sexta-feira, 30 de abril de 2010

Medos


Botas pseudo-militares, impecavelmente limpas. Calças de ganga, clara, com estéticos rasgões de fábrica. Casaco de cabedal (talvez) preto. T-shirt preta, um número abaixo do seu tamanho, deixando em evidencia os músculos abdominais e peitorais, talvez cuidadosamente produzidos nalgum ginásio. Cabelo curto, mas não rapado, espetado e sem gel. Barba igualmente preta, d três ou quatro dias e bem recortada. Dependurado do lóbulo esquerdo, uma argola prateada, com uns três ou quatro centímetros de diâmetro. Em ambos os ouvidos uns “phones” prateados, cujo som emanado não transbordava para o exterior. Displicentemente pendurada da esquerda das calças, uma corrente, grossa, fechada com um mosquetão igualmente sólido.
Quando de pé na gare, à espera como outros do comboio, os seus polegares espetavam-se no cós das calças, deixando os braços bambolearem-se com as passadas ritmadas e decididas.
O seu olhar era duro! Duro e intimidativo! Duro, intimidativo e espreitado por entre as pálpebras semi-cerradas.
O seu quarto de século, mais coisa, menos coisa, transbordava de afirmação, de afirmação de grupo, gritava por um lugar ao sol, algures entre a violência que alardeava e a insegurança por ela escondida, mas mal.
De alguma forma lembrei-me dos peixe-balão, frágeis e inofensivos, que incham quando se sentem ameaçados. E tive pena deste tipo, em confronto permanente com o mundo em que se insere.


Texto e imagem: by me

Quis custodiet custodies?”


A questão põe-se nos mesmos moldes daquilo que o velho filósofo perguntou:
“Quis custodiet custodies?” - “Quem guarda os guardas?”
No meio das obscuridades do mundo das finanças, surgem umas agências de rating que vêm afirmar que este ou aquele país está em vias de falir ou nem tanto. Logo esses países, e os seus correligionários de modelo monetário, entram em pânico, criam medidas correctoras para agradar às tais agências, as populações sublevam-se em publico e em privado, os governos abanam e talvez caiam…
Há mesmo quem defenda que devem ser criadas agências equivalentes que se contraponham às tais agências de rating.
A verdade é que, enquanto os políticos se digladiam, as moedas flutuam e as economias se abatem, uns quantos continuam a comer faustosamente, enquanto outros procuram nos caixotes de lixos com que enganar a fome.
Virá alguém alguma vez a terreiro explicar quem comanda essas tais agências de rating, quem as possui e quais os interesses que, eventualmente, estão por detrás delas?


Texto e imagem: by me

Botas




By me

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Full moon


What is the main difference between a professional photographer and an amateur?
Well, I think the second one is who, getting home at 2:00 am, after a long and hard day’s work, still have the strength to put his Novoflex 600 on his Benbo, fix on it his K7 and point it all to the dark sky, through his open window.
Does it look like is falling? Sorry, I wasn’t strong enough to get it higher.

Texto e imagem: by me

quarta-feira, 28 de abril de 2010

terça-feira, 27 de abril de 2010

A friend of mine


This is a rock. I picked it up from a decorated way, some years ago.
Once in a while I carry it with me, on my vest’s pocket. Until I change my vest or I have to put some lens in it, where lens and rock don’t mix well.
But I also use to have it on my hand: at work, waiting for the train, on the bus… where ever I feel I need to have a chat with it.
As a matter of fact, I don’t really have any conversation with my rock. Most of the time, I just listen what it has to say. Some long stories, about time, about its age and how really young I am, some times about our ancestors it knew, apes, dinosaurs and so, some times it introduce me to some acquaintance of his: a mountain, some sand, another rock…
It spends lots of time trying to explain how frivolous we, humans, are, when fighting for a piece of land, the same land that was here long, long before we came to the surface and that will be here long, long after we are gone for ever.
It also use to show me the absurdity of the speed we have in life, when we don’t even see a sun rise or a rainbow, when we don’t listen to the birds or fell the breezes. We don't even know when a star is born!
When I pick it up from my pocket and caress it in my hand, my fellows at work say (or think) that I’m getting crazier every day. I suppose it is truth, but it is also truth that the so called “mental sanity” is deathly boring.
Those speeches I get from my friend lead me to a more peaceful condition, a bigger communion with my surroundings, either on my sight or on the other end of the universe. Some times I whish I were a rock, with its wisdom.
I have two others rocks at home. They look like this one, in shape, size and material. But I suppose they don’t get along with me as this one: they don’t talk to me. Probably they think I don’t deserve their attention. After all, they own us, rather than the opposite as we usual think.

