segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Espantoso!
Entro num café em busca de uma dose de cafeína que me garanta a espertina que necessito para a noitada que se antevejo.
Alto, pendurado de uma parede, um televisor, felizmente com o som desligado.
Reconheço as imagens, até porque o deveria reconhecer, de um programa de debate num canal generalista.
Para além de quem conduz o debate, reconheço apenas uma cara, o que me leva a tentar perceber pelas legendas que vão aparecendo, qual o tema da noite. E leio esta, supostamente uma frase de um dos intervenientes:
“Espantosa, a incapacidade das gerações anteriores em prever o futuro!”
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Espantoso, direi eu, a presunção de quem o diz, já que deve ter por absolutamente certas as suas próprias previsões sobre o futuro que nos espera!
Será que ele pensa que os bytes e as auto-estradas da informação são melhores que as velhas espirais dos vinis no que toca a fazer de bola de cristal?
Ou terá ele uma ligação privilegiada com o livro do destino?
Por mim, estou como aquele outro:
“Prognósticos só no final do jogo!”
Texto e imagem: by me
Não sou!
Eu não sou fotógrafo!
Não no sentido que por cá se usa.
Desde logo porque não vendo o que faço, não estou no mercado. Faço o que faço porque me apetece, porque tenho prazer nisso e não para satisfazer um qualquer cliente cujos conceitos estéticos podem ser uma “ofensa” aos meus, mas que me obrigariam a cumprir.
Depois porque faço muita questão de não alardear se sou ou não bom. Sou o que sou, fazendo o que faço à medida daquilo que sou capaz. Não preciso – melhor: não quero – entrar em competição com outros, afirmando-me “melhor que” ou definindo este ou aquele “pior que”. A única competição que aceito (e vou a todas!) é comigo mesmo, tentando a cada coisa ou fotografia que faço ser melhor que na anterior. Não melhor que o trabalho de outros.
Se tenho referencias ou ídolos na fotografia? Tenho sim senhor! Alguns fotógrafos há que me inspiram, cujo trabalho me faz inveja. Tanto pela criatividade demonstrada como pela perícia com que o fazem. Nesses vou beber como na fonte, tentando que com o que com eles aprendo ir eu mesmo mais longe no meu próprio caminho.
Mas recuso liminarmente a competição técnica, estética ou comercial. E faço muita questão de não andar a alardear as minhas eventuais qualidades. Sou o que sou e ponto final, sem comparações ou competições.
E, neste país de aparências e ilusões, onde certificados, diplomas e egos gigantescos contam mais que trabalho feito e investimento pessoal, eu não sou fotógrafo!
Talvez photógrapho, mas certamente que não fotógrafo!
Portanto, se me virem na rua, a bater uma chapa ou simplesmente carregando a minha tralha nas costas, por favor não me venham perguntar se sou fotógrafo. Com um pouco de sorte, e se estiver bem-disposto, ouvir-me-ão responder que, com uma câmara na mão, dificilmente estarei a vender pneus!
Texto e imagem: by me
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Saldos
Incómodo urbano:
Passear-me na cidade e ser expulso do passeio para o asfalto por via dos automóveis estacionados no espaço que me é destinado!
Prazer urbano: ver o Sol de Inverno enamorar-se de uma flor.
Saldo? Positivo, naturalmente!
Texto e imagem: by me
sábado, 26 de fevereiro de 2011
O botão
Já não se usa. Qualquer telemóvel faz o mesmo ou melhor, que em ligando para uma central, a distribuição de meios em função do pedido de socorro é bem mais eficaz. Em principio.
Mas no velho quartel de bombeiros da estrada de Benfica, agora com funções sociais para a corporação, que o quartel, bem melhor equipado, se mudou ali para os lados do Colégio Militar, ainda resta este botão.
Não creio que activo, que não para as nossas memórias.
E aqueles homens e aquelas mulheres, ao dormirem nas camaratas do quartel, sempre a desejarem não serem acordados a meio da noite, que pior que o sono interrompido era saberem que o eram porque alguém estava em desespero, quantas vezes de vida.
Sobra o botão na parede do velho quartel. Até que a ambição dos especuladores o assaltem sem quartel e o transformem num qualquer complexo de escritórios ou “loft” privado, com squash, piscina, bonitas vistas sobre a serra de Monsanto, mas sem memória ou história.
Texto e imagem: by me
Ulmeiro
“Então, e quanto custa este tripé?”, perguntei regressando da cave.
Tinha-o visto assim que descera, que estava num baú logo ali, emparelhado com balanças, raladores, tigelas metálicas, batedores manuais e outros artefactos de culinária.
Pois a D. Lúcia olhou para mim, segurando o tripé, que lho havia passado. E olhou para o tripé. E para mim de novo. E de novo para o tripé, que se mantinha fechado, com as suas deliciosas ponteiras meio redondas, meio aguçadas, ao abrigo de um qualquer acidente.
E quando os nossos olhares se encontraram outra vez, vinha com aquele sorriso que lhe é peculiar:
“Pois, euh, pois então… cinco euros por perna, pode ser?”
Já não sei quando foi a última vez que larguei tamanha gargalhada num alfarrabista, cheio de preciosidades. Incluindo peças soltas, recolhidas aqui e ali, junto com os livros. Acho que nenhuma das pilhas de livros estremeceu o suficiente para que caísse.
Foi assim que saí da velha “Ulmeiro”, ali à Av. Do Uruguai, em Benfica, com um belíssimo tripé, dois livros que já não via há muito e que me recordaram o prazer que havia tido em os ler, e um terceiro, que não conhecia, com belos retratos feitos por João Martins, que para além da olhada que já lhe dei, estou a guarda-lo para um momento de calma para com ele me deliciar.
Não conhece o local? Pois não sabe o que tem perdido. Nos livros e outros que aguardam para serem re-descobertos, na simpatia e boa-disposição que a D. Lúcia tem para nos dispensar.
Texto e imagem: by me
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Um olhar - A Menina das Tintas
Era tímida e foi o cabo dos trabalhos para conseguir convencê-la a deixar-se fotografar.
O que não consegui foi que me desse o seu nome.
Sendo que estávamos numa loja de artigos de belas-artes, foi assim que a baptizei, disse-lho e aceitou-o.
Ficou!
By me
Sem título
José Alberto Carvalho e Judite de Sousa, director e directora adjunta da RTP, estão de saída para a TVI. Redacções estão apreensivas.
Depois das contratações entre canais na área da programação, chegou a vez da área da informação. José Alberto Carvalho e Judite de Sousa, director e subdirectora de informação da RTP, já deram o sim à TVI e vão formar a nova equipa directiva do canal de Queluz após o anúncio da saída de Júlio Magalhães da direcção de informação da estação.
Ontem, José Alberto Carvalho dirigiu, como habitualmente, a reunião semanal de planeamento com os editores e coordenadores das várias secções, tendo confirmado aos presentes que tinha sido convidado para a TVI e que estava inclinado a aceitar o convite. À noite chegou a confirmação oficial da saída sobre a qual se especulava: "O director de Informação da RTP e a directora adjunta apresentaram hoje a demissão da empresa". Os jornalistas ponderavam há alguns dias os convites e ontem tomaram a decisão, que já era do conhecimento de várias pessoas na RTP, apurou o PÚBLICO.
Com eles pode também ir Maria José Nunes, directora adjunta de meios de produção da RTP e ainda outros profissionais do canal público. A contratação de José Alberto Carvalho e de Judite de Sousa, duas das caras mais populares da informação televisiva e imagem de marca do canal público, vem engrossar as trocas de personalidades televisivas que mudaram de casa: Fátima Lopes trocou a SIC pela TVI no Verão passado e Júlia Pinheiro voltou em Janeiro à SIC, de onde saiu em 2002, depois de seis anos na TVI. E Manuela Moura Guedes, que protagonizou uma das mais polémicas saídas da TVI, assinou com a SIC para um programa na área de informação que Carnaxide ainda não anunciou quando vai começar.
