sexta-feira, 1 de agosto de 2025

A primeira




Esta foi a primeira DSLR Pentax que tive. E, ao que sei, foi o primeiro modelo deste género a ser vendido em Portugal, apesar de a marca ter modelos anteriores.

Teve esta câmara alguns episódios insólitos, começando por o vendedor da loja onde mais tarde a comprei ter-me chamado de “estúpido”. Ele até poderia ter razão na nossa divergência de opiniões e terminologias (e não tinha), mas não é forma de tratar um potencial cliente.

Não lhe respondi no momento, mas tratei de falar com o gerente da loja, contando-lhe o sucedido. E afiancei-lhe que, em voltando ali eu e o encontrando, não faria ali negócio, nem que tivesse que ir a Espanha. Nunca mais o vi.

Depois disto teve alguns problemas, alguns resolvidos outros ainda não, que mais tarde adquiri outro modelo melhor e mais fiável a vários níveis. E mais alguns depois disso.

Apesar de não estar 100% funcional não a substituirei, que lhe ganhei estima. Afinal, nada como o primeiro afecto. Ou câmara.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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quinta-feira, 31 de julho de 2025

Energias




De acordo com a noticia hoje publicada, esta é uma fotografia do maior relâmpago de que há registo.

Terá ocorrido em 2017, nos EUA e tem uma extensão de 829 (oitocentos e vinte e nove) quilómetros.

Do meu ponto de vista, um desperdício de energia. Não aproveitou a ninguém.

A nós, tugas, bastava uma muito pequena parte disto para materializar a velha frase “um raio que os parta” sobre alguns figurões do nosso panorama político.

Será que se pedirmos com delicadeza eles nos mandam um pouco ou teremos que pagar fortes tarifas energéticas?


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quarta-feira, 30 de julho de 2025

Sorte




O que é normal acontecer é não estarmos em casa quando a sorte nos bate à porta. Desta vez estava.

Numa feira de rua, mensal naquele local, havia eu combinado com um feirante habitual o comprar-lhe uma peça e o combinado era eu ir ter com ele na feira do mês passado.

Acontece que nesse dia fazia um calor dos diabos e preferi ficar em casa, adiando o feirar para o mês seguinte. Foi este domingo.

O homem, sabendo o comprador garantido, tinha o que eu queria num canto da carrinha e foi buscar num momento de pausa de negócio.

No entanto, e apesar de ter ficado bem satisfeito com o que ele me havia guardado (que há muito procurava, ainda que não com muito afinco), os meus olhos prenderam-se nisto, quais os de uma criança perante um bolo de creme (a sequência do bolo de creme no filme “Era uma vez na américa” é deliciosa). E devem ter brilhado como faróis de nevoeiro quando me falou no preço: 35€, uma obscenidade de barato.

Trata-se de um flash meter de 1968 completo como se vê, no respectivo estojo e, para além da pilha que aqui se vê, tem outra dentro do aparelho. Que trabalha bem certinho, verifiquei eu em casa.

O aparelho de per si já é peça incomum de encontrar. No geral e em Portugal em particular, já que por cá poucos seriam os que os teriam e lhes dariam uso. Completo como está, em bom estado funcional e estético, com pilha de reserva (já não se fabricam e há que improvisar) e, ainda por cima com o estojo de origem e com o respectivo manual de utilizador...

O único senão é o manual estar em alemão e eu não o saber ler. Com o acréscimo de o funcionamento não ser tão intuitivo quanto isso, principalmente estando nós habituados aos sistemas actuais. Mas não só acabei por dar com a coisa como, depois de muito procurar, dei com uma versão em inglês na web.

Não sou colecionador de aparelhos de medida de luz. Acho-lhes graça, não apenas às soluções encontradas para o efeito como ao seu aspecto, em que se procurava aliar forma com função. Alguns são verdadeiras peças de arte.

Tenho alguns, que se vendem absurdamente barato os mais antigos, muitos dos quais, e pela tecnologia usada, já não funcionam. Este, apesar de ser um matacão e ter limitações, será uma peça de destaque entre os que aqui tenho.

Tão cedo não terei uma oportunidade como esta: a sorte bater-me à porta e eu estar em casa.

 

Pentax K7, SMC Pentax 50mm 1:1,2


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segunda-feira, 28 de julho de 2025

sábado, 26 de julho de 2025

Limitações e soluções




O formato fotográfico alargado na horizontal sempre atraiu parte da comunidade fotográfica.

Quer fosse porque o assunto principal fosse assumidamente horizontal e o que mais houvesse na vertical fosse mais “lixo” que componente do que se queria mostrar, quer fosse para quebrar as normas estéticas das proporções, quer fosse para aproximar a fotografia da forma de ver humana... sempre houve quem por aí caminhasse.

Mas um problema se levantou sempre: a compatibilidade dos formatos apresentados pelos fabricantes de película com a vontade desses fotógrafos.

Foram várias as abordagens técnicas de fabricantes para os satisfazer.

Desde a janela da película mais larga e a utilização de objectivas que tivessem um ângulo de cobertura compatível até às câmaras cuja objectiva “varria” o ângulo desejado, rodando em torno do seu eixo ótico, passando pela opção de fazer mais que uma imagem e justapo-las no resultado final.

