quinta-feira, 31 de maio de 2012

Dúvida




Supostamente, um gato preto dá azar.
Mas… e se ele nos piscar o olho?  

By me

Escribas e factos




Há uns anos um líder do Hamas (Palestina) morreu na sequência de um disparo de mísseis a partir de helicópteros Israelitas.
A esse respeito e sobre a forma como morreu ouvi alguém, com grande poder editorial num órgão de comunicação social, corrigir um subalterno:
“Assassinado não! Abatido!”
Agora leio um título num jornal diário português: No Name boys escapam à prisão.”
São os verbos e os tempos, os adjectivos e os substantivos, vozes e advérbios que fazem a diferença.
O facto de serem quase sinónimos, mas apenas quase, transforma a informação de um facto na opinião sobre um facto. E, com isto, várias coisas acontecem, raisparta!
A – Molda-se a opinião do público (leitor, ouvinte, telespectador) atribuindo cargas positivas ou negativas aos factos mas sem o dizer claramente.
B – Quebra-se o código deontológico dos jornalistas.
E o cidadão comum, preocupado que está na sobrevivência diária, engole as opiniões como se de factos se tratassem. Como o rato engole o isco.
Incomoda-me que as secretas possam fazer relatórios sobre jornalistas. É errado que as suas vidas (ou as de quaisquer outros) possam ser devassadas com fitos pouco claros e nem sempre honrados.
Mas muitos escribas da informação bem que mereciam ser erradicados do ofício, passando a reportar não mais que o crescer da relva nos jardins ou a taxa de reprodução dos coelhos nas agropecuárias.
Que impor dissimuladamente opiniões ou pensamentos é tão mau quanto proibir os mesmos. Ou pior!

By me 

E quando o sol chegou




E quando o sol chegou
devagarinho como é seu hábito,
disse-lhe eu cá de cima:
“Não empurres, que eu já cá ‘tava.”

By me 

Há sete anos




Há sete anos publicava eu isto.
Sinto-me envergonhado por não ter tido coragem de o fazer mais vezes, de então para cá!


Não! Hoje disse NÃO!

Não vou falar do padre que prefere que se matem crianças de cinco anos a que se pratiquem abortos!
Não vou falar dos políticos suspeitos de tráficos de influências e de destruição do património natural e que – suspeitamos – ficarão na mesma!
Não vou falar daqueles que se humilham e sacrificam em prol de uma fé que, e com isso, enriquecem estados e pessoas!
Não vou falar de fanáticos que se explodem em favor de uma causa que não entendem bem, apenas para matar mais uns quantos inocentes!
Não!
Hoje não vou falar disso, nem com a boca nem com a objectiva! Voluntária e conscientemente, não farei com que isso seja o tema de conversa ao jantar, enquanto a pantalha inunda os lares com essas e outras informações sangrentas e inconsequentes!
Não!

Apeteceu-me não, disse não e fiz não! E fiquei um dia mais novo!
Saí de casa com esta vontade e, a quinhentos metros do trabalho decidi não. Telefonei para lá e usei de algumas prerrogativas que a senioridade e o respeito profissional conferem: baldei-me!
Mesmo à porta do trabalho decidi: Hoje não quero trabalhar!
E segui em frente. Quase sempre em frente. Para onde o nariz apontava. Um pé à frente do outro, sem pressas nem vagares. Andando apenas.
Com aquela tranquilidade que diz: Hoje o tempo é meu! Não mo deram nem cederam: conquistei-o. Não tenho nada para fazer porque quero e isso torna-me imensamente mais rico e de bem comigo e com o mundo!

As casas, as fábricas, as ruas, as relvas, os passeios, os números das portas sucederam-se como se a marcha se tivesse invertido: eu parado e tudo o resto em movimento. O chão por baixo, o céu por cima, sem peias nem norte.
Atravessei o santuário do consumismo como cão por vinha vindimada.
Por um qualquer motivo interior, as pessoas pareceram-me mais. Mais alegres e mais acabrunhadas. Quem sorria, sorria com mais prazer, quem rilhava os dentes, fazia-o mais alto.

