By me
quinta-feira, 28 de agosto de 2025
quarta-feira, 27 de agosto de 2025
Raisparta a competitividade
São vários os motivos que podem levar alguém para um projecto
fotográfico.
Da estética à mensagem, do registo sistemático ao impulso do
momento.
Há quase quinze anos comecei um que fui mantendo durante mais
de dois anos. Intitulei-o de “Raisparta a competitividade”.
Surgiu ou nasceu da estética: um pedaço de sol que entrava por
uma vidraça suja e iluminava o interior de uma padaria à moda antiga, abandonada,
com prateleiras em mármore e resguardos em aço.
A fotografia não ficou má de todo mas levou-me a pensar nas
mudanças sociais em geral: um bairro antigo deixa fechar o lugar onde se vende
pão, coisa que todos compram. Porquê fechar e quais as alternativas impostas ou
preferenciais dos residentes no bairro.
Daqui a fazer a recolha de imagens, sempre pela montra ou tão
só a montra foi pouco mais que um passo. Sempre sem outro texto que não a
identificação do tipo de comércio que ali tinha existido: ex-padaria, ex-pronto
a vestir, ex-dorgaria...
Algumas identificações eram fáceis: ou porque conhecia o
local, ou porque havia pistas como as inscrições num toldo, autocolantes nos
vidros, publicidades nos interiores... mas de outros nada havia que os
identificasse.
Recorria então a outros comerciantes próximos a quem fazia
algumas perguntas e referindo a razão de ser de as fazer. Foi aqui que a
porca começou a torcer o rabo. Que as
queixas, os desabafos, o antever de negros futuros foram mais que muitos. Alguns
chegaram mesmo a dizer para voltar dali a um ano ou dois, que aquela local
seria mais um para registar. Fui ombro para muitos lamentos.
Com o surgimento das grandes superfícies e dos centros
comerciais, este tipo de comércio continua a desaparecer paulatinamente, apesar
dos nomes pomposos que vão sendo criados: comércio tradicional ou lojas com
história.
Mas, de algum modo vão-se eclipsando, incluindo as padarias.
Tenho que admitir que foi dos projectos fotográficos a que me
propus que mais me doeu. Pelo implícito e pelo explícito. Que, por cada loja
que fecha são, no mínimo, duas pessoas que perdem sustento. As mais das vezes
em idades em que será difícil, senão impossível, de encontrar alternativas.
E a responsabilidade está nesta sociedade em que a
competitividade exacrebada é algo que é incutido desde muito novo. Mesmo ainda
antes da primeira classe.
E fecham-se lojas e empresas como quem deita fora a embalagem
do yogurt, sem mesmo pensar em reciclagem. Ou derrubam-se bairros de barracas. Ou
fecham-se praias.
O pão, esse, passou a vender-se nos supermercados e
pastelarias, ficando rijo no dia seguinte.
Raisparta a competividade!
By me
terça-feira, 26 de agosto de 2025
Afectos fotográficos
Processo de representação gráfica efémero, pelo menos efémero enquanto popular, foi o da miniatura.
Em medalhões, broches, tampas de relógios e mesmo em anéis, os abastados ou não tanto traziam consigo a imagem de quem gostavam ou diziam gostar.
Em desenho de traço ou silhueta, pintada ou gravada em laca, esmalte ou prata, foi o antecessor da fotografia no que toca ao retrato portátil.
A sua divulgação surge nos finais do séc. XVIII e foi rapidamente ofuscada pelo novo processo - a fotografia – supostamente fiel e muito iconográfico. E mais barato.
Depois das primeiras experiências e invenções, bastava ser rigoroso quanto à aplicação das técnicas e fórmulas para que se satisfizesse e surpreendesse o cliente. E orgulhoso possuidor. E exibidor! E admirador!
Nos tempos que correm as miniaturas voltaram a ser populares.
Mas, ao invés de estarem gravadas num medalhão ou escondidas na tampa traseira de um relógio de bolso, estão gravadas electricamente nos bites e bytes das câmaras fotográficas, nos discos rígidos ou nas memórias dos telemóveis.