Marcada por uma informação mais popular, no meio poucos arriscam falar sobre o que pode significar agora a contratação de José Alberto Carvalho e Judite de Sousa pela TVI. Mas fala-se de uma possível mudança de paradigma na informação em Queluz, à imagem daqueles que serão os novos responsáveis das notícias da estação.
Isto depois de ter sido anunciado que Miguel Paes do Amaral fechou a compra de 10 por cento da participação da Prisa no grupo da TVI, por mais de 34,9 milhões de euros. O empresário, que vendeu a participação no grupo da TVI em 2007, volta assim a Queluz, sendo que é conhecido o confronto que tinha com Manuela Moura Guedes, na altura na direcção de informação.
"Acredito que há vontade de mudar de paradigma. Havia ali uma tendência "tabloidesca". Era preciso fazer alguma coisa. Paes do Amaral defendia já que isso não era preciso numa estação que já era líder", lembra o crítico de televisão Jorge Mourinha.
"Agora que José Eduardo Moniz já não está na TVI, essa mudança tem toda a lógica se o canal quer ser competitivo na informação. E tinham de ir buscar alguém de fora", acrescenta Mourinha, para quem "entre a RTP, que é líder na informação, e a SIC, que construiu uma imagem de credibilidade, era a TVI que tinha de mudar".
Na TVI ainda não foram comunicadas as novidades à redacção. Anteontem, o Conselho de Redacção reuniu-se, tendo emitido um comunicado onde mostra preocupação com a actual fase de instabilidade.
Já na RTP, a perda de dois operacionais que eram não só imagem da estação como eram decisivos nas principais decisões da redacção, também é vista com apreensão. A solução para preencher o vazio deixado passará, para já, pelos subdirectores José Manuel Portugal, Luís Costa e Miguel Barroso, que assumem interinamente.
A informação da RTP, nomeadamente o histórico Telejornal, um dos mais antigos programas da televisão portuguesa, é líder de audiências no segmento (ver gráfico ao lado). Já a informação da TVI disputa o segundo lugar na audiência com a SIC, canal que tem como imagem de marca a informação e que é líder no segmento mais desejado pelos responsáveis comerciais: nas classes mais altas e na faixa etária 25-54, com mais poder de compra.
Texto: in Público.pt
Imagem: by me
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
A primeira vez
A primeira vez marca sempre. Mesmo quando é uma repetição.
Esta foi a primeira amendoeira em flor que vi este ano.
Tal como, uma hora antes, havia visto a primeira borboleta do ano.
Não sei o que diz o calendário nem em que posição exacta está o eixo de rotação da Terra. Mas a Primavera está já a dar um arzinho da sua graça.
Bem-vinda!
By me
Carpe Diem
E as palavras são como as cerejas ou, de outra forma, as ideias são como as cerejas.
No mural de um amigo, constatei que ele gostava do grupo carpe diem e fui cuscar. Como já esperava, encontrei ali referência a um dos filmes de que mais gosto: “O Clube dos Poetas Mortos”.
E fui dar uma olhada no youtube, tentando saber o que por lá constava, sabendo de antemão que seria muito. É!
Mas, de entre o que por lá está, encontrei uma selecção especial (sem legendas, lamento) particularmente bem escolhida e que, de alguma forma, me toca bem fundo.
Aqui vos deixo os quatro links:
http://www.youtube.com/watch?v=2c_A7pstBjU
http://www.youtube.com/watch?v=ycLb6wJDieY
http://www.youtube.com/watch?v=2BozXUQauFU
http://www.youtube.com/watch?v=R3-zeFdghdk
Carpe Diem!
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Sinais dos tempos
Os políticos, governamentais ou outros, bem como economistas e afins usam diversos indicadores para definir o nível económico da população.
Por mim, deixo as estatísticas e complicadas formulas de parte. Bastam-me dois indicadores, qualquer um deles constatável no quotidiano.
Um deles é a quantidade, que aumenta todos os dias, de gente que pede um cigarrito na rua a desconhecidos. Será saudável não fumar, mas quando o dinheiro “já não dá nem p’ró tabaco”…
O outro será tão ou mais grave: a diminuição de bolos e doces à venda nas pastelarias e cafés, substituídos por salgados e sandes. Os portugueses estão cada vez mais a cortar nos chamados supérfluos e nas refeições “de faca e garfo” para passarem a comer uns salgaditos e umas sandochas a meio do dia.
E quem não quiser ou não souber olhar para os expositores, comparando quantidades e qualidades, basta constatarem as mesas vazias a meio da manhã ou da tarde nos bairros suburbanos. Ainda que haja cada vez mais gente a não sair do bairro porque não tem trabalho, há cada vez menos gentes a ocuparem as mesas, nem que seja para um cafezinho e apesar de estarem disponíveis jornais.
Este é o que frequento na minha rua. E cada vez mais o vejo assim. Bem como os outros, pelo que vou vendo quando por eles passo.
Nem café, nem bolos, nem cigarros, nem… Um destes dias nem pão.
Rossio? Marquês de Pombal? Qual é a praça?
Texto e imagem: by me
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Sem direito a direitos
Curioso como, 125 anos depois e na nação-berço do Dia do Trabalhador, as coisas se invertem. Tristes tempos vivemos em que a regressão da condição humana acompanha a par e passo a evolução tecnológica.
A título de curiosidade, recomendo especial atenção para o conteúdo dos terceiro e penúltimo parágrafos deste artigo publicado hoje no jornal Público.
Não têm faltado comparações entre a recente revolta popular no Egipto e os protestos da última semana no estado americano do Wisconsin. Scott Walker, o governador republicano eleito em Novembro, já foi apelidado de "Mubarak do Midwest" por querer eliminar os direitos dos funcionários públicos a negociarem os termos dos seus contratos. A sua proposta é vista como o maior ataque das últimas décadas contra o sindicalismo nos Estados Unidos.
Walker, que foi apoiado pelo Tea Party nas eleições de Novembro e fez campanha prometendo resolver o défice orçamental do Wisconsin, quer que os funcionários públicos passem a descontar mais para a Segurança Social e para os seguros de saúde, aliviando a carga do governo estadual. A medida permitiria poupar cerca de 150 milhões de dólares por ano. Os líderes sindicais dizem estar dispostos a aceitar o plano.
Mas Walker também quer rever as regras da negociação colectiva: a sua proposta de lei retiraria aos sindicatos dos trabalhadores públicos o direito de discutirem condições de trabalho, benefícios ou políticas de despedimento em futuros contratos. Polícia, bombeiros e “state troopers” (equivalente à GNR), cujos sindicatos apoiaram Walker nas eleições, ficariam isentos desta medida.
A proposta gerou intensos protestos diários na última semana. Os sindicatos acusam Walker de querer suprimir direitos dos trabalhadores e enfraquecer um grupo - os sindicatos de funcionários públicos - que é a maior fonte de financiamento da campanha política democrata.
"Isto é uma tentativa de silenciar pessoas que discordam dele", disse o director de uma federação de sindicatos públicos ao USA Today.
Para muitos, como o Nobel da Economia Paul Krugman, colunista do New York Times, a proposta de Walker é um sério ataque contra direitos democráticos conquistados nos últimos 50 anos. "O que está a acontecer à volta do mundo é uma corrida para a democracia", disse um senador democrata do Wisconsin, Bob Jauch. "O que está a acontecer no Wisconsin é o fim do processo democrático."
Mas as comparações com o Egipto não são um exclusivo dos democratas. Paul Ryan, congressista do Wisconsin e um dos mais poderosos elementos da nova maioria republicana no Congresso, notou: "É como se o Cairo se tivesse mudado para Madison", a capital do Wisconsin, onde os maiores protestos têm tido lugar. Outra analogia com o Egipto: no sábado houve contramanifestações, de apoiantes de Walker afectos ao Tea Party.
