sexta-feira, 11 de julho de 2025

Um retrato - Andreia




Uma das coisas interessantes sobre a fotografia em particular e a imagem em geral é verificarmos existirem muitos mais retratos de mulheres que de homens. Quer sejam feitos por homens ou por mulheres. Quer sejam em fotografia, em cinema, em pintura...

E quem tiver dúvidas sobre esta desproporção, verifique nos seus próprios arquivos fotográficos a relação entre homens e mulheres captados individualmente.

Há várias teorias que justificam esta assimetria no retrato humano.

John Berger dá-nos uma explicação possível, ainda que discutível nos dias e com as tecnologias de hoje. Consulte-se o seu trabalho “Modos de ver”.

Por mim, e correndo o risco de ser apedrejado em praça pública, entendo que faz parte daquele lado do fotógrafo menos simpático: o desejo de posse. Não podendo possuir o que se vê e gostaríamos de guardar, ficamos com o seu ícone. E será também uma questão cultural milenar.

Mas isto é assunto para muitas letras, não cabendo aqui e agora.

 

Pentax K7, SMC Pentax 50mm 1:1,2


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quinta-feira, 10 de julho de 2025

Brincar com coisas sérias

 



Brincadeiras didáticas para adultos e não só.

Perspectivas, linhas implícitas, condução do olhar, leituras. Ferramentas para contar histórias.


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segunda-feira, 7 de julho de 2025

A boneca




No café aqui da rua vejo a mocinha de serviço na caixa às voltas com uma caixa contendo um boneca. A caixa era grande, meio metro bem medido, e a boneca na proporção. E estava ela, a mocinha, de conversa com um cliente.

Quando fui pagar meti-me com a mocinha, dizendo “Então, ainda brinca com bonecas?”

A resposta calou-me a vários níveis.

“É de um cliente que me pediu para a guardar aqui até mais logo. É para mandar para a filha, em Cabo Verde, que queria uma boneca da Europa.”

Contém tanto esta resposta que é difícil de enumerar.

A fotografia? É de arquivo e com uns 20 anos. Não queriam que eu fosse fotografar a que há-de realizar um sonho em Cabo Verde, pois não?


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sábado, 5 de julho de 2025

F.....




As coisas são como são: puritanismos bacocos.

Num jornal on-line mostram-nos um curto vídeo onde um homem caído no chão é violentamente agredido a soco e pontapé na cabeça.

Alguém junto ao telemovel e fora de imagem pergunta se se chama uma ambulância e um terceiro, também fora de imagem, responde “Não, que se f...”

O que está entre aspas é a cópia do texto do texto do jornal. Já o vídeo, na palavra censurada, tem o clássico piiiiiii por cima para que não a oiçamos.

Palavras ditas feias, mas que todos conhecem, têm que ser disfarçadas para não ofender os bons costumes. Já um homem indefeso e caído no chão ser pontapeado na cabeça, nas costas, no torax, no ventre... isso já se pode mostrar a todo o público e de todas as idades.

Já agora: isto aconteceu em São Martinho do Porto e o agressor é espanhol e pescador. E já referenciado e impune por actos semelhantes.

Mas os perigosos são os migrantes da ásia, da áfrica ou das américas.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

 

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sexta-feira, 4 de julho de 2025

Boa ou má




Tenho para mim que não há boas ou más fotografias.
O conceito de bom e de mau é um conceito social que, muitas vezes, entra em conflito com as opções de quem fotografa.
Pior: Limita quem fotografa a fazer o seu trabalho pela opinião da sociedade, deixando para trás, tantas vezes, a sua própria capacidade de inovar e criar.
Entendo que uma fotografia é boa quando consegue satisfazer o seu autor. Quando ele olha para ela e se revê no que nela “lê” e sente. Isto é uma boa fotografia!
A partir daqui entra em campo a questão do gosto dos demais e da eficácia da comunicação.
Se a fotografia agrada à maioria leva o carimbo de boa. Se também agrada aos especialistas será excelente.
Mas, e antes de mais, a fotografia, o trabalho realizado que transformou aquilo que foi visto e sentido naquilo que o fotógrafo entende por um equivalente fotográfico, tem que agradar ao seu autor.
Claro que a fotografia também é uma forma de comunicação. Por isso existem os livros, as galerias, os álbuns, os grupos. As mais das vezes fotografa-se para outros vejam e sintam o que o fotógrafo viu e sentiu.
E quando tal acontece, a fotografia é eficaz na sua função de comunicar.