A Pentax, tal como outras marcas, também tentou a vertente panorâmica, mas do modo mais acessível ao público em geral, tanto no criar uma câmara que que respondia ao habitual mas também às imagens panorâmicas.

No lugar de tentar aproveitar mais película ou criar um mecanismo mais complexo, introduziu uma alteração da janela do negativo. A largura manteve-se no convencional mas aproveitava menos na vertical. Bastava rodar um botão.

Sistema inteligente, de baixo custo, e que permitia o utilizador escolher um ou outro formato sem entrar em maiores despesas de câmara ou objectiva, e tudo no mesmo rolo fotográfico.

A Pentax MZ-5 é disso exemplo, produzida em finais dos anos ’90, pouco antes da popularização dos sistemas digitais.

Claro que as limitações impostas pelos fabricantes de papeis fotográficos e mesmo dos monitores digitais continuam a vigorar, dificultando um pouco quem produzir ou criar imagens a seu gosto, mas isso é outro capítulo na história da industrialização e normalização dos processos criativos.

 

Pentax K1 MKII, SMC Pentax-M macro 100mm 1:4


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quinta-feira, 24 de julho de 2025

Posfácio

 


 

Pentax K7, Tokina AT-X 400mm 1:5,6


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terça-feira, 22 de julho de 2025

E se há cinzeiros nas entradas de alguns espaços....




Parece que estão à espera de autorização de uma entidade oficial para instalarem um inibidor de sinal de telemovel numa prisão portuguesa.

Não só faz sentido este tipo de equipamento em tal local como me questiono sobre o porquê de isso não estar instalado e a funcionar há muito tempo.

E, a tal respeito, acrescento que, com as devidas cautelas, avisos e legislações, estes inibidores deveriam ser acessíveis a entidades particulares e não exclusivas a penitenciárias e semelhantes.

Do meu ponto de vista, estabelecimentos de restauração poderiam tê-los instalados no seu interior. E explico o porquê:

Poucas coisas há mais irritantes que ter que ouvir as conversas telefónicas da mesa do lado ou do fundo durante um repasto. Já bem basta as não telefónicas, em que o riso, as discussões, as conversas cruzadas e equivalentes surgem como poluidores sonoros à nossa refeição.

A tranquilidade da partilha que é um almoço ou jantar em torno de uma mesa comum deveria ser sagrada e não ser permitido que os demais se intrometam ou estraguem.

E muitas foram as vezes em que tive vontade de ir questionar quem assim grita sobre se sabe que “telefonar” significa “falar à distância”, não sendo necessário gritar para que funcione.

Esta tranquilidade gastronómica seria muito mais fácil de implementar recorrendo a tecnologia que a educação, coisa que é sabido faltar um bom pedaço neste país.

 

Nota adicional: E se os aparelhos na imagem são antigos e desactualizados, já a minha opinião também é antiga mas cada vez mais actual.


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domingo, 20 de julho de 2025

Em linha




Sobre a brita que segura as chulipas que fixam os carris, numa estação de caminho-de-ferro, um chinelo.
É o chamado “dois-em-um”, já que satisfaz dois “projectos” que faz tempo não alimento: Objectos caídos na linha e sapatos abandonados.
Rapei da câmara e tratei de encontrar solução com a 50mm. Sem me deitar no cais para a proximidade, nem me afastar demasiado para a contextualização.
Foi o que consegui fazer.
Interessante foi o comentário de um de dois rapazolas que ali estavam, como eu, à espera do comboio: “Olha uma Pentax!”
O meu espírito curioso, o ser fã das Pentax e o não ter mais nada que fazer levou-me a meter conversa:
“Também tens uma Pentax?”
“Não, mas gosto delas.”, foi a resposta.
Fiquei por saber porque é um adolescente que não tem uma câmara de uma marca gosta da marca. Moda? Tem alguém na família possuidora de uma? Afirmação gratuita, só para não ficar calado?
Mas ele não se ficou por ali e perguntou-me que tipo de fotografia fazia eu. “De quase tudo, menos eventos, que não tenho paciência. Desde que me atraia o olhar…”
“E o que o levou a fotografar a linha, assim do quase nada?”
Bem! É rapazola mas tem algum interesse na matéria, falei para os meus botões. E chamei-o ao local, três passos apenas.
“Repara a quantidade de coisas variadas que as pessoas deixam cair na linha. Há sempre algo divertido e surpreendente no que aqui se encontra. E pensa no que terá passado a possuidora deste chinelo, que talvez o tenha deixado cair para ali ao subir para a carruagem e ficou com um pé descalço o resto do tempo. Há sempre um montão de coisas interessantes que podemos pensar ou concluir do que encontramos por aí. É uma questão de estarmos com os olhos e alma aberta.”
Sorriu, olhou para um lado e para outro, perscrutando a linha e o que lá estava caído, e rematou:
“O bicho-homem sempre me surpreenderá.”
Creio que tem potencial para ir bem longe, este adolescente.
O chinelo? Ficou lá, para que outro se surpreenda também.