O que está a acontecer no Wisconsin é mais do que uma questão local, porque outros estados governados por republicanos planeiam tomar medidas semelhantes. Também é uma réplica da discussão nacional que existe actualmente sobre o orçamento federal e que divide democratas (e a Casa Branca) e republicanos.
O Presidente Barack Obama reagiu no final da semana passada, numa entrevista a uma televisão local, dizendo que a proposta de Walker "parece um ataque aos sindicatos". John Boehner, o speaker da Câmara dos Representantes, acusou o Presidente de "incitar protestos contra governadores reformistas", quando devia liderar essas reformas.
O New York Times noticiava ontem que o Partido Democrata enviou activistas para o Wisconsin para apoiar os protestos, na esperança de começar a dinamizar as bases com vista às eleições presidenciais do próximo ano. Mas fontes oficiais da Casa Branca demarcaram-se de qualquer envolvimento, dizendo que o partido tomou essa decisão sem consultar a equipa política do Presidente.
Como no Egipto, no Wisconsin também há políticos em fuga: a proposta de lei de Walker devia ter sido votada na quinta-feira, mas foi adiada depois de 14 senadores democratas terem deixado o estado, refugiando-se no vizinho Illinois, e boicotando o quórum necessário para votação. Se tivessem permanecido no Wisconsin, as autoridades policiais poderiam tê-los obrigado a comparecer na câmara do senado local.
Entrevistado no domingo pela conservadora Fox News, Walker mostrou-se inamovível: "Estamos dispostos a defender isto o tempo que for preciso porque, no fim de contas, estamos a fazer o que está certo."
Pão e Circo - mais este que aquele
Para os que andam por aí hoje a exultar com os resultados de fúteis, efémeros e olvidáveis trajectos esféricos, e para os demais que, pelos mesmos motivos, por aí andam hoje cabisbaixos e acabrunhados, sempre gostaria de recordar o seguinte:
Em frente àquilo que se presume ser o edifício sede da Democracia em Portugal – a Assembleia da República – não se vêem nem águias dos céus nem dragões míticos. Apenas dois Leões, brancos, de pedra, impávidos e solenes, guardiões de um ideal quase tão velho quanto a civilização.
Quanto ao resto e à vã glória do resultado de um confronto sob as luzes dos projectores e os olhares da plebe, será tão duradoiro quanto bolas de sabão ou a memória dos jornalistas.
Texto e imagem: by me
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Por ser segunda-feira?
P’las paredes quasi de papel do prédio oiço, ainda de antes de sair para o café matinal, uma vizinha.
Gritava e chorava ela, percebi depois que ao telefone, que não admitia que o patrão (chefe?) a acusasse do roubo de três mil euros do cofre (loja? escritório?).
Saí para o café e voltei, e a conversa e o problema mantinham-se.
No café, queixou-se-me uma empregada, emigrante por cá há muitos anos, que devido a um erro informático lhe tinham cortado o abono de família dos filhos e que teria que perder um dia de trabalho para resolver a situação.
Já à porta de casa, vejo dois gatos de rua em pé de guerra, medindo-se e ameaçando-se, bufando e de pelo eriçado.
E quando, já pronto para os afazeres matutinos, torno a sair do prédio, vejo isto!
De facto, há dias em que tudo corre mal, ou em que só nos apercebemos do que de mal vai acontecendo.
Texto e imagem: by me
Um auto retrato ou...
... como o photógrapho vê o mundo: em pequenos pedaços, divididos no espaço e no tempo, tentando construir com eles um puzzle coerente.
E nem sempre conseguindo.
Me by me
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Dúvida
Foi mesmo ao finzinho do dia, em que os candeeiros da rua se vão acendendo.
Da minha janela vejo um casal a sair deste carro e fiquei curioso com o que vi:
Ela, de casaco desportivo azul escuro e calças de ganga, transportava um saco, não muito grande, igualmente desportivo; Ele, vestido de camuflado e com botas de todo-o-terreno, transportava uma mochila igualmente camuflada e aquilo que me pareceu ser o estojo de uma arma de caça. E deveria ser, pois que se ele fosse militar, não creio que lá deixem trazer a ferramenta de trabalho para casa.
Fico é na dúvida entre se a PT sabe que as suas viaturas são usadas em expedições venatórias ou se esta empresa agora caça clientes de arma em punho.
Texto e imagem: by me
Cores, códigos e funções
Numa rotunda do meu bairro, no meio de quase nada como agora é moda, tropeço nestes contentores. E, não vendo nenhuma indicação específica, e estando eles afastados de edifícios, fica-me a dúvida sobre o código de cores usado: castanho.
Os verdes conhecemos, em alternativa aos metálicos. E temos ainda os ecopontos, também eles com códigos de cores, bem definidos.
Mas o castanho… passa-me por completo ao lado.
Seja como for, recorda-me aquela história, passada no tempo dos piratas:
O João era um capitão pirata cheio de sucessos nas suas aventuras e combates. Quando o vigia anunciava um navio no horizonte, espreitava-o com o seu óculo de longo alcance e bradava para a tripulação:
“Preparar para o combate! Tragam a minha camisa vermelha!”
E o combate travava-se, era uma vitória e a pilhagem rica.
Um dia um membro novo na tripulação, ouvindo a frase costumeira, perguntou-lhe:
“Capitão. Porquê a camisa vermelha cada vez que combatemos?”
“Fácil! Se eu ficar ferido na refrega, vocês não notam o meu sangue e continuam a combater na mesma!”
Algum tempo depois o vigia anunciou uma grande esquadra de combate no horizonte. É que o governador lá do sítio tinha decidido acabar com o João e as suas pilhagens.
Pois ele perscrutou o horizonte com o seu óculo de longo alcance, respirou fundo e bradou para a tripulação:
“Preparar para o combate! Tragam as minhas calças castanhas!”
Haverá alguma analogia entre a anedota e os contentores?
Texto e imagem: by me
Fotografar é fácil
Fotografar é fácil! Basta que a câmara funcione, que o assunto esteja lá, que apontemos e primamos o botão! Tão simples quanto isto!
Tudo o resto que envolve a fotografia são complicações levantadas pelos fotógrafos ou, vistas as coisas de outra maneira, são soluções para resolver questões complicadas.
No caso da fotografia em análise, a questão levantou-se desde logo porque só existia metade do assunto a fotografar: a boneca. Faltava tudo o resto que a envolvesse e, conjugado com isso, quanto da boneca se iria mostrar.
Quando pus o olho nela o que me sobressaiu foram os olhos e a existência de feições trabalhadas, com rugas e covinhas. O resto do corpo, assumidamente de bebé, é interessante mas pouco apelativo.
Mas faltava o que a cercasse. E isto dependia daquilo que eu quisesse contar ou mostrar com a fotografia.
Mas quando, naquele dia de manhã no café, escrevi o texto que a iria acompanhar, tudo se tornou bem simples. Estaria a falar da prática ancestral e horrenda da mutilação genital feminina, em África e no Médio Oriente, pelo que teria que deixar (à boneca) sozinha e indefesa. Fundo liso, negro, pesado.
A partir daqui, foi pôr a câmara e tudo o resto a trabalhar.
Fixei-a com um “Magic arm” da Manfrotto, mas poderia tê-la amarrado às costas de uma cadeira, por exemplo, que o efeito seria o mesmo.
Atrás dela, a um metro, mais coisa menos coisa, coloquei uma cartolina preta. Esta não ficou perpendicular ao eixo de visão ou objectiva, mas antes um pouco enviusada. Isto porque, como fonte de luz, usei a janela, larga e tapada com um quebra-luz branco opalino, que me dá uma luz difusa muito bonita, com sombras visíveis mas não muito delineadas. Ao angular a cartolina, evitei que a luz nela incidisse directamente, indo assim garantir o negro profundo que queria.