Mas também sabemos que comunicar, mesmo que com fotografia, implica o partilhar de códigos comuns. Tal como a escrita. Ou a música. Ou a escultura. Se quem o vê não entender os códigos usados por quem o fez, a ponte da comunicação não existe.
Daí que exista uma tendência generalizada em fotografar usando de códigos (técnicas e estéticas) que sejam do entendimento generalizado dos destinatários. Algum tipo de formalidade no fazer de fotografia.
Esta formalidade, este usar de códigos generalizados na fotografia, acaba por fechar portas à capacidade que cada um possa ter de se satisfazer com o que faz sem pensar nos outros. Acaba por limitar a criatividade absoluta, obrigando a criar de acordo com os códigos instituídos.
Mais do mesmo, portanto!

Claro que os chamados “profissionais” a isso são obrigados. Têm que agradar aos clientes!
A sua principal preocupação, ao fotografar, é que os sentimentos expressos nas fotografias que fazem, se alguns, sejam entendidos por quem lhes paga o trabalho. Que é isso que deles se espera.
Se a gestão do espaço e dos elementos nele (composição), se a nitidez ou as relações entre o claro e o escuro não estiverem de acordo com a técnica e estética em vigor (os códigos de comunicação) dificilmente será vendida. Quer seja uma fotografia de um acontecimento social, uma reportagem de guerra, paisagem ou vida animal. Não aparecerá numa revista ou jornal, ninguém a verá num cartaz publicitário nem constará no álbum de casamento.

Será uma necessidade do fotógrafo definir aquilo que lhe agrada e aquilo que agrada ao consumidor. E ter a coragem de o assumir.

Nunca disse a um aluno ou formando “Essa fotografia é má!”
O mais que fiz foi dizer-lhe “Não gosto” ou “Não entendo”. E, acto continuo, pedir que ma explicasse, que sobre ela discorresse em voz alta. E que me dissesse se ela correspondia ao objectivo a que se tinha proposto. E se esse objectivo era pessoal ou comunicação de massas.
A classificação de boa ou má seria a dele, de acordo com isso e com a conversa.

Que o mais importante é a satisfação do próprio. O resto é socialização. 


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quinta-feira, 3 de julho de 2025

No pátio




Teria uns sete ou oito anitos.
Irrequieta e palradora, acabou por vir sentar-se no banco onde eu estava, dizendo que também queria uma fotografia.
Não era o momento, que o mestre fotógrafo estava a cuidar de outras fotografias, nem era a vontade da mãe, creio que pelo preço.
Em qualquer dos casos ficámos os dois de conversa, ela muito “crescidinha”, eu a ver o que dali sairia.
A certa altura diz-me ela:
“O senhor tem uma grandes barbas, como o meu avozinho que já morreu. E ele também tinha uma grande pança.”
A mãe, que por perto ouvia a pequena, ficou sem saber o que dizer nem o para onde olhar.
Já eu, honrado pela comparação e sem querer estragar aquela bonita memória, disse-lhe que a barba é deixar só crescer e a pança é difícil de dominar.
Um nico depois levantou-se ela, muito senhora de si, e foi espreitar os gestos mágicos do photógrapho.
E eu deixei-me ficar sentado onde estava, cansado de um dia particularmente longo, e a tentar perceber se ainda serei fotógrafo ou se já terei passado à categoria de fotografia.

A mãe da catraia, bonita que era e, reparei então, vestida de preto, sorria discreta ainda no mesmo lugar.


