domingo, 7 de dezembro de 2025

Desânimo

Eu queria começar o dia aqui com algo de bonito, sincero, honesto, convincente.

Mas só me lembro de jornalistas e candidatos eleitorais, que querem.

Efeito borboleta




Nada acontece por geração espontânea. Há sempre um motivo para cada coisa que nos sucede, e um motivo atrás desse, e um atrás desse, e um atrás…

 

Se não tivesse dado aulas, não me teriam oferecido aquela caneta. A que ganhei afecto e que, com o passar dos anos, acabou por se estragar.

E se não lhe tivesse ganho afecto, não teria tratado de arranjar uma substituta quase igual, que me acompanhou anos a fio.

E se a não tivesse comigo, não a teria emprestado.

E se a não tivesse emprestado não se teria estragado naquele dia.

E se não se tivesse estragado naquele dia, não teria eu, hoje, ido à procura de uma igual ou parecida.

E se não tivesse vindo aqui para a encontrar, não teria feito esta fotografia.

E se não tivesse feito a fotografia, não teria embarcado, depois, naquele autocarro.

E se não tivesse embarcado naquele autocarro, não a teria visto.

 

Era preta e dava nas vistas. Pela sua magreza extrema. Mesmo só pele e osso. Apesar de não parecer doente ou toxicodependente. Apenas muito, muito magra.

Quando o autocarro chegou ao fim da linha, foi perguntar qualquer coisa ao motorista. Que lhe respondeu: “É logo ali. O Rossio é logo ali, é só ir andando.”

Mas o ar dela era de quem estava meio-perdida, quase a entrar em pânico. Apesar de estarmos nos Restauradores, uns 200 metros de distância, para quem não sabe é o mesmo que estar a 10Km. Meti-me ao barulho.

Abordei-a, ainda no autocarro, e perguntei-lhe se ia para o Rossio. E que sendo, que viesse comigo que eu também ia para lá. (Não ia, mas não era importante)

E fomos andando pela praça fora, comigo a ficar intrigado: por mais que alterasse a cadência do meu passo, ela ficava sempre – sempre – um passo atrás. Aquela senhora, preta, nos seus trinta e tal anos, muito magra, fazia questão de apenas caminhar atrás de mim!

Ao fim de uns trinta ou quarenta metros oiço-a dizer algo de pouco perceptível (não consegui identificar o seu sotaque) de onde se destacava a palavra “comboio”.

Esclareci com ela se queria mesmo ir para a estação e ela confirmou-o. “Vamos”, disse-lhe. “Passamos à porta.”

Cinquenta metros (ou setenta) depois, chegámos.

“É aqui e lá em cima. Sabe onde é?”

Não sabia de todo.

Venha que levo-a. E continuei.

Voltei a ser surpreendido. Não sabia usar as escadas rolantes e ficou bem assustada no primeiro lance. No segundo já se entendeu, depois de algumas palavras encorajadoras. Afinal, ninguém nasce ensinado.

Lá comprou o bilhete para a sua estação, que sabia de cor e disse-me, meio confidente, que havia saído de casa sem carteira nem nada.

Depois de a levar às cancelas e de lhe indicar qual o comboio, fez um sorriso, lindo apesar da magreza das suas faces, e disse-me enquanto se curvava para a frente:

“Obrigado! Que Deus lhe pague. Obrigado.”

Fiquei meio envergonhado e afastei-me. Afinal, não merecia eu tal agradecimento de forma alguma.

E, mentalmente, enderecei-o para aquele motorista da Carris que, nesta mesma manhã e com uma luz quase equivalente, olhou em redor antes de começar a andar, constatou que vinha alguém a correr, a uns bons cinquenta metros, travou o autocarro e aguardou. E nem ouviu o que eu ouvi, e que bem merecia. Que ele estava a trabalhar enquanto que eu… bem, pouco mais que em passeio.

 

Nada acontece sozinho e sem algo que lhe dê origem. Ainda bem que trago sempre comigo a câmara fotográfica.

 

Nikon Coolpix P7000


By me

sábado, 6 de dezembro de 2025

Baratinho




Em tempos estive inserido no mercado fotográfico. Fiz fotografia de teatro, de publicidade e umas aventuras mínimas na reportagem.

Deixei essa actividade por três motivos: porque não precisava dela para viver, porque odiava a competição insana do mercado e porque ouvi vezes demais pedirem-me “faz baratinho”.

O não precisar da fotografia para viver é apenas uma força de expressão. Tinha um outro ofício, regular e com ordenado certo, que me pagava as contas. A fotografia era, e é, o que me alimenta a alma. E o que ganhei com ela, se não serviu para por comida na mesa, serviu para pagar equipamento e completar em satisfação e dinheiro o que fazia no meu emprego.