Mas, olhando para o conjunto, sentia-se pouco a profundidade desejada. Boneca e fundo eram um só, sem relevo. A mão colava-se com a cara, a cabeça com a cartolina. Uma lâmpada de 150 W colocada por cima da cabeça resolveu o problema, tendo apenas o cuidado de que a sua luz não incidisse no fundo. Claro que isto tinha uma questão adicional: a diferença de cor na luz da janela para a lâmpada. Mas o tom quente que esta provocava dava-me o toque de inocência e fragilidade que eu pretendia.
Decidida e resolvida esta questão, fiz uma primeira imagem.
Propositadamente, coloquei-a um pouco à esquerda, olhando para a direita. Pondo-a a olhar para um futuro distante se atingível. Mas não gostei!
Era demasiado boneca, demasiado brinquedo, faltava-lhe o impacto que queria provocar em contraste com o texto. E perdia-se o olhar, aquele que me tinha chamada a atenção em primeiro lugar. Rodei-lhe o corpo, fi-la olhar directamente para a objectiva e para o observador. Bem centrada no enquadramento, apenas um pouquinho desequilibrado com o braço e mão que falam para quem vê.
E ali estava o que queria, uma ponte entre a inocência de uma simples boneca e as atrocidades do texto.
É que, afinal, fazer uma fotografia é muito fácil. Basta sabermos o que queremos contar!
Texto e imagem: by me
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Parabéns
Se foi você que pediu uma manhã cinzenta e de chuva, parabéns! Conseguiu realizar o seu sonho.
Escusava era de o partilhar tão intensamente com todos os restantes habitantes aqui da zona, caramba!
By me
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Quando eu for grande
Quando eu era pequeno, pequeno mesmo, queria ser Presidente da República.
Tinham-me dito que era a figura mais importante que havia e que mandava no país. E como eu tenho a mania das grandezas…
Depois quis ser veterinário. Foi uma ideia que se manteve durante algum tempo, tendo mesmo chegado a ser alcunha. Os garotos são terríveis mas, no caso, sempre o encarei como um elogio e nunca como insulto.
Mais tarde e mais crescido, quis ser oficial de comunicações da marinha mercante. Foi uma decisão bem mais ponderada e que reflectia um projecto de vida. Que nunca se concretizou, que fui chumbado (e merecidamente) no exame de admissão à escola Náutica.
Hoje sou o que sou e, mais que querer ser no futuro, quero ser no presente.
Mas se alguma vez quiser ser alguma coisa quando for grande, acho que quero ser “gestor público”.
O céu é o limite no que respeita a remunerações, basta terem um qualquer diploma e as simpatias certas para ocuparem o lugar e não sei de nenhum que, em tendo deixado de o ser, tenha ido para pior. A menos, claro, que não tenha sabido fazer as coisas, mas são casos raros.
Não tem dúvidas: Gestor Público é o que quero ser quando for grande!
Leia-se o artigo do Jornal Público:
“Os projectos de lei do BE, do CDS e do PCP que propunham limitações nas remunerações dos gestores públicos foram chumbados no Parlamento com os votos contra do PS e PSD.
Só dois projectos sobreviveram à reprovação deste pacote legislativo: o projecto de resolução das deputadas do Movimento Humanista (eleitas pelo PS) e um projecto de lei do CDS que obriga ao envio para a Assembleia da República de informação sobre as remunerações dos gestores públicos.
O PSD justificou o voto contra com o argumento de que os projectos “só trariam mais problemas”, segundo Miguel Frasquilho. O vice-presidente da bancada defendeu que não se pode olhar para as remunerações “por si só” e lembrou o caso de Paulo Macedo, gestor bancário que no Governo PSD/CDS foi contratado para director-geral dos impostos com um salário muito polémico.
O único projecto de lei viabilizado pelo PSD foi um do CDS que consagra na lei uma obrigação que tinha ficado estabelecida no Orçamento do Estado de 2011 e que ainda não foi cumprida: o envio para o Parlamento de um relatório com a remuneração dos gestores públicos.
E, já agora, recorda-se onde fez a cruzinha nas últimas eleições para a Assembleia da República?
Texto e imagem: by me
Ser ou não ser não é a questão
Um dos atributos do ser humano, enquanto ser vivo, e considerado o mais positivo, é, simultaneamente, um dos que o mais prejudica: a capacidade de comunicar elaboradamente!
Esta comunicação (efémera se falada ou gestual, permanente se materializada por símbolos ou formas), ao fazer expressar pensamentos igualmente elaborados, permite-nos criar o conceito de Bem e de Mal, de Verdade e de Falsidade.
E desde que estes aspectos se tornaram evidentes e importantes na actividade humana, tentaram-se encontrar formas de dar credibilidade à comunicação, definindo verdade e mentira, aplaudindo uma, censurando a outra.
O conceito de honra é uma dessas formas, onde não apenas se cumpre e faz cumprir códigos de conduta rigorosos, como se afirma por verdadeira cada afirmação emanada de um homem honrado. A falta de honra ou o apodo de mentiroso é dos piores estigmas que a sociedade pode impor ao indivíduo.
Esta necessidade da verdade é tão grande que os tribunais, criados para apurar a verdade e corrigir as injustiças ou actos delituosos, o falar verdade é vital. É um estereotipo do cinema norte-americano o jurar-se em julgamento “Falar a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade”. E remata-se isto com o testemunho de “Deus”, que é o último refúgio da verdade inquestionável, mas igualmente não demonstrável.
Será curioso de ver como serei tratado um dia que tenha que prestar testemunho num desses tribunais, eu que sou ateu e agnóstico.
A afirmação da verdade é vital para o ser humano que usa testemunhos, exemplos, demonstrações, como eu estou agora aqui mesmo a fazer com estas linhas.
A verdade ou credibilidade da comunicação é, assim, a pedra de toque da sociedade e, em quebrando-se, desmorona-a.
Confrontado com alguma forma de comunicação, o Homem procura, em primeiro lugar, saber da sua credibilidade. Quer se trate de verbalização, escrita ou iconografismo.
Claro está que ninguém põe em causa uma pintura. Presume-se que ela, e o seu autor, não pretendem ser verdadeiros ou falsos. São um conjunto de símbolos cuja veracidade não importa.
Já com a escrita o mesmo não se passa. Ou bem que pensamos “Isto é credível” ou então “Isto é faz-de-conta”. Presume-se que num jornal não se encontram falsidades, mas definimos outras formas de escrita como “ficção”. E, se por acaso, se constata que num jornal constam falsidades, é um “Ai Jesus”, com acusações recíprocas e recurso aos tribunais para repor a verdade. E a credibilidade do jornal vai por água abaixo.
Na 7ª arte – o cinema - e no seu sucedâneo – a televisão – existem três categorias de credibilidade: o que é inquestionavelmente verdade (informação), o que é indubitavelmente ficção (séries, filmes, novelas, etc) e o que, sendo verdade, usa palavras ou imagens falsas (documentários). Ninguém acredita que um cineasta esteja anos a fio a filmar um leão em África para contar a sua história. Acredita-se que eles vivem daquela forma mas sabe-se que as imagens e as palavras são falsas. É um terreno pantanoso, este.
Com o surgimento da fotografia, no século XIX, supôs-se que a questão do “verdadeiro” e do “falso” pudesse ser resolvida.
Não sendo objecto de intervenção humana, mas tão-somente usando processos naturais e científicos, a imagem fotográfica assumiu contornos de “indesmentível”. Expressões como “Para mais tarde recordar” ou “O fotógrafo estava lá” são disso exemplo.
Pelo menos no pensar do comum do cidadão. Porque cedo a justiça e os tribunais se aperceberam da possibilidade de manipulação ou falsificação da fotografia, apresentando imagens que não correspondiam à “verdade”, e recusaram-se a aceitá-la como prova para o apuramento da verdade colectiva.
Apesar desta desconfiança da justiça em relação à veracidade da fotografia, continuámos a dar-lhe o benefício da dúvida. Pelo menos em parte, dependendo do contexto onde ela se insere.
