito, a subir ou a descer, conforme os apetites. Quase não sabem o que são penumbras, sombras, transições. Para a gente jovem o mundo é composto de coisas que são e de coisas que não são!
São os adultos que estragam tudo, com as suas nuances, os seus argumentos justificativos, as suas desculpas esfarrapadas, os seus meio-termos e as suas meias-tintas.
Começa aser altura de regressarmos ao que fomos: ou presta ou não presta. Se presta, usamos; se não presta, deitamos fora.
Um bom local para começar é ali para os lados de S. Bento, onde continua a dar a cara por um partido político, a conceber, redigir e votar leis, um que descaradamente roubou gravadores de som, mesmo em frente a câmaras de televisão.
Se encararmos os nossos políticos (no poder ou na oposição) como gente que presta ou gente que não presta, não tenho dúvidas em os classificar. Em definitivo!
Talvez que, no fundo, eu mais não seja que um garoto de barba branca e grande.
Texto e imagem: by me
Preto no branco, sempre a direito, a subir ou a descer, conforme os apetites. Quase não sabem o que são penumbras, sombras, transições. Para a gente jovem o mundo é composto de coisas que são e de coisas que não são!
São os adultos que estragam tudo, com as suas nuances, os seus argumentos justificativos, as suas desculpas esfarrapadas, os seus meio-termos e as suas meias-tintas.
Começa aser altura de regressarmos ao que fomos: ou presta ou não presta. Se presta, usamos; se não presta, deitamos fora.
Um bom local para começar é ali para os lados de S. Bento, onde continua a dar a cara por um partido político, a conceber, redigir e votar leis, um que descaradamente roubou gravadores de som, mesmo em frente a câmaras de televisão.
Se encararmos os nossos políticos (no poder ou na oposição) como gente que presta ou gente que não presta, não tenho dúvidas em os classificar. Em definitivo!
Talvez que, no fundo, eu mais não seja que um garoto de barba branca e grande.
Texto e imagem: by me
Ali, no cantinho
Acredito que a grande maioria dos que vêem esta imagem não saiba do que se trata.
Situado na Praça da Viscondessa dos Olivais, quase no limite Este de Lisboa, num cantinho entre as traseiras da igreja de Santa Maria dos Olivais e um quintal de uma casa em ruínas, agora ocupada como dormitório de sem-abrigo, olhando para o fontanário e o coreto quadrado que dominam o largo e vendo, por uma nesga entre dois prédios, a modernidade da Ponte Vasco da Gama e a Gare do Oriente, fica este urinol público.
Não sei quando terá sido construído, mas pensando que a maioria do casario desta praça, excepção feita à igreja, remonta a meados e finais do séc. XIX, e olhando aos materiais de que é feito, acredito que tenha sido uma das intervenções municipais do início do séc. XX.
Quem por aqui passar terá que o procurar com algum afinco, já que se encontra escondido pelos carros que quase o escondem, obrigando a alguma ginástica para a ele aceder. O que, diga-se em abono da verdade, pouco incomoda: pelo aspecto e ausência de odores óbvios, não é usado na sua finalidade original faz já muito tempo.
Como se usava? Bem, os homens entravam pelo lado de lá, que a chaparia é aí aberta, e aliviavam-se contra o poste de pedra que ocupa o seu centro, protegidos dos olhares indiscretos. Claro está que não sei o que aconteceria em dias de feira, missa dominical ou semelhante, com grande afluência: ou bem que se aguardaria vez ou corria-se o risco de ser alvo de uma pontaria menos afinada, se vários ali estiverem em simultâneo.
Olhando com atenção, por dentro e por fora, pouco se lhe encontra de ferrugem, e o matagal em redor está reduzido às ervas rasteiras que se vêem. O que me leva a concluir que alguém vai mantendo como possível este resquício do passado.
Só conheci um outro, idêntico na forma e função, em Lisboa, ali à entrada do Castelo de São Jorge. Já não existe. E, a menos que haja mais algum igualmente escondido, será este o último da sua espécie. Os seus mutantes descendentes, encontram-se nos cafés e centros comerciais, que se outra utilidade pública não tiverem, pelo menos servem para alívio dos cidadãos.
Espero que este último urinol público não seja devorado pela voragem dos especuladores imobiliários e que, se o local for transformado em dormitório ou torre de serviços, haja o bom senso de o preservar, senão neste local, pelo menos onde a memória se não apague.
Pelo que é e pelo casario que resta em redor, recomenda-se uma visita. Se não para alívio das partes baixas, pelo menos para enriquecer a alma.
Texto e imagem: by me
Situado na Praça da Viscondessa dos Olivais, quase no limite Este de Lisboa, num cantinho entre as traseiras da igreja de Santa Maria dos Olivais e um quintal de uma casa em ruínas, agora ocupada como dormitório de sem-abrigo, olhando para o fontanário e o coreto quadrado que dominam o largo e vendo, por uma nesga entre dois prédios, a modernidade da Ponte Vasco da Gama e a Gare do Oriente, fica este urinol público.
Não sei quando terá sido construído, mas pensando que a maioria do casario desta praça, excepção feita à igreja, remonta a meados e finais do séc. XIX, e olhando aos materiais de que é feito, acredito que tenha sido uma das intervenções municipais do início do séc. XX.
Quem por aqui passar terá que o procurar com algum afinco, já que se encontra escondido pelos carros que quase o escondem, obrigando a alguma ginástica para a ele aceder. O que, diga-se em abono da verdade, pouco incomoda: pelo aspecto e ausência de odores óbvios, não é usado na sua finalidade original faz já muito tempo.
Como se usava? Bem, os homens entravam pelo lado de lá, que a chaparia é aí aberta, e aliviavam-se contra o poste de pedra que ocupa o seu centro, protegidos dos olhares indiscretos. Claro está que não sei o que aconteceria em dias de feira, missa dominical ou semelhante, com grande afluência: ou bem que se aguardaria vez ou corria-se o risco de ser alvo de uma pontaria menos afinada, se vários ali estiverem em simultâneo.