O ritual antigo de puxar por um fio de ouro e extrair pudicamente de dentro do colo feminino a imagem, ou o abrir a carteira de dentro da bolsa ou bolso e desdobrar o porta-fotografias de plástico ou, mais remotamente, de mica, morreu!
Hoje, saca-se do telele, liga-se o ecran e aí estão elas, as fotografias da namorada/o, rebentos ou netos. E, se se aceitar tecnologias mais pesadas, nada como recorrer a uma dessas “canetas-memória”, ligá-las a um computador e, por magia fosfórica, ver as imagens dos entes queridos. Ou ainda, pô-las a correr pelas auto-estradas E-mailicas ou sociais.
Claro está que os telemóveis são roubáveis e os sticks de memória perdíveis entre o prato de carne e a sobremesa. Mas são cópias, as imagens – pelo menos espero que o sejam. Não é grave! Haverá sempre a possibilidade de as copiar de novo, de criar novos ícones em tudo idênticos aos primeiros pelo simples processo de copy/past ou send.
Mas, no meio de toda esta tecnologia, nestas transferências energéticas de um integrado para outro, onde ficam os afectos?
A um óleo, pastel, miniatura esmaltada ou papel fotográfico, é possível atribuir valores afectivos simbólicos. Esta folha de papel representa aquela pessoa.
São únicos: a pessoa e o seu significante!
A matéria de suporte da imagem assume e fica impregnada de carinhos e dedadas. As tonalidades, os tamanhos e as texturas tornam-se tão íntimas quanto o corpo da pessoa amada.
E quando o suporte não existe de facto?
Quando a sua existência depende de um click e a energia se transforma noutra coisa qualquer?
Quando é repetível até ao infinito, sem que se perca um só detalhe ou electrão?
Serão os afectos também repetíveis?
Ou deletáveis?
É possível fazer copy/past de um sentimento? De um amor ou de um ódio? De um carinho ou afago?
Nesta sociedade de informação onde a imagem é rainha, não será que a sua super-abundância e facilidade de processamento e repetição um extinguir da sua importância?
Pentax K1 mkII, SMC Pentax-M macro 50 1:4
By me
segunda-feira, 25 de agosto de 2025
Prove lá isso!
Entrega-se a quem comprovar ser o legítimo
proprietário.
A menos que seja perneta, claro.
Pentax K7, Super Takumar 135 1:2,5
domingo, 24 de agosto de 2025
Luz
Antes de exalarem a luz na noite, os candeeiros inalam da
luz do sol o que podem. Mesmo que sejam as últimas pinguinhas.
E vá-se lá saber porquê, hoje tem-me dado para fotografias
verticais. Se assim continuo ainda acabo por as fazer quadradas.
Já triangulares era algo de que gostava, mas a minha câmara
é demasiado convencional.
Pentax K7, Super Takumar 135 1:2,5
By me
Luz
Saí para ir tomar café e comprar pão. Actos banais que, aqui
no bairro, acontecem no mesmo balcão.
Igualmente rotineiro o ter uma câmara no ombro. Sair de casa
sem levar comigo uma câmara é-me quase tão mau quanto o sair de casa sem levar
um colete. Ou ir sem calças. Manias.
Claro que se as calças evitam olhares e observações menos
simpáticas, agressivas mesmo, já o colete sempre tem vários bolsos, grandes
porque assim os escolho. Tabaco, chaves, caneta e bloco de apontamentos... e, em
caso de urgência, o guardar uma objectiva numa troca.
Já a câmara é mesmo o vício. Nunca sei o que vou encontrar que
me prenda o olhar e o pensamento.
Hoje, a minha Pentax K7 veio com uma Takumar 35mm. Uma objectiva
com montagem de rosca (para quem não sabe destas coisas) e que remonta aos
inícios dos anos ’70. Se há quem fique a olhar para o guarda-fato a pensar no
que vestir no dia, eu fico a olhar para a vitrine a pensar na objectiva com que
saio. Nestes últimos dias tem sido esta.