Pentax K7, SMC Pentax 50mm 1:1,2

By me

Liberdade




Há um quarto de século publicava eu isto:

“Seja qual forma como tentemos abordar o tema, a verdade é que estamos sempre e eternamente presos.
Confinados a uma cela ou na superfície do planeta, com horários, cartões identificativos e códigos de conduta.
A qualidade da prisão é que varia. Alguns vêem no abrir da fechadura a sua liberdade, outros no vencer a atracção terrestre. Uma chave uns, asas outros. Há quem vá mais longe e não possua relógio ou recuse o bilhete de identidade.
Mas depois de cada fronteira, depois de cada quebrar de grilhetas, apenas constatamos que continuamos presos. Por outras grades, por outros conceitos, por outras obrigações.
Quando, há uns anos largos, conversava com um Argentino, logo a seguir à guerra das Malvinas ou Faulkland, dizia-me ele: “Nós? Somos livres! Podemos sair à noite e tudo!”
Ou ainda aquele outro jovem que dizia: “Esta semana estou livre. Os meus pais vão de férias para fora.”
Mas a liberdade não é um estado legal ou material. É um estado de espírito!
O exercício da liberdade começa, antes de mais, dentro de nós. Por aceitarmos ou não por limite o que nos impõem. O deixarmos ou não a nossa mente vogar e decidir o que fazemos. O termos ou não uma verdadeira consciência de nós mesmos e do que nos cerca.
A nossa verdadeira prisão somos nós próprios, na nossa condição de seres humanos de carne, osso e sangue. Pensantes e conscientes.
Quando formos capazes de saber e não apenas dizer, “eu posso”, com toda a plenitude do que isso significa, então seremos realmente livres.
Até lá, enquanto nos sentimos limitados por um planeta, regulamentos ou grades, mais não seremos que sempre prisioneiros daquilo que os nossos sentidos nos transmitem.
E tanto assim é que somos obrigados a comunicar codificando e descodificando estas letras e imagens, presos que estamos a estas convenções.”

Na altura recebi este comentário de uma leitura assídua:

“aki ha uns anos axava k seria livre no dia em k ganhasse a minha independencia...e k isso iria akntcer kd fizesse 18 anos e entrasse finalmente para a faculdade...
hmmmm....
19 anos....prestes a entrar ja no 2º ano de faculdade....
liberdade? onde é k ela está?
agora pergunto-me (ja com um bocadinho mais de consciencia do mundo e do país onde vivo) se algum dia knseguirei alcançar essa tao ambicionada liberdade...
mas será que sei realmente o que é ser livre?
alguma vez vou saber...?”


Espero, sinceramente, que ela tenha descoberto o que é liberdade de ser e de pensar. E que o seja!


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sábado, 19 de julho de 2025

Brincando


 


Brincando com o tempo e a luz.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax –M macro 100mm 1:4


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sexta-feira, 18 de julho de 2025

Clássico


 


É só um clássico da fotografia.

Como qualquer câmara, também esta tem a sua história: aquilo que fotografou e as mãos que a usaram.

Para já, refiro apenas que tenho muito orgulho em a ter agora nas minhas mãos e na forma como a elas chegou.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax-M macro 100mm 1:4


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quinta-feira, 17 de julho de 2025

Prazeres e satisfações


 


Parte do prazer está na concepção. Definir conceitos, abordagens, utilizações. E encontrar a vertente teórica que satisfaça todas as permissas.

Em seguida vem a vertente prática. Ensaios, ajustes, verificações. Escolha de equipamento e resultados, verificação do existente e do em falta se imprescindível.

O passo seguinte será o garantir condições para a manutenção do definido, assegurando que o definido é cumprido durante o progresso dos trabalhos, deixando os improvisos e soluções de recurso de parte para acautelar e impedir as falhas.

Por fim vem a parte monótona da repetição. Peça por peça a mesma rotina. Na tomada de vista e no tratamento posterior. É aqui que a coisa perde a piada e aquilo que começou por ser interessante e divertido se transforma em algo que suspiramos por terminar. Para passarmos ao seguinte.

Mas há algo que sobrevém a este enfado e que vai aumentando ao longo do tempo: o ter-se conseguido cumprir aquilo a que nos propusemos. Nas diversas vertentes.

O pior e o mais exigente dos “clientes” somos nós mesmos.

Na imagem: o exemplar da Pentax S1 existente aqui em casa.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax-M macro 100mm 1:4


By me

sábado, 12 de julho de 2025

Regresso ao passado


 


Uma câmara, uma focal fixa, luz e cor. Mais nada.

E para os que dizem que é material velho (a câmara tem uns bons 15 anos na minha mão e “apenas” 14 Mp, a objectiva 40 anos de fabricada) eu diria que velhos são os trapos.

E mesmos estes são usados para fazer trapilhos, que se vendem a bom preço no artesanato.

 

Pentax K7, SMC Pentax 50mm 1:1,2


By me

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Um retrato - Andreia




Uma das coisas interessantes sobre a fotografia em particular e a imagem em geral é verificarmos existirem muitos mais retratos de mulheres que de homens. Quer sejam feitos por homens ou por mulheres. Quer sejam em fotografia, em cinema, em pintura...

E quem tiver dúvidas sobre esta desproporção, verifique nos seus próprios arquivos fotográficos a relação entre homens e mulheres captados individualmente.

Há várias teorias que justificam esta assimetria no retrato humano.

John Berger dá-nos uma explicação possível, ainda que discutível nos dias e com as tecnologias de hoje. Consulte-se o seu trabalho “Modos de ver”.