A competição é algo que odeio. Ninguém tem que ser melhor que ninguém, ninguém tem que ser mais que ninguém, ninguém tem que ter mais que ninguém. O mundo e a vida são suficientemente cheios e ricos para que todos possam ter o seu quinhão sem que com isso tenham que apoucar os demais. E se eu não vivo de menorizar ninguém, não gosto de ser alvo disso mesmo.

O pedirem para fazer baratinho é algo que me desagrada profundamente. É menosprezar o trabalho, é achar que o que se sabe fazer pouco vale e que o tempo investido para aprender e melhorar é de borla. Prefiro, desde sempre, oferecer os meus préstimos de borla a fazer baratinho.

Acrescente-se que aqueles que agora estão a entrar no mercado e que fazem baratinho, não apenas estão a apoucar o que fazem como estão a prejudicar todos os outros, ao fazer baixar os preços ao limite das despesas directas.

A única situação é que peço desconto é quando, em pagando algo, pergunto se tenho direito a desconto por pagar em dinheiro trocado. E a única resposta que espero obter em troca é um sorriso divertido que ajude a quebrar a monotonia a quem está do outro lado do balcão.

 Divirtam-se e façam o favor de ter uma vida cheia.

 

Samsung S1060


By  me

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Leituras




A fotografia não tem que ser explícita.

E as leituras não têm que ser instantâneas.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax-M macro 50 1:4


By me

Momentos de ócio




O tipo de ofício que tinha proporcionava estas situações, que os horários eram demasiado malucos e instáveis:

Uma ocasião uma colega viu-se na contingência de ter que levar a filha para o trabalho.

Coitada da pequena, que frequentava o 4º ano, lá se ía entretendo como podia, sem atrapalhar o que ali se fazia. E a dado passo, talvez que as minhas barbas tenham sido um incentivo, veio perguntar-me se haveria papel disponível para escrever ou desenhar.

Claro que havia e indiquei-lhe onde. E ficámos um nico de conversa na qual acabei por lhe contar a história do Joãozinho e do seu barco. Contá-la-ei aqui noutra ocasião.

Mas, na sequência disto, acabámos por falar de aviões de papel, de como fazer e quais os modelos.

Enquanto eu lhe mostrava um deles, dobrando e vincando a folha com afinco e rigor, qual engenheiro aeronáutico, lembrei-me de tantos produtores de imagem, estática ou animada, que tanta questão fazem em “dobrar” a imagem a meio com o horizonte, ou de lhes aplicar regras matemáticas exactas, como o número de ouro, ou ainda algoritmos digitais aplicados às cores e luzes, deixando de parte o equilíbrio, a harmonia subjectiva, a criatividade, o expressar da alma.

 

Se a estética se resumisse a fórmulas e regras, há muito que os computadores teriam produzido obras-primas igualáveis apenas por outros computadores.

 

Pentax K1mkII, SMC Pentax-M macro 50 1:4


By me

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Escolhas




Ir à feira do livro da fotografia faz-me mal à alma.

É que venho de lá com a tristeza de saber que estão ali tantas e boas obras, nas quais muito poderia descobrir e aprender, e ver-me na contigência de ter que fazer escolhas. Entre o que quero e o que posso, entre o conhecido e o desconhecido. Teóricos, monográficos ou colectânias.

Não que isso faça de mim melhor no que faço, mas empurra-me para algum lado mais à frente que aquele onde estou.

Este é um dos exemplos das escolhas deste ano.

O que nos é dito na contra-capa abre o apetite para outras leituras que não as mais recentes e, neste caso, por um autor que desconheço.

Para alguma coisa foram inventadas as longas noites de inverno.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax-M macro 50 1:4


By me

Cota




Certo!

Já por cá ando há um bom pedaço mais de meio século, pelo que o apodo de “cota” não será de todo desajustado.

Em termos de captação e tratamento de imagem, ao já por cá andar há tanto tempo, fez com que usasse de quase todos os sistemas e suportes: películas e sensores, químicas e electrónicas, CCDs, CMOS e tubos de raios catódicos, matricial e sequencial, pequenos médios e grandes formatos, estáticos, animados e de alta resolução.

Alguns desses processos tornaram-se com que uma segunda natureza para mim, outros  mais não são que história, outros ainda me são um pouco estranhos, não os dominando. E acredito que quem teve a sorte, como eu, de passar por tantos e tão díspares tenha dificuldade em estar a par de todos e que alguns deles pouco mais sejam que anacronismos curiosos ou tecnologias a dominar.

Por mim, que por dever de ofício ou satisfação da alma, tenho vindo a dominar ou a arranhar todos eles, tenho optado conhecer tão a fundo quanto me é possível o que tenho entre mãos, preocupando-me bem mais com os resultados que com os métodos. Quero “contar uma história”, e bem contada, com a ferramenta que estou a usar, preocupando-me a sério com as últimas tecnologias se e quando elas tiver que usar. Mantenho-me informado mas não as aprofundo como as que estou a usar ou em perspectivas disso.