Estou mais novo um dia porque o quero. Porque abri os olhos e vi quem e o que me rodeia. Não porque tivesse tempo livre mas porque libertei o tempo. Os ponteiros saltaram, os mostradores ficaram em branco e os números alinharam-se pelo rumo do meu nariz…

Parei antes de me afundar. O rio foi a minha fronteira, que os sapatos não gostam de água.
Entre a esquerda e a direita, ganhou o coração. E a relva chamou-me. Verde mas seca, tornou-se o colchão da minha liberdade, o fiel depositário dos meus ossos enquanto a mente vagava bem lá por cima.
As nuvens agregavam-se e separavam-se no azul, ao sabor de ventos e temperaturas.
Formavam padrões abstractos (ou sou eu que não os sei ler?). Lamentei não ter trazido, como de costume, a câmara de casa. Mas, depois, agradeci.
Não só não me preocupei com o rectângulo que exclui tudo o resto, como nunca conseguirei chegar aos pés do mestre para o imitar. O seu a seu dono!
Foi bem melhor deixar que as nuvens se moldassem ao meu espírito, ou o espírito às nuvens, ou ainda numa simbiose animal/mineral para benefício de ambos.
Há momentos em que o bom mesmo é nada fazer, ser apenas. Os sons, a luz, o tacto, os aromas, os paladares (agora uns Pint’s pretos). Ser apenas. Sem sal nem pimenta!

Não! Hoje não!
Hoje não contribuo para pensamentos negativos de quem me cerca! Hoje sou inocente por abstenção das perguntas complicadas das crianças intrigadas, não vou obrigar a mudar de canal, não vou pintar de podre a reunião familiar nem complicar as digestões.
Sou cúmplice – somos todos – mas hoje não quero!

Hoje decidi ser livre!
E desse lado? Quando foi a última vez que o foi? Em consciência!



Imagem: Equivalente, Alfred Stieglitz, 1926(?)  

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Em pânico




Diz o primeiro-ministro:
“Não há um Estado de direito nem democracia sem serviços de informação”

Está a na altura de entrar em pânico?


By me

Não em nome de uma bandeira




Muito se tem falado, nestes últimos dias, sobre o caso das secretas e dos relatórios que os serviços de informação produziram.
Mas, em tudo o que se tem discutido, o que tem estado em mais causa é o haver relatórios sobre jornalistas: o que se escreveu ou investigou sobre a vida privada e/ou pública sobre este jornalista de um jornal ou aquele outro director ou patrão de uma cadeia de media.
Sobre se esses mesmos serviços de informação produziram relatórios a propósito da vida privada e/ou pública de quaisquer outros cidadãos nacionais – eu mesmo ou você que está a ler estas linhas – nada se disse.
Por outras palavras: não está a ser posto em causa o ser ou não correcto haver serviços de informação a produzirem relatórios sobre pessoas mas tão só sobre algumas pessoas. Como se algumas pessoas fossem parte de uma elite sobre as quais se não pudesse investigar. Ou como se todos os cidadãos pudessem ser alvo de investigação, excepção feita aos profissionais de um dado ofício.
Pergunto-me:
A – Sabe se já foi alvo de investigação?
B – Permite ser investigado sobre a sua vida privada – hábitos, preferências, opiniões, família?
C – Considera-se menos importante que um jornalista?
D – Faz algo para proteger, efectivamente, a sua própria vida privada?

Pela parte que me toca, respondo Não, Não e Não a quase todas as perguntas, tal como um político fez no parlamento.
Mas um enorme Sim à última.
Nada tenho a esconder de vergonhoso da minha vida privada. Pelo menos não mais que o comum dos cidadãos.
Mas faço muita questão que ela continue privada. E nos aspectos que entendo por pertinentes, faço o possível por não deixar rasto, impedindo ou dificultando no que me é possível essas devassas.
Não será em nome de um país ou da segurança de uma bandeira que deixarei, impávido e sereno, que o Grande Irmão vasculhe a minha vida.
Mesmo não sendo eu jornalista.

By me

terça-feira, 29 de maio de 2012

Trocas fotográficas




Troco:
-Alguns conhecimentos de fotografia
Por:
-Duas fotografias impressas do próprio, dois auto-retratos. Destes, um como se fosse para oferecer a um chefe ou futuro empregador, outro como se fosse para exibir no seu circulo de amigos/as mais chegados.

Domingo, 3 de Junho, pelas 14.30h em Lisboa.
O tema abordado será na sequência de vários pedidos e de acordo com a época que se aproxima, e tomará a forma de um passeio numa zona da cidade. Prevê-se que acabe à luz de candeeiros.
Para mais detalhes, contacte-me por mensagem privada.

By me 

!!!!!!!!!




Não vos inquieteis! É a realidade que se engana.