Por mim, e correndo o risco de ser apedrejado em praça pública, entendo que faz parte daquele lado do fotógrafo menos simpático: o desejo de posse. Não podendo possuir o que se vê e gostaríamos de guardar, ficamos com o seu ícone. E será também uma questão cultural milenar.

Mas isto é assunto para muitas letras, não cabendo aqui e agora.

 

Pentax K7, SMC Pentax 50mm 1:1,2


By me

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Brincar com coisas sérias

 



Brincadeiras didáticas para adultos e não só.

Perspectivas, linhas implícitas, condução do olhar, leituras. Ferramentas para contar histórias.


By me 

segunda-feira, 7 de julho de 2025

A boneca




No café aqui da rua vejo a mocinha de serviço na caixa às voltas com uma caixa contendo um boneca. A caixa era grande, meio metro bem medido, e a boneca na proporção. E estava ela, a mocinha, de conversa com um cliente.

Quando fui pagar meti-me com a mocinha, dizendo “Então, ainda brinca com bonecas?”

A resposta calou-me a vários níveis.

“É de um cliente que me pediu para a guardar aqui até mais logo. É para mandar para a filha, em Cabo Verde, que queria uma boneca da Europa.”

Contém tanto esta resposta que é difícil de enumerar.

A fotografia? É de arquivo e com uns 20 anos. Não queriam que eu fosse fotografar a que há-de realizar um sonho em Cabo Verde, pois não?


By me

sábado, 5 de julho de 2025

F.....




As coisas são como são: puritanismos bacocos.

Num jornal on-line mostram-nos um curto vídeo onde um homem caído no chão é violentamente agredido a soco e pontapé na cabeça.

Alguém junto ao telemovel e fora de imagem pergunta se se chama uma ambulância e um terceiro, também fora de imagem, responde “Não, que se f...”

O que está entre aspas é a cópia do texto do texto do jornal. Já o vídeo, na palavra censurada, tem o clássico piiiiiii por cima para que não a oiçamos.

Palavras ditas feias, mas que todos conhecem, têm que ser disfarçadas para não ofender os bons costumes. Já um homem indefeso e caído no chão ser pontapeado na cabeça, nas costas, no torax, no ventre... isso já se pode mostrar a todo o público e de todas as idades.

Já agora: isto aconteceu em São Martinho do Porto e o agressor é espanhol e pescador. E já referenciado e impune por actos semelhantes.

Mas os perigosos são os migrantes da ásia, da áfrica ou das américas.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

 

By me

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Boa ou má




Tenho para mim que não há boas ou más fotografias.
O conceito de bom e de mau é um conceito social que, muitas vezes, entra em conflito com as opções de quem fotografa.
Pior: Limita quem fotografa a fazer o seu trabalho pela opinião da sociedade, deixando para trás, tantas vezes, a sua própria capacidade de inovar e criar.
Entendo que uma fotografia é boa quando consegue satisfazer o seu autor. Quando ele olha para ela e se revê no que nela “lê” e sente. Isto é uma boa fotografia!
A partir daqui entra em campo a questão do gosto dos demais e da eficácia da comunicação.
Se a fotografia agrada à maioria leva o carimbo de boa. Se também agrada aos especialistas será excelente.
Mas, e antes de mais, a fotografia, o trabalho realizado que transformou aquilo que foi visto e sentido naquilo que o fotógrafo entende por um equivalente fotográfico, tem que agradar ao seu autor.
Claro que a fotografia também é uma forma de comunicação. Por isso existem os livros, as galerias, os álbuns, os grupos. As mais das vezes fotografa-se para outros vejam e sintam o que o fotógrafo viu e sentiu.
E quando tal acontece, a fotografia é eficaz na sua função de comunicar.

Mas também sabemos que comunicar, mesmo que com fotografia, implica o partilhar de códigos comuns. Tal como a escrita. Ou a música. Ou a escultura. Se quem o vê não entender os códigos usados por quem o fez, a ponte da comunicação não existe.
Daí que exista uma tendência generalizada em fotografar usando de códigos (técnicas e estéticas) que sejam do entendimento generalizado dos destinatários. Algum tipo de formalidade no fazer de fotografia.
Esta formalidade, este usar de códigos generalizados na fotografia, acaba por fechar portas à capacidade que cada um possa ter de se satisfazer com o que faz sem pensar nos outros. Acaba por limitar a criatividade absoluta, obrigando a criar de acordo com os códigos instituídos.
Mais do mesmo, portanto!

Claro que os chamados “profissionais” a isso são obrigados. Têm que agradar aos clientes!
A sua principal preocupação, ao fotografar, é que os sentimentos expressos nas fotografias que fazem, se alguns, sejam entendidos por quem lhes paga o trabalho. Que é isso que deles se espera.
Se a gestão do espaço e dos elementos nele (composição), se a nitidez ou as relações entre o claro e o escuro não estiverem de acordo com a técnica e estética em vigor (os códigos de comunicação) dificilmente será vendida. Quer seja uma fotografia de um acontecimento social, uma reportagem de guerra, paisagem ou vida animal. Não aparecerá numa revista ou jornal, ninguém a verá num cartaz publicitário nem constará no álbum de casamento.

Será uma necessidade do fotógrafo definir aquilo que lhe agrada e aquilo que agrada ao consumidor. E ter a coragem de o assumir.