Já à porta de casa o meu olhar ficou-se nisto. É o que sobra
da poda que um vizinho tomou em mãos aqui à porta de casa e a luz, assim mais
destapada, prendeu-me o olhar.
O fundo não me agradava. A objectiva era demasiado curta
para o que queria. A distância mínima de foco era demasiado longa. Nem sequer
tinha um pára-sol. Mas a luz, essa, estava no ponto. E não me apeteceu subir
para ir trocar de objectiva.
Gosto de desafios e este era, sem dúvida, um. Acabou por me
sair isto, vertical como último recurso. Acho que pelo menos a manhã não foi
estéril.
Pentax K7,
Super-Multi-Coated Takumar 35 1:3,5
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sexta-feira, 22 de agosto de 2025
Calor na linha
Estava calor e eu aguardava a chegada da composição que me
levaria a casa.
Mas ainda antes de embarcar já eu estava a viajar para longe
no espaço e no tempo. Levado por aquele aroma ténue mas inconfundível.
Para uma estação ferroviária algures no Algarve, nos finais
da adolescência.
O calor intenso desse tempo e local faziam subir no ar uma
mistura aromática de ferro, óleo, combustível, ervas, madeira, um pouco de
maresia e mais qualquer outra coisa que nunca identifiquei.
E eu, sentado no chão e encostado à mochila como tantos
outros ali e então, mais não tinha que fazer que esperar ser levado à cidade
seguinte, à praia seguinte, ao apeadeiro seguinte, sem pressas que os horários
da automotoras se cumpriam ou não e o futuro seria quando fosse.
Nos dias de hoje as chulipas são de cimento, os comboios são
elétricos e já não tenho pernas para me sentar no chão.
Mas de quando em vez, quando o calor aperta e aqueles 20
minutos de espera parecem eternos no bulício suburbano, lá sinto aquele subtil aroma
de antanho, ao qual só falta o toque de maresia.
E se não posso recuar meio século, posso pelo menos fazer uma
representação iconográfica, mesmo que sem cheiro.
Pentax K100D, Sigma 70-300
By me
quarta-feira, 20 de agosto de 2025
Lisboas
Uma fotografia por dia nem sabe o bem que lhe fazia.
Entre o moderno e o antigo
Pentax K7, Super Takumar 85 1:1,9
By me
Dia Mundial de
terça-feira, 19 de agosto de 2025
Espreitando
Os edifícios cosmopolitas, são interessantes.
Não me refiro a quem os frequenta e aos seus comportamentos
mas ao que neles vemos e ao que dele vemos.
Uma das coisas que gosto de procurar são as janelas ou
aberturas que possam existir nos sanitários ou mesmo cozinhas. Que, em regra,
estão viradas paras as traseiras dos prédios. E, do outro lado do pátio, viela
ou beco, o mesmo acontece.
É assim normal de uma cozinha ver-se o que acontece na
cozinha do vizinho. Já nos sanitários há um maior pudor, com uma cortinita ou
persiana a limitar as vistas.
E quanto maior e mais antigo for o edifício mais
interessante se torna. Por vezes o ponto ideal de observação é uma água
furtada, se existir e se a ela tivermos acesso, o que não é comum em locais de
acesso público.
No caso presente, trata-se do que se vê de uma janela de um
restaurante numa zona velha e nobre de Lisboa.
Não me podia aproximar mais da vidraça, pelo que isto era o
que estava no campo de vista. Um pouco mais ao lado a cozinha tinha uma janela
apetitosa, mas a azáfama era demasiada para que um pedido fosse bem recebido.
Acabei por me ficar com isto, mas com a promessa aos meus
botões de ali voltar numa hora e época do ano com menos movimento e, quem sabe,
com as telhas molhadas.
Pentax K7, Super Takumar 85 1:1,9
By me
segunda-feira, 18 de agosto de 2025
O dedo
Aqueles que têm aquela atitude de "Eu contra o mundo!" esquecem-se que eles mesmos são o mundo.