Porque alguém me recordou de uma velha frase (obrigado Ruca)

By me

Carta aberta




Uma vez mais tive que publicar este texto num grupo.
Começo a ficar cansado de o fazer!


Há uns anos convidaram-me para pertencer a um partido político. Com um sorriso de condescendência, recusei, argumentando junto do amigo que me havia convidado.
Também há uns anos, um quarto de século talvez, convidaram-me para ser sócio dos bombeiros do meu bairro. Aceitei de imediato, com um muito obrigado a quem me havia convidado por pensar que eu poderia ser assim útil.
Da mesma forma, há uns anos perguntaram-me se quereria eu ser sócio de um clube de futebol. Olhei o meu interlocutor e perguntei-lhe se sabia quem eu era e se me conhecia. Pondo a ironia de parte, disse que não, muito obrigado.

Teria eu tido reacções bem distintas, muito distintas, se desse comigo inscrito como militante de um partido, sócio de bombeiros ou de um clube de futebol sem que primeiro mo houvessem perguntado. Para além de “partir a loiça”, perguntaria a quem me inscrevera se era de fato meu amigo ou se haveria alguma segunda intenção escondida, para assim me ofender.
Faço muita questão em ser membro activo na sociedade em que vivo, mas também faço muita questão de ser eu a escolher o como sou interventivo e onde intervenho, não deixando por mão alheias essas decisões. Menos ainda à revelia da minha vontade.
Foi o que aconteceu com este grupo! Sem que mo perguntassem previamente, decidiram que eu deveria ser membro e fizeram-no, quisesse-o eu ou não.
Não gostei e continuo a não gostar de cada vez que penso no assunto!
Assim sendo, peço à mesma pessoa que me colocou como membro que me faça o favor de me retirar de tal condição.
E se, mesmo assim e depois desta prosa, continuar a pensar que seria útil ao grupo e a mim uma relação de proximidade, fica essa mesma pessoa liberta para me enviar um convite.
Ponderarei no grupo, nos seus objectivos e no seu historial e então, só então, tomarei uma decisão.
Que se me bati por um estado democrático e contra um partido único, continuo e ser da mesma opinião e combates.

By me

segunda-feira, 28 de maio de 2012

São raios de luz, senhor, são raios de luz.



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Um dia...




Um dia mando às urtigas os meus princípios éticos e morais e dou uma valente carga de pancada em uma ou duas pessoas que tenho os desprazer de conhecer de perto.
Não servirá para coisa nenhuma, nem sequer para que eu durma tranquilo, mas, em esquecendo aquilo em que acredito, sorrirei enquanto o fizer.

By me 

domingo, 27 de maio de 2012

Somos isto!




Apenas duramos enquanto a cola nos mantiver agarrados a uma parede.
Ou enquanto alguém achar que vale a pena olhar para o que dizemos.
Depois…

By me 

'Tou-ta ver!



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Ah pois é!!



By me

sábado, 26 de maio de 2012

Foi um crepe de gelado e chocolate.



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Uma no cravo, outra na ferradura




Uma porta é uma porta!
Poderá haver quem diga que é uma abertura para se passar para o outro lado da parede, poderá haver quem diga que é o que impede que se passe para o outro lado da parede. Depende de se assumir uma atitude positiva ou negativa.
Em qualquer dos casos, uma porta é uma porta!
O que pode diferenciar notoriamente uma porta de outra porta é o que se encontra do seu outro lado. Ou o que já esteve do seu outro lado. Que também as portas, ao servirem de fronteira permissiva ou impeditiva, têm história. Como um copo de cerveja, uma pedra de calçada ou uma ferradura. E, neste caso, é de ferraduras que falo.
Ao que sei, e posso estar enganado, esta era a porta do último ferrador aberto ao público em Lisboa. Outros existem ainda, em picadeiros ou hipódromos, mas de porta aberta para que qualquer um pudesse ser atendido, este terá sido o último na cidade.
Foi substituído, naturalmente, por uma miríade de oficinas auto, com os seus pneus, motores, pintura e bate-chapa, electricidade…
Mas ver um casco ser afagado, uma ferradura ser moldada, os cravos pregados… isso não mais, nem aqui nem em outro local em Lisboa.
Restam as memórias de quem lembra, os relatos de quem sabe e tudo o que esta porta alta poderia contar se falasse.
Conseguem ouvir o martelo, uma no cravo, outra na ferradura?