Nunca disse a um aluno ou formando “Essa fotografia é má!”
O mais que fiz foi dizer-lhe “Não gosto” ou “Não entendo”. E, acto continuo, pedir que ma explicasse, que sobre ela discorresse em voz alta. E que me dissesse se ela correspondia ao objectivo a que se tinha proposto. E se esse objectivo era pessoal ou comunicação de massas.
A classificação de boa ou má seria a dele, de acordo com isso e com a conversa.

Que o mais importante é a satisfação do próprio. O resto é socialização. 


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quinta-feira, 3 de julho de 2025

No pátio




Teria uns sete ou oito anitos.
Irrequieta e palradora, acabou por vir sentar-se no banco onde eu estava, dizendo que também queria uma fotografia.
Não era o momento, que o mestre fotógrafo estava a cuidar de outras fotografias, nem era a vontade da mãe, creio que pelo preço.
Em qualquer dos casos ficámos os dois de conversa, ela muito “crescidinha”, eu a ver o que dali sairia.
A certa altura diz-me ela:
“O senhor tem uma grandes barbas, como o meu avozinho que já morreu. E ele também tinha uma grande pança.”
A mãe, que por perto ouvia a pequena, ficou sem saber o que dizer nem o para onde olhar.
Já eu, honrado pela comparação e sem querer estragar aquela bonita memória, disse-lhe que a barba é deixar só crescer e a pança é difícil de dominar.
Um nico depois levantou-se ela, muito senhora de si, e foi espreitar os gestos mágicos do photógrapho.
E eu deixei-me ficar sentado onde estava, cansado de um dia particularmente longo, e a tentar perceber se ainda serei fotógrafo ou se já terei passado à categoria de fotografia.

A mãe da catraia, bonita que era e, reparei então, vestida de preto, sorria discreta ainda no mesmo lugar.


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quinta-feira, 26 de junho de 2025

Pedro




Viveu como pôde, onde pôde. Comeu como pôde o que pôde.

De Kiev a Vladivostok, foi cumprindo o seu ofício militar até desistir e vir, embarcado ou não, até aqui onde a terra acaba e o mar começa. Há vinte e tal anos.

Foi trolha, almeida, coveiro. Foi o que os outros não quiseram, enquanto pôde. Casou e foi corrido, que o álcool é mau conselheiro. Nunca se drogou.

Sonhava. Sonhava, muito timidamente, em ter uma companheira. E sorria, enternecido e envergonhado, quando disso falava. Sonhava em regressar à Ucrania e às divisas de capitão, “para ajudar, que aquilo está mau”. Sonhava acordado, sabendo que estava a sonhar.

Rebelde a regras, como é apanágio nestes casos prolongados, nunca se deu bem nos abrigos que lhe arranjaram. Conheci-o a viver num carro velho. O apoio social internou-o num hospital e, quando regressou, tinham roubado o carro e todo o conteúdo. Todos os seus bens. Contou-me, alguns dias depois, que tinha encontrado uma das suas malas bem velhas no lixo. Vazia, claro. Refugiou-se com uns papelões e paletes, num recanto pacato, a meia distância entre um salão paroquial e uma sala de culto islâmica. Dizia que estava bem acompanhado.

De dia parava por aqui, na entrada da lavandaria. Não incomodava ninguém, lá dentro há cadeiras sem consumo obrigatório e o calor das máquinas é reconfortante. Toleravam-no.

Encontrávamo-nos quase todos os dias por aqui, no cruzamento da rua, as mais das vezes junto ao café-pastelaria. Amiúde era ele que se aproximava, com o seu passo lento e sofrido. E entre uma moeda para um “café” e um ou dois cigarros que partilhávamos, falávamos. De deus, de militares, da vida e dos ofícios, das pessoas. Algumas vezes, em indo eu à lojinha por um artigo de última hora para o meu almoço ou jantar, convidei-o a entrar e escolher o dele. Acedia relutante e sempre comedido no que trazia. Nunca foi vinho.

Mal visto pela vizinhança, poucos éramos os que lhe dirigiam a palavra. E os demais quando dele falavam sempre foi com sete pedras na mão. E foi de uma dessas bocas que hoje fiquei sabendo que as sirenes que ouvi de manhã eram para lhe vir buscar o corpo.

Creio que este é o único epitáfio que o Pedro terá.

 

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quarta-feira, 25 de junho de 2025

Contradições




Uma coisa e o seu contrário.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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Reciclagens




Esta tampa traseira de objectiva é minha conhecida há dezenas de anos. Sacrifiquei-a originalmente num projecto que resultou e que foi refinado de outra forma e com outras tampas. De então para cá tem servido para vários usos que, convenhamos, não lhe aumentaram a beleza. Alguns para uso privado, outros para efeitos didáticos. E se assim está é porque não é coisa fácil de encontrar e não sacrifico uma tampa em bom estado à toa.

Fará parte de um projecto que tenho em mãos e que resulta de duas frases velhas, uma dita por um mestre e compincha faz muito, outra que se me surgiu  uma manhã no banho e que tenho usado até me cansar:

“Sei como se faz mas ainda não sei fazer” e “Se eu souber porquê sei como”.

Em completando e testando o projecto decidirei se faço o sacrifício de outra e guardo esta para outras ocasiões ou se ficará agregada ao que agora criar.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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terça-feira, 24 de junho de 2025

Knight at sun set



 

Pentax K7, Sigma 70-300


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domingo, 22 de junho de 2025

A primeira




Quem não recorda o primeiro amor? Ou o primeiro carro? Ou, no caso de fotógrafos, a primeira câmara?