Presumimos como sendo verdadeiro testemunho da verdade se inserida num periódico em que acreditamos ou ao qual não atribuímos a possibilidade de nos mentir. Tanto assim é que os jornalistas ou empresários da comunicação quase não dispensam a utilização da fotografia para dar reforço e credibilidade aos textos e mensagens impressas.
Mas pomos essa credibilidade ou veracidade da fotografia em causa quando são usadas em publicidade ou exibidas numa galeria de arte. Das primeiras porque os publicitários não primam por “falar verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade”, pelo que o seu trabalho, fotografia incluída, podem e devem ser postas em causa. Das segundas, penduradas numa parede de uma galeria de arte ou publicadas em livros ou revistas conexos, ficamos na dúvida. Se a imagem com que somos confrontados é semelhante à nossa própria experiência, aceitamo-la como verídica; se a achamos ou ao seu conteúdo como estranhas ou dissonantes com as nossas próprias verdades, interpretamo-las como falsas. Mas não nos incomoda, porque numa galeria de arte não esperamos encontrar a “Verdade” mas tão só a expressão do autor, que se pode deixar levar pela imaginação ou fantasia e criar uma “Verdade” que só existe no seu íntimo. E nós, público, entendemo-las como tal.
No uso quotidiano do cidadão comum, amador fotográfico ou nem isso, a fotografia foi sempre considerada como um testemunho verídico e credível. As fotografias de férias e passeios, das festas de anos, de grupo ou de família, as feitas na bancada do estádio ou perante um acidente ou catástrofe não são (ou não eram) postas em causa.
O facto do fotógrafo amador não dominar as técnicas “complexas” da fotografia, de apontar e disparar, deixando o resto ao cuidado de laboratórios insuspeitos, dão um carácter de veracidade às imagens que ele produz.
Mas se o fotógrafo é já considerado como conhecedor das técnicas fotoquímicas, já os amigos e familiares, ao olharem para uma fotografia menos comum ou mais surpreendente, perguntam “Isto foi mesmo assim?” ou afirma “Isto tem truque!”
Com o advento da fotografia digital e a facilidade da manipulação e de acesso às ferramentas de tratamento de imagem, a questão da fiabilidade, veracidade ou honestidade da fotografia está cada vez mais posta em causa.
Até mesmo uma inocente fotografia de um pôr-do-sol ou de um salto meio acrobático do rebento é questionável, ouvindo-se quase pela certa “Isto foi montagem?” ou “Usaste o photoshop?”
É assim que a fotografia vai rapidamente perdendo o seu carácter de documento fiel (que em boa verdade nunca o foi) e ganhando o seu verdadeiro estatuto de forma de expressão pessoal.
E, com este estatuto, a sua credibilidade é tanto maior ou menor quanto esse atributo é dado pelo seu autor ou exibidor e pelo seu público ou receptor. A honorabilidade da fotografia é tão variável quanto o ser humano, enquanto ser comunicante.
A questão põe-se, então, se se espera que a comunicação seja verdade ou mentira e no grau de credibilidade que damos ao eu autor.
Ou, por outras palavras, se se espera que uma fotografia seja ou não verdadeira.
Da mesma forma que espero que um documento científico ou uma notícia de jornal sejam verídicos, não espero que o “Memorial do convento” de José Saramago ou “Os lusíadas” de Luís de Camões sejam verídicos. Ainda que ambos se baseiem em factos reais, aceito que num romance ou poema o autor dê asas à imaginação.
De igual forma, espero que as fotografias publicadas ou exibidas como sendo ícones de uma realidade, (num jornal, revista ou livro) e apresentadas como tal, o sejam, já não o espero de fotografias cujo objectivo explícito ou implícito seja a expressão de sentimentos do autor, interpretações não de uma verdade factual mas antes sentida.
Assim, o atributo de verdadeiro ou falso dado a uma fotografia ou imagem, depende da cumplicidade, de um entendimento prévio entre quem faz e quem vê.
E se o autor ou exibidor não a afirma como verdadeira e se o público não a recebe como verdade, pouco importante é que o seja ou não.
Ser ou não ser, neste caso, não é a questão!
Texto e imagem: by me
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Por uns minutos
Os meus horários de acordar a meio da noite para ir trabalhar fazem com que, igualmente, os horários das refeições sejam um pouco fora do comum.
Assim, eram umas seis horas quando regressei do café onde o compro. O céu, pesado, já em lusco-fusco e ameaçar uma noite de tormenta, ainda mostrava umas abertas tímidas. Lembrando-me eu da data e do que havia visto na véspera, não parei à porta de casa e prolonguei o caminho por mais uns cinquenta metros, até à esquina. Com um pouco de sorte…
E a sorte sorriu-me (disse-me alguém, há anos, que a sorte é quando a oportunidade encontra a preparação).
Lá ao fundo, por cima do descampado que compõe as traseiras do meu prédio e uma mão-travessa acima do horizonte, a Lua. Mostrando-se quase completamente redonda, ia dando um ar da sua graça numa nesga entre nuvens. Quase parecendo que estas a iriam tapar, tornando fugaz aquele momento de comunhão. Pensando nisso, arredei de mim a ideia de ir buscar a “tralha” para fotografar. Provavelmente não viria a tempo de a encontrar ainda descoberta. E deixei-me ficar.
Mas a sorte, mais que rir, gargalhou abertamente para mim. À medida que ia subindo no céu, as abertas como que iam acompanhando o seu movimento, mantendo-a brilhante e impoluta. E eu ali parado, com o ventinho a criar-me pele de galinha, mas firme no degustar daquele espectáculo.
Por mim foram passando carros e peões, todos com a pressa de quem passou o dia trabalhar e que há que chegar a casa com o pimpolho pela mão antes que escureça de vez ou a chuva venha. O olhar que alguns me deitavam, de barba e cabelo a dançar ao vento, saco de papel com pão na mão e a olhar para lá, para o céu e para longe, não dava azo a grandes erros sobre o que de mim estariam a pensar. Mas a isso já eu estou habituado e não me tira o sono. Só lamento que não tenham parado uma nica para também gozarem o que me estava a dar prazer.
A chuva, miudinha e fria, acabou por vir e eu recolhi a casa. De pão meio molhado no saco, de alma cheia e a certeza de que há coisas que, mais que registar no frio da electrónica, ficam ad eternum na memória.
Que aquela lua, a subir meio envergonhada, parecia a Nini, a dançar só para mim. (http://soundcloud.com/datreta/oldie)
A fotografia? Quase tão redonda e branca quanto a Lua, e certamente tão efémera quanto aquilo que vi.
Texto e imagem: by me
Três livros
Comprei três livros. Iguaizinhos. Tão iguais quanto três gotas de águas, se elas fossem iguais.
O mesmo autor, a mesma tradução, a mesma editora, a mesma edição.
Serei tolo? Talvez o seja, mas apenas por ter comprado apenas três exemplares.
Já por aqui contei que gosto de oferecer livros. Há livros, creio eu, que mais que serem apenas lidos, devem estar disponíveis para serem relidos, se essa for a vontade. E um livro emprestado nem sempre retorna a casa ou, em retornando, não voltará a estar disponível para quem o reteve por algum tempo e voltou a ter vontade de o ler. Um livro ofertado fica sempre.
Pois um destes dias apeteceu-me oferecer um determinado livro a alguém em particular. Gostaria eu que essa pessoa o lesse.
E procurei-o. Esgotado onde o procurei, disseram-me que estava na categoria de “saldos” e que o poderiam encomendar. Inquiri pelo preço e a agradabilíssima surpresa que tive levou-me a encomendar três. Talvez devesse ter encomendado uns dez ou vinte, que o preço pouco mais era que de borla e, que me recorde, já ofereci esta obra umas vinte vezes, pelo menos.
O que não foi tão agradável foi o que me disseram para pagar, quando os fui buscar: mais do dobro do que havia sido anunciado. Claro está que bati o pé, usei do meu feitio de sargento resmungão e acabaram por vir pelo acordado. Não que, ainda assim, ficassem em preço proibitivos. Nada disso! Apenas por uma questão de principio: se estava combinado, assim teria que ser cumprido!