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Pequenos detalhes




Já não são fáceis de encontrar.
Nem em lojas que os vendam nem em lojas que os ponham à nossa disposição.
Refiro-me a estes garfos que têm um dos seus dentes mais largos, supostamente para ajudarem no corte e transporte até à boca de um pedaço de bolo.
Quando acontece colocarem-me um deles à frente, fico com a certeza que há quem, naquela pastelaria ou restaurante, se preocupe com o conforto dos seus clientes e se dê ao trabalho de procurar garfos destes. E também sei que quem assim procede tem, não apenas bons produtos à venda como confeccionados com esmero.
E fico cliente.
Claro que posso ser enganado e ser tudo feito “com os pés” e mais não ser que uma manobra bem conseguida de marketing.
Mas, e até que me sinta defraudado, voltarei lá.

Nota extra: sei que são difíceis de encontrar à venda porque eu mesmo tive dificuldade em os comprar para minha própria casa. Não tenho estabelecimento de porta aberta, mas gosto de ter alguns pequenos confortos e partilhá-los com quem a minha mesa partilha.

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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Inovações sem cor




Não!
Não é um OVNI, nem um filtro d’ar, nem um novo formato de tecnologia avançada.
Bem mais prosaico, trata-se dos novos candeeiros da minha rua, os colocados mais baixo, perto das portas dos prédios.
No meio de tudo isto é só ter dado por eles agora, mesmo ao fim do dia e com ele apagado. Terei que esperar que escureça e que os acendam para perceber se foram trocados hoje mesmo ou se fui eu que não dei por alteração na luz cá da rua.
E se fui eu que não dei p’la coisa, “das duas três”: ou a luz ficou na mesma, não percebendo eu o motivo para a troca, ou ando eu mais desatento que o habitual, o que também motivo para pensar no caso.

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Importâncias




Ele há coisas que se sobrepõem às tecnologias.

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calendário




Acabo de olhar para o calendário e de constatar que hoje é sexta-feira.
Mais interessante ainda, é-o aqui, onde estou, e no resto do país.
Deverei avisar disso os membros do governo ou deixá-los ficar na ignorância?

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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ponto 42




Ainda não há muito tempo um amigo mostrou-me um link com cem dicas de um fotógrafo profissional.
Foi interessante de ler. A maioria conhecia, concordando com quase todas. Algumas desconhecia por completo e aprendi qualquer coisa ou, pelo menos, fiquei a pensar no assunto. Algumas discordo em absoluto.
Aquela que condeno veementemente recomenda: “Encontre o seu próprio estilo e mantenha-se nele”.
Talvez que seja uma boa sugestão para quem queira entrar no ofício, lutando com tanta concorrência. Ter um estilo próprio e aperfeiçoado é uma mais-valia no mercado. Mas é tão redutor!
Com o passar dos tempos, mais ou menos dependendo das pessoas, aquilo de que se gosta transforma-se em rotina e o prazer da criação transforma-se em obrigação, quiçá enfadonha.
Para quem queira vencer no mundo da fotografia pode ser um bom conselho. Para quem queira fazer da fotografia uma forma de expressão, tente tudo, por favor.
Procure o que não sabe fazer e aprenda. Procure usar as técnicas e estilos que encontra nos outros e decida depois se lhe convêm, se se sente satisfeito com aquela abordagem ou se prefere deixá-la de parte. Experimente! Tente e erre! Diga “não é isto que eu quero” só depois de o fazer! E, quando sentir que está a fazer qualquer coisa parecida com o que já fez e que não lhe está a dar a satisfação que espera, parta para outro caminho.
Que, se definir um estilo e se mantiver nele, em breve mais não será que um plagiador de si mesmo!
A menos que seja um génio, claro.

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Negro quase puro



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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Resistindo e sobrevivendo




O meu quotidiano está demasiado cheio de condições macro-económicas, conjunturas sócio-politicas e discursos idioto-absurdantes.
E se há ocasiões em que consigo sobreviver mantendo alguma coerência e sanidade mental, outras há em que os meus melhores esforços são insuficientes para servirem de anti-corpos às doses maciças com que sou agredido.
Nessas ocasiões, resta-me procurar refúgio assim que possível no micro-cosmos da natureza, mesmo que com uma câmarazita de bolso.
E, enquanto ali estamos os três (a flor, a câmara e eu mesmo) partilhamo-nos no prazer de existirmos e de nos respeitarmos, na individualidade que somos e no resultado do esforço conjunto.
Que enquanto elas se expõem como vêem fazendo de há eternidades, eu tento fazer o equivalente, respeitando-a e fazendo com que a sua integridade física e outras se mantenha inalterada. A câmara, essa, serve de ponte entre o que sou e o que a natureza é, oferecendo a resistência natural da sua complexidade, mas deixando-se levar com festa e agrados, sem que qualquer maldade ou ocultas intenções existam.
E em afastando-me, deixando que a natureza continue a crescer e a mostrar-nos o que de belo tem, levo no bolso e guardado sob a forma de zeros e uns o repositório da minha própria tranquilidade e um documento atestando em como, por muito que aqueloutros vão tentando, eu ainda consigo sobreviver-lhes.