De um modo ou de outro, para além de a recordar conservei-a. Esta.

Uma pobre coitada, com mais de meio século, que não mereceria um segundo olhar pela sua simplicidade, mesmo na sua época. E imaginamos (sei-o) pela sua modesta qualidade óptica. E pelo seu estado de conservação, que levará qualquer um a perguntar porque ainda existe.

Mas, seja como for, foi a minha primeira e dessa nem esquecemos nem desvalorizamos.

Veio parar às minhas mãos de uma forma insólita: a empresa onde meus pais trabalhavam tinha o hábito de dar uma prendinha pelo natal aos filhos dos funcionários. Ajustada a prenda à idade de cada um dos ofertados. E todos os anos mudavam de prendas.

No ano em que fiz 12 anos, idade limite para se receber a lembrança ou brinquedo, foi uma câmara destas. Esta mesmo foi a que recebi.

Nunca lhe dei a devida atenção. Se, por um lado a fotografia era coisa particularmente cara de praticar, eu ainda não tinha descoberto o que ela poderia ser e fazer. Creio que fiz dois rolos de 120, (doze exposições cada) e nada mais.

Tem vindo a ser guardada em caixas ao longo dos anos, nem sempre com os melhores cuidados de conservação. E está neste estado agora. Mas apenas visual, que simplicidade do seu mecanismo é de durabilidade garantida. Claro que a óptica e o visor sofrem de “cataratas”, mas também nada tenho feito para o evitar.

Nas voltinhas que tenho dado por feiras de velharias, de quando em vez lá vejo uma. Com tão bom aspecto que apetece traze-la para substituir esta pobre coitada, há muito a pedir a reforma eterna.

Mas, caramba, esta foi a primeira. E por muitas e bem mais valiosas que tenha ou venha a ter, nada nem ninguém lhe retira esse título nem os afectos.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100 1:4


By me

Erros




Aprendi com a vida que nunca se aprende tudo.

Mas também aprendi que quem não tenta não corre o risco de errar. E que muito aprendemos com os erros.


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quarta-feira, 18 de junho de 2025

O nome da filha




Pescadores e caçadores têm uma coisa em comum: o tamanho conta.

Ficam muito mais satisfeitos e com muito mais para se gabarem se caçarem um javali em vez de um coelho. Ou uma truta no lugar de uma taínha.

Um fotógrafo também é um caçador, ainda que para ele o tamanho pouco importe: procura o momento, a luz, a perspectiva, a história.

Mas se a um fotógrafo juntarem o ser recoletor ou ajuntador de peças fotográficas, contará também o interesse de cada peça: forma, função, história. E, por vezes, é o mais pequeno que nos dá motivo para nos gabarmos. É o caso desta peça.

Vi-a anunciada na net e fiquei curioso. Nada nas fotografias indicava dimensões. Mas o que levou a ultrapassar o orçamento mensal foi o não ter ponteiro. Nem vestígios de um. Acabei por combinar o negócio, por um valor igual ao que se encontra nos sites internacionais.

E foi aqui que o meu interesse se foi transformando em cobiça: a enorme escassez de informação. Que raio seria aquilo?

Já em casa, em frente ao computador e com este aparelho na mão, estive mais de duas horas para conseguir reunir alguns dados sobre ele e, mesmo assim, incompletos. Mas consegui saber que a) fabricado na DDR; b) a célula é de selénio e não me espanta que já não funcione; c) não tem mesmo ponteiro mas antes um sistema único de leitura; d) data de produção: 1958.

Esta fotografia foi feita a correr, só para provar que cacei uma truta do tamanho de um javali. Quando terminar a tarefa de documentar e escrever sobre a parte aqui de casa relativa a fotómetros, logo mostro a sério.

 

Pentax K1mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


By me

Alguns vícios



 

Pese embora a feira do livro de Lisboa seja um evento com alguma projeção, faz tempo que deixei de ser cliente.

Não que a leitura tenha perdido interesse para mim. Não que a pilha de livros “para ler” tenha diminuído. Não que deixasse de ter cantinhos de leitura aqui em casa, variando apenas no tipo de livro e no horário de leitura. Nada disso.

Acontece apenas que visitar a feira do livro é algo exaustivo.

Por um lado porque haverá que lutar com os demais visitantes para conseguir ver com algum conforto os títulos em cada banca.

Por outro porque um dos temas que mais me interessa – imagem – não é um tema popular, pelo que haverá que vasculhar cada banca (ou quase todas) para encontrar algo sobre o assunto.

Acrescente-se que a feira é ao ar livre e com ele, mesmo que só haja uma leve brisa, o cheiro dos livros, novos ou mais antigos, desaparece. E esse é um prazer raro.

Passei a preferir ir frequentando as livrarias ao longo do ano e ir metendo o nariz nas secções que me interessam. Quer porque saiba de antemão onde ficam, quer porque pergunte por elas.

Tem ainda esta preferência a vantagem de se encontrarem nas livrarias, com porta para a rua ou com porta para o corredor, exemplares que nunca teriam lugar na feira, considerando o espaço reduzido de cada banca.