Uma coisa há, no entanto, que é imutável. Que não depende dos equipamentos ou das tecnologias empregues: a luz. Esta, mais assim ou mais assado, com origem em aquecimento, descargas ou ionização de gás ou LEDs, continua a ser a emissão e reflexão de fotões, que têm uma trajectória rectilínea e um movimento ondulatório, cujas frequências são por nós traduzidas em cores, cuja interrupção na sua trajectória resulta em sombra, com uma intensidade variável na proporção inversa do quadrado da distância, cujo ângulo de reflexão é igual ao ângulo de incidência, e cuja trajectória é alterada pela aplicação de energia ou com materiais que lhe sejam permeáveis.

Mas, e principalmente, é ela que permite o captar imagem, sejam quais forem as tecnologias empregues. É ela que faz com que um dado assunto seja mais “bonito” ou nem tanto. É ela que nos permite contar histórias e estórias.

Nenhum fotógrafo, videógrafo, cineasta, profissional ou curioso interessado, ignora que ela é a sua matéria-prima nem a maltrata ou menospreza. Em o fazendo, os resultados são os que vamos vendo, infelizmente, na net e na imprensa, nos receptores.

Sendo esta a minha abordagem – talvez que de cota com mais de meio século – imagine-se como me sinto ao ter conversas com alguns da nova geração que entendem que a imagem se capta “mais ou menos” e que os contrastes, os ajustes das altas e baixas luzes, as sombras, os jogos de cor se tratam depois, desde que se possua uma boa máquina para os processar.

Um bom pós-processamento é vital na produção de imagem. Sempre o foi. E, se outros motivos não existissem, basta pensar que fotografia, vídeo e cinema têm – sempre – que ser objecto desse tratamento. Tanto na edição, como no controlo, na impressão, na etalonnage, nos efeitos especiais…

Mas com má matéria-prima – no caso, má imagem de origem ou má luz – por muito que se esforcem o mais que se consegue é um resultado sofrível. Se tanto. Nem mesmo os últimos avanços tecnológicos conseguem suprir essas falhas.

Dizerem-me que para se fazer uma boa imagem basta um gráfico de luzes e tons, estático ou animado é o mesmo que me dizerem que para Bruegel ou Leonardo bastava um bom pincel, que para Stanley ou Alfred bastava uma boa película ou que para Helmut ou Frank bastava um bom ampliador.

 

Serei cota com um pedaço mais de meio século a arrastar a carcaça mas, para mim, bem mais importante que o como é o porquê.


Pentax K7, Sigma 70-300


By me

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Vendo bem as coisas...




Sem luz que faríamos nós, fotógrafos?

É que até livros sagrados a referem logo no princípio como sendo o início e o primordial.

 

Nikon Coolpix P7000


By me

Velhos são os trapos




Um destes dias tropecei num artigo de um site que se dedica a publicar elogios a objectivas e câmaras. Costumo ler o que por lá aparece, ainda que não pense em mudar de marca (sou Pentaxiano).

Este artigo em particular falava, espantado, em como um fotógrafo faz espantosos retratos com uma câmara com mais de dez anos de fabrico e que já nem se encontra à venda.

Apeteceu-me fazer uma crítica mordaz, mas não havia onde. Fica por aqui.

Por um lado, os retratos mostrados eram todos feitos com uma perspectiva muito próxima. É difícil não obter imagens impactantes desta forma.

Em seguida, todas as imagens eram em preto e branco, com a gama tonal completa e contrastada. Uma vez mais, sabendo dominar um editor de imagem, também assim se obtêem imagens fortes se a luz estiver a nosso favor, natural ou trabalhada.

Por fim, e foi o que me incomodou, pouco importa a idade do material e se está ou não disponível no mercado. As técnicas usadas por Nadar, por exemplo, são mais que arcaicas e não retiram um pingo de qualidade ao seu trabalho. Tal como Weegee ou Ansel Adams. Uma press câmera com visor directo, ou uma 18x24, chapa a chapa, são técnicas lentas, complexas de operar e processar, pesadas e nada discretas. No entanto, os seus instantâneos ou paisagens são de tirar a respiração, mesmo que impressos numa revista ou livro de mediana ou até fraca qualidade.

Não é o pincel, a maceta, a caneta ou a câmara que fazem o artista ou a obra de arte. É o domínio da técnica em uso e o saber materializar aquilo que a alma sente. E isso é para poucos.

Nota adicional: esta imagem tem o título “Até ao próximo episódio”. Foi feita com uma vetusta Olympus 3030z, de 3,3 mp, que regista em cartões SM. Fabricada no ano 2000, até os cartões de memória já saíram de mercado. No entanto, tenho orgulho em a ter feito, mais ainda se considerarmos que se encontrava no interior de uma caixa de madeira e a exposição e foco foram feitos em total automatismo. Faz parte do meu projecto “Old Fashion”, há muito terminado.