Olhando com atenção, por dentro e por fora, pouco se lhe encontra de ferrugem, e o matagal em redor está reduzido às ervas rasteiras que se vêem. O que me leva a concluir que alguém vai mantendo como possível este resquício do passado.
Só conheci um outro, idêntico na forma e função, em Lisboa, ali à entrada do Castelo de São Jorge. Já não existe. E, a menos que haja mais algum igualmente escondido, será este o último da sua espécie. Os seus mutantes descendentes, encontram-se nos cafés e centros comerciais, que se outra utilidade pública não tiverem, pelo menos servem para alívio dos cidadãos.
Espero que este último urinol público não seja devorado pela voragem dos especuladores imobiliários e que, se o local for transformado em dormitório ou torre de serviços, haja o bom senso de o preservar, senão neste local, pelo menos onde a memória se não apague.
Pelo que é e pelo casario que resta em redor, recomenda-se uma visita. Se não para alívio das partes baixas, pelo menos para enriquecer a alma.
Texto e imagem: by me
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
domingo, 17 de outubro de 2010
PPF
Fui à feira. Aproveitei a oportunidade e decidi iniciar um PPF.
Por “PPF” leia-se “Plano de Poupança Forçada”, um pouco na linha do que o nosso generoso governo nos anda a impor.
Mas as diferenças são, ainda assim, grandes:
Só poupo o que quero e em moedas miúdas, que a notas nem as vejo;
O aproveitar da poupança será só quando eu quiser e custar-me-á apenas o preço do mealheiro;
Não me rende juros mas os bancos, os eternos poupados nas estratégias de poupança, também não lucrarão com a minha;
Da minha poupança não pagarei impostos nem serei objecto de vasculho indiscreto por parte de quem nada tem a ver com a coisa;
Fiquei a ganhar um objecto que, sendo arcaico, até que é bonito e produto nacional.
E você? Já tratou do seu PPF?
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
OK! O carro estava lá!
E depois?!
Eu queria fotografar a fachada, tive preguiça em mudar de objectiva, e foi o que pude fazer.
Ou estavam à espera que chamasse o reboque?
By me
Eu queria fotografar a fachada, tive preguiça em mudar de objectiva, e foi o que pude fazer.
Ou estavam à espera que chamasse o reboque?
By me
sábado, 16 de outubro de 2010
Parabéns
A vida está cheia de coisas boas e coisas más. Comuns a todos, muitas, seja quais forem as vivências tidas.
O cheiro da terra, depois do primeiro aguaceiro de Outono, é uma delas. Uma martelada num dedo, será outra.
Das que tenho por mais magníficas é o constatar que aqueles que ajudei a darem os primeiros passos neste mundo louco da imagem o fazem agora em pleno, com sucesso e prazer. Dificilmente o troco por outra coisa.
Parabéns Bea!
O cheiro da terra, depois do primeiro aguaceiro de Outono, é uma delas. Uma martelada num dedo, será outra.
Das que tenho por mais magníficas é o constatar que aqueles que ajudei a darem os primeiros passos neste mundo louco da imagem o fazem agora em pleno, com sucesso e prazer. Dificilmente o troco por outra coisa.
Parabéns Bea!
Trocos
Entenda-se a eventual necessidade de dar ênfase à situação. Compreenda-se que um pouco de exagero faz parte da natureza humana. Dê-se desconto a um hipotético carregar nas cores da imagem. Saiba-se que foi no decorrer de um desabafo, contextualizado na conjuntura actual.
Mas foi-me afirmado por uma funcionária intermédia de uma secretaria de um agrupamento escolar de Lisboa que, em Novembro, correm o risco de ficar sem energia eléctrica onde trabalha, por não haver dinheiro para pagamentos.
Assim vamos por cá!
By me
Mas foi-me afirmado por uma funcionária intermédia de uma secretaria de um agrupamento escolar de Lisboa que, em Novembro, correm o risco de ficar sem energia eléctrica onde trabalha, por não haver dinheiro para pagamentos.
Assim vamos por cá!
By me
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Ver de olhos vendados
Foi a melhor hora e meia que já passei na vida com a roupa em cima e os olhos vendados!
O relacionamento de um fotógrafo com cegos é, para mim, das coisas mais difíceis que se pode ter.
Se por um lado o nosso trabalho não lhes é acessível, por outro pedir a quem não vê para se deixar fotografar é-me particularmente difícil de conceber, já que eles não poderão aceder ao que lhes é feito.
Mas hoje, de olhos vendados, acedi ao mundo da fotografia, tal como se fora cego.
Trata-se de uma exposição, que lamentavelmente termina amanhã, de fotografias impressas em relevo para que os invisuais ou ambliopes a elas possam aceder e usufruir. São exibidas a par com as mesmas imagens em forma convencional, mas os visitantes são convidados a mergulhar nela sem as verem, pelo que sugerem que coloquem uma venda e que sejam acompanhados por uma guia do museu.
Sendo que não podemos ler o texto que acompanha as imagens nem sabemos interpretar a sua tradução em Braille, é essa guia nos lê a descrição da imagem. E nós, com base no que ouvimos e no que os nossos dedos sentem naquelas superfícies de relevo, tentamos “ver” as fotografias.
Impressionante a experiência!
Claro que a descrição que ouvimos, associada à nossa memória visual, nos ajuda a descodificar as sensações tácteis. Mas momentos houve em que, quer fosse pelo cansaço, quer fosse pela minha incapacidade de “ver” com os dedos, quer fosse pela complexidade do que ali estava representado, não consegui ter o mesmo “rendimento” que os invisuais que já lá tinham estado, pelo menos de acordo com o que me foi dito.
No final desta exposição impar, fui ainda guiado, sempre de olhos vendados, a uma outra, complementar.
Tratava-se de alguns objectos de bombeiros (extintores, capacetes, mangueiras, agulhetas, um carro de combate a incêndios) que ali estavam colocados para serem apreciados por cegos. Tactilmente, claro. Isto porque a exposição se encontra (até amanhã) no museu do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa. E eles não quiseram deixar de dar um contributo extra a esta iniciativa.