Porque ontem entrei numa livraria, veio este.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax 24mm 1:2,8


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terça-feira, 17 de junho de 2025

Troféus




Este quadrinho foi-me entregue por troca. Porque era esse o acordo que tínhamos: eu dava algum conhecimento em fotografia e, em troca, davam-me o que entendessem que o que recebiam valia, desde que feito pelo próprio. Nada de dinheiro envolvido entre nós ou de algo comprado para o efeito.

Por isso o nome daquelas actividades era “trocas”.

Este em particular sai um pouco das regras, já que a a moldura foi comprada de propósito, suponho. Mas o seu recheio, o bordado em ponto cruz e com sombreado, foi feito de propósito para servir de troca.

O que lá está escrito? Poderia ser batata frita ou caixa de velocidades ou o quer que fosse. Mas esta afirmação era a forma como nos tratávamos e eu tinha a alcunha de mestre. De pouco adiantou, no início, reclamar que o não era e que se tivessem conhecido verdadeiros mestres como conhecera, concordariam comigo. Mas íam insistindo até que deixei de me rebelar.

De entre as trocas que recebi, este tem estado sempre à vista. Sempre. Não que tenha mais valor que qualquer outra recebida. Acontece apenas que é a mais sólida e com menos possibilidade de se estragar. E simboliza, de algum modo, o projecto em que todos estivemos envolvidos, cada um de seu jeito.

Ninguém imaginava, no entanto, as complicações diversas que sobrevieram por estar visível. Mas o meu nome do meio é teimoso e não cedi nem um milímetro às diversas investidas. Sempre visível!

Não tenho, aqui em casa, fotografias minhas penduradas nas paredes. Mas tenho alguns objectos especiais, simbolos de outros e outras vivências. Este é um deles.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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segunda-feira, 16 de junho de 2025

"Tralha miúda"




O meu começo mais a sério em fotografia aconteceu com uma Pentax MX. Assim que pude completei-a com uma 28mm e com uma 75-150mm e senti-me pronto para o mundo.

Felizmente tinha um colega, amigo, mestre, compincha, que me mostrou outras formas de fazer e pensar fotografia. Incluindo Ansel Adams.

Foi um dos meus ídolos e cedo tentei imita-lo, usando para tal uma Linhof 9x12 e uma Linhof 6,5x9, a segunda preparada para película em rolo e película rígida.

O motivo para tal salto foi a possibilidade de revelar cada fotografia individualmente, de acordo com as características daquilo que fotografava e do papel a usar. Nunca fui muito longe neste percurso, por falta de capacidades ou falta de paciência.

Claro que para o tentar precisei de poder aquilatar a luz, coisa que muitos menosprezam com as consequências que vamos vendo.

Primeiro com um fotómetro de mão, para luz incidente e luz reflectida, mais tarde com um spotmeter. Tenho ambos e ainda hoje são fieis e no activo.

Quando comecei a ser um “ajuntador de tralha fotográfica” e a percorrer lojas de usados e feiras de rua, na mira da marca Pentax, descobri que também por aí se encontram aparelhos de medida de luz. E, para além da curiosidade, fui-me apaixonando por eles. Não apenas pelas soluções técnicas encontradas pelos fabricantes como pela ergonomia e beleza de cada peça. Tenho uns quantos, aos quais ainda não dei a atenção que merecem, mas terão.

Este é umas peças mais pequenas que por cá estão.

Concebido para ser usado com câmaras que não possuem fotómetro, coloca-se na sapata de flash e o seu quadrante dá-nos as indicações básicas para uma fotografia medianamente bem exposta, saibamos nós interpretar os resultados. Tudo manual e de calculo mental, como se usava na época.

Está “morto”, como estão hoje a maioria dos aparelhos de medida de luz de então, já que o seu componente básico, a célula, vai-se gastando à medida que vai sendo usado. E quarenta ou sessenta anos é muito tempo e muito uso.

Dos diversos tipos de medidores de luz faltam-me três tipos específicos: fotómetro de laboratório, fotómetro de sonda para grande formato e um dos modernos que se conjugam directamente com um smartphone. Mas sei que os há no mercado e será uma questão de oportunidade: no mercado e na carteira.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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sexta-feira, 13 de junho de 2025

Terrorismos


 


O terrorista mais perigoso não é o suicída nem o que actua em células autónomas.

É o terrorista de estado, que actua a coberto de leis por si mesmo concebidas e que fica sempre impune. E actua às claras.


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Just for the fun (or not)




 Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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segunda-feira, 9 de junho de 2025

Laranja mecânica contemporânea




Hoje lembrei-me muito seriamente de Stanley Kubrick e o seu magnifico filme “Laranja Mecânica”, rodado em 1971.

Nesse filme, o principal personagem é sujeito a um tratamento de controlo comportamental, forçado como se vê na imagem a ver uma sequência de imagens de violência ao mesmo tempo que ouvia a nona sinfonia de Beehtoven, a sua música preferida.

A maior parte de quem agora me lê recorda-se desta sequência pela certa.

Porque me lembrei disto?

Porque os activistas que seguiam a bordo do navio Madleen e que foram inteceptados e detidos serão obrigados a ver vídeos sobre o ataque do Hamas em 7 de outubro, supostamente a razão de ser do que acontece naquela zona do globo. Resta saber se recorrerão a este método.

É que nem Josef Mengele se lembraria de pôr isto em prática e a cartilha genérica parece ser a mesma.