Bem: destes três, um está reservado para quem eu pensava, outro está já prometido a alguém que me fez a promessa solene de o ler e o terceiro… bem, fica de reserva, nunca se sabe.
Texto e imagem: by me
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Um recado
Talvez que seja da idade, não sei.
O que sei, isso garanto, é que cada vez tenho menos paciência para os que de mim querem fazer de parvo.
Tal como também não tenho paciência para os que confundem entre rebeldia e indisciplina.
Os que confundem entre eficácia no trabalho e “show off”.
Os que confundem à-vontade com abuso.
Os que confundem individualismo com falta de sentido de equipa.
Os que confundem partilhar um local de trabalho com companheirismo e este com amizade.
Os que defendem a igualdade, mas em que uns são mais iguais que outros.
Os que presumem que a idade, em falta ou demasia, lhes dá direito a tratamentos diferenciados.
Talvez seja da idade, não sei, mas cada vez tenho menos paciência para tudo isto.
Mas, acima de tudo, cada vez tenho menos paciência para que façam de mim parvo.
Texto e imagem: by me
Shhhhh, é segredo
Espião iraquiano admite ter inventado programa de armas químicas de Saddam
Por Rita Siza
Convencer os Estados Unidos a depor Saddam Hussein era o seu objectivo. "Curveball", como foi baptizado, diz-se orgulhoso pelo que fez
O informador iraquiano que os serviços secretos norte-americanos baptizaram como "Curveball" confessou pela primeira vez que inventou as informações relativas à existência de um programa de produção de armas de destruição maciça no Iraque. O objectivo era convencer os Estados Unidos a invadir o país e depor o regime de Saddam Hussein.
Numa entrevista exclusiva ao diário britânico Guardian, o iraquiano Rafid Ahmed Alwan al-Janabi, ou "Curveball", admitiu ter transmitido histórias totalmente falsas sobre fábricas de armas químicas e biológicas clandestinas aos seus contactos ocidentais, no caso aos agentes do serviço secreto alemão BND - que posteriormente partilharam essas informações com os seus congéneres americanos.
"Eu podia estar certo ou podia estar errado. Eles [agentes secretos] deram-me a hipótese de fabricar uma versão da história que podia levar à queda do regime. Eu e os meus filhos estamos orgulhosos por termos sido a razão que deu ao Iraque a margem para a democracia", disse.
Rafid al-Janabi começou a colaborar com o BND em Março de 2000, na qualidade de engenheiro químico com acesso a informações vitais sobre os programas de armas químicas de Bagdad. "Eu tinha um problema com o regime de Saddam [Hussein], queria-me ver livre dele e ali estava uma oportunidade", justificou.
Como explicou ao Guardian, os alemães levaram a sério as informações que ele lhes transmitia, mas deixaram de procurá-lo quando muitas das suas indicações foram desmascaradas por outras fontes. A troca parou até que, no final de 2002, Janabi voltou a ser procurado. Segundo disse, nessa altura já era claro que estava a ser montado um "caso" para justificar a guerra.
Mesmo assim, o espião admitiu ter ficado perplexo quando ouviu o então secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, usar as suas alegações falsas para defender a invasão do Iraque num discurso nas Nações Unidas.
Janabi, que agora vive exilado na Alemanha, diz que não se arrepende do que fez. "Fico muito triste por todas as mortes no Iraque. Mas pergunto: havia outra solução? Acreditem, não havia outra maneira de levar a liberdade ao Iraque", considerou nesta entrevista.
Nas suas memórias lançadas há poucos dias, Donald Rumsfeld, o ex-secretário da Defesa de George W. Bush, admitiu também saber que Saddam Hussein não tinha nenhum programa de armas de destruição maciça. Ainda assim, avançaram os planos norte-americanos de invasão do Iraque, em 2003.
In: Jornal público, 16/02/2011
Patranhas
Estávamos no ano de ‘98. Decorriam os saudosos Encontros de Fotografia de Coimbra, espalhando fotografia e fotógrafos por toda a cidade. Um dos espaços usados era o emblemático “Edifício Chiado”, bem no centro da cidade.
Esta história passou-se nele, já depois do seu restauro.
A exposição era sobre um cosmonauta soviético e a fundação Sputnik.
Nas paredes e nas vitrines, no centro da sala, abundavam fotografias do herói, fardado ou à civil, quando pequeno ou junto aos seus camaradas de armas e de curso.
Constavam também recortes de jornal, livros de estudo, cadernos de apontamentos e cartazes alusivos à sua viagem. Entremeados com estes documentos, elementos da sua farda e divisas, óculos, carteira e outros objectos pessoais e, se a memória me não falha, pedaços do seu fato espacial e do simulador onde terá treinado.
Tudo isto era acompanhado de legendas em inglês, que identificavam cada uma das peças, recortes e fotografias, que nos seria difícil de entender a língua russa em que estavam escritos.
No final da exposição, um cartaz com letra miúda, onde nos era passado um atestado de… ingenuidade!
Todo aquele estendal de livros, fotos, recortes e objectos diversos mais não era que um fenomenal embuste.
A pessoa ali retratada nunca tinha sido cosmonauta, nem sequer militar ou mesmo russo e todos os documentos, fotografias e objectos eram falsos.
O público, ao ler esta explicação, ria, sorria ou franzia o cenho, incomodado com a sua própria credulidade e por ter sido enganado.
Mas não o tinha sido!
Foram os próprios que atribuíram um valor real ao que estavam a ver, que acreditaram nas legendas numa língua estranha, já que não entendiam o original e que quiseram, no seu íntimo, que tudo aquilo fosse “verdade”.
Perguntava-me, um destes dias, um estudante de comunicação se eu admitia a manipulação da imagem, fotográfica ou não.
Claro que admito, aceito e recomendo.
O problema, a existir, nunca está na imagem por si só mas antes na leitura que dela fazem autor e público!
Se ambos dizem ser verdade aquilo que está exibido, e se essa afirmação não é posta em causa, então a patranha passa a verdade, eventualmente desmontável mais tarde, e com todas as suas consequências.
Mas se não for assumido por parte do autor um carácter de veracidade, se não lhe for dado o carácter de “documento”, então tem tanta validade quanto as esculturas que se fizeram ou fazem de Moisés que, tanto quanto sei, nunca foi retratado em vida.
Texto: by me
Imagem: uma das fotos da exposição, publicada num suplemento de um jornal como divulgação dos “Encontros”
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Arauto da desgraça?
E pronto, aí estamos nós de novo!
O artigo abaixo transcrito é retirado do jornal “correio da manhã”, tenha isso a validade que tiver.
Mas se acrescentarmos às declarações de governantes as pressões que começam a existir por parte de movimentos cívicos, caminhamos a passos largos para a alteração da Constituição Portuguesa no sentido que George Orwel bem previu em 1948, quando escreveu “1984”
Extinção do número de eleitor
O ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, insistiu esta terça-feira na eliminação do número de eleitor, defendendo cautela nessa transicção, e concordou com a proposta do PCP para introduzir na lei a notificação dos cidadãos cuja situação eleitoral seja alterada.
O governante respondia esta terça-feira na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, na sequência de uma proposta de audição do PCP, a propósito dos problemas com o cartão do cidadão registados nas eleições Presidenciais de 23 de Janeiro.
Tal como o ministro da Administração Interna, Rui Pereira -- que na passada sexta-feira defendeu na mesma comissão parlamentar a extinção do número de eleitor -, Pedro Silva Pereira reiterou a proposta, recomendando que "essa transição seja feita com toda a cautela e segurança".
"O futuro estará na eliminação da figura do número de eleitor. Devemos fazer o caminho seguro para essa transição e corrigir o que correu mal nestas eleições na informação aos cidadãos sobre o seu número de eleitor e o seu local de voto", sublinhou o ministro da Presidência.
Arauto da desgraça, eu? Espero bem que nunca venha a ter razão, mas não acredito.