Repito: foi talvez a hora e meia mais intensa que vivi nos últimos anos, com a roupa em cima.
Esta exposição, que foi pouco divulgada como é costume neste país, deveria ser obrigatória para todos os que lidam com imagem ou aspiram a tal. Ou, melhor ainda, os que lidam ou estão a prender a lidar com o audiovisual. Saber como os cegos se relacionam com o mundo circundante e com o resultado do nosso trabalho garantidamente que nos ajudaria a fazê-lo melhor!
Para terminar, uma palavra de especial apreço à impagável funcionária municipal, destacada para este museu, pela inestimável ajuda que me deu neste meu mergulho no mundo da escuridão, bem como pela paciência que demonstrou para com este eterno curioso perguntador, ao acompanhar-me na visita ao resto do museu, desta feita vendo realmente o que ali se exibia.
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
O relacionamento de um fotógrafo com cegos é, para mim, das coisas mais difíceis que se pode ter.
Se por um lado o nosso trabalho não lhes é acessível, por outro pedir a quem não vê para se deixar fotografar é-me particularmente difícil de conceber, já que eles não poderão aceder ao que lhes é feito.
Mas hoje, de olhos vendados, acedi ao mundo da fotografia, tal como se fora cego.
Trata-se de uma exposição, que lamentavelmente termina amanhã, de fotografias impressas em relevo para que os invisuais ou ambliopes a elas possam aceder e usufruir. São exibidas a par com as mesmas imagens em forma convencional, mas os visitantes são convidados a mergulhar nela sem as verem, pelo que sugerem que coloquem uma venda e que sejam acompanhados por uma guia do museu.
Sendo que não podemos ler o texto que acompanha as imagens nem sabemos interpretar a sua tradução em Braille, é essa guia nos lê a descrição da imagem. E nós, com base no que ouvimos e no que os nossos dedos sentem naquelas superfícies de relevo, tentamos “ver” as fotografias.
Impressionante a experiência!
Claro que a descrição que ouvimos, associada à nossa memória visual, nos ajuda a descodificar as sensações tácteis. Mas momentos houve em que, quer fosse pelo cansaço, quer fosse pela minha incapacidade de “ver” com os dedos, quer fosse pela complexidade do que ali estava representado, não consegui ter o mesmo “rendimento” que os invisuais que já lá tinham estado, pelo menos de acordo com o que me foi dito.
No final desta exposição impar, fui ainda guiado, sempre de olhos vendados, a uma outra, complementar.
Tratava-se de alguns objectos de bombeiros (extintores, capacetes, mangueiras, agulhetas, um carro de combate a incêndios) que ali estavam colocados para serem apreciados por cegos. Tactilmente, claro. Isto porque a exposição se encontra (até amanhã) no museu do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa. E eles não quiseram deixar de dar um contributo extra a esta iniciativa.
Repito: foi talvez a hora e meia mais intensa que vivi nos últimos anos, com a roupa em cima.
Esta exposição, que foi pouco divulgada como é costume neste país, deveria ser obrigatória para todos os que lidam com imagem ou aspiram a tal. Ou, melhor ainda, os que lidam ou estão a prender a lidar com o audiovisual. Saber como os cegos se relacionam com o mundo circundante e com o resultado do nosso trabalho garantidamente que nos ajudaria a fazê-lo melhor!
Para terminar, uma palavra de especial apreço à impagável funcionária municipal, destacada para este museu, pela inestimável ajuda que me deu neste meu mergulho no mundo da escuridão, bem como pela paciência que demonstrou para com este eterno curioso perguntador, ao acompanhar-me na visita ao resto do museu, desta feita vendo realmente o que ali se exibia.
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
Arte fotográfica
Sou, basicamente, um ignorante.
Li centenas de livros, fiz centenas de milhares de fotografias, vi uns milhões largos de imagens.
Tenho, ao longo dos anos, tentado passar o muito pouco que aprendi sobre imagem.
Mas não é possível transmitir conhecimentos que não se possuem.
E eu não sei o que é uma fotografia artística ou sequer o que é arte.
Sei olhar para algo – imagem, ícone ou real – e saber se gosto ou não dela.
Sei se me sinto bem em sua presença, se é algo de que gosto de ver e continuar a ver, entenda ou não o seu significado.
Sei olhar para uma imagem e procurar o seu significado, através da forma ou através do conteúdo.
Sei constatar numa imagem se ela possui as características de agradar e comunicar com a maioria dos elementos da sociedade em que me integro e que conheço.
Sei pegar neste saber e, se estiver concentrado e com vontade de tal, fazer imagens que se enquadrem nestas definições.
Sei usar de umas centenas ou milhares de truques técnicos e estéticos para comunicar com fotografia, quer seja pela comunicação directa e implícita, quer seja pelo seu contrário, obrigando o observador a parar para pensar no que vê.
Sei que algumas das imagens que faço me agradam e que de muitas não gosto o suficiente.
Sei que algumas das minhas imagens agradam a quem as vê. Quer se trate de clientes que as encomendem ou de desconhecidos que são com elas confrontados.
Sei que tenho dias em que consigo fazer imagens melhor que noutros dias, quer seja sob os meus próprios padrões de qualidade, quer seja sob os padrões de quem as vê.
Mas não sei o que é uma imagem artística, fotográfica ou outra. Não as sei fazer nem as sei reconhecer.
Se a arte for uma forma de expressão, então os assobios desafinados que emito quando tomo banho ou estou satisfeito são uma forma de arte.
Se a arte for uma forma de contestação estética, de rompimento com os cânones existentes, então chamaremos arte a tudo o que for diferente, entendendo-o ou não e esperemos que os vindouros lhes dêem significado e uma categoria.
Mas, no meio de tudo isto, não sei o que é uma fotografia artística.
Não o sabendo, não posso falar sobre tal, por muito que tenha visto, lido ou feito.
Aquilo que sei, sem sombra de dúvida, é aquilo de que gosto.