By me 

terça-feira, 22 de maio de 2012

Praticando ao raiar do dia




Para os que não sabem, ou porque não lhes tocou de perto, ou porque não vão ouvindo as notícias, tem havido greves nos transportes colectivos. Metro de Lisboa e CP, pelo menos.
No caso dos caminhos de ferro, abrange só parte dos sindicatos da empresa, mas os suficientes para que a empresa avise de “fortes perturbações”, sem que haja serviços mínimos ou serviços alternativos.
Um dos que será afectado serei eu. Não nos inícios do dia de trabalho, mas no regresso. Para lá terei transporte assegurado pela empresa onde trabalho, em virtude ser a horas em que os públicos não circulam. Para ser mais exacto, terei transporte à porta pelas 5.20 da manhã, para Lisboa.
Hoje, pela tardinha, cruzei-me com duas vizinhas que protestavam com esta vaga de greves. Os argumentos do costume, que já tinham pago o passe, que a CP lhes deveria parar o dia de falta, que é uma pouca-vergonha… o costume.
Em conversa com estas duas senhoras, e mais dois outros vizinhos que entretanto se aproximaram, propus-lhes eu dar-lhes boleia para a cidade. Bem sei que muito, mas muito cedo, mas ficariam com metade do problema resolvido.
Nenhum aceitou. Nem mesmo com o argumento que sempre poderiam desfrutar de algo que não costumam ver: o nascer do sol que, por estes dias, tem sido assim como se vê.
O facto de ser assim tão cedo, mesmo que para resolver um problema grave como o faltar ao trabalho, foi o que me disseram para recusar, com sorrisos de orelha a orelha.
Por mim, farei o que costumo fazer nestes casos: em passando pela estação, direi ao motorista que pare e oferecerei boleia a quem por lá esteja, preocupado com o não poder seguir para o trabalho.
Ficam a perder os meus vizinhos, que perdem a boleia e o nascer do sol.
Mas ficam a ganhar, pois que espero que tenham aprendido que solidariedade não apenas o nome de um sindicato, lá na Europa do norte, nem conceito empoeirado e escondido numa gaveta perdida.
Quanto ao que ganho ou perco… ganho a satisfação de saber que faço o que entendo fazer, perco a oportunidade de fazer passar com mais intensidade a mensagem.
O regresso… bem logo se verá como será. Mas será com sol alto e, previsivelmente, quente.

By me

Uma mensagem




Este é o texto, na íntegra, que deixei num grupo do Faceboock.
Diga-se, em abono da verdade, que minutos depois, o meu pedido estava satisfeito.

Há uns anos convidaram-me para pertencer a um partido político. Com um sorriso de condescendência, recusei, argumentando junto do amigo que me havia convidado.
Também há uns anos, um quarto de século talvez, convidaram-me para ser sócio dos bombeiros do meu bairro. Aceitei de imediato, com um muito obrigado a quem me havia convidado por pensar que eu poderia ser assim útil.
Da mesma forma, há uns anos perguntaram-me se quereria eu ser sócio de um clube de futebol. Olhei o meu interlocutor e perguntei-lhe se sabia quem eu era e se me conhecia. Pondo a ironia de parte, disse que não, muito obrigado.

Teria eu tido reacções bem distintas, muito distintas, se desse comigo inscrito como militante de um partido, sócio de bombeiros ou de um clube de futebol sem que primeiro mo houvessem perguntado. Para além de “partir a loiça”, perguntaria a quem me inscrevera se era de fato meu amigo ou se haveria alguma segunda intenção escondida, para assim me ofender.
Faço muita questão em ser membro activo na sociedade em que vivo, mas também faço muita questão de ser eu a escolher o como sou interventivo e onde intervenho, não deixando por mão alheias essas decisões. Menos ainda à revelia da minha vontade.
Foi o que aconteceu com este grupo! Sem que mo perguntassem previamente, decidiram que eu deveria ser membro e fizeram-no, quisesse-o eu ou não.
Não gostei e continuo a não gostar de cada vez que penso no assunto!
Assim sendo, peço à mesma pessoa que me colocou como membro que me faça o favor de me retirar de tal condição.
E se, mesmo assim e depois desta prosa, continuar a pensar que seria útil ao grupo e a mim uma relação de proximidade, fica essa mesma pessoa liberta para me enviar um convite.
Ponderarei no grupo, nos seus objectivos e no seu historial e então, só então, tomarei uma decisão.
Que se me bati por um estado democrático e contra um partido único, continuo e ser da mesma opinião e combates.