Talvez uma emergência
Quando, às seis da manhã, constato que mais gente, a viver neste país, a publicar coisas a esta hora, e mesmo desde as 3:30, hora a que me levanto, pergunto-me:
Será que também eles têm o toque de alvorada a horas “impróprias” como eu e que gostam de fazer algo de positivo antes de enfrentarem as agruras do trabalho?
Será que também eles têm toques de recolher mais que tardios e que, como eu, gostam de fazer algo que lhes dê prazer antes de dormir?
Será que não dormem?
Será que as suas publicações acontecem por via de uma qualquer aplicação automática que o faz na hora programada?
Ou será que acordam a meio da noite por uma qualquer emergência sanitária e aproveitam a vigília para mostrarem que estão vivos publicando?
Texto e imagem: by me
O amor é!
Numa parede quase impoluta, num beco esconso de umas traseiras de um bloco de apartamentos, este grito.
Não importa quem a quem ou sequer quando!
É uma verdade incontornável, insofismável e eterna.
Pelo menos até que pintem o muro ou que se mude de turma.
Há coisas que não têm tempo nem lugar. Nem mesmo convenções sociais.
O amor é!, e o resto são episódios!
(Nota extra - 5 anos passados, já pintaram o muro. Quanto ao amor, espero que continue a ser.)
Texto e imagem: by me
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Uma flor
É um dos hábitos destas data: oferecer flores.
Tenho para mim, no entanto, que ao oferecer flores estou a oferecer aquilo que já morreu ou está a morrer. E, confesso, isso não me apetece fazer!
Assim, e para quem isto possa interessar – para ti - aqui fica uma flor. Com a garantia de que estava viva quando a vi e que viva ficou quando a deixei.
Texto e imagem: by me
A tirania do enquadramento
É teoria minha, faz muito tempo, que o conceito de “enquadramento” é uma tirania!
Por um lado, é o obrigar a que a imagem que queremos criar fique restrita aos limites do papel ou ecrã, obrigatoriamente excluindo o que não lá cabe e obrigatoriamente incluindo tudo o que é projectado pela objectiva.
Por outro lado, esta projecção é rectilínea (enfim, quase já que também é ondulatória). E está obrigada a cumprir as regras da perspectiva e da geometria que, definida ou inventada pelo Homem actual, são adoptadas pelo consumidor, criador e fabricante de imagens como padrão. O que ou quem não as seguir é rotulado de disfunção ou erro, marginal, excêntrico ou louco.
Acrescente-se que consumidores de imagem, produtores de imagem e conteúdos e fabricantes de equipamentos se atêm a normas e formatos de imagem. Pela necessidade de produção de máquinas e suportes, pelas imposições das manchas gráficas nas publicações, pelas limitações de compatibilidade entre emissor e receptor nas telecomunicações, a actual sociedade de imagem técnica e mecânica está formatada. E o produtor ou o consumidor de imagem, levado pelo facilitismo, formata os seus conceitos estéticos por estas restrições, produzindo, aceitando ou consumindo imagens de acordo com estes padrões.
Enquanto elemento integrado na sociedade ocidental fui e sou formatado deste modo. Nascido nos finais de cinquentas do séc. XX, a minha vivência visual foi objecto destes moldes e uniformizações, tanto em livros e periódicos, como na fotografia, como no cinema, como na televisão. Tem escapado a pintura e a arquitectura, mas estamos a falar de outras coisas. Os rectângulos em três por quatro, dois por três, dezasseis por nove, cinemascope, de ouro ou alguns outros impuseram-se como formatos não apenas socialmente recomendáveis como os únicos válidos.
Ao iniciar a minha actividade como produtor de imagem (fotografia, cinema, TV) não pude deixar de estar por isto mesmo influenciado. Culturalmente e por aquilo que me era exigido profissionalmente. A necessidade de as minhas imagens se integrarem num sistema de comunicação de massas, procurando que elas chegassem ao entendimento e aceitação do maior número possível de consumidores assim me levou a ser e fazer.
Mas, algures num tempo que não sei precisar, achei que estava peado. Se a minha produção de imagens profissionais tinha que seguir os cânones existentes, a minha satisfação com ela estava a diminuir. À medida que o tempo passava (passa) sinto que a rectangularidade e as proporções impostas não me satisfazem. Continua a haver limites no enquadramento a prenderem-me. Continuam a existir proporções formatadas a limitar-me.
No que ao vídeo e ao cinema diz respeito, pouco ou nada posso fazer. Não tenho poder, quiçá energia, para alterar o que quer que seja que me faça sentir mais livre na criação e comunicação.
Mas no que à fotografia toca…
Da existência de limites não posso fugir. Estou mesmo em crer que, a este respeito, os únicos realmente livres foram os nossos ante-ante-passados, com as suas pinturas rupestres e os nossos contemporâneos com os seus graffitis. Aplicam as suas imagens nas superfícies, independentemente da áreas ou limites desta. Se as imagens terminam antes dos limites, tanto melhor, senão, tanto pior. Não é este aspecto que condiciona.
Já no que às proporções diz respeito, a coisa muda de figura. Quando fotografo, excluo mentalmente do enquadramento do visor o que lá está que entendo estar a mais. Procuro que a perspectiva se ajuste aos centros de interesse e às relações entre eles, fazendo um enquadramento virtual em torno deles. Mais tarde, no processamento da imagem, ajusto as proporções da imagem em função do seu conteúdo e do que, na tomada de vista, imaginei.
O resultado? As mais das vezes é um rectângulo assumidamente horizontal, em que as proporções entre a largura e a altura as necessárias e suficientes ao que tenho em vista. Conteúdo e mensagem. E se existir algum tipo de relação matemática entre uma e outra dimensão, é questão que não me perturba nem um pouco.
Se ao receptor das minhas imagens fotográficas agrada ou não esta abordagem, é uma questão que também não me tira o sono. Porque com as minhas imagens, as que faço para minha satisfação, não as faço para que sejam eficazes em termos de comunicação de massas mas, antes sim, para a minha própria satisfação. E esta não se prende com cânones, formatações culturais ou limitações impostas por fabricantes.
Texto e imagem: by me
O poste
Basalto, granito, calcário, xisto?
Pedra de calçada, calhau, arma de arremesso?
Paralelepípedo, poliedro, informe?
Nada disto é importante.
Trata-se de um ilustre poste, de um glorioso campo do clássico “vira aos 5 acaba aos 10”!
O chão pode esfolar, o rigor do “foi dentro ou foi fora” é duvidoso, mas da espontaneidade e do valor do convívio ninguém pode duvidar!
Texto e imagem: by me
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Cinzento
Trabalhar numa cave, num ofício que mostra, supostamente, os mundos ao mundo, por vezes é terrível!
O que nos chega o mundo tem a frieza do digital, as imagens refractadas das cores moduladas e os sons estridentes dos microfones direccionais. Aquilo que dos mundos mostramos já nos chega filtrado e empacotado, sendo sobre isso que decidimos e editamos.
As nossas próprias surpresas (ou pelo menos a minha) acontecem quando de lá saímos e somos confrontados com os tais mundos, quentes, vivos, palpitantes. Momentos há em que os mundos que mostramos ao mundo só palidamente se assemelham aos mundos que existem.
Mas por vezes, durante o trabalho, também somos surpreendidos. Ou nas pausas dele.
Entre programas venho à rua fumar um cigarrito, que manterá os níveis de nicotina suficientemente altos para suportar o que ali vou fazendo. E, de cada vez que o fiz, neste domingo de Fevereiro, encontrei climas tão díspares como se estivesse a viajar nos mundos que mostrava.
E Sol! E chuva! E calor! E frio! E calmaria! E vento cortante! E …
E foi neste jogo do tapa/destapa, procurando algum equilíbrio entre o quarto poder electrónico e os poderes da natureza, que fiz a única fotografia do dia.
O seu valor técnico ou estético? Perfeitamente nivelado com aquilo que fiz durante o dia para justificar o pão que ponho na mesa.