E suponho que sei o que a maioria das pessoas da minha sociedade cultural gosta.
Isto, eventualmente, coloca-me na categoria de “artesão da comunicação visual com suporte fotográfico”.
Mas não sei dizer se sou ou não um “artista fotográfico”, porque não sei o que isso seja.
Imagem: By me – “Carris de ferro”, c. 1990.
Gosto desta imagem, mas não sei se é artística!
Li centenas de livros, fiz centenas de milhares de fotografias, vi uns milhões largos de imagens.
Tenho, ao longo dos anos, tentado passar o muito pouco que aprendi sobre imagem.
Mas não é possível transmitir conhecimentos que não se possuem.
E eu não sei o que é uma fotografia artística ou sequer o que é arte.
Sei olhar para algo – imagem, ícone ou real – e saber se gosto ou não dela.
Sei se me sinto bem em sua presença, se é algo de que gosto de ver e continuar a ver, entenda ou não o seu significado.
Sei olhar para uma imagem e procurar o seu significado, através da forma ou através do conteúdo.
Sei constatar numa imagem se ela possui as características de agradar e comunicar com a maioria dos elementos da sociedade em que me integro e que conheço.
Sei pegar neste saber e, se estiver concentrado e com vontade de tal, fazer imagens que se enquadrem nestas definições.
Sei usar de umas centenas ou milhares de truques técnicos e estéticos para comunicar com fotografia, quer seja pela comunicação directa e implícita, quer seja pelo seu contrário, obrigando o observador a parar para pensar no que vê.
Sei que algumas das imagens que faço me agradam e que de muitas não gosto o suficiente.
Sei que algumas das minhas imagens agradam a quem as vê. Quer se trate de clientes que as encomendem ou de desconhecidos que são com elas confrontados.
Sei que tenho dias em que consigo fazer imagens melhor que noutros dias, quer seja sob os meus próprios padrões de qualidade, quer seja sob os padrões de quem as vê.
Mas não sei o que é uma imagem artística, fotográfica ou outra. Não as sei fazer nem as sei reconhecer.
Se a arte for uma forma de expressão, então os assobios desafinados que emito quando tomo banho ou estou satisfeito são uma forma de arte.
Se a arte for uma forma de contestação estética, de rompimento com os cânones existentes, então chamaremos arte a tudo o que for diferente, entendendo-o ou não e esperemos que os vindouros lhes dêem significado e uma categoria.
Mas, no meio de tudo isto, não sei o que é uma fotografia artística.
Não o sabendo, não posso falar sobre tal, por muito que tenha visto, lido ou feito.
Aquilo que sei, sem sombra de dúvida, é aquilo de que gosto.
E suponho que sei o que a maioria das pessoas da minha sociedade cultural gosta.
Isto, eventualmente, coloca-me na categoria de “artesão da comunicação visual com suporte fotográfico”.
Mas não sei dizer se sou ou não um “artista fotográfico”, porque não sei o que isso seja.
Imagem: By me – “Carris de ferro”, c. 1990.
Gosto desta imagem, mas não sei se é artística!
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
EMEL
Texto entregue em mão na loja da EMEL, empresa que gere o estacionamento de superfície em Lisboa.
Segundo me foi dito pela simpática senhora que me atendeu, posso contar com uns três meses de espera pela resposta, se esta for emitida dentro do prazo habitual.
Espero eu, também, que nesse entre-tempo ninguém seja seriamente ferido neste local.
E eles que esperem também por mim, que lá pelo Natal tratarei de saber algo sobre o assunto, se esse for o caso.
“Ao fundo da Av. Casal Ribeiro o passeio foi ocupado com o tapume de uma obra. Foi colocada sinalização vertical e horizontal para indicar o desvio dos peões.
Acontece que, em seguindo esse desvio, são os peões conduzidos à faixa central onde não podem caminhar por estar ocupada por automóveis estacionados nos lugares devidos e por vós cobrados.
Assim sendo, sugiro que anulem esses lugares, permitindo o trânsito a peões ou, em alternativa, que seja colocado um corredor de segurança, balizado, onde os peões possam caminhar.”
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
Segundo me foi dito pela simpática senhora que me atendeu, posso contar com uns três meses de espera pela resposta, se esta for emitida dentro do prazo habitual.
Espero eu, também, que nesse entre-tempo ninguém seja seriamente ferido neste local.
E eles que esperem também por mim, que lá pelo Natal tratarei de saber algo sobre o assunto, se esse for o caso.
“Ao fundo da Av. Casal Ribeiro o passeio foi ocupado com o tapume de uma obra. Foi colocada sinalização vertical e horizontal para indicar o desvio dos peões.
Acontece que, em seguindo esse desvio, são os peões conduzidos à faixa central onde não podem caminhar por estar ocupada por automóveis estacionados nos lugares devidos e por vós cobrados.
Assim sendo, sugiro que anulem esses lugares, permitindo o trânsito a peões ou, em alternativa, que seja colocado um corredor de segurança, balizado, onde os peões possam caminhar.”
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
Rastos
A notícia refere que sete operadores de transporte rodoviário na Área Metropolitana de Lisboa, vão instalar nos seus autocarros sistemas de bilhética de proximidade.
E termina com a informação de que o novo sistema trará vantagens para os operadores, já que lhes fornecerá uma série de dados estatísticos sobre os seus passageiros.
Bem, odeio dizer “Eu tinha razão!”, mas a verdade é que este sistema de bilhetes electrónicos deixa registo, junto das transportadoras, de quem viaja e quais o trajectos.
Por outras palavras, ao usar estes bilhetes, o anonimato e a privacidade das deslocações termina, sendo sempre possível, à revelia da nossa vontade ou mesmo conhecimento, reconstituir os nossos passos, de onde viemos e para onde fomos, usando para isso estes registos que, ingenuamente, vamos fornecendo.
Sendo que nada tenho a esconder, não pretendo deixar rasto como o caracol. Por isso mesmo, não uso esses “passes”, preferindo os bilhetes pré-comprados, completamente anónimos. Ainda que mais caros de utilização.