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quinta-feira, 26 de junho de 2025

Pedro




Viveu como pôde, onde pôde. Comeu como pôde o que pôde.

De Kiev a Vladivostok, foi cumprindo o seu ofício militar até desistir e vir, embarcado ou não, até aqui onde a terra acaba e o mar começa. Há vinte e tal anos.

Foi trolha, almeida, coveiro. Foi o que os outros não quiseram, enquanto pôde. Casou e foi corrido, que o álcool é mau conselheiro. Nunca se drogou.

Sonhava. Sonhava, muito timidamente, em ter uma companheira. E sorria, enternecido e envergonhado, quando disso falava. Sonhava em regressar à Ucrania e às divisas de capitão, “para ajudar, que aquilo está mau”. Sonhava acordado, sabendo que estava a sonhar.

Rebelde a regras, como é apanágio nestes casos prolongados, nunca se deu bem nos abrigos que lhe arranjaram. Conheci-o a viver num carro velho. O apoio social internou-o num hospital e, quando regressou, tinham roubado o carro e todo o conteúdo. Todos os seus bens. Contou-me, alguns dias depois, que tinha encontrado uma das suas malas bem velhas no lixo. Vazia, claro. Refugiou-se com uns papelões e paletes, num recanto pacato, a meia distância entre um salão paroquial e uma sala de culto islâmica. Dizia que estava bem acompanhado.

De dia parava por aqui, na entrada da lavandaria. Não incomodava ninguém, lá dentro há cadeiras sem consumo obrigatório e o calor das máquinas é reconfortante. Toleravam-no.

Encontrávamo-nos quase todos os dias por aqui, no cruzamento da rua, as mais das vezes junto ao café-pastelaria. Amiúde era ele que se aproximava, com o seu passo lento e sofrido. E entre uma moeda para um “café” e um ou dois cigarros que partilhávamos, falávamos. De deus, de militares, da vida e dos ofícios, das pessoas. Algumas vezes, em indo eu à lojinha por um artigo de última hora para o meu almoço ou jantar, convidei-o a entrar e escolher o dele. Acedia relutante e sempre comedido no que trazia. Nunca foi vinho.

Mal visto pela vizinhança, poucos éramos os que lhe dirigiam a palavra. E os demais quando dele falavam sempre foi com sete pedras na mão. E foi de uma dessas bocas que hoje fiquei sabendo que as sirenes que ouvi de manhã eram para lhe vir buscar o corpo.

Creio que este é o único epitáfio que o Pedro terá.

 

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quarta-feira, 25 de junho de 2025

Contradições




Uma coisa e o seu contrário.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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Reciclagens




Esta tampa traseira de objectiva é minha conhecida há dezenas de anos. Sacrifiquei-a originalmente num projecto que resultou e que foi refinado de outra forma e com outras tampas. De então para cá tem servido para vários usos que, convenhamos, não lhe aumentaram a beleza. Alguns para uso privado, outros para efeitos didáticos. E se assim está é porque não é coisa fácil de encontrar e não sacrifico uma tampa em bom estado à toa.

Fará parte de um projecto que tenho em mãos e que resulta de duas frases velhas, uma dita por um mestre e compincha faz muito, outra que se me surgiu  uma manhã no banho e que tenho usado até me cansar:

“Sei como se faz mas ainda não sei fazer” e “Se eu souber porquê sei como”.

Em completando e testando o projecto decidirei se faço o sacrifício de outra e guardo esta para outras ocasiões ou se ficará agregada ao que agora criar.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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terça-feira, 24 de junho de 2025

Knight at sun set



 

Pentax K7, Sigma 70-300


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domingo, 22 de junho de 2025

A primeira




Quem não recorda o primeiro amor? Ou o primeiro carro? Ou, no caso de fotógrafos, a primeira câmara?

De um modo ou de outro, para além de a recordar conservei-a. Esta.