By me

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Tradições




Este é o meu calendário analógico do advento 2025.

Mas tive que ser firme com todas as outras e dizer-lhes que não há mais lugar que para 25.

Para o ano será a vez delas, analógicas ou não.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax-M 35 1:2


By me

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Atirador especial




Esta é uma piada/crítica que tenho usado com alunos e formandos:

“Foste militar? Não!? É que até parece teres sido atirador especial! O alvo sempre bem no meio da mira da arma.”

Isto a propósito de composições de imagem em que o centro de interesse está colocado bem no meio do enquadramento, sem que exista um motivo lógico para tal.

Dizemos nós, alguns profissionais de uma escola antiga, que em torno de uma figura humana, tal com em torno de um objecto, existe ar. O espaço que o rodeia. E nós, seres humanos e demais seres vivos, consideramos uma intrusão se algo ou alguém se aproxima em demasia do nosso rosto. Ou do nosso corpo.

Esse espaço ou ar que queremos respeitado é bem maior que o queremos vazio nas nossas costas ou acima da nossa cabeça. Tal como um objecto. Uma cadeira tem como espaço próprio, na sequência da sua utilização, o que lhe fica à frente ou acima. Porque ninguém se senta passando uma perna por cima das costas de uma cadeira. Pelo menos em condições normais.

Donde, e a menos que queiramos provocar algum tipo de sentimento de suspense ou incómodo em quem observa as imagens que produzimos, convém deixar esse espaço próprio respeitado. Com mais ar à frente do rosto e/ou do corpo que atrás ou acima. A menos, claro, que ambos se confrontem de frente para a objectiva e, neste caso, dependerá do que mais houver em seu redor.

Costumo argumentar que a figura humana possui dois vectores primordiais: um que lhe sai do rosto, outro que lhe sai do tronco. O primeiro alinhado com o nariz, o segundo perpendicular ao peito.

A gestão de espaço, ou ar, será o vector resultante da soma destes dois. Não apenas para provocar conforto (ou, quebrando isto, desconforto) como para sugerir movimento. Isto porque, regra geral, os humanos encontram-se com ambos os vectores sobrepostos. Em não estando alinhados, haverá equilibrar a resultante dessa soma.

O modo como mostramos o espaço circundante de seres vivos ou objectos inanimados influi enormemente na forma como o público reage ao que vê. E nós, produtores de imagem para com ela comunicarmos, temos que saber como o público reage para o conduzir à leitura que queremos que tenha.

 

Vem tudo isto, quase que um desabafo desregrado e mal-amanhado, na sequência de umas fotografias que vi. Conheço quem as fez e sei como bem domina a técnica da iluminação e do tratamento posterior no computador. E sei quem lhe deu a formação técnica, que é um mestre na matéria. Mas, valha-nos deus! Do ponto de vista de composição de imagem parece ter tido a especialidade de sniper, de tal modo que coloca tudo bem ao meio da imagem, seja qual for a orientação do rosto ou do corpo. Ou, as mais das vezes, ignorando o “ar” que o corpo pede, preocupando-se apenas com o rosto. E este bem centrado na fotografia.

Quando compomos uma imagem, não nos devemos ater em exclusivo ao rosto e à direcção do olhar, tal como não devemos considerar que a “regra dos terços”, sucedâneo moderno da proporção aurea, é regra absoluta e inviolável. O equilíbrio dos elementos e dos seus significados (naturais ou interpretativos) é tão ou mais importante que as matemáticas rigorosas aplicadas à estética.

 

Na imagem, já com uns anos valentes e feita em ambiente natural, a conjugação de duas técnicas: o procurar o equilíbrio entre os tais dois vectores (rosto e tronco) e a tal luz vinda de trás de que tanto gosto.

Os meus dois cêntimos e desculpem ter-me alongado.

 

Pentax K7, Sigma 70-300

 

By me

Um clássico




Para acompanhar esta imagem, sugiro que se oiça “Pequenos deuses caseiros”, cantado por Manuel Freire.

 

Nikon Coolpix P7000


By me

domingo, 23 de novembro de 2025

sábado, 22 de novembro de 2025

Ensaio




1º ensaio de conteúdo, forma, côr e luz.

 

PentaxK1 mkII, SMC Pentax-M macro 50 1:4


By me

Ver as coisas de outra forma




Convenhamos que o Corona Vírus não tem apenas aspectos negativos.

Por causa dele, foram reduzidos ao mínimo, quando não a zero, os almoços ou jantares de natal das empresas ou de grupos profissionais, onde gente que passa o ano a cortar na casaca ou a espetar facas nas costas faz de conta que se dá muito bem, numa hipocrisia institucionalizada e obrigatória.

 

Pentax K7, Tamron SP Adaptall2 90 1:2,5


By me

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Vantagens e desvantagens




O problema de se fotografar com luz de LED em casa por comparação com luz de incandescência é que as primeiras não aquecem como as segundas.