Não aceitarei sem luta este “Big Brother” que suavemente se vai instalando, recusando até ao limite o controlo dos cidadãos.
Imagem: algures na web
terça-feira, 12 de outubro de 2010
À porta da esquadra
Eu até nem costumo caminhar por aqui. Mas o tempo estava bom, eu não tinha pressa e queria ir fazer umas fotografias ali à junta de freguesia.
E, quando dei por mim, não consegui passar: mesmo à porta da esquadra de polícia estava a moto que aqui se vê, barrando o caminho aos peões.
Achei que era demais. De uma forma ou de outra, e mesmo não gostando, vamos estando habituados aos passeios selvaticamente, e à margem da lei, ocupados por viaturas. Mas mesmo à porta da esquadra de polícia ultrapassava todos os limites do tolerável!
Entrei na esquadra e, quando o agente de serviço me questionou sobre o que ali me levava, expliquei-lhe que queria passar e não podia.
“Onde?”, perguntou ele.
“Ali mesmo à vossa porta. Aquela moto não me deixa espaço para caminhar no passeio.”
Saiu ele do edifício e, com um à-vontade que então estranhei, dirigiu-se-lhe, endireitou o guiador e, fazendo equilíbrio do lado de cá, que é um declive, e encolhendo a barriga do outro, por via do murete baixo, deu umas três ou quatro voltas em torno da moto.
De regresso a junto a mim, disse-me:
“Vê? Eu passei à-vontade, e peso 106 quilos!”
E regressou ao interior da esquadra.
Confesso que fiquei sem resposta.
Da ineficácia, do fechar de olhos, da tolerância policial, todos temos consciência e já o constatámos pessoalmente.
Agora que ironizem e que brinquem connosco quando nos queixamos de uma ilegalidade, é bem mais do que o cidadão comum pode esperar.
Ainda estive para o seguir ao seu posto de trabalho, pedir-lhe a identificação e chamar pelo graduado de serviço, a quem apresentaria uma queixa formal da moto estacionada e outra do comportamento do seu subordinado. Mas dentro de uma esquadra, queixarmo-nos de um agente que ali está de serviço não é, certamente, das coisas mais salutares que podemos fazer. Fiquei-me pelo registo fotográfico.
Mal tinha tido tempo de fazer esta única que aqui se vê quando sai da esquadra um homem que, junto à moto, sorriu para mim, pôs o capacete, subiu para ela e abalou.
Conclui que tinha, de facto, feito o melhor. Enfrentar o corporativismo policial no seu terreno não é, certamente, a melhor coisa a fazer em prol da saúde, mais a mais quando acontece no nosso bairro de residência.
Fica o relato, a identificação do veículo, que a tenho, e o fazer chegar este episódio ao comando da PSP.
Esqueceram-se, estes agentes, que o direito à indignação e ao protesto é inalienável. Tal como se esqueceram que são funcionários públicos e que quando um cidadão a eles se dirige é suposto responderem com a urbanidade que a sua farda e função exigem.
Texto e imagem: by me
E, quando dei por mim, não consegui passar: mesmo à porta da esquadra de polícia estava a moto que aqui se vê, barrando o caminho aos peões.
Achei que era demais. De uma forma ou de outra, e mesmo não gostando, vamos estando habituados aos passeios selvaticamente, e à margem da lei, ocupados por viaturas. Mas mesmo à porta da esquadra de polícia ultrapassava todos os limites do tolerável!
Entrei na esquadra e, quando o agente de serviço me questionou sobre o que ali me levava, expliquei-lhe que queria passar e não podia.
“Onde?”, perguntou ele.
“Ali mesmo à vossa porta. Aquela moto não me deixa espaço para caminhar no passeio.”
Saiu ele do edifício e, com um à-vontade que então estranhei, dirigiu-se-lhe, endireitou o guiador e, fazendo equilíbrio do lado de cá, que é um declive, e encolhendo a barriga do outro, por via do murete baixo, deu umas três ou quatro voltas em torno da moto.
De regresso a junto a mim, disse-me:
“Vê? Eu passei à-vontade, e peso 106 quilos!”
E regressou ao interior da esquadra.
Confesso que fiquei sem resposta.
Da ineficácia, do fechar de olhos, da tolerância policial, todos temos consciência e já o constatámos pessoalmente.
Agora que ironizem e que brinquem connosco quando nos queixamos de uma ilegalidade, é bem mais do que o cidadão comum pode esperar.
Ainda estive para o seguir ao seu posto de trabalho, pedir-lhe a identificação e chamar pelo graduado de serviço, a quem apresentaria uma queixa formal da moto estacionada e outra do comportamento do seu subordinado. Mas dentro de uma esquadra, queixarmo-nos de um agente que ali está de serviço não é, certamente, das coisas mais salutares que podemos fazer. Fiquei-me pelo registo fotográfico.
Mal tinha tido tempo de fazer esta única que aqui se vê quando sai da esquadra um homem que, junto à moto, sorriu para mim, pôs o capacete, subiu para ela e abalou.
Conclui que tinha, de facto, feito o melhor. Enfrentar o corporativismo policial no seu terreno não é, certamente, a melhor coisa a fazer em prol da saúde, mais a mais quando acontece no nosso bairro de residência.
Fica o relato, a identificação do veículo, que a tenho, e o fazer chegar este episódio ao comando da PSP.
Esqueceram-se, estes agentes, que o direito à indignação e ao protesto é inalienável. Tal como se esqueceram que são funcionários públicos e que quando um cidadão a eles se dirige é suposto responderem com a urbanidade que a sua farda e função exigem.
Texto e imagem: by me
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Uma questão de valores
Um jornal diário, lido on-line, avança com a informação que um partido com assento parlamentar pretende rever a lei eleitoral até ao final do ano que vem.
Claro que se corre o risco de ser uma afirmação emanada do tal partido com o intuito de manter os jornais ocupados e fazer aparecer o seu nome com a frequência desejada.