Either that or I’m too ignorant to understand them.

Texto e imagem: by me

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Business as usual

By me

Um retrato - 2010-04-25

Espero apenas que o bonito sorriso que aqui exibes não seja apenas porque o dia estava bom, havia festa e tinhas uma flor na mão. Desejo mesmo que ele, o sorriso, seja porque acreditas, de alguma forma, no que ele significou e significa, e que tenhas como verdade que o futuro te pertence e que o irás construir à tua medida.
Quanto ao não teres hoje aquilo que, então, nós acreditámos e sonhámos, mais não posso fazer que, a ti e aos da tua geração, pedir desculpa pelo nosso falhanço.
E citar António Gedeão, excelentemente interpretado por Manuel Freire:

"...
Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E que sempre que o homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos duma criança."


Imagem: by me

domingo, 25 de abril de 2010

Imagem


No constante fazer de imagens do quotidiano, as que são normais, regulares, habituais, vão-se desvanecendo, como papel fotográfico mal fixado, restando delas contornos vagos e imprecisos.
Do que recordo de há 36 anos, para além da festa da revolução por si mesma (o fim da guerra, da censura, da ditadura, da polícia política) ficam as imagens da festa do quotidiano!
Cada dia era um dia, razoavelmente imprevisível e em que as suas consequências dependiam, em boa parte, do que fizéssemos. Não deixávamos o futuro em mãos alheias e intervínhamos, a cada passo, nos que a nós dizia respeito e no que ao colectivo tocava.
Construíamos! Debatíamos! Sonhávamos! Fazíamos!
É esse espírito de construção permanente, de almejar mais e melhor e de fazermos por isso (sem esperarmos que outros o fizessem por nós nem para eles passemos as responsabilidades de tal) que recordo com mais força. São fotografias perfeitamente impressas e fixadas que jamais se desvanecerão. Apesar dos aspectos negativos (que os houve) que aconteceram então e que ainda hoje marcam parte da nossa vida.
No espelho do tempo vejo aquilo que agora faço porque aconteça: intervir na sociedade, estando lá de corpo e alma, melhorando o que de menos bom vamos tendo e celebrando o que de alegre e positivo existe.
Mas quando olho para trás e para o lado, lamento sinceramente que esta atitude interventiva, que então grassava, se tenha desvanecido, qual imagem velha e mal cuidada.
Quando, daqui por 36 anos, olharmos para as imagens deste tempo que vivemos, o que sobrará serão imagens cinzentas ou amareladas, mal fixadas e amarfanhadas.
Por que nesta sociedade, a alegria de ser passou a alegria de ter. E o consumismo dos tempos que correm transforma de um dia para o outro a novidade em velharia, pouco restando para recordar.As fotografias que então fizemos com a alma repassam no tempo. As que hoje vamos fazendo, porque virtuais e efémeras, não sobreviverão à vertigem das novas novidades para consumir!

Texto e imagem: by me

sábado, 24 de abril de 2010

Rigores


A coisa acontece bem lá mais para norte, “em terras de sua majestade”, como se costuma dizer.
Para breve estão eleições para a câmara dos comuns, o parlamento Britânico. E por lá, tal como por cá, os debates televisivos são uma das armas usadas, tal como as sondagens.
Acontece, porem, que se os primeiros acontecem à frente de todos, já as segundas terão o valor que se lhe quiser dar, dependendo de quem as faz, de quem as interpreta e de quem as divulga.
Veja-se o que se lê, como título e início de notícia sobre o tema, em dois jornais portugueses:

“No DN:
Segundo debate teve vantagem conservadora
O líder dos Tories, David Cameron, surgiu numa sondagem como o vencedor do confronto televisivo de quinta-feira.
As sondagens realizadas após o debate eleitoral de anteontem deram a vitória ao líder conservador, David Cameron, ou o empate entre Cameron e Nick Clegg, que chefia os liberais-democratas. Numa sondagem YouGov realizada pouco depois do confronto televisivo, 36% dos telespectadores davam a vitória ao dirigente conservador. Mas outro inquérito, também sobre quem venceu na televisão, sugeria um empate entre Cameron e Clegg.
…”

No Público:
“No Reino Unido a luta é cada vez mais entre Cameron e Clegg
A média de todas as sondagens que se seguiram ao debate de quinta-feira entre os representantes dos três principais partidos concorrentes às legislativas colocam o líder dos lib-dem, Nick Clegg, em primeiro lugar com 33,8 por cento. O líder dos conservadores, David Cameron, surge com apenas um ponto percentual a menos e Brown aparece em último com 27,6 por cento.
…”

De alguma forma esta discrepância lembra-me daquela previsão meteorológica:
“O dia será seco, a menos que chova, e as temperaturas serão amenas, excepto para os friorentos”

Nada como rigor informativo! A menos que se passem as culpas para as agências noticiosas e empresas de sondagens.

Imagem e comentários: me byme

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Icones

Brincando com um Cravo e com a tristeza de o ver e de o saber tão morto aqui quanto o seu significado actual.








Texto e imagem: by me


BBC


Bica, Bagaço e Cravo.
Será aquilo que, ao fim da tarde do próximo Domingo, sobrará de um 25 de Abril.
Depois, durante mais um ano, será apenas a Bica e o Bagaço, que já ninguém se lembrará dos acontecimentos de há 36 anos. Apenas lamentarão que, este ano, tenha calhado a um Domingo, que não deu para fazer “ponte” nem ir à terra.


Texto e imagem: by me

Festa!


Claro que foi dia de festa!
No lugar do convencional branco, cor-de-rosa pálido ou azul-bebé, de uma, duas ou mesmo três folhas, entrou ali no sanitário este papel higiénico preto. Muito mais interessante ainda, perfumado, que dei pelo aroma quando abri a embalagem.
A capacidade de invenção do ser humano não tem limites e a dos industriais, desde que seja para vender, também não!
Claro está que este papel, espesso como é, tem muito menos folhas por rolo que o habitual. E é bem mais caro, caramba.
Mas, sendo da cor que é, suponho que uma simples folha fará o serviço, que nela não constataremos aquilo que visível, depois de usar, nas outras mais baratas e fáceis de encontrar.
O que não foi de todo em todo possível de encontrar, e procurei, foi rolos de papel com o mesmo destino mas em cor castanha. Estranho!


Texto e imagem: by me

quinta-feira, 22 de abril de 2010

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Clássico


Poderia ser esta fotografia mais clássica?
Talvez!
Se tivesse tido o cuidado de a limpar por inteiro, retirando-lhe todos os sinais do tempo.
Mas então deixaria de ser uma quase antiguidade para passar a ser uma nova coisa velha.

Texto e imagem: by me

Um olhar - Ana


By me

terça-feira, 20 de abril de 2010

Maquinetas


O raio da maquineta até era nova. Perfeitamente conforme com as normas vigentes no tocante a segurança e poluição – ambiental e sonora.
O que já não eram tão novos eram os homens que com ela trabalhavam. Com ela e com o maldito gerador usado para alimentar a máquina de soldar e a rebarbadora com que estavam a construir uma vedação metálica.
Tal como já não eram novos os ferros que alguns iam montando no prédio do lado para construir os andaimes que haverão de permitir a pintura de paredes.
E igualmente vetusta era a roldana usada para os içar paredes acima. Mas, além de idosa, a pobre geringonça queixava-se em permanência do esforço a que era submetida e da ausência de lubrificação. Um queixume continuo, bem audível e penetrante.
Some-se tudo isto e diga-se o que diria um tipo que recolheu a vale de lençóis pelas quatro da manhã, na sequencia de uma noite de trabalho e leitura, e que é brindado com este concerto pelas nove da madrugada!
Não creio que tenham ouvido o que em surdina proferi. Mas se acaso o tivessem percebido por cima de todo o ruído que iam fazendo, suponho que aprenderiam alguns vocábulos novos de português vernáculo.