E no inverno o espaço de trabalho pode ficar bem frio.

Pentax K7, Pentax DA 18-55 1:3,5-5,5, Nanlite FS-150B

 

By me

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

E tu?




Há momentos na vida em que o melhor é ficar quieto e calado. É uma arte, o saber quando.
Mas há outros em que essa é a pior opção!
Daqui por uns tempos, olhando olhos nos olhos e em falando dos dias de hoje e de então, que dirás tu quando te perguntarem:
“E tu, que fizeste?”

By me

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Sorrisos




Sou guloso e sou egoísta. Gosto dos meus prazeres e não os dispenso!

Uma boa refeição, um bom vinho, um bom livro, uma boa fotografia, uma boa luz.

Em podendo, trato de as ter e degustar.

Mas há coisas de que gosto, de que sou guloso, e que não estão à venda nem se encontram com facilidade. A vida está como a sabemos e vão-se tornando raras.

Uma delas, de que sou mesmo guloso, são sorrisos. Caramba! Como sou guloso por um sorriso, não importa a quem é dirigido!

Mas, no corre-corre matinal, entre a cama e o local de trabalho, são mais raros que políticos honestos.

Donde, se não os encontro naturalmente, provoco-os, que sou mesmo guloso por sorrisos.

No balcão rápido do café a correr a caminho do comboio, não são comuns. Não que não sejam bonitos, mas todos têm pressa, todos saíram uns minutos atrasados, todos querem o seu café “à maneira”… E quem está do outro lado do balcão reage em conformidade, correndo que nem barata tonta da máquina do café p’ra pinça dos bolos, com passagem p’la faca da manteiga.

Em chegando, nem importa onde, oiço o padronizado “bom dia”, sem ter outro significado que não seja “o que deseja?”

Não me chega e quero mais. Com o meu café matinal quero um sorriso que o adoce. Até porque, como já disse, sou guloso.

Uma pausa de um ou dois segundos, um ar sério e compenetrado, e riposto:

“Obrigado. P’ra si também: bom dia!”

Guloso que sou, conheço uma boa quantidade de formas p’ra satisfazer os meus prazeres. E esta é uma delas, infalível.

Do outro lado do balcão há também um compasso de imobilidade, como que a digerir o ouvido e perceber o seu significado. De seguida, o sorriso vem, brotando não importa a idade ou o quão cheio estará o lado de cá.

Quando recebo a minha bica, nem preciso do pacote de açúcar: já vem adoçado com estes sorrisos.

Que, como já disse, sou guloso.

 

A imagem? Não vo-la dou. Tratem vocês de provocar e degustar os vossos sorrisos, que eu sou guloso e egoísta dos meus.


By me

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Luz




Piada corriqueira entre os profissionais da imagem:

" A luz não faz curvas!"

Mas às vezes faz umas brincadeiras com piada.


Nikon Coolpix P7000


By me

sábado, 15 de novembro de 2025

Estabilidades




Um compincha, amigo e mestre costumava dizer que só há dois tipos de fotografia: tremidas ou feitas com tripé.

Dê-se desconto ao exagero, a verdade é que a física, a fisiologia e a matemática concordam com ele: é impossível manter imóvel um objecto segurando-o com a mão. Por imperceptível que seja, haverá sempre algum movimento.

Aliás, já a revista “Modern Photography” que fazia no seu tempo testes de resolução das objectivas quando era colocadas no mercado, tinham a câmara firmemente colocada, tal como a cartas de testes, em pesados e sólidos blocos de cimento.

Daí que a tecnologia e os fabricantes foram criando diversos dispositivos que auxiliam em muito o evitar fotografias tremidas. De muitas formas, algumas bem engenhosas.

Mas os antigos, os bem, bem, bem antigos já tinham forma de garantir a estabilidade, métodos esses que perduram passados que são muitos séculos: as pirâmides, que encontramos por diversas civilizações e pontos do globo.

E eu demonstro: só há uma figura geométrica que é indeformável a menos que quebremos alguma das suas arestas. O triângulo.

A partir daqui, quantas mais arestas acrescentarmos mais é fácil alterar a sua forma bastando alterar os ângulos internos. Mas não no triângulo.

As pirâmides, mesmo que com base quadrangular, são triângulos em volume. Indeformaveis a menos que destruamos uma das suas faces ou arestas.

O corpo humano, sendo composto de músculos, está em permanência a ajustar as suas posições porque tem várias “arestas ou faces”. Clássico é vermos os marinheiros, perante o balançar do barco, abrirem as pernas e afastarem os pés, formando assim um tiângulo composto por duas pernas e o chão que une os pés.

O fotógrafo, em procurando a estabilidade, deve criar triângulos no corpo de modo a obter o máximo de estabilidade. E não apenas nas pernas. Também nos braços.