Fico, no entanto, com a esperança de ser mais que fumo partidário e que algumas mudanças venham a ser efectuadas. Até porque eu mesmo desejo que pelo menos duas coisas aconteçam.
À uma, e para a Assembleia da República, que os deputados eleitos por um dado circulo eleitoral sejam pública e notoriamente identificados perante os seus eleitores. O mesmo sucedendo quando há substituições. Quer sejam membros de listas eleitorais, quer se organizem em círculos uninominais, quero poder saber, sem grande esforço ou pesquisa, quem são os que me representam ao serem redigidas, discutidas e votadas, as leis nacionais.
Mais ainda, quero poder interpelá-los caso se desviem, nos factos ou nas políticas, do que prometeram e afirmaram em campanha.
A impunidade ou irresponsabilidade, ainda que política, não pode continuar!
Por outro lado, e no tocante às autarquias, uma restrição à constituição das listas de candidatos, por partidos ou independentes: Que todos os candidatos ao poder local, seja qual for o cargo a que se candidatam, estejam recenseados como eleitores e residentes no concelho a que se candidatam desde as eleições anteriores.
Com isto, impedir que alguém, residente numa ponta do país, se candidate a uma autarquia na outra ponta, por questões de interesse partidário e ignorando os interesses e problemas das gentes locais. E garantir que os eleitores possam conhecer de perto os candidatos, e não apenas pelos discursos e panfletos.
No entanto, não tenho ilusões! Não acredito que algum partido político proponha, quanto mais vote favoravelmente, leis que restrinjam o acesso partidário ao poder, em prol do bem do País e dos cidadãos.
Que entre “patriotismo” e “partidarismo”, não é certamente o primeiro que ganha se forem os partidos a decidir.
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
Claro que se corre o risco de ser uma afirmação emanada do tal partido com o intuito de manter os jornais ocupados e fazer aparecer o seu nome com a frequência desejada.
Fico, no entanto, com a esperança de ser mais que fumo partidário e que algumas mudanças venham a ser efectuadas. Até porque eu mesmo desejo que pelo menos duas coisas aconteçam.
À uma, e para a Assembleia da República, que os deputados eleitos por um dado circulo eleitoral sejam pública e notoriamente identificados perante os seus eleitores. O mesmo sucedendo quando há substituições. Quer sejam membros de listas eleitorais, quer se organizem em círculos uninominais, quero poder saber, sem grande esforço ou pesquisa, quem são os que me representam ao serem redigidas, discutidas e votadas, as leis nacionais.
Mais ainda, quero poder interpelá-los caso se desviem, nos factos ou nas políticas, do que prometeram e afirmaram em campanha.
A impunidade ou irresponsabilidade, ainda que política, não pode continuar!
Por outro lado, e no tocante às autarquias, uma restrição à constituição das listas de candidatos, por partidos ou independentes: Que todos os candidatos ao poder local, seja qual for o cargo a que se candidatam, estejam recenseados como eleitores e residentes no concelho a que se candidatam desde as eleições anteriores.
Com isto, impedir que alguém, residente numa ponta do país, se candidate a uma autarquia na outra ponta, por questões de interesse partidário e ignorando os interesses e problemas das gentes locais. E garantir que os eleitores possam conhecer de perto os candidatos, e não apenas pelos discursos e panfletos.
No entanto, não tenho ilusões! Não acredito que algum partido político proponha, quanto mais vote favoravelmente, leis que restrinjam o acesso partidário ao poder, em prol do bem do País e dos cidadãos.
Que entre “patriotismo” e “partidarismo”, não é certamente o primeiro que ganha se forem os partidos a decidir.
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
Cidadania
Fui convocado para comparecer em tribunal.
Nada que me diga directamente respeito: serei testemunha num diferendo que opõe a empresa em que trabalho a um ex-funcionário e colega.
Sendo que temos folgas aos dias mais díspares e horários diversificados, podendo começar de madrugada ou terminar também de madrugada, com todas as variantes intermédias, assim que soube da convocatória tratei de informar a chefia, solicitando que me atribuísse um horário compatível, ou mesmo folga, para não interferir com o normal funcionamento dos trabalhos. Atribuíram-me folga.
Ontem, comentando o caso entre companheiros de trabalho, opinou um, que também estará na audiência:
“Eh pah! É preciso azar! Ficas com a folga estragada. A mim deram-me horário de entrar ao fim da tarde, mantendo assim as minhas folgas só para mim.”
Olhei para ele de rijo, emiti um comentário leve e sem grande significado, e afastei-me.
Adianta dizer-lhe, a ele e aos demais que com ele concordaram, que ir a tribunal ajudar a repor a justiça não é estragar uma folga? Que é algo que devemos fazer, mesmo que fora do tempo em que trabalhamos, mesmo que em dia de folga, já que faz parte dos nossos deveres cívicos, que é aquele pedacinho que podemos e devemos fazer em prol da sociedade? Que qualquer um que peça justiça gostará que os seus concidadãos dêem um pouco de si para que aconteça?
Espero que a situação não se materialize. Mas se, no futuro, este ou algum dos que com ele concordaram necessitarem da minha contribuição, na justiça ou de outro modo, talvez eu esteja de maré, talvez a minha memória seja curta, talvez tenha esquecido este episódio, e lhes diga que sim, que terei todo o gosto em os ajudar. Em fazer aquela pequenina parte que me compete, enquanto membro desta sociedade.
Porque ser cidadão não é apenas exigir mas, e principalmente, contribuir e exercer a cidadania.
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
Nada que me diga directamente respeito: serei testemunha num diferendo que opõe a empresa em que trabalho a um ex-funcionário e colega.
Sendo que temos folgas aos dias mais díspares e horários diversificados, podendo começar de madrugada ou terminar também de madrugada, com todas as variantes intermédias, assim que soube da convocatória tratei de informar a chefia, solicitando que me atribuísse um horário compatível, ou mesmo folga, para não interferir com o normal funcionamento dos trabalhos. Atribuíram-me folga.
