terça-feira, 31 de dezembro de 2024

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Qualquer um pode ensinar como fotografar, mas ninguém pode ensinar como sentir a fotografia, e é disto que são feitos os grandes fotógrafos.

domingo, 29 de dezembro de 2024

Velharias, melhor, antiguidades




Em Lisboa e arredores acontecem aos Sábados e Domingos diversas feirinhas de rua.

Nelas podemos encontrar de tudo um pouco, desde antiguidades a velharias, passando pelas falsificações. Quem precisar de completar uma baixela porque se partiu um prato ou um copo, ou um faqueiro, ou candeeiro, ou uma peça de roupa, ou... têm de quase tudo, por vezes a preço da chuva, outras a preço de um ou dois rins.

Costumo frequentá-las, com os olhos abertos para artigos relacionados com fotografia: peças soltas, peças raras, livros... tenho encontrado alguns “tesoiros”.

Ao Sábado ou ao Domingo, em acordando, consulto a minha intuição e a minha bolsa. Se ambas estão de acordo, vou até à que esteja em funcionamento nesse dia. As mais das vezes acerto. Foi o caso de hoje.

Nada havia de peças: ou não me interessavam ou estavam em mau estado. Assim, dei mais duas voltas, desta vez com o meu “radar” mais alargado. E regressei com isto.

Uma fotografia de estúdio de uma senhora. E tem diversas peculiaridades, esta fotografia.

Desde logo a data, escrita na contracapa, a lápis e a caneta: 1/8/924. Feitas as contas, este objecto fotográfico tem cem anos. Em seguida a forma como está apresentada: recortada em oval e colocada em cartolina timbrada com o nome do fotógrafo, está protegida com papel próprio, daquele que eu usei nos meus tempos de escola ao aprender a fazer um album de fotografias. Por fim, todo o conjunto está colocado numa capa semi-rígida, protecção final contra vincos e envelhecimento devido à luz do sol.

Da fotografada nada sei. Não há nenhuma pista sobre quem será, mas é garantido que será alguém de um classe média ou superior. Se, por um lado, a gola do vestido está trabalhada de um modo a que dificilmente as classes trabalhadoras teria acesso, por outro o próprio facto de se ter feito fotografar denota posses, já não seria barato fazer um fotografia no estúdio de um fotógrafo.

Não tenho certezas do como esta fotografia foi para numa caixa com dezenas de outras numa feira de rua. Talvez fosse no recheio de uma casa de família que se quis ver livre de muita tralha. Mas sei que não foi no espólio do fotógrafo.

Sei, porque procurei na internete, que a casa comercial, situada na Rua da Junqueira, abriu portas em 1908 e fechou em 1986. O seus arquivo é composto de 100600 documentos fotográficos, de todos os formatos e suportes e foi adquirido em 1978, encontrando-se dividido entre os arquivos da Torre do Tombo e o Centro Português de Fotografia.

Infelizmente todo este acervo não está disponível ao público porque ainda não classificado. Seria interessante procurar também os descendentes desta senhora e fazer-lhes presente desta fotografia.

Em alternativa, fica no meu próprio arquivo.

 

Não faço ideia de qual a câmara ou os processos fotográficos para criar esta fotografia. Mas a imagem que aqui vêdes foi feita com uma Pentax K1 mkII e uma Pentax-M 50mm 1:4.


By me

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Formas de estar




É incrível a quantidade de pessoas que são anti. Anti-Qualquer-Coisa.
Anti-fascista, anti-racista, anti-capitalista, anti-comunista, anti-sistema, anti-euro, anti-violência,… anti!
O que é curioso – ou triste – é que ser anti-qualquer-coisa, por muito nobre que seja a causa, é viver num estado de luta ou confronto permanente. É estar sempre a querer acabar com aquilo de que se é anti. Seja lá o que for!
E ao estar-se em luta permanente na prática está-se em luta consigo mesmo. Porque o resultado de se estar sempre num estado de anti é não se estar pró na vida. Que quem luta sempre na vida acaba por não a viver, por não se aperceber de tudo ou grande parte daquilo que é positivo.
Tenho uma atitude diferente: sou pró! Sou pró-felicidade, sou pró-liberdade, sou pró-responsabilidade, sou pró-bem-estar, sou pró-criatividade. Sou pró!
Claro que tenham cuidado os que impeçam o atingir aquilo pelo qual sou pró! Estão tramados! Que sou anti todos eles, com tudo o que isso implique!

Dirão que é uma questão de semântica. Pois talvez o seja.

Mas entre estar em luta para ser feliz ou ser feliz estando em luta, prefiro o primeiro.

By me

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

sábado, 7 de dezembro de 2024

Doce ou amargo




A fotografia pode ser doce e suave ou amarga e forte ou aquilo que quisermos, dependendo principalmente da forma como a fazemos e a vemos.

Abaixo vos deixo um pedaço, por sinal o fim, de uma obra de Vilém Flusser: “Ensaio sobre a fotografia”.

Recomendo-a vivamente a todos os que se debruçam sobre fotografia, sobre a produção de imagem e, principalmente, sobre a vida.

Deixo, no entanto, o sério aviso de que não sou responsável p’los vossos actos depois de a lerem.