Se encostar os cotovelos ao tronco cria aqui três triângulos interligados. Um frontal, composto pelos dois antebraços e o tronco, e um de cada lado composto pelo braço, o antebraço e a mão segurando a câmara encostada à cara.

As câmaras em que se usa o LCD e não o visor de ocular, quebram estes triângulos. E, pior ainda, como o ecrã implica alguma distância do olhar para estar nítido, é mais que habitual ver segurar a câmara com os cotovelos afastados do corpo. Coisa a que costumo chamar de “com as asinhas no ar”.

Não há tentativa de estabilidade que resista.

De igual forma, fazer uma fotografia com enquadramento vertical conduz, a menos que se tenha cautela e façamos ginástica, a termos o disparador do lado superior da câmara. Donde, o cómodo é levantar a mão direita para o actuar e a outros comandos, ficando com “essa asa aberta e pronta a levantar voo”.

Não é à toa que os fabricantes de câmaras colocam nos “grips” adicionais um botão de disparo e outros comandos no canto inferior direito. Desta forma é possível segurar com mais estabilidade o conjunto, encostando o cotovelo direito ao corpo.

E, só para terminar o que já vai longo: porque usamos tripé e não quadripé? Porque as suas pernas formam triângulos, os tais que já os muito, muito, muito antigos usavam.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100 1:4


By me

Fiquei esclarecido




A fotografia da esquerda foi feita por mim. Foi assim que a concebi, foi assim que a concretizei, foi assim que a exibi.

A imagem da direita foi o resultado da edição que alguém decidiu fazer como forma de divulgar a primeira.

Convenhamos que são bem diferentes. Que contam histórias ou estórias bem diferentes. Que provocam em quem as vê sentimentos diferentes.

Mal comparado (bem mal comparado) será como transformar o clássico verso de Luis de Camões “Alma minha gentil, que te partiste” em “Alma gentil, que te partiste”. Quase as mesmas palavras, mas em que a ausência de uma transforma todo o conteúdo. E com uma métrica e ritmo completamente diferentes. Para já nem falar na cacofonia existente que assim desaparece.

Não gosto que o façam com fotografia alguma. Minha ou não.

Menos gosto quando tal acontece sem que haja uma referência a que se trata de um trabalho pessoal sobre o trabalho de outrem. Trata-se, aqui, não apenas da adulteração de um trabalho original como da apropriação da criatividade de terceiros. A sociedade em geral e a lei em particular também não gostam e dão-lhe um nome feio.

Desgosto por completo quando tal sucede num site ou rede social dedicado à fotografia. Deveria haver aqui um maior respeito pelo trabalho de cada um, já que todos exibem o que sabem fazer, gerindo cada pedaço do espaço fotográfico (enquadramento) como quiseram ou sentiram.

Apenas admitiria alterações, nestas circunstâncias, se com o objectivo didático ou discussão sobre a gestão de espaço e linhas criadas para um determinado efeito ou passagem de mensagem ou sentimento. E assumir essa discussão enquanto tal.

Mas faz-me sair do sério quando tal alteração não apenas não é didática como é efectuada por alguém que gere um espaço virtual sobre fotografia.

Faz-me ficar a saber o que essa pessoa (ou conjunto de pessoas) pensam ou sabem sobre estética e eficácia de comunicação. E, muito principalmente, sobre ética.

Há uns tempos fui alvo daquilo que exibo na imagem.

Em mensagem privada a quem o fez manifestei o meu desagrado, explicando-o.

Como resposta, recebi um pedido de desculpas caso o meu “orgulho fotográfico” tivesse sido “ferido”. E a informação de que as minhas fotografias deixarão de ser consideradas para destaques.

Por outras palavras, que não me preocupasse porque não voltariam a adulterar as minhas imagens, mas que o continuariam a fazer com as de outros autores.

 

Fiquei esclarecido!

 

Pentax K7, Sigma 70-300


By me

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Inutilidades




Eis uma informação absolutamente inútil:

Hoje, meados de Novembro e numa manhã particularmente carregada de nuvens, havia mil vezes menos luz na rua do que haveria se o céu estivesse limpo e o sol brilhasse.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 50 1:4


By me

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Livros e história




Quando me mudei para a casa onde vivo uma das coisas que fiz foi deixar bem acessíveis os livros que tenho sobre imagem, nas suas diversas facetas.

Mas a pressa em esvaziar caixas e sacos, colocando o seu recheio nas prateleiras, fez com que o fizesse mais pelo espaço e tamanho que ocupam que por temas ou autores. “Mais tarde organizo isso”, pensei então. E o mais tarde ainda não chegou.

Esta desorganização fez-me agora percorrer muitas lombadas com os olhos, em busca de uns livros que queria para consulta. Encontrei-os, mas insultei-me diversas vezes. E ao editores, que escrevem as lombadas com orientações diversas, provocando verdadeiros torcicolos a quem anda meio perdido em busca de algo.