Ontem, comentando o caso entre companheiros de trabalho, opinou um, que também estará na audiência:
“Eh pah! É preciso azar! Ficas com a folga estragada. A mim deram-me horário de entrar ao fim da tarde, mantendo assim as minhas folgas só para mim.”
Olhei para ele de rijo, emiti um comentário leve e sem grande significado, e afastei-me.
Adianta dizer-lhe, a ele e aos demais que com ele concordaram, que ir a tribunal ajudar a repor a justiça não é estragar uma folga? Que é algo que devemos fazer, mesmo que fora do tempo em que trabalhamos, mesmo que em dia de folga, já que faz parte dos nossos deveres cívicos, que é aquele pedacinho que podemos e devemos fazer em prol da sociedade? Que qualquer um que peça justiça gostará que os seus concidadãos dêem um pouco de si para que aconteça?
Espero que a situação não se materialize. Mas se, no futuro, este ou algum dos que com ele concordaram necessitarem da minha contribuição, na justiça ou de outro modo, talvez eu esteja de maré, talvez a minha memória seja curta, talvez tenha esquecido este episódio, e lhes diga que sim, que terei todo o gosto em os ajudar. Em fazer aquela pequenina parte que me compete, enquanto membro desta sociedade.
Porque ser cidadão não é apenas exigir mas, e principalmente, contribuir e exercer a cidadania.
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
domingo, 10 de outubro de 2010
Por vezes é assim
Por vezes é mesmo assim!
Sair de casa para ir às compras, rapidinho, que há que regressar, almoçar e seguir para o trabalho. Mesmo aos domingos.
E tempo ou oportunidade para fotografar? Bem, não se pode ganhar todos os dias, mas leva-se a câmara, só no ombro com a velhérrima 90mm, só mesmo para se se der o caso.
Deu!
No regresso, mochila cheia às costas, dou com esta que foi suficientemente simpática para posar para mim, até que o vento me arrancou o chapéu e ela achou que já chegava.
Moral da história: ou bem que saio com a câmara, ou bem que não saio de todo!
Texto e imagem: by me
Sair de casa para ir às compras, rapidinho, que há que regressar, almoçar e seguir para o trabalho. Mesmo aos domingos.
E tempo ou oportunidade para fotografar? Bem, não se pode ganhar todos os dias, mas leva-se a câmara, só no ombro com a velhérrima 90mm, só mesmo para se se der o caso.
Deu!
No regresso, mochila cheia às costas, dou com esta que foi suficientemente simpática para posar para mim, até que o vento me arrancou o chapéu e ela achou que já chegava.
Moral da história: ou bem que saio com a câmara, ou bem que não saio de todo!
Texto e imagem: by me
sábado, 9 de outubro de 2010
Que raio?!
Este aviso está disperso um pouco por toda a frota da Carris, autocarros de Lisboa.
Pergunto eu: Para que diabo serve ele, se vemos os noticiários, lemos os jornais, tomamos conhecimento das decisões ministeriais bem como dos discursos da oposição?
Não ficamos nós assim já suficientemente alerta? Ou haverá por aí mais quem nos venha à carteira e que não conheçamos?
Texto e imagem: by me
Pergunto eu: Para que diabo serve ele, se vemos os noticiários, lemos os jornais, tomamos conhecimento das decisões ministeriais bem como dos discursos da oposição?
Não ficamos nós assim já suficientemente alerta? Ou haverá por aí mais quem nos venha à carteira e que não conheçamos?
Texto e imagem: by me
Manias
A ideia era suficientemente louca para ter resultado. Aliás, cheguei a pô-la em prática, ainda que de um modo improvisado, e o feed-back foi mais que satisfatório.
Construir um banco óptico, baseado num tubo de comprimento variável e lupas, aparentemente convencionais, para levar os alunos, através de uma actividade lúdica, ao entendimento e conhecimento prático do funcionamento das objectivas. Leis da refracção, distâncias focais, ângulos de visão, foco.
Na experiência que fiz, e com adultos, hora e meia de prática e brincadeira levou-os a facilmente entenderem o abstracto dos trajectos da luz através das lentes e objectivas e, mais importante ainda, dar-lhes uma base de conhecimentos para os jogos de perspectiva.
Sendo que foi uma solução de recurso e que usei o que possuía, faltou-me a possibilidade de usar esse mesmo banco óptico acoplado a uma câmara de vídeo. Teria sido ouro sobre azul, já que aquele exercício terminaria com a aplicação prática.
O projecto, provada que foi a sua eficácia, passaria pela construção das peças, mandadas fazer num bom torneiro mecânico, adaptadas às lentes com as suas potências estudadas. Cinco conjuntos completos, para serem manuseados por grupos de quatro a cinco alunos.
Nunca viu a luz do dia!
Para além do custo óbvio do que haveria que mandar fazer, o facto de, em termos de fotografia, apenas as câmaras Pentax (já na era do digital) se adaptarem a esta prática. E seria utópico impor numa escola ou centro de formação que possuíssem equipamento desta marca, quando toda a publicidade e mercado acontecem em torno de outras.
Por este e outros motivos me mantenho fiel à Pentax, ainda que em contra-ciclo com profissionais e aspirantes a tal. Que a qualidade de uma marca ou produto não se mede apenas nas especificações técnicas do fabricante, mas também, e principalmente, em ser capaz de satisfazer as necessidades de utilização de quem as possui.
Manias!
Texto e imagem: by me
Construir um banco óptico, baseado num tubo de comprimento variável e lupas, aparentemente convencionais, para levar os alunos, através de uma actividade lúdica, ao entendimento e conhecimento prático do funcionamento das objectivas. Leis da refracção, distâncias focais, ângulos de visão, foco.
Na experiência que fiz, e com adultos, hora e meia de prática e brincadeira levou-os a facilmente entenderem o abstracto dos trajectos da luz através das lentes e objectivas e, mais importante ainda, dar-lhes uma base de conhecimentos para os jogos de perspectiva.
Sendo que foi uma solução de recurso e que usei o que possuía, faltou-me a possibilidade de usar esse mesmo banco óptico acoplado a uma câmara de vídeo. Teria sido ouro sobre azul, já que aquele exercício terminaria com a aplicação prática.