By me

O acesso às masmorras




Até que poderia ser pitoresco ou motivo de turismo, não fora o facto de ser onde sou obrigado a passar boa parte do dia.

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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Quem calça o sapato é que sabe onde lhe aperta




Já o tinha visto por lá, a fazer os seus exercícios acompanhado quando necessário.
Mas ainda o não havia visto a sair da sua cadeira de rodas.
Com ele estava o P., chamemos-lhe assim, o fisioterapeuta que vinha estimular os meus próprios músculos antes dos restantes tratamentos.
P., de pé ao lado dele, assistia ao seu difícil passar da cadeira para a marquesa. Com os braços abertos, quase que em forma de asa, apenas estava de sobre-alerta para intervir. Sem nada fazer excepto, no final da penosa passagem, o colocar as almofadas e afastar a cadeira de rodas.
Veio depois P. para junto de mim, cuidar da minha já quase insignificante mão.
Em tom baixo, que a circunstância e a exiguidade do espaço assim o exigiam, perguntei-lhe se a sua atitude se devia a uma necessidade do doente ou a um desejo do doente.
“Porque eu o quero!”, disse-me sem rodeios. E, em tom mais brando, completou:
“Ele já está a ficar sem tónus muscular. Não lhe vou fazer a papinha.”
E, em tom ainda mais baixo, acrescentou:
“Não lhe vai servir de muito. É um caso de esclerose múltipla. Da primeira vez que veio aqui tinha 18 anos, foi só um ligeiro caso, e vinha com uma canadiana. Agora, aos 22 anos, deu-lhe forte e está assim. Não sei por quanto mais tempo.”
E continuou a esfregar-me o braço e a mão, desta feita com bem mais força que o habitual.
Olhei por cima do ombro de P., à minha frente, e vi o jovem a esforçar-se por fazer abdominais. Com pouco sucesso, mas sempre a insistir, sozinho.
E tive vontade de me levantar e sair.

By me

Não é grande coisa




Mas foi o melhor que consegui fazer, a tentar reconciliar-me com a luz do sol, depois de passar horas num ambiente escuro e alumiado por luzes fluorescentes.  

By me

Ao sair da cama




Alguns são, muitos diria eu, que olham para mim com ar estranho quando digo que, para sair de casa às 5.20 da madrugada a caminho do trabalho, faço questão de acordar às 3.30.
Estas quase duas horas são o que necessito para me pôr de bem comigo e com o mundo, fazendo coisas de que gosto ou, como costumo dizer, enchendo o depósito de boa-disposição, ficando assim com reserva para enfrentar tudo aquilo que de menos bom me espera.
Essas coisas de que gosto podem passar por escrever (com mais humor ou mais a sério, bem mais a sério), ler um pedaço, acabar de ver um filme deixado em meio ou fazer ou tratar fotografias. Coisas que me dão prazer, aquele prazer intelectual de que necessito. De que todos necessitam, mas muitos não sabem.
Claro que preciso de reforço. E posso garantir que não é uma chaveninha de café acabado de fazer deste tamanho que me chega.
Mas, às quatro da manhã, uma câmara, um tripé, um flash e a janela aberta é quanto bastam para fazer uma fotografia.

By me 

domingo, 20 de maio de 2012

Demonstração final




Andava eu muito entretido a conversar com os meus botões quando ele saltou.
Já cá o tinha sentido a abanar mas não liguei. E ainda que fosse a tempo de o apanhar, antes que levado por uma qualquer voragem de limpeza, de nada me vai servir assim partido que está.
De agora em diante é oficial: falta-me mesmo um parafuso!

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Uma questão de tamanhos




Amanhã, em indo trabalhar, levarei esta fita métrica.
Não sei é se cinco metros chegarão para medir certas trombas que por lá irei encontrar.  