Nesse périplo dou com este pequeno tomo.

Não me lembrava de o ter e não me recordo de todo de como me chegou às mãos. Não tendo assinatura nem ex-libris, não terá vindo de uma pequena biblioteca que herdei, pelo que posso concluir que terá sido comprado numa feira de velharias.

Um dos factores que o torna de excepção é sua data de publicação: 1954. O que faz com que as escolhas de obras e autores referenciados sejam todas anteriores. A título de exemplo, o último capítulo tem o nome “La nueva visión abstracta”.

Outro factor digno de nota é sermos informados no início que o livro é ilustrado com “96 ilustraciones, una em cuatricromía”. Não apenas a impressão de livros com imagens coloridas era particularmente cara como a própria fotografia a cores era ainda pouco mais que novidade.

E na sua primeira badana, escrito pelo editor, podemos ler: “PEN oferece a los lectores de nuesta patria el primer libro español que inventaria y estudia la historia del registro mecánico de la imagem...”

Será bem interessante ler o que então se dizia da fotografia e dos autores, se pensarmos que foi escrito e editado durante a ditadura Franquista.

Acho que tenho com que me entreter e deliciar com a comparação do que então se publicava e hoje se sabe sobre a fotografia.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 50 1:4

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Côr # 2




Há uns anos valentes sugeri a um grupo de pessoas de variadas idades e conhecimentos em fotografia que escolhessem uma echarpe colorida de uma quantas que levara.

Em seguida, que a fotografassem a sua umas dez vezes no jardim onde nos encontravamos. Como entendessem de o fazer. E fizeram.

No final, sugeri que mudassem os parâmetros da câmara para preto e branco e fizessem mais dez fotografias do mesmo pedaço de tecido.

Aqui a porca torceu o rabo, já que não o conseguiam com a mesma facilidade ou sucesso. E o problema estava na composição de imagem sem o factor côr, o que obrigava a um muito maior cuidado no onde e como colocar o centro de interesse para que ficasse notório que o era. Perspectiva e luz.

Todos nós, os que lidamos com a imagem técnica, sabemos a importância da côr: de como ela evidencia ou oculta elementos, quer pelo contraste ou interacção com outras cores quer pela saturação.

Mas há um outro factor que nos atrai ou afasta numa imagem, mesmo que disso não nos apercebamos: a importância ou significado que cada côr tem no nosso quotidiano. Todos nós sabemos do simbolismo no ocidente do preto, enquanto luto, em contraste com o branco noutras paragens do globo.

O fotógrafo, seja qual for o suporte, sente-se mais atraído por umas ou outras cores pelos contrastes que encontra, pelo simbolismo que cada uma tem isolada ou em contexto e pela mensagem que recebe ou quer transmitir. As mais das vezes não damos por isso e agimos instintivamente. Mas é um auxiliar precioso o sabermos como o público sente perante cores (isoladas ou não) e usar isso em nosso proveito.

Sobre o assunto – côr e sua utilização – bastantes foram os que discorreram. Uns mais técnicos e profundos, outros mais mais leves e até com humor. Mas da fotografia ao cinema, da televisão às artes gráficas, da arquitectura à publicidade, da pintura à indústria, a côr impera, molda e gere o nosso mundo. Mesmo para os daltónicos.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 50 1:4


By me

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Côr




Quando falamos de côr são tantas as vertentes, qual delas a mais importante, que não se sabe por onde começar: técnica, estética, cultural, semiotica, subliminar...

Considero que a côr na comunicação é tão importante que, nos anos 80, abandonei a ideia de ingressar no curso de comunicação social (o primeiro em Portugal) da Universidade Nova por não possuir uma cadeira dedicada ao tema. Entre outros factores da importância do assunto nesse curso (á época), seria a cada vez mais dominante da côr na imprensa e a implementação da côr em televisão.

Só para dar notícia de parte da importância, um tema particularmente polémico em finais dos anos 80 e princípio dos 90:

Havia quem defendesse que os fabricantes de emulsões fotográficas ajustavam as sensibilidades e gamas para evidenciar o tom de pele caucasiano, em prejuizo das africanas e, de caminho, das asiáticas.

Sabemos, claro, que o mercado de películas (tanto fotográficas como cinematográficas, era dominado pelos estúdios europeus e norte americanos, bem como o respectivo público consumidor. E haveria que agradar a amadores e profissionais.

Tive conhecimento desta polémica pelas revistas que aqui se vendiam: norte americanas, britânicas e francesas. A web ainda era um sonho distante.

Durante alguns anos falava-se e escrevia-se sobre o assunto, ainda que não me recorde de ter feito capa ou parangonas: páginas interiores apenas.

Não me lembro de ter visto alguma a publicar exemplos conclusivos sobre a questão, até porque nem sempre a qualidade de impressão era suficiente para evidenciar o argumentado.

