Qualquer um pode ensinar
como fotografar, mas ninguém pode ensinar como sentir a fotografia, e é disto
que são feitos os grandes fotógrafos.
Qualquer um pode ensinar
como fotografar, mas ninguém pode ensinar como sentir a fotografia, e é disto
que são feitos os grandes fotógrafos.
Em Lisboa e arredores
acontecem aos Sábados e Domingos diversas feirinhas de rua.
Nelas podemos encontrar de
tudo um pouco, desde antiguidades a velharias, passando pelas falsificações. Quem
precisar de completar uma baixela porque se partiu um prato ou um copo, ou um
faqueiro, ou candeeiro, ou uma peça de roupa, ou... têm de quase tudo, por
vezes a preço da chuva, outras a preço de um ou dois rins.
Costumo frequentá-las, com
os olhos abertos para artigos relacionados com fotografia: peças soltas, peças
raras, livros... tenho encontrado alguns “tesoiros”.
Ao Sábado ou ao Domingo, em
acordando, consulto a minha intuição e a minha bolsa. Se ambas estão de acordo,
vou até à que esteja em funcionamento nesse dia. As mais das vezes acerto. Foi o
caso de hoje.
Nada havia de peças: ou não
me interessavam ou estavam em mau estado. Assim, dei mais duas voltas, desta
vez com o meu “radar” mais alargado. E regressei com isto.
Uma fotografia de estúdio
de uma senhora. E tem diversas peculiaridades, esta fotografia.
Desde logo a data, escrita
na contracapa, a lápis e a caneta: 1/8/924. Feitas as contas, este objecto
fotográfico tem cem anos. Em seguida a forma como está apresentada: recortada
em oval e colocada em cartolina timbrada com o nome do fotógrafo, está
protegida com papel próprio, daquele que eu usei nos meus tempos de escola ao
aprender a fazer um album de fotografias. Por fim, todo o conjunto está
colocado numa capa semi-rígida, protecção final contra vincos e envelhecimento
devido à luz do sol.
Da fotografada nada sei. Não
há nenhuma pista sobre quem será, mas é garantido que será alguém de um classe média
ou superior. Se, por um lado, a gola do vestido está trabalhada de um modo a que
dificilmente as classes trabalhadoras teria acesso, por outro o próprio facto
de se ter feito fotografar denota posses, já não seria barato fazer um
fotografia no estúdio de um fotógrafo.
Não tenho certezas do como
esta fotografia foi para numa caixa com dezenas de outras numa feira de rua. Talvez
fosse no recheio de uma casa de família que se quis ver livre de muita tralha. Mas
sei que não foi no espólio do fotógrafo.
Sei, porque procurei na
internete, que a casa comercial, situada na Rua da Junqueira, abriu portas em
1908 e fechou em 1986. O seus arquivo é composto de 100600 documentos
fotográficos, de todos os formatos e suportes e foi adquirido em 1978,
encontrando-se dividido entre os arquivos da Torre do Tombo e o Centro Português
de Fotografia.
Infelizmente todo este
acervo não está disponível ao público porque ainda não classificado. Seria interessante
procurar também os descendentes desta senhora e fazer-lhes presente desta
fotografia.
Em alternativa, fica no meu
próprio arquivo.
Não faço ideia de qual a
câmara ou os processos fotográficos para criar esta fotografia. Mas a imagem
que aqui vêdes foi feita com uma Pentax K1 mkII e uma Pentax-M 50mm 1:4.
By me
A fotografia pode ser doce e suave ou amarga e forte
ou aquilo que quisermos, dependendo principalmente da forma como a fazemos e a
vemos.
Abaixo vos deixo um pedaço, por sinal o fim, de uma
obra de Vilém Flusser: “Ensaio sobre a fotografia”.
Recomendo-a vivamente a todos os que se debruçam sobre
fotografia, sobre a produção de imagem e, principalmente, sobre a vida.
Deixo, no entanto, o sério aviso de que não sou
responsável p’los vossos actos depois de a lerem.
"…/…
A tarefa da filosofia da fotografia é dirigir a
questão da liberdade aos fotógrafos, a fim de captar a sua resposta. Consultar
a sua praxis. Eis o que tentaram fazer os capítulos anteriores. Várias
respostas apareceram:
1. o aparelho é infra-humanamente estúpido e pode ser
enganado;
2. os programas dos aparelhos permitem introdução de
elementos humanos não previstos;
3. as informações produzidas e distribuídas pelos
aparelhos podem ser desviadas da intenção dos aparelhos e submetidas a
intenções humanas;
4. os aparelhos são desprezíveis.