 

Imagem roubada da web. 

Velharias e cautelas



 

Este é um dos conjuntos mais antigos aqui de casa.  Mais ou menos tão antigos quanto eu.

Mas as semelhanças não param por aqui: tal como eu, também este conjunto funciona naquilo que dele se espera, mas com limitações próprias da idade.

Trata-se de uma Pentax SV (ou H3V), de 1962, e de uma Takumar 135 1:3,5 preset, de 1957.

Para quem não sabe, este modelo de câmara não possui medidor de luz. Aliás, não tem o que quer que seja relacionado com eletricidade. Na sua época haveria que usar um fotómetro manual para calcular a exposição correcta. Em alternativa, a marca fabricou fotómetros externos acopláveis à câmara. Mas como nestes modelos não havia como o fixar, também existiam sapatas, semelhantes às do flash, que se fixavam na ocular da câmara. Sorte minha, tenho as duas peças.

A objectiva, que é linda, é uma focal longa e não uma teleobjectiva. A principal diferença entre os dois tipos de objectiva é que esta, tal como muitas outras do seu tempo, tem todos os elementos ópticos (lentes) na parte frontal. Incluindo o diafragma. O seu ajuste incluía dois anéis: um para selecionar a abertura desejada, o outro que, rodado, mantinha-o aberto para focagem e/ou enquadramento e, rodado novamente, fechava-o até à abertura selecionada sem necessidade de olhar para a sua escala. Engenhoso, o sistema.

Estas peças fora adquiridas em separado. A objectiva numa loja de artigos usados, com o repectivo estojo em cabedal, tudo em estado quase perfeito e por um preço que me envergonho de referir, de barato que foi.

Já a câmara foi adquirida no meu mecânico, em muito bom estado e por um preço dentro da média nacional. Mas foi uma compra difícil, já que ele não a queria vender, preferindo tê-la para a canibalizar ao reparar outras de clientes. O meu argumento que o convenceu foi que seria peça estimada, inserida na minha coleção. E como ele me sabe como aficionado por peças Pentax...

Trato o meu equipamento com a cautela própria de quem usa mas não abusa.

No caso deste conjunto, e de outras peças dessa época, objectivas ou câmaras, tenho um cuidado especial na conservação e manuseio.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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domingo, 8 de junho de 2025

Sinalética




O cordão vermelho que cada uma destas câmara exibe não é nem festivo nem decorativo. Estão assim como lembrete visual. E, junto com estas tenho mais duas, uma K50 e uma ES II, que também têm este maldito aviso vermelho.

Significa ele, o aviso, que necessitam de visitar o mecânico para reparar alguma avaria. Excepto a K50 que, tendo sido comprada usada e tendo prestado uns dois bons anos de serviço, passou a sofrer do clássico bloqueio de diafragma que, ao que sei, não tem solução viável do ponto de vista económico.

Cada uma das câmaras que possuo tem uma história, para além das histórias inerente a todo e qualquer objecto. E eu procuro saber o possível sobre cada uma delas.

A ME F que aqui está, veio parar-me às mãos com o aviso de “não tem recuperação”. E eu sabia disso.

Uma ocasião lembrei-me de fazer apoios para livros baseados em câmaras Pentax. Decorativo, portanto. Mas não me apetecia sacrificar nenhuma das minhas para tal e recorri a um vendedor de feiras de rua de velharias meu conhecido, perguntando-lhe se teria duas Pentax sem solução que me vendesse. Na feira seguinte lá estava ele com o meu pedido. Uma ME Super e esta ME F.

A ME Super, coitada, para além de mecanicamente estar muito danificada, parece ter sofrido um sério acidente. Inutilizável, creio que nem para peças. Mas era o que eu tinha pedido.

Já a ME F, mesmo sem a sua objectiva especial, aparenta ter apenas os espelhos bloqueados, coisa que espero que o mecânico com que trabalho possa resolver. Ainda não a afastei de vez.

Quando perguntei o preço o vendedor olhou para mim, sorriu e encolheu os ombros ao dizer-me 5 euros. Poderia eu recusar ou negociar este valor?

Tenho por objectivo, sempre que possível, saber a história distante e recente de cada câmara. E de não ver nenhum cordãozinho vermelho onde as tenho à vista aqui em casa.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 50mm 1:4


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sábado, 7 de junho de 2025

Conceitos




Tenho para mim que há dois factores que fazem de uma fotografia uma boa fotografia. Pelo menos a meus olhos.

Em primeiro lugar ela tem que “falar” comigo. Tem que me provocar uma qualquer sensação ou emoção. Mesmo que seja negativa. Quer seja por analogia com qualquer recanto da minha memória, quer seja absolutamente inovadora para mim.

Por outro lado, uma boa fotografia não precisa de contexto. Espacial ou temporal. Não me fico perguntando onde foi nem quando foi. Mas, e acima de tudo, não me questiono sobre o que é ou quem é. Mesmo que eu não saiba identificar.

Do meu ponto de vista, qualquer um destes factores fazem uma fotografia ser uma boa fotografia. Se acontecer a simultaeidade, então será uma excelente fotografia.

No entanto esta é a minha abordagem, e não uma lei universal. Outras existirão, com as quais concordarei ou não, mas estes factores são-me fundamentais.

 

Pentax K7, Pentax 18-55mm


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