Para além de
insultos, proverbiais na língua portuguesa, de cartazes e frases humorísticas,
também tradicionais por cá, notas de despedimento político e sinceros votos de “boa-viagem”
ou semelhante, o que mais ouvi nestas últimas manifestações foi o desejo verbalizado
de um novo “25 de Abril”.
Caramba! Raios! Não!
Quem assim se
pronuncia ou tem a memória curta e já esqueceu o que havia antes de ’74 ou
nunca o viveu, e ainda bem.
Esquecem-se, ou não
sabem, que antes da revolução não o poderiam afirmar em público, mesmo que no
café da rua! Muito menos numa manifestação!
Esquecem-se, ou não
sabem, que antes da revolução havia que saber ler nas entrelinhas dos jornais
para saber, com rigor, o que se passava. Ou ouvir as rádios clandestinas, nacionais
ou não.
Esquecem-se, ou
não sabem, que antes de Abril corria uma guerra e que quem não tivesse lá em África
um familiar, iria ter em breve. Sem saber por quanto tempo.
Esquecem-se, ou não
sabem, que o regime do Estado Novo tinha eleições-fantoche, com os resultados
sabidos de antemão. E ai de quem se atrevesse a contestá-los.
Entendo os gritos
por um novo 25 de Abril. O desejo real e honesto de mudança.
Mas, por favor:
façamos um 17 de Agosto, um 28 de Outubro ou qualquer outra data que nos
convenha.
Mas saibam que
nessa data o farão em liberdade, sem polícia política, sem censura e sem
guerra. Sem Tarrafal. Sem batidas na noite na porta. Sem ditadura.
Com um Parlamento
eleito livremente pelos portugueses, com um Presidente eleito livremente pelos
Portugueses. Com Autarquias eleitas livremente pelos Portugueses.
Aquilo que os
Portugueses querem ao clamar por um novo 25 de Abril é, mesmo que o não saibam,
que eles mesmos têm que tomar as rédeas do seu futuro, fazendo as escolhas
certas em função do que realmente querem para ele e sem se deixarem levar por
conservadorismos de bons discursos, promessas nunca cumpridas e gravatas bem
atadas.
Aquilo que hoje
contestamos – nas redes sociais, nos artigos de opinião e, principalmente, nas
ruas – são as decisões erradas tomadas nos sucessivos actos eleitorais dos últimos
anos. Vários anos! Por todos nós, os que votámos e os que se abstiveram!
Porque, e nunca os
esqueçamos: desde a revolução que o cargo de presidente da República e os
lugares do Parlamento foram ocupados por decisão soberana do povo, através de
eleições livres e transparentes. Através do real exercício da Democracia
Representativa.
Em querendo
mudanças, mudem o voto!
By me