Estas respostas, e outras possíveis, são redutíveis a
uma: a liberdade é jogar contra o aparelho. E isto é possível.
No entanto, esta resposta não é dada pelos fotógrafos
espontaneamente. Só aparece como escrutínio filosófico da sua praxis. Os fotógrafos,
quando não provocados, dão respostas diferentes. Quem lê textos escritos por
fotógrafos, verifica crerem eles que fazem outra coisa. Crêem fazer,
"obras de arte", ou que se comprometem politicamente ou que
contribuem para o aumento do conhecimento. E quem lê uma história da fotografia
(escrita por um fotógrafo ou por um crítico), verifica que os fotógrafos crêem
dispor de um novo instrumento para continuar a agir historicamente. Crêem que,
ao lado da história da arte, da ciência e da política, há mais uma história: a
da fotografia. Os fotógrafos são inconscientes da sua praxis. A revolução
pós-industrial, tal como se manifesta, pela primeira vez no aparelho
fotográfico, passou despercebida aos fotógrafos e à maioria dos críticos da
fotografia. Eles nadam na pós-indústria, inconscientemente. Há, porém, uma
excepção: os chamados fotógrafos experimentais; estes sabem do que se trata.
Sabem que os problemas a resolver são os da imagem, do aparelho, do programa e
da informação. Tentam, conscientemente, obrigar o aparelho a produzir uma
imagem informativa que não está no seu programa. Eles sabem que a sua praxis é
uma estratégia dirigida contra o aparelho. Mesmo sabendo, não se dão conta do
alcance da sua praxis. Não sabem que estão a tentar dar resposta, através da
sua praxis, ao problema da liberdade num contexto dominado por aparelhos,
problema que é, precisamente tentar opor-se.
Urge uma filosofia da fotografia para que a praxis
fotográfica seja consciencializada. A consciencialização dessa praxis é necessária
porque sem ela, jamais captaremos as aberturas para a liberdade na vida do
funcionário dos aparelhos. Noutros termos: a filosofia da fotografia é
necessária porque é uma reflexão sobre as possibilidades de se viver livremente
num mundo programado por aparelhos. Uma reflexão sobre o significado que o
homem pode dar à vida, onde tudo é um acaso estúpido, rumo à morte absurda.
Assim vejo a tarefa da filosofia da fotografia: apontar o caminho da liberdade.
Filosofia urgente por ser ela, talvez, a única revolução ainda possível."
By me
Quando vou a uma palestra,
a um encontro, a um debate, a uma exposição... vou sempre para aprender algo
mais, muito ou pouco, pouco importa.
Quero sempre alargar os
meus horizontes e os saberes, experiências e práticas dos outros são um
manancial.
Mas há um campo que falha
sempre, sobre o qual regresso como entrei, ou quase: o que é que acontece em
termos de fotografia nas américas latinas, nas áfricas de norte a sul, nos
orientes médios ou extremos, para lá da antiga cortina de ferro.
É como se a fotografia
nunca tivesse sido ali praticada, reservando-se as referências ao chamado “mundo
ocidental”, europeu e norte americano. E no entanto...
No entanto a importância da
fotografia que não no mundo ocidental é tão importante que o Brasil tem um dia
para celebrar esta forma de expressão e registo, assinalando a chegada do
primeiro fotógrafo ao país.
No entanto o
desenvolvimento da fotografia na Rússia, tanto na estética como na técnica, foi
de tal forma que tinham as suas próprias unidades de medição de luz.
No entanto, se olharmos
para a fotografia Chinesa, feita por chineses para consumo interno, constata-se
que a organização dos elementos que a constituem é diferente da chamada ocidental.
No entanto, se compararmos
a utilização de cor, não apenas em paisagem mas também em estúdio, veremos
enormes variações nos tons e saturações consoante a latitude e o respectivo
clima.
No entanto, e porque as
regras e organizações sociais variam com as culturas e tradições, as abordagens
aos assuntos variam na forma e no conteúdo.
Neste nosso egocentrismo
ocidental esquecemos, ou fazemos por esquecer, que há outros umbigos que não
apenas o nosso, quantas vezes mais interessantes ou belos.
Pentax K7, Pentax 18-55
by me