Ao fim de algum tempo o tema deixou de aparecer. Quer fosse porque o público não o aceitou por verdadeiro, quer fosse por cansaço, quer fosse por pressão de grupos poderosos porque incómodo.

Por cá alguns de nós tentámos chegar a alguma conclusão mas não era coisa fácil. Se por um lado testes sérios seriam dispendiosos porque muitos e variados, por outro a nossa descolonização ainda era coisa recente e a tratar com pinças.

Nos tempos que correm nem disso há rumores. Constatam-se as diferenças entre fabricantes, é certo, mas os programas de tratamento de imagem são tantos e tão divulgados e dispersos que cada um ajusta em casa a seu bel prazer. E torna-se tarefa quase impossível confirmar agora se ainda haverá algum fundo de verdade no tocante aos sensores das câmaras digitais.

Mas não tenhamos dúvidas: mantém-se vital o domínio da côr na imagem técnica! Quer seja pela livre expressão autoral, quer seja pela necessidade da eficácia na comunicação, quer seja por desígnios menos claros ou honrosos.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 50 1:4


By me

domingo, 9 de novembro de 2025

O outro lado da rua




 By me

Fast-food visual




Digam o que disserem, a grande vantagem da literatura sobre as demais formas de contar histórias (pintura, cinema, fotografia, escultura) é a capacidade de deixar à imaginação de quem a frui tudo aquilo que lá não está contado.

De uma forma genérica assim é. Se eu ler que o homem entrou num restaurante, deixo à imaginação a cor da toalha, o tipo de luz, o formato da cadeira… Ficará até ao critério do leitor se o empregado de mesa é ou não careca. A menos, claro está, que qualquer destes detalhes, ou outros, sejam importantes para aquilo que que o autor e, consequentemente, para o leitor.

Já nas demais formas de contar histórias (ou estórias) esses detalhes têm que estar presentes. Quando o cineasta, ou fotógrafo ou pintor, nos quer mostrar o entrar no restaurante, veremos o dito restaurante, com a cor das toalhas, o tipo de luz, o formato das cadeiras. Até se o empregado é careca, se aparecer na imagem.

Isto deixa pouco à imaginação de quem vê, reduzindo as possibilidades de se fantasiar com base nas experiências ou vivências de quem vê. O restaurante é aquele e ponto final.

É, talvez, este facilitismo que a comunicação plástica nos impõe, este menos exigente esforço de interpretação, que leva a que o consumo de literatura vá sendo menor. Para quê esforçar-me a imaginar se posso deixar-me levar pela imaginação do autor?

Indo mais longe: quando a obra exposta não é explícita (fotografia, cinema, pintura) a reacção generalizada é de não gostar. Ou de não sentir empatia. “Então eu estou aqui para não pensar e este obriga-me a fazê-lo?”

Recordo um filme em particular intitulado “Dogville” e realizado por Lars von Trier. O minimalismo cénico, perfeito dentro do enredo e das emoções (fortíssimas) entre personagens, é algo difícil de digerir e que afasta a grande maioria do público. Apesar de ser uma obra magistral.

De igual modo, uma pintura ou fotografia que não nos conte tudo, deixando ao espectador o trabalho de imaginar o resto é algo que não agrada, merecendo pouco ou quase nada de atenção.

Será necessário que o trabalho exposto seja particularmente bem feito, estimulando fortemente as memórias ou emoções, para que mereça mais que uns segundos, poucos, de observação.

No caso específico da fotografia, que é um “recorte” do espaço/tempo que cercou o fotógrafo, ou o trabalho é explícito ou a primeira questão que é colocada é “o que é isto”. Logo seguida de “onde é” ou “quando foi”.

A necessidade do ser humano de tudo catalogar e organizar, aliada à preguiça de usar a imaginação para completar o que ali se não vê, leva a estas questões, ficando o espectador como agente passivo, incapaz de se relacionar emotivamente com o que assiste ou observa. 

E a actual forma de divulgação massiva da fotografia – a internete – incrementa esta forma de “não consumir” a imagem.

O tempo que a esmagadora maioria das pessoas usa para ver uma fotografia on-line é mais que diminuto. Poucos segundos mesmo. Que à distância de um click estão outras e outras e há que ver todas. E se não for explícita, completa, pouco exigente no que toca a imaginação e uso das nossas próprias experiências, rapidamente é esquecida, merecendo menos atenção que nada.

Aqueles que querem vingar no mundo da fotografia on-line vêem-se na obrigação de executar trabalhos bem explícitos, inequívocos, pouco provocadores da imaginação.

A subjectividade nas formas e conteúdos, nas técnicas e abordagens aos temas, o sair da normalidade, são formas de expressão que, em geral, estão a ser preteridas pela velocidade de consumo e a preguiça de digestão.

 

O fast-food invadiu a fotografia. E a pintura. E o cinema. E a escultura.

 

Pentax K7, Sigma 70-300