By me

Caçando gambozinos




Leio no Jornal de Notícias, que a caça, a pesca e a agricultura vão ser as novas apostas no ensino profissional.
Faz todo o sentido que se aposte nas áreas que podem tornar o país mais auto-suficiente nos seus aspectos básicos, nomeadamente, na alimentação. Até porque, caramba, se não houver de comer, tudo o resto é inútil.
Mas, “com mil milhões de macacos!”, como diria o Capitão Haddock: investir na formação profissional na caça???
Será a caça uma área estratégica? Advirá da caça tamanha mais-valia para o país? Não será a caça, mais que uma área de produção, uma área de turismo? Queremos nós incentivar a existência de mais armas, ainda que de caça?
Sabemos que para a caça desportiva, bem como para a pesca desportiva, o essencial é ser-se mentiroso – piada velha mas não falha de verdade. E de mentirosos estamos nós cheios e fartos.
A menos que por “caça” se entenda a caça aos vigaristas. Aí sim, há muito para caçar e precisamos de bons profissionais para o fazer que, pelo que nos mostra a história recente, não temos tido gente capaz para o fazer.

Nota extra: Para quem não souber, este é o topo de um pau ferrado, cuja forquilha superior servirá de apoio ao cano de uma caçadeira enquanto de espera pela presa.

By me 

Pic-nic




Considerando as envolvências, talvez que aqui deixadas depois de um pic-nic tipicamente tuga.  

By me

Parabéns




Estava atrasado.
Quem quer que me conheça sabe que isso me incomoda de sobremaneira. Prefiro, de longe, chegar antes e esperar a chegar atrasado, onde quer que seja. Manias!
Em qualquer dos casos, o atraso só aconteceria se esperasse pelo autocarro que, a dar fé no aviso luminoso, demoraria ainda uns bons 30 minutos. A alternativa, como noutras situações semelhantes, seria apanhar um táxi. Não é barato, mas prefiro isso e ficar tranquilo.
O primeiro que vi e que sinalizei fez-me que não com a mão. Olhei melhor e tinha registo de Oeiras, fora de Lisboa, e não poderia tomar passageiros aqui onde estava.
O segundo bem que viu o meu braço esticado, sinal inequívoco para parar o carro. Mas fez que não me havia visto, talvez assustado com o meu ar meio pai-natal, meio Fidel, meio Taliban, que é assim que tenho sido classificado na rua, ao passar. Nada que me surpreenda ou incomode, excepto nestas circunstancias.
O terceiro era de Lisboa e não transportava quem quer que fosse, aspecto, idade ou apelido. E bastava olhar para o carro para ver que já tinha transportado mais do que poderia contar. Aliás, fui eu mesmo que receei entrar nele, que nada me garantia que conseguisse levar a bom porto o trajecto que lhe pedisse.
Entrei, que cliente com pressa não pode ser esquisito, mas meti conversa com quem ia ao volante. Em boa verdade, não preciso de um pretexto para isso, que tagarelar com taxistas é sempre um prazer e uma lição para o dia.
Mas sempre lhe perguntei, depois de indicar para onde queria ir, que idade teria a viatura.
O sorriso que senti mas não vi, que não lhe chegava à nuca, foi delicioso:
“Faz amanhã 25 anos que andamos juntos, eu e ele!”
Era um pouquinho mais novo do que supunha. E alimentei a conversa com um elogio ao estado de conservação do táxi, por fora e por dentro.
“É verdade que sim. Tantas horas por dia aqui dentro, é como que uma segunda casa. E tem que estar como eu gosto dela. Sabe, ele já não anda muito. Ali nos “cabos ávila” queixa-se e vai a passo. Mas eu também não vou depressa, que na cidade não posso e a idade já não o pede.”
E foi acrescentando que já tinha 70 anos, que a reforma de um taxista é pequenina e que havia de ir ganhando a vida ali enquanto pudesse. Até porque a mulher estava doente e o dinheiro sempre fazia falta.
“Em qualquer dos casos”, rematou, “se eu parar de andar aqui já não sei o que fazer na vida. Enquanto puder, e à minha velocidade e a daqui do meu parceiro, havemos de continuar na cidade!”

Apesar do trânsito e da velocidade do vetusto carro e motorista, cheguei a tempo.
E com a secreta esperança de, se chegar a esta idade, ainda ter uma ou duas das minhas fieis câmaras de hoje a trabalhar.
Parabéns ao Mercedes 240D e ao seu motorista!  