Uma pobre coitada, com mais de meio século, que não mereceria um segundo olhar pela sua simplicidade, mesmo na sua época. E imaginamos (sei-o) pela sua modesta qualidade óptica. E pelo seu estado de conservação, que levará qualquer um a perguntar porque ainda existe.

Mas, seja como for, foi a minha primeira e dessa nem esquecemos nem desvalorizamos.

Veio parar às minhas mãos de uma forma insólita: a empresa onde meus pais trabalhavam tinha o hábito de dar uma prendinha pelo natal aos filhos dos funcionários. Ajustada a prenda à idade de cada um dos ofertados. E todos os anos mudavam de prendas.

No ano em que fiz 12 anos, idade limite para se receber a lembrança ou brinquedo, foi uma câmara destas. Esta mesmo foi a que recebi.

Nunca lhe dei a devida atenção. Se, por um lado a fotografia era coisa particularmente cara de praticar, eu ainda não tinha descoberto o que ela poderia ser e fazer. Creio que fiz dois rolos de 120, (doze exposições cada) e nada mais.

Tem vindo a ser guardada em caixas ao longo dos anos, nem sempre com os melhores cuidados de conservação. E está neste estado agora. Mas apenas visual, que simplicidade do seu mecanismo é de durabilidade garantida. Claro que a óptica e o visor sofrem de “cataratas”, mas também nada tenho feito para o evitar.

Nas voltinhas que tenho dado por feiras de velharias, de quando em vez lá vejo uma. Com tão bom aspecto que apetece traze-la para substituir esta pobre coitada, há muito a pedir a reforma eterna.

Mas, caramba, esta foi a primeira. E por muitas e bem mais valiosas que tenha ou venha a ter, nada nem ninguém lhe retira esse título nem os afectos.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100 1:4


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Erros




Aprendi com a vida que nunca se aprende tudo.

Mas também aprendi que quem não tenta não corre o risco de errar. E que muito aprendemos com os erros.


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quarta-feira, 18 de junho de 2025

O nome da filha




Pescadores e caçadores têm uma coisa em comum: o tamanho conta.

Ficam muito mais satisfeitos e com muito mais para se gabarem se caçarem um javali em vez de um coelho. Ou uma truta no lugar de uma taínha.

Um fotógrafo também é um caçador, ainda que para ele o tamanho pouco importe: procura o momento, a luz, a perspectiva, a história.

Mas se a um fotógrafo juntarem o ser recoletor ou ajuntador de peças fotográficas, contará também o interesse de cada peça: forma, função, história. E, por vezes, é o mais pequeno que nos dá motivo para nos gabarmos. É o caso desta peça.

Vi-a anunciada na net e fiquei curioso. Nada nas fotografias indicava dimensões. Mas o que levou a ultrapassar o orçamento mensal foi o não ter ponteiro. Nem vestígios de um. Acabei por combinar o negócio, por um valor igual ao que se encontra nos sites internacionais.

E foi aqui que o meu interesse se foi transformando em cobiça: a enorme escassez de informação. Que raio seria aquilo?

Já em casa, em frente ao computador e com este aparelho na mão, estive mais de duas horas para conseguir reunir alguns dados sobre ele e, mesmo assim, incompletos. Mas consegui saber que a) fabricado na DDR; b) a célula é de selénio e não me espanta que já não funcione; c) não tem mesmo ponteiro mas antes um sistema único de leitura; d) data de produção: 1958.

Esta fotografia foi feita a correr, só para provar que cacei uma truta do tamanho de um javali. Quando terminar a tarefa de documentar e escrever sobre a parte aqui de casa relativa a fotómetros, logo mostro a sério.

 

Pentax K1mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


By me

Alguns vícios



 

Pese embora a feira do livro de Lisboa seja um evento com alguma projeção, faz tempo que deixei de ser cliente.

Não que a leitura tenha perdido interesse para mim. Não que a pilha de livros “para ler” tenha diminuído. Não que deixasse de ter cantinhos de leitura aqui em casa, variando apenas no tipo de livro e no horário de leitura. Nada disso.