Texto e imagem: by me
Bom dia
Foi você que acordou de madrugada e viu isto?
Não? Ah, então foi você que perdeu um simpático acordar do dia!
By me
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Bem, mas bem antigo
Interessante mesmo, e considerando os factos recentes que abalaram o Médio Oriente, é saber que a greve mais antiga de que há memória e registo aconteceu exactamente no Egipto.
De acordo com a página a que tive acesso, eis o que na altura terá sido escrito:
“"... los trabajadores traspasaron los muros de la necrópolis (se pusieron en huelga) diciendo: ‘Tenemos hambre, han pasado 18 días de este mes... hemos venido aquí empujados por el hambre y por la sed; no tenemos vestidos, ni grasa, ni pescado, ni legumbres. Escriban esto al faraón, nuestro buen señor y al visir nuestro jefe, que nos den nuestro sustento!”.
Aqui encontram todo o texto que sobre isto fala:
http://www.egiptomania.com/historia/huelga.htm
Liberdade
Foi em Julho de ’92.
Estava em Málaga para o Mundial de Futebol e cruzei-me com um jovem da minha idade Argentino. E sendo que a guerra das Malvinas ou Falkland tinha terminado menos de um mês antes, aproveitei e questionei-o sobre ela e a vida no seu país.
A certa altura diz-me ele:
“Nós? Claro que somos livres. Podemos sair à noite e tudo!”
O conceito de liberdade é sempre – sempre – muito relativo!
Certo é que há sempre um controlo remoto, discreto, que o define e decide quando pode estar ligado ou desligado. A menos…
A menos que ser livre não signifique um estado físico, como a possibilidade de nos movimentarmos ou votarmos, mas antes uma atitude perante a vida ou mesmo para além dela.
Enquanto concebermos a liberdade como algo de palpável, tangível, comensurável, haverá sempre quem queira comandar o seu botão e, com ele, nós mesmos. E quer seja com cravos, aos milhões numa praça ou enfrentando um blindado, haverá sempre quem nos empurre, puxe, imponha ou coerte.
A menos que…. A menos que seja você a comandar o botão.
Texto e imagem: by me
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
A janela
Fica-me a dúvida, ao olhar para esta janela, se se tratará do clássico anuncio de um cabeleireiro, se de um simples quebra-luz colorido, se a janela de um adolescente.
Pequenos detalhes de Benfica, captados enquanto se espera por grandes detalhes de Benfica.
By me
Aí está!
E pronto!
Aqui estão os tecnocratas inteligentes a empurrar as instâncias oficiais para aquilo que, há muitos anos atrás, alguns deputados Portugueses negaram: um número de identificação único.
A criação do NIU irá permitir o controlo dos cidadãos ainda mais apertado que aquilo que é possível (ainda que se afirme o contrário) com o cartão do cidadão (que inicialmente se previa chamar Cartão Único).
Eu digo: NÃO!
E você? Quer ser um número?
Público -
http://jornal.publico.pt/noticia/11-02-2011/eleicoes-culpa-foi-da-dgai-da-informatica-e-dos-eleitores-21277027.htm
Aqui estão os tecnocratas inteligentes a empurrar as instâncias oficiais para aquilo que, há muitos anos atrás, alguns deputados Portugueses negaram: um número de identificação único.
A criação do NIU irá permitir o controlo dos cidadãos ainda mais apertado que aquilo que é possível (ainda que se afirme o contrário) com o cartão do cidadão (que inicialmente se previa chamar Cartão Único).
Eu digo: NÃO!
E você? Quer ser um número?
Público -
http://jornal.publico.pt/noticia/11-02-2011/eleicoes-culpa-foi-da-dgai-da-informatica-e-dos-eleitores-21277027.htm
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Inevitabilidades
O futuro traçado pelas estrelas, a vontade dos deuses, as profecias, os livros do destino, as inevitabilidades…
Tudo isto são expressões ou subterfúgios encontrados pelo Homem para justificar aquilo que não pode ou não quer explicar ou alterar.
E têm sido estas expressões que têm alimentado e mantido as ditaduras, as oligarquias, as repressões. Os submissos vão encolhendo os ombros, aparentando indiferença e classificando aquilo que os incomoda e oprime como inevitável ou imutável.
Porque inverter tendências, alterar rumos e enfrentar os “Eles” todo-poderosos dá trabalho, é arriscado e socialmente reprovável.
Usar da espada ou da pena para agitar o fundo do lago, quebrar a paz podre ou gritar que o rei vai nu, é pedir o apodo de louco varrido ou de perigoso revolucionário, correndo-se o risco de se ser enfiado num quarto almofadado ou numa masmorra escura ou, nalguns casos, atado na fogueira ou no poste.
Mas o pior de tudo é ouvir os brados dos conformistas sobre a inevitabilidade dos factos e a inutilidade dos protestos. Que não sei se gritam contra quem protesta se para abafarem o remorso de ficarem calados!
Texto e imagem: by me
Nem imaginam...
... como fiquei satisfeito em ver este letreiro identificador!
É que, por um qualquer motivo desconhecido, a primeira vez que para isto olhei pensei ser um bolo com creme. Vejam bem do que eu me livrei…!
By me
Um fim de estória
Entre quinze a vinte minutos. Foi quanto esteve aquele comboio da linha de Sintra parado naquela estação.
Por mim, que vinha entretido a “pensar na morte da bezerra”, a coisa até que não me incomodou muito. Nos primeiros cinco minutos, reconheço. Depois, não apenas a vontade fumar um cigarrito como a curiosidade levaram-me a sair de onde estava e vir cuscar cá fora. Um montão de gente no fim do cais, olhando o negrume da noite disseram-me onde acontecia o extraordinário. E fui.
Nada vi, que nem mesmo os faróis do comboio o alumiavam. Pelo menos nada vi do que ali tinha estado, que ainda me apercebi do revisor da CP à conversa, primeiro acendendo um cigarrito da paz, com alguém que estaria sentado na beira da linha.
P’las conversas que ouvi, aqui e ali, teria sido alguém com intentos suicidas, avistada antes do retomar da marcha da composição. E abandonava eu a pequena multidão ali junta e um rapaz exclamou:
“Eh pah! Dinheiro não é problema e não merece isso!”
Com uma palmadinha amigável (ou paternalista, como queiram) sempre o esclareci:
“Nem sempre é dinheiro. Nem sempre!”
“Então é mulher? Eh pah, corta essa!”
É! Para todos a vida resume-se a dinheiro e sexo, o que talvez não esteja completamente errado. Eu próprio costumo dizer que a vida é uma moeda que gira apoiada na ponta de um pénis.
No entanto… aquilo que pode levar alguém ao acto final não tem que passar por isso!
Por vezes é mesmo o equilíbrio entre aquilo que somos e aquilo que somos obrigados a ser que se rompe. E o instinto de sobrevivência psíquica sobrepõe-se ao físico.
Eu e ela (a morte) temos andado de braço dado há mais de cinquenta anos. Já nos fixámos, olhos nos olhos, em várias ocasiões. E ainda está por decidir quem, de nós os dois, irá bater na porta do outro primeiro.
Talvez que seja por causa dessa cumplicidade que tenho decidido que nunca impedirei ninguém de o fazer. O mais que poderei intervir é tentar abrir os horizontes de quem esteja nesse limiar. Mostrar-lhe outras vias ou caminhos. Mas a escolha será sempre, sempre, do próprio.
Em última análise, o suicídio é o derradeiro gesto de liberdade e independência que o ser humano pode ter.
Se o caminho-de-ferro interrompido em hora de ponta vespertina é um incómodo para uns milhares de passageiros de regresso a casa, pesando todos esses problemas com os de quem se coloca na linha, não sei para que lado tomba a balança!
(Nota extra: quem quer que lá estivesse desistiu de o fazer e retirou-se na companhia de uns bombeiros voluntários que, também eles, regressavam a casa no comboio.)
Texto e imagem: by me
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