Texto e imagem: by me

The unicorn


There was this guy, our hero, who was caught in a time-space trap. The villains where doing knots with the countless universes, to gather as much humans as they could, since they eat them.
The boy found himself in a strange earth, where he meets this girl, our heroine, who was looking for her unicorn. They worked together in a circus and it was the last of his species.
So they walked through the woods until they found this lithe town, a kind of an old one. There they were really welcome, since the previous foreigners were quite aggressive, with their strange fire weapons and their unimaginable vehicles with no horses. They give to our heroes shelter, bath and new clothes. And invited them for a diner where the town’s notables would be gathering in their honour.
During the feast, some servants enter the room, naked, and steal all the jewellery from the town folks. And none of them seams to notice it.
Next morning our friends were wake-up by a mob wanting to hang them for robbery, saying they had abused their hospitality.
They both run through the main street and, at some point, he told her to take her clothes off. Strange request for such situation, but since he was doing the same, she did it. When they were naked, the mob passed by them, without doing what so ever, and keeps looking for them. But now saying they were sorcerers, giving their disappearing into the thin air.
Later, deep in the woods, he explained her that the town folks, still living in a Victorian era, considerer the nudity as the utmost sin, so they couldn’t even sees it. And that is why the robbers and they were invisible at their eyes.

This is part of a science fiction novel I read long, long time ago. And I am sorry, but I can’t remember its name or the author’s name. But when I saw this little unicorn on a shop window I remember the tale and bring it home. My apologise to the author for any inaccuracy, but I wrote it as I recall it.

But this little story also reminds me of most of the photographers. What they bring home in their cameras is nothing but what they are able to “see” under their own limitations due to culture, personality and that day’s mood.
For most of us, most of the times life pass through our eyes and we just can’t see it.
And we select subjects, perspectives and even colours (or their absence) according to those factors.
That is why I say that our photographs, rather than being portraits of our surrounding world, are implicit portraits of the photographer.


Texto e imagem: by me

segunda-feira, 19 de abril de 2010

domingo, 18 de abril de 2010

O retrato


Quem é a criança? Pouco importa, pelo menos aqui. É o filho de uns amigos com quem dei um passeio de domingo de tarde.
A dado passo, numa esplanada estrategicamente coberta e protegida da chuva, parámos para um café.
O garoto, com pouco mais de dois anos, chorou de birra, já nem sei porque motivo.
E eu, fotógrafo de serviço, não perdoei! Se estava a fazer o registo da tarde, o choro não poderia faltar!
Mas quando, um pouco mais tarde e as lágrimas secas ao invés dos bancos à chuva, quis ver as fotos feitas, parou por muito tempo a ver esta. E ficou, e ficou, e ficou, ainda que fosse ele que as fosse avançando no visor da câmara.
Criança nascida na era do digital, fotografia incluída, está mais que habituada a ver imagens suas, que quem tem uma câmara fotografa criança.
Mas, estou em crer, que nunca se tinha visto a chorar.
Durante aqueles longos segundos em que ele se viu assim, lembrei-me de um pedaço do filme Yi Yi, de Edward Yang, premiado em Cannes: um garoto, aí dos seus 8 ou 9 anos, oferece a seu tio uma fotografia da sua nuca. E afirma: “Para que vejas aquilo que de ti não consegues ver”.
Não sei em que medida este retrato deste garoto o marcou. Mas daria bom dinheiro para saber aquilo em que pensava enquanto o via!

Texto e imagem: by me

Sabrina





By me

sábado, 17 de abril de 2010

Água & Fogo - Water & Fire

Água & Fogo - Water & Fire

By me

"E que tal uma maçã?"...

... disse a velhinha.




By me

Vulgaris


Esta é uma espécie que aparece nos jardins de quando em vez.
As suas cores, formato e profusão são denunciadoras dos factores externos que promovem o seu surgimento, factores estes que têm que ser simultâneos:
Dias de chuva, dias de vento, sociedade de consumo exacerbada, falta de civismo.
É assim que quando estão reunidas as condições lhes vemos as cores, algumas mais garridas, outras mais discretas, espalhadas pelos jardins e não só. Que esta espécie não escolhe lugar para se exibir.
O seu nome? Cientificamente será, creio, “Vulgaris sombrinha”, mas o nome mais comum é “guarda-chuva-virado-pelo-vento”.