Acontece apenas que visitar a feira do livro é algo exaustivo.

Por um lado porque haverá que lutar com os demais visitantes para conseguir ver com algum conforto os títulos em cada banca.

Por outro porque um dos temas que mais me interessa – imagem – não é um tema popular, pelo que haverá que vasculhar cada banca (ou quase todas) para encontrar algo sobre o assunto.

Acrescente-se que a feira é ao ar livre e com ele, mesmo que só haja uma leve brisa, o cheiro dos livros, novos ou mais antigos, desaparece. E esse é um prazer raro.

Passei a preferir ir frequentando as livrarias ao longo do ano e ir metendo o nariz nas secções que me interessam. Quer porque saiba de antemão onde ficam, quer porque pergunte por elas.

Tem ainda esta preferência a vantagem de se encontrarem nas livrarias, com porta para a rua ou com porta para o corredor, exemplares que nunca teriam lugar na feira, considerando o espaço reduzido de cada banca.

Porque ontem entrei numa livraria, veio este.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax 24mm 1:2,8


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terça-feira, 17 de junho de 2025

Troféus




Este quadrinho foi-me entregue por troca. Porque era esse o acordo que tínhamos: eu dava algum conhecimento em fotografia e, em troca, davam-me o que entendessem que o que recebiam valia, desde que feito pelo próprio. Nada de dinheiro envolvido entre nós ou de algo comprado para o efeito.

Por isso o nome daquelas actividades era “trocas”.

Este em particular sai um pouco das regras, já que a a moldura foi comprada de propósito, suponho. Mas o seu recheio, o bordado em ponto cruz e com sombreado, foi feito de propósito para servir de troca.

O que lá está escrito? Poderia ser batata frita ou caixa de velocidades ou o quer que fosse. Mas esta afirmação era a forma como nos tratávamos e eu tinha a alcunha de mestre. De pouco adiantou, no início, reclamar que o não era e que se tivessem conhecido verdadeiros mestres como conhecera, concordariam comigo. Mas íam insistindo até que deixei de me rebelar.

De entre as trocas que recebi, este tem estado sempre à vista. Sempre. Não que tenha mais valor que qualquer outra recebida. Acontece apenas que é a mais sólida e com menos possibilidade de se estragar. E simboliza, de algum modo, o projecto em que todos estivemos envolvidos, cada um de seu jeito.

Ninguém imaginava, no entanto, as complicações diversas que sobrevieram por estar visível. Mas o meu nome do meio é teimoso e não cedi nem um milímetro às diversas investidas. Sempre visível!

Não tenho, aqui em casa, fotografias minhas penduradas nas paredes. Mas tenho alguns objectos especiais, simbolos de outros e outras vivências. Este é um deles.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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segunda-feira, 16 de junho de 2025

"Tralha miúda"




O meu começo mais a sério em fotografia aconteceu com uma Pentax MX. Assim que pude completei-a com uma 28mm e com uma 75-150mm e senti-me pronto para o mundo.

Felizmente tinha um colega, amigo, mestre, compincha, que me mostrou outras formas de fazer e pensar fotografia. Incluindo Ansel Adams.

Foi um dos meus ídolos e cedo tentei imita-lo, usando para tal uma Linhof 9x12 e uma Linhof 6,5x9, a segunda preparada para película em rolo e película rígida.

O motivo para tal salto foi a possibilidade de revelar cada fotografia individualmente, de acordo com as características daquilo que fotografava e do papel a usar. Nunca fui muito longe neste percurso, por falta de capacidades ou falta de paciência.

Claro que para o tentar precisei de poder aquilatar a luz, coisa que muitos menosprezam com as consequências que vamos vendo.

Primeiro com um fotómetro de mão, para luz incidente e luz reflectida, mais tarde com um spotmeter. Tenho ambos e ainda hoje são fieis e no activo.