O projecto, provada que foi a sua eficácia, passaria pela construção das peças, mandadas fazer num bom torneiro mecânico, adaptadas às lentes com as suas potências estudadas. Cinco conjuntos completos, para serem manuseados por grupos de quatro a cinco alunos.
Nunca viu a luz do dia!
Para além do custo óbvio do que haveria que mandar fazer, o facto de, em termos de fotografia, apenas as câmaras Pentax (já na era do digital) se adaptarem a esta prática. E seria utópico impor numa escola ou centro de formação que possuíssem equipamento desta marca, quando toda a publicidade e mercado acontecem em torno de outras.
Por este e outros motivos me mantenho fiel à Pentax, ainda que em contra-ciclo com profissionais e aspirantes a tal. Que a qualidade de uma marca ou produto não se mede apenas nas especificações técnicas do fabricante, mas também, e principalmente, em ser capaz de satisfazer as necessidades de utilização de quem as possui.
Manias!
Texto e imagem: by me
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Acto de coragem
Hoje, com a amena brisa que corre e a ligeira humidade atmosférica que se constata, pendurar roupa a secar lá fora.
Fragmentos
Um pedaço do livro "a prática da arte"
de Antoni Tàpies
...
A arte é uma fonte de conhecimento, tal como a ciência, a filosofia, etc., e a grande luta empreendida pelo homem para ir ajustando a sua concepção da realidade - que é o que o enaltece e torna livre - não pode prosperar se se manipularem ideias que já foram concebidas e realizadas anteriormente. As formas caducas não podem conduzir a ideias actuais. Se as formas não são capazes de ferir a sociedade que as recebe, de a irritarem, de a impelirem à meditação, de fazerem com que ela veja que está atrasada, se não estiverem em ruptura, então não são uma autêntica obra de arte. Perante uma verdadeira obra de arte, o espectador deve sentir-se obrigado a fazer um exame de consciência e a pôr em dia as suas velhas concepções. O artista deve fazer com que ele compreenda que o seu mundo era estreito, e deve abrir-lhe novas perspectivas. Isto é: deve levar a cabo uma autêntica obra humanista.
Quando o grande público encontra plena satisfação em determinadas formas artísticas, é porque essas formas já perderam toda a sua virulência.
Onde não houver verdadeiro impacto, não haverá arte. Quando a forma artística não é capaz de provocar o desconcerto no espírito do espectador e não o obriga a mudar de forma de pensar, não é actual.
...
A ilustração é minha, desculpem a prosápia.
de Antoni Tàpies
...
A arte é uma fonte de conhecimento, tal como a ciência, a filosofia, etc., e a grande luta empreendida pelo homem para ir ajustando a sua concepção da realidade - que é o que o enaltece e torna livre - não pode prosperar se se manipularem ideias que já foram concebidas e realizadas anteriormente. As formas caducas não podem conduzir a ideias actuais. Se as formas não são capazes de ferir a sociedade que as recebe, de a irritarem, de a impelirem à meditação, de fazerem com que ela veja que está atrasada, se não estiverem em ruptura, então não são uma autêntica obra de arte. Perante uma verdadeira obra de arte, o espectador deve sentir-se obrigado a fazer um exame de consciência e a pôr em dia as suas velhas concepções. O artista deve fazer com que ele compreenda que o seu mundo era estreito, e deve abrir-lhe novas perspectivas. Isto é: deve levar a cabo uma autêntica obra humanista.
Quando o grande público encontra plena satisfação em determinadas formas artísticas, é porque essas formas já perderam toda a sua virulência.
Onde não houver verdadeiro impacto, não haverá arte. Quando a forma artística não é capaz de provocar o desconcerto no espírito do espectador e não o obriga a mudar de forma de pensar, não é actual.
...
A ilustração é minha, desculpem a prosápia.
Pungente
É o único termo que encontro para definir a situação!
Sentando na cantina entre colegas, jantávamos entre programas.
A conversa recaiu, como seria de esperar, no tema dia: a união das duas centrais sindicais para uma greve geral nacional.
A dado passo dou comigo a ver aqueles que conheço do dia-a-dia, a esgrimir argumentos em favor e contra, falando do passado dos protagonistas políticos e das origens da actual situação, com o mesmo vigor, os mesmos argumentos e raciocínio com que os vejo a discutir um qualquer lance de futebol ou decisão de um dirigente desportivo.
A mesmíssima coisa, apenas variavam nomes e datas!
E, se fui participante no inicio da conversa, cedo me calei. Como, por sorte, sou rápido a comer, acabei de engolir o meu bocado, usei de um qualquer argumento esfarrapado, e abandonei a mesa bem mais cedo que os restantes comensais.
E, já cá fora, fiquei com uma dúvida inquietante: se eles dão à política o mesmo valor que ao futebol ou se dão ao futebol a mesma importância que à política.
Em qualquer dos casos, foi um triste jantar este!
Texto e imagem: By me
Sentando na cantina entre colegas, jantávamos entre programas.
A conversa recaiu, como seria de esperar, no tema dia: a união das duas centrais sindicais para uma greve geral nacional.
A dado passo dou comigo a ver aqueles que conheço do dia-a-dia, a esgrimir argumentos em favor e contra, falando do passado dos protagonistas políticos e das origens da actual situação, com o mesmo vigor, os mesmos argumentos e raciocínio com que os vejo a discutir um qualquer lance de futebol ou decisão de um dirigente desportivo.
A mesmíssima coisa, apenas variavam nomes e datas!
E, se fui participante no inicio da conversa, cedo me calei. Como, por sorte, sou rápido a comer, acabei de engolir o meu bocado, usei de um qualquer argumento esfarrapado, e abandonei a mesa bem mais cedo que os restantes comensais.
E, já cá fora, fiquei com uma dúvida inquietante: se eles dão à política o mesmo valor que ao futebol ou se dão ao futebol a mesma importância que à política.
Em qualquer dos casos, foi um triste jantar este!
Texto e imagem: By me
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