Texto e imagem: by me

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O almoço está pronto





By me



Manifesto


Falta pouco menos de um mês para a visita papal a Portugal.
No entanto já está a criar problemas por cá.
Veio o nosso governo criar dois meios feriados, em Lisboa e no Porto, para o pessoal da função pública, para que possam assistir às celebrações religiosas que ali acontecerão. Ora batatas! Porque carga de água tem isso que acontecer?
Por um lado, será que serão apenas os funcionários públicos os crentes? Todos os restantes cidadãos serão ateus, agnósticos os seguidores de outras confissões?
Por outro lado, porquê dar-se esta relevância à visita papal e deixar de fora outras visitas religiosas, igualmente importantes, como foi a do Dalai Lama não faz muito tempo?
Mas o que mais me incomoda no meio de tudo isto é que Portugal, estatutariamente, é um país laico, com notória separação entre o estado e a igreja. Então, porque fazer-se de um acontecimento religioso, extemporâneo e pontual um evento capaz de fazer parar o país?
Que culpa tenho eu, agnóstico convicto, que esse senhor de Roma cá venha? Que culpa tenho eu que tantos queiram (ou possam querer) ir rezar junto a ele? Porque raio terei eu que ter a minha vida privada alterada apenas porque vem um homem a Portugal?
Aliás, faz-me confusão toda esta gente querer estar e rezar junto do Papa, quando se supõe que a religião cristã não aceita ícones ou falsos deuses e que, para falar com o seu deus, qualquer lugar é bom, já que se trata de algo de muito privado e íntimo.
Mais ainda: este homem, e pondo de parte todas as polémicas em seu redor, não recebeu nenhuma inspiração divina para ocupar o lugar. Foi eleito entre os seus iguais, exactamente da mesma forma que elegemos um presidente ou um deputado. Mais ainda: para se ser presidente ou candidato a isso, basta ter-se a nacionalidade portuguesa, mais de 35 anos de idade e gozar de todos os direitos de cidadão. Entretanto, para se ser eleito papa, há que pertencer à mais alta hierarquia da igreja e apenas os que têm postos iguais o podem escolher. Todos os crentes e demais religiosos de inferior categoria são afastados do processo.
Mas, não sendo eu crente, pouco me importa como uma organização, a que não pertenço e com a qual não me relaciono, se organiza.
Incomoda-me antes sim, e muito, que essa mesma organização influa na minha vida privada! Apenas porque um homem, um qualquer homem, decidiu vir até cá, terei a minha vida modificada, com restrições à circulação de cidadãos, com espaços públicos e funcionários públicos, pagos por mim através dos meus impostos (leia-se impostos e não doações) a que não terei acesso…

Em contrapartida, se vier a Portugal um criador, um artista, um pensador profundo, uma pessoa que, de facto, tenha contribuído por si mesmo para a humanidade, não pára o país, não são concedidas tolerâncias de ponto e mesmo os media não lhe concedem nem a décima parte do tempo e espaço do que já está a acontecer, apesar de faltar quase um mês para que o papa cá venha.
Só para dar um exemplo, quando Sebastião Salgado voltar a Portugal, quero ter dispensa de trabalho para poder contactá-lo pessoalmente, poder apertar-lhe a mão e agradecer-lhe, em meu nome e dos demais, por ter feito o que tem feito. Não apenas do ponto de vista criativo ou artístico mas também por, com isso, ter-nos posto a pensar no que somos e ter-nos levado a melhorar (ou tentar) o mundo em que vivemos.
É que, caramba, um agnóstico ou um ateu também pode ter os seus ídolos de carne e osso, sem nada de divino ou transcendental!


Texto e imagem: by me

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um tributo


Importa o que seja? Não creio!
Importa, antes sim, que me caiu aos pés, já depois da uma da manhã, enquanto esperava por transporte para casa depois do trabalho.
E mesmo no escuro daquela avenida pouco iluminada deu para perceber que a natureza faz coisas bonitas.
Um tributo àquela árvore que me abrigava do forte aguaceiro que ia caindo!