Quando comecei a ser um “ajuntador de tralha fotográfica” e a percorrer lojas de usados e feiras de rua, na mira da marca Pentax, descobri que também por aí se encontram aparelhos de medida de luz. E, para além da curiosidade, fui-me apaixonando por eles. Não apenas pelas soluções técnicas encontradas pelos fabricantes como pela ergonomia e beleza de cada peça. Tenho uns quantos, aos quais ainda não dei a atenção que merecem, mas terão.

Este é umas peças mais pequenas que por cá estão.

Concebido para ser usado com câmaras que não possuem fotómetro, coloca-se na sapata de flash e o seu quadrante dá-nos as indicações básicas para uma fotografia medianamente bem exposta, saibamos nós interpretar os resultados. Tudo manual e de calculo mental, como se usava na época.

Está “morto”, como estão hoje a maioria dos aparelhos de medida de luz de então, já que o seu componente básico, a célula, vai-se gastando à medida que vai sendo usado. E quarenta ou sessenta anos é muito tempo e muito uso.

Dos diversos tipos de medidores de luz faltam-me três tipos específicos: fotómetro de laboratório, fotómetro de sonda para grande formato e um dos modernos que se conjugam directamente com um smartphone. Mas sei que os há no mercado e será uma questão de oportunidade: no mercado e na carteira.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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sexta-feira, 13 de junho de 2025

Terrorismos


 


O terrorista mais perigoso não é o suicída nem o que actua em células autónomas.

É o terrorista de estado, que actua a coberto de leis por si mesmo concebidas e que fica sempre impune. E actua às claras.


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Just for the fun (or not)




 Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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segunda-feira, 9 de junho de 2025

Laranja mecânica contemporânea




Hoje lembrei-me muito seriamente de Stanley Kubrick e o seu magnifico filme “Laranja Mecânica”, rodado em 1971.

Nesse filme, o principal personagem é sujeito a um tratamento de controlo comportamental, forçado como se vê na imagem a ver uma sequência de imagens de violência ao mesmo tempo que ouvia a nona sinfonia de Beehtoven, a sua música preferida.

A maior parte de quem agora me lê recorda-se desta sequência pela certa.

Porque me lembrei disto?

Porque os activistas que seguiam a bordo do navio Madleen e que foram inteceptados e detidos serão obrigados a ver vídeos sobre o ataque do Hamas em 7 de outubro, supostamente a razão de ser do que acontece naquela zona do globo. Resta saber se recorrerão a este método.

É que nem Josef Mengele se lembraria de pôr isto em prática e a cartilha genérica parece ser a mesma.

 

Imagem roubada da web. 

Velharias e cautelas



 

Este é um dos conjuntos mais antigos aqui de casa.  Mais ou menos tão antigos quanto eu.

Mas as semelhanças não param por aqui: tal como eu, também este conjunto funciona naquilo que dele se espera, mas com limitações próprias da idade.

Trata-se de uma Pentax SV (ou H3V), de 1962, e de uma Takumar 135 1:3,5 preset, de 1957.

Para quem não sabe, este modelo de câmara não possui medidor de luz. Aliás, não tem o que quer que seja relacionado com eletricidade. Na sua época haveria que usar um fotómetro manual para calcular a exposição correcta. Em alternativa, a marca fabricou fotómetros externos acopláveis à câmara. Mas como nestes modelos não havia como o fixar, também existiam sapatas, semelhantes às do flash, que se fixavam na ocular da câmara. Sorte minha, tenho as duas peças.

A objectiva, que é linda, é uma focal longa e não uma teleobjectiva. A principal diferença entre os dois tipos de objectiva é que esta, tal como muitas outras do seu tempo, tem todos os elementos ópticos (lentes) na parte frontal. Incluindo o diafragma. O seu ajuste incluía dois anéis: um para selecionar a abertura desejada, o outro que, rodado, mantinha-o aberto para focagem e/ou enquadramento e, rodado novamente, fechava-o até à abertura selecionada sem necessidade de olhar para a sua escala. Engenhoso, o sistema.