 

"…/…

A tarefa da filosofia da fotografia é dirigir a questão da liberdade aos fotógrafos, a fim de captar a sua resposta. Consultar a sua praxis. Eis o que tentaram fazer os capítulos anteriores. Várias respostas apareceram:

1. o aparelho é infra-humanamente estúpido e pode ser enganado;

2. os programas dos aparelhos permitem introdução de elementos humanos não previstos;

3. as informações produzidas e distribuídas pelos aparelhos podem ser desviadas da intenção dos aparelhos e submetidas a intenções humanas;

4. os aparelhos são desprezíveis.

Estas respostas, e outras possíveis, são redutíveis a uma: a liberdade é jogar contra o aparelho. E isto é possível.

No entanto, esta resposta não é dada pelos fotógrafos espontaneamente. Só aparece como escrutínio filosófico da sua praxis. Os fotógrafos, quando não provocados, dão respostas diferentes. Quem lê textos escritos por fotógrafos, verifica crerem eles que fazem outra coisa. Crêem fazer, "obras de arte", ou que se comprometem politicamente ou que contribuem para o aumento do conhecimento. E quem lê uma história da fotografia (escrita por um fotógrafo ou por um crítico), verifica que os fotógrafos crêem dispor de um novo instrumento para continuar a agir historicamente. Crêem que, ao lado da história da arte, da ciência e da política, há mais uma história: a da fotografia. Os fotógrafos são inconscientes da sua praxis. A revolução pós-industrial, tal como se manifesta, pela primeira vez no aparelho fotográfico, passou despercebida aos fotógrafos e à maioria dos críticos da fotografia. Eles nadam na pós-indústria, inconscientemente. Há, porém, uma excepção: os chamados fotógrafos experimentais; estes sabem do que se trata. Sabem que os problemas a resolver são os da imagem, do aparelho, do programa e da informação. Tentam, conscientemente, obrigar o aparelho a produzir uma imagem informativa que não está no seu programa. Eles sabem que a sua praxis é uma estratégia dirigida contra o aparelho. Mesmo sabendo, não se dão conta do alcance da sua praxis. Não sabem que estão a tentar dar resposta, através da sua praxis, ao problema da liberdade num contexto dominado por aparelhos, problema que é, precisamente tentar opor-se.

Urge uma filosofia da fotografia para que a praxis fotográfica seja consciencializada. A consciencialização dessa praxis é necessária porque sem ela, jamais captaremos as aberturas para a liberdade na vida do funcionário dos aparelhos. Noutros termos: a filosofia da fotografia é necessária porque é uma reflexão sobre as possibilidades de se viver livremente num mundo programado por aparelhos. Uma reflexão sobre o significado que o homem pode dar à vida, onde tudo é um acaso estúpido, rumo à morte absurda. Assim vejo a tarefa da filosofia da fotografia: apontar o caminho da liberdade. Filosofia urgente por ser ela, talvez, a única revolução ainda possível."


By me

 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Umbigos




Quando vou a uma palestra, a um encontro, a um debate, a uma exposição... vou sempre para aprender algo mais, muito ou pouco, pouco importa.

Quero sempre alargar os meus horizontes e os saberes, experiências e práticas dos outros são um manancial.

Mas há um campo que falha sempre, sobre o qual regresso como entrei, ou quase: o que é que acontece em termos de fotografia nas américas latinas, nas áfricas de norte a sul, nos orientes médios ou extremos, para lá da antiga cortina de ferro.

É como se a fotografia nunca tivesse sido ali praticada, reservando-se as referências ao chamado “mundo ocidental”, europeu e norte americano. E no entanto...

No entanto a importância da fotografia que não no mundo ocidental é tão importante que o Brasil tem um dia para celebrar esta forma de expressão e registo, assinalando a chegada do primeiro fotógrafo ao país.

No entanto o desenvolvimento da fotografia na Rússia, tanto na estética como na técnica, foi de tal forma que tinham as suas próprias unidades de medição de luz.

No entanto, se olharmos para a fotografia Chinesa, feita por chineses para consumo interno, constata-se que a organização dos elementos que a constituem é diferente da chamada ocidental.

No entanto, se compararmos a utilização de cor, não apenas em paisagem mas também em estúdio, veremos enormes variações nos tons e saturações consoante a latitude e o respectivo clima.

No entanto, e porque as regras e organizações sociais variam com as culturas e tradições, as abordagens aos assuntos variam na forma e no conteúdo.

Neste nosso egocentrismo ocidental esquecemos, ou fazemos por esquecer, que há outros umbigos que não apenas o nosso, quantas vezes mais interessantes ou belos.

 

Pentax K7, Pentax 18-55


by me

domingo, 1 de dezembro de 2024

O tijolo




O velho tijolo transportava-se em cima do ombro, usava uma catrefa de pilhas e tinha potência suficiente para chatear o bichinho do ouvido de qualquer um num raio de 20 metros, bem medidos.
O tijolo contemporâneo transporta-se pendurado do ombro ou na curva do braço, usa duas pilhas AAA, recarregáveis e ainda permite levar o “nécessair”, o telemóvel, o tabaco, as chaves e o resto da cangalhada. E a dois ou três metros, já ninguém dá por ele.
E, já me esquecia: este é analfabeto, não lê cassetes.

By me