Texto e imagem: by me

quarta-feira, 14 de abril de 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

This is a Photo Graph


Etymologically, photography is the writing of the light.
But, just like writing with lemon juice, we can’t see it before doing some extra procedure on it. With pen and lemon juice, we have to heat the paper; with photography, we have to use some chemistry procedure, as developing it, or some physical procedure, as opening a file in digital.
Either way, it is no longer the writing of the light but the result of what we do after the act of pressing the shutter release.
Being so, where is the line that we may (or shouldn’t) cross and where a photo may become something else than a photo?


Texto e imagem: by me, some long time ago

O sapato do yogurte




By me

Just for the fun




By me

A flôr existencialista


Insiste em existir.


Texto e imagem: somehow me by me

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Numa tarde quente de primavera






By me

Foi aqui!


Foi aqui e hoje!
E como tudo na vida é relativo, também o “aqui” o é. Pois que o lugar de “aqui” refere-se a este autocarro, que se movimenta relativamente ao que o cerca, tal como a Terra em relação ao Sol, etc.
Pois foi aqui, neste autocarro que vi fazer um gesto não muito comum nos tempos que correm: alguém ter atenção para com os que o cercam e agir em conformidade.
Subiu para este autocarro um casal já idoso. Bem idoso. O cavalheiro, para além da idade, tinha notória dificuldade de locomoção, usando uma bengala para caminhar. Pior ainda, o seu equilíbrio era bastante instável e foi complicado que conseguisse chegar ao banco onde se sentou.
Pois o motorista deste autocarro, cujo nome ignoro, teve o cuidado de não reiniciar a marcha antes do passageiro se sentar. Observando as manobras e as dificuldades do idoso pelo retrovisor, esperou parado e de portas fechadas, com uma paciência pouco comum estampada no rosto.
Este acto, que nos fez perder, aos restantes passageiros, uns quinze segundos se tanto, é um daqueles gestos que se agradece e recomenda. E que nos deixa espantados, face ao constante olhar para o próprio umbigo com que nos deparamos diariamente.
Da minha já longa experiência com autocarros alfacinhas, devo dizer que já tenho assistido a situações semelhantes, principalmente nesta carreira, a 709, onde os idosos são parte substancial dos passageiros.
Já o mesmo não posso dizer de uma outra que também conheço bem, a 21, onde o grupo etário é semelhante. Passageiros embarcados, portas fechadas e trocos feitos, é andar que se faz tarde. E quem estiver de pé que se agarre, pois que a recomendação está lá, nos cartazes afixados no interior.
Para o motorista deste autocarro, bem como para todos os outros que o igualam na atenção para com o seu semelhante, o nosso “Obrigado” e um “Bem hajam”.
E viva quem faz!


Texto e imagem: by me

A cabeça perdida de Damasceno Monteiro


“…Para mijar tinha escolhido um grande carvalho que espalhava a sua sombra sobre um campo à beira do pinhal. Não sabia porquê mas dava-lhe prazer mijar contra aquele carvalho. Talvez por ser uma árvore muito mais velha que ele, e o Manolo gostava que no mundo houvesse seres vivos mais velhos do que ele, mesmo que se tratasse de uma árvore. A verdade é que se sentia bem, como se uma serenidade o invadisse enquanto fazia as suas necessidades. Sentia-se em paz consigo próprio e com o universo. Aproximou-se do carvalho e urinou com alívio….”

Não é um carvalho, mas consigo sentir o descrito neste trecho do livro “A cabeça perdida de Damasceno Monteiro”, escrito por António Tabucchi.

Imagem: by me

domingo, 11 de abril de 2010

Núvens

Tenho que admitir que não poderia estar mais em desacordo!
Fotografar nuvens não apenas é divertido como nos enche o ego. Ou a alma. Ou nos deixa em uníssono com o universo. Ou o que quer que seja.
Em qualquer dos casos, gosto de o fazer.