E que quando estão a lutar contra o mundo estão a lutar contra si mesmos.
By me
sábado, 16 de agosto de 2025
Quem diria
Precisei de trocar as pilhas (ou baterias) de uma câmara.
Fui a uma lojinha, comprei o que queria e fui para uma
esplanada por perto para fazer a troca.
Meti a mão no bolso em busca de uma moeda para abrir o
respectivo compartimento e só tinha moedas grandes. Daquelas pequenas, que por
vezes abundam nos bolsos, nem uma. E são essas, as mais pequenas, que cabem na
ranhura da tampa que dá acesso às pilhas.
Larguei um pequeno impropério contra a minha má sorte e
tratei de ir em busca da minha solução clássica: o canivete suiço.
Mas antes de tirar a mão do bolso, dou com isto: um prosaico
corta unhas, tamanho grande. Nem sei porque estava no bolso, que costuma estar
numa bolsa da mochila, mas estava ali e fiquei a olhar para ele.
Tirei-lhe as medidas a olho e zás: era o tamanho certo. A parte
da alavanca, aquela que abrimos, tinha o tamanho exacto para a fenda em questão
e com vantagem sobre o canivete, já que arredondado que é não corre o risco de
riscar a tampa metálica.
Quem se lembraria de encontrar ligação entre um corta unhas
e a prática fotográfica?
Pentax K1
mkII, SMC Pentax-M macro 50 1:4
By me
quinta-feira, 14 de agosto de 2025
50mm
Tenho uma estima especial por esta objectiva.
Se sobre todas as que por aqui existem se pode contar a sua
história, total ou parcial, consoante a sua origem, desta sei quase tudo o que
pode haver para saber.
Ela acompanhou a primeira SLR (Pentax MX) que tive.
Comprada nova em 1979 em Londres, tem muitos Km feitos
pendurada no meu ombro. Tenho pena que estas câmaras não registem as quantidade
de fotografias feitas, como as digitais, para que eu tenha uma ideia de quantas
esta objectiva já terá feito.
De igual forma, perdi a conta de quantas mãos já nela
focaram ou quantos olhos através dela já enquadraram, entre amigos e alunos.
Nas aquisições que tenho feito, duas há que são iguais. Mas uma
está em perfeitas condições estéticas, quase que saída da loja. Tenho tido
dúvidas sobre qual usar agora: se esta, que bem mostra o seu uso e o meu
orgulho nela, se a outra porque mais “bonita” mas menos usada. Mas tenho sempre
decidido manter esta em uso que, tal como eu, exibe a sua idade.
Pentax K1
mkII, SMC Pentax-M macro 50 1:4
By me
terça-feira, 12 de agosto de 2025
segunda-feira, 11 de agosto de 2025
O corredor
domingo, 10 de agosto de 2025
O tesoiro
sexta-feira, 1 de agosto de 2025
A primeira
Esta foi a primeira DSLR Pentax que tive. E, ao que sei, foi
o primeiro modelo deste género a ser vendido em Portugal, apesar de a marca ter
modelos anteriores.
Teve esta câmara alguns episódios insólitos, começando por o
vendedor da loja onde mais tarde a comprei ter-me chamado de “estúpido”. Ele até
poderia ter razão na nossa divergência de opiniões e terminologias (e não
tinha), mas não é forma de tratar um potencial cliente.
Não lhe respondi no momento, mas tratei de falar com o
gerente da loja, contando-lhe o sucedido. E afiancei-lhe que, em voltando ali
eu e o encontrando, não faria ali negócio, nem que tivesse que ir a Espanha. Nunca
mais o vi.
Depois disto teve alguns problemas, alguns resolvidos outros
ainda não, que mais tarde adquiri outro modelo melhor e mais fiável a vários
níveis. E mais alguns depois disso.
Apesar de não estar 100% funcional não a substituirei, que
lhe ganhei estima. Afinal, nada como o primeiro afecto. Ou câmara.
Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4
By me


