By me

sábado, 19 de maio de 2012

BD




Poderá ser antiga, poderá não espelhar, por inteiro, a actualidade.
Mas aquilo que aborda está perfeito!
Asterix, o sempiterno Asterix, não falha uma. Estariam os seus autores a pensar em Portugal quando publicaram o álbum “A odisseia de Asterix”?
E sendo certo que possuo todos os livros e que, quando calha, lhes dou uma voltinha, não me recordo de ver nenhum episódio que retrate as ligações perigosas entre a política e os média, ou vice-versa. Quem sabe se Goscinny e Urdezo não foram alvo de pressões, de uns, de outros ou de todos em conjunto?

By me 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Aviso:




Estou podre de sono e vou-me deitar.

Nota especial para vendedores de seguros de saúde ou de comunicações, distribuidores de publicidade e catequistas de qualquer religião:
A campainha da porta está ligada directamente aos dois gatilhos de uma caçadeira. Os cartuchos contêm sal.

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Não é montagem




Não é montagem, é mesmo assim.
O que se vende por detrás desta placa é mesmo pronto-a-vestir, maioritariamente feminino, adaptado à época, com chapelinhos e tudo. Produtos de preço económico, ao que me foi dado ver, assim de relance.
A placa, essa, é o que resta de uma das velhas pastelarias da Rua da Prata, em Lisboa.
Falida e encerrada há uns anos, com algum alarido mediático, habituei-me nas minhas não muito frequentes idas a esta rua a ver a porta fechada.
Agora, para além da memória dos gelados e bicas, sobra esta placa para deixar de cenho franzido os mais novos e os turistas.
Será que as roupas que ali se vendem são assim tão frescas????

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União




Unidas para sempre e até que a morte as separe.
O que parece estar quase.

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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Quase imaculado




A conversa decorria com a urbanidade possível entre quem quer terminar uma relação de prestação de serviços e quem quer apresentar justificações para os seus actos e transferir responsabilidades dos mesmos.
Pela parte que me toca, estava desejoso que a conversa terminasse e que eu dali saísse sem dizer algo que não devesse em condições de boa educação. Tanto do ponto de vista de conteúdos como de vocabulário.
Estava a ter sucesso nesse meu esforço quando ouvi:
“Sabe, tenho muita consideração por si. Tal como muito respeito pelo seu pai, com quem tive oportunidade de trabalhar.”
Se eu já estava com pressa, passei a urgência.
Quem quer que tenha que recorrer aos parentes do seu interlocutor para justificar os seus próprios actos está absolutamente sem argumentos válidos e a recorrer a algo que abomino: lisonja!
Por outro lado, quem quer que faça comparações de alguém com os pais desse alguém, está manifestamente, a menosprezar a pessoa com quem fala. Que o que de bom ou mau cada um tem no seu carácter e postura a si o deve e não aos progenitores, sejam eles quem ou o que forem.
Consegui dali sair sem sujar a minha boca com palavras explícitas ou frases rebuscadas com o mesmo significado. Já quanto aos pensamentos…
Bem, já cá fora limpei a alma com o fazer de algumas fotografias. Não ficaram nada que se apresente, mas cumpriram o objectivo.

 By me

Alvorada




Há situações em que mais importante que responder a questões é desfrutar o momento.
Mas são muitas as vezes em que me pergunto o que se dirá no chilrear da passarada ao raiar do dia.
Será que estão a fazer uma análise freudiana dos sonhos dessa noite?
Será que estão a acordar-se uns aos outros, dizendo que o pequeno-almoço está pronto?
Ou será que estão apenas a saudar a madrugada?

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terça-feira, 15 de maio de 2012

Sem importância alguma




Tem esta fotografia alguma importância? Não!
Apenas que, enquanto esperava pelo comboio que me haveria de levar a casa, me lembrei de um pedaço de uma história de banda desenhada (na altura chamavam-lhe quadradinhos).
Tratava-se de um índio que servia de pisteiro a um grupo de cowboys na perseguição de um bandido. O índio ia andando a pé, à frentes dos outros, que seguiam a cavalo. E um dos cowboys perguntou-lhe se não seguiriam melhor e mais rápido se também ele fosse a cavalo.
Nunca me esqueci da resposta, bem mais de quarenta anos passados:
 “Vê melhor quem vai mais perto do chão!”

Não, esta fotografia não tem importância alguma! O que conta mesmo é o que ela me transmite e o que ela me recorda. Bem como o ser motivo de contar isso mesmo.

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