Texto e imagem: by me

sábado, 10 de abril de 2010

Uma fotografia


Isto é uma fotografia! Indo mais longe, é uma fotografia que não foi feita por mim mas antes de mim mesmo.
Eu explico:
Quando, há uns quinze anos, perdi a faculdade de ver do olho direito, fui sujeito a diversos testes, um dos quais uma endoscopia oftálmica.
Quando o médico ma prescreveu, confesso que não entrei em pânico, mas passei umas noites quase em claro. Por onde entraria a sonda? Que espessura teria ela para percorrer os minúsculos vasos sanguíneos do globo ocular? Como conseguiriam eles que o olho ficasse paradinho da silva? Com estas e outras perguntas, fui fazer o exame particularmente preocupado.
No fim de contas, as coisas acabaram por ser bem mais fáceis do que eu imaginara. Pois que se a luz atravessa o cristalino para chegar à retina, o contrário também é verdade e pode ser usado. Depois de me dilatarem a pupila, foi uma questão de fotografarem o que se vê lá dentro.
Piada, mas piada mesmo, foi o ter constatado que para fazerem este exame, usavam ali uma Pentax MX, igualzinha à que eu mesmo usava para fazer as minhas fotografias. E que, como película, o clássico Kodak Tri-X, exactamente o que eu mesmo usava para fotografar em preto e branco.
Estive quase para perguntar se também usavam Rodinal, a 1:50 para a revelação. Mas não creio que aquelas técnicas que ali estavam o soubessem.
Foi assim que fiquei com uma fotografia em que eu participei activamente mas que eu nunca poderia ter feito. Mais ainda, uma fotografia de algo que nunca poderei ver.
Quem disse que a fotografia já não nos pode surpreender?

Texto: by me
Imagem: me, by some optical technician

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O António do 44-42-PG


O episódio aconteceu rapidamente e com a naturalidade de uma consciência tranquila.
Atravessou o corredor de “BUS” na diagonal, em plena praça do Rossio, obrigando um autocarro a travar.
Subiu o passeio bem no meio dos semáforos de peões, levando a que quem ali estava à espera de poder avançar, se desviasse.
Percorreu o largo passeio, pejado de transeuntes, mesmo ao lado da Pastelaria Suissa entrou na Rua do Amparo. Os que ali estavam, vendedores de cautelas, plastificadores de documentos, passantes habituais e ocasionais, bem tiveram que se desviar. Aqueles que estavam de costas para o automóvel deram o respectivo salto para o lado quando avisados por aqueles que vinham de frente. O que não espanta, já que toda esta rua, quase tão comprida como larga, é reservada ao trânsito pedonal.
Entrou na Praça da Figueira, sempre em cima do passeio e afastando quem ali caminhava.
Cruzou o lajedo, mesmo ao lado da boca do metro, e foi imobilizar-se onde se vê na imagem.

Sendo que fui um dos que foi obrigado a desviar-se, apesar do reservado do local, fiquei pocesso!
Dirigi-me à viatura, aguardei que o seu condutor saísse e perguntei-lhe pelo primeiro nome. Ainda que surpreso, lá mo disse: “António”.
E continuei agradecendo, dizendo-lhe que gosto de saber o nome de quem me incomoda seriamente, como fora o caso.
Mas, e para não ficar por ali, e aproveitando ele estar de boca aberta, sempre lhe perguntei se não tinha vergonha do que tinha feito aos peões que ali estavam, se não teria já idade para ter juízo (ultrapassava largamente os sessenta anos), e se pensava que a cidade era só dele.
Respondeu-me que sim senhor, que tinha vergonha, que estava arrependido e se eu já teria acabado que ele estava com pressa.
Consegui manter a compostura e não deixar sair os impropérios que teimavam em bailar-me na ponta da língua. Afastei-me e tentei perceber o que se passava. Que, afinal, era simples: Entrou ele na Suissa, encostou no balcão e tomou um café. Minutos depois saiu, pediu a um carro que ali estava para se afastar e seguiu à sua vida.
Posso garantir que tanto o carro quanto o seu condutor, o António, se afastaram sem que eu lhes tocasse!


Texto e imagem: by me

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Caminhos velhos


A expressão habitual é “Vezes sem conta”. Mas creio que será exagero usa-la. Será mais realista dizer “umas boas centenas de vezes”!
Daí eu dizer que passei por esta esquina umas boas centenas de vezes.
Fica ela nas imediações de dois liceus que frequentei enquanto estudante. Trata-se de uma passagem pedonal, quase ignorada pelos não moradores da zona, já que fica nas traseiras de um prédio, de uma igreja e de uma escola do primeiro ciclo. Mas permite cortar na diagonal um caminho que, feito de outra forma, terá mais do dobro do comprimento. E os jovens, na sua ânsia de viver rapidamente cada momento, muito depressa descobrem os caminhos mais curtos entre aquilo que lhes interessa.
Usava-o para ir a uma geladaria do bairro, que de inverso diversificava os seus produtos com deliciosas bolas de Berlim, com ou sem creme. Estou em crer que se tivesse sido visitada pela ASAE, teria sido encerrada sem cerimónias, prendendo quem lá trabalhasse e os seus antepassados até à 10ª geração. Mas que os gelados e os bolos eram uma delícia e uma guloseima, isso é inquestionável!
Também este beco pertencia ao trajecto entre o liceu e uma já extinta papelaria que tinha como atractivo uns bonecos (cow-boys e cavaleiros medievais) que nos enchiam os olhos e a alma e nos esvaziariam os bolsos se tivéssemos dinheiro para tal. Ainda tive uns 3 ou 4 desta colecção, ofertas especiais pelos anos ou natal. Mas passávamos por lá amiúde, em busca de novidades, de renovações de montra e de matéria de conversa e de sonhos.
Claro está que este caminho meio escondido foi percorrido rapidamente, nem sempre quando devia, para me encontrar com a namorada do momento. Ou lentamente se a ela vinha abraçado, falando ou tão só pensando naquilo que os namorados costumam falar ou pensar.
Também serviu de fuga rápida às patrulhas policiais nos conturbados tempos que se seguiram à revolução. A sua reduzida largura e os lances de escadas eram um real obstáculo aos carros que nos tentavam apanhar, o que nos permitia deixa-los para trás, dispersando nas esquinas e encontrando-nos mais tarde noutra combinadas.
Assim posso afirmar, sem margem para erro, que em tempos, antigos passei por esta esquina umas largas centenas de vezes!
O que acaba por ter graça é que, com o passar dos tempos, este caminho acabou por ficar fora dos meus trajectos habituais. E passei anos sem a dobrar.
Mas, por um ou outro motivo, nos últimos seis meses tive que por aqui caminhar uma mão cheia de vezes. E, a cada uma delas, constatei que “O que o corpo sabe, a cabeça não pensa”.
É que, nos meus tempos de adolescente e com as pressas implícitas de tais vivências, os caminhos eram cortados a direito. E ninguém dessa idade se lembraria de subir ou descer este ultimo lance de escadas podendo seguir pelo talude de betão existente. Um saltinho e já está! Principalmente se não existirem obstáculos a esse salto, como sejam um corrimão. Que não havia nessa época!
Algures, no interregno da minha ausência, talvez porque a população do bairro envelheceu, talvez pela proximidade da igreja e das suas capelas mortuárias, este corrimão surgiu e deve ter ajudado muita gente. Mas não a mim, pela certa!
Que, de todas as vezes que, recentemente, ali quis passar, embati nele, com o correspondente impropério. Que o corpo queria passar a direito, a memória assim o mandava e o consciente se alheava daquilo que os olhos lhe diziam. Só desta vez, alerta que já estava, e receando um novo embate pouco simpático, já contava com o bem ou maldito corrimão.
Os caminhos velhos não se esquecem! Mas, por favor, não lhes coloquem obstáculos.

Texto e imagem: by me

terça-feira, 6 de abril de 2010

Um sapato


E uma porta


By me

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A brincar aos palcos


A brincar aos palcos e, caramba, sem tipo algum de correcção posterior!
Afinal de contas, fotografia é a escrita da luz!

Texto e imagem: by me

domingo, 4 de abril de 2010

The philosophy of the egg


Life is just like an egg:
Full of mysteries, shadows and high lights! And we never really know about it before we live it.
But it doesn’t mater if you deal with life like you do with boiled eggs: Raw, medium or well done. As long as you have the most of it and you really enjoy living!

Texto e imagem: by me