Estas peças fora adquiridas em separado. A objectiva numa loja de artigos usados, com o repectivo estojo em cabedal, tudo em estado quase perfeito e por um preço que me envergonho de referir, de barato que foi.

Já a câmara foi adquirida no meu mecânico, em muito bom estado e por um preço dentro da média nacional. Mas foi uma compra difícil, já que ele não a queria vender, preferindo tê-la para a canibalizar ao reparar outras de clientes. O meu argumento que o convenceu foi que seria peça estimada, inserida na minha coleção. E como ele me sabe como aficionado por peças Pentax...

Trato o meu equipamento com a cautela própria de quem usa mas não abusa.

No caso deste conjunto, e de outras peças dessa época, objectivas ou câmaras, tenho um cuidado especial na conservação e manuseio.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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domingo, 8 de junho de 2025

Sinalética




O cordão vermelho que cada uma destas câmara exibe não é nem festivo nem decorativo. Estão assim como lembrete visual. E, junto com estas tenho mais duas, uma K50 e uma ES II, que também têm este maldito aviso vermelho.

Significa ele, o aviso, que necessitam de visitar o mecânico para reparar alguma avaria. Excepto a K50 que, tendo sido comprada usada e tendo prestado uns dois bons anos de serviço, passou a sofrer do clássico bloqueio de diafragma que, ao que sei, não tem solução viável do ponto de vista económico.

Cada uma das câmaras que possuo tem uma história, para além das histórias inerente a todo e qualquer objecto. E eu procuro saber o possível sobre cada uma delas.

A ME F que aqui está, veio parar-me às mãos com o aviso de “não tem recuperação”. E eu sabia disso.

Uma ocasião lembrei-me de fazer apoios para livros baseados em câmaras Pentax. Decorativo, portanto. Mas não me apetecia sacrificar nenhuma das minhas para tal e recorri a um vendedor de feiras de rua de velharias meu conhecido, perguntando-lhe se teria duas Pentax sem solução que me vendesse. Na feira seguinte lá estava ele com o meu pedido. Uma ME Super e esta ME F.

A ME Super, coitada, para além de mecanicamente estar muito danificada, parece ter sofrido um sério acidente. Inutilizável, creio que nem para peças. Mas era o que eu tinha pedido.

Já a ME F, mesmo sem a sua objectiva especial, aparenta ter apenas os espelhos bloqueados, coisa que espero que o mecânico com que trabalho possa resolver. Ainda não a afastei de vez.

Quando perguntei o preço o vendedor olhou para mim, sorriu e encolheu os ombros ao dizer-me 5 euros. Poderia eu recusar ou negociar este valor?

Tenho por objectivo, sempre que possível, saber a história distante e recente de cada câmara. E de não ver nenhum cordãozinho vermelho onde as tenho à vista aqui em casa.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 50mm 1:4


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sábado, 7 de junho de 2025

Conceitos




Tenho para mim que há dois factores que fazem de uma fotografia uma boa fotografia. Pelo menos a meus olhos.

Em primeiro lugar ela tem que “falar” comigo. Tem que me provocar uma qualquer sensação ou emoção. Mesmo que seja negativa. Quer seja por analogia com qualquer recanto da minha memória, quer seja absolutamente inovadora para mim.

Por outro lado, uma boa fotografia não precisa de contexto. Espacial ou temporal. Não me fico perguntando onde foi nem quando foi. Mas, e acima de tudo, não me questiono sobre o que é ou quem é. Mesmo que eu não saiba identificar.

Do meu ponto de vista, qualquer um destes factores fazem uma fotografia ser uma boa fotografia. Se acontecer a simultaeidade, então será uma excelente fotografia.

No entanto esta é a minha abordagem, e não uma lei universal. Outras existirão, com as quais concordarei ou não, mas estes factores são-me fundamentais.

 

Pentax K7, Pentax 18-55mm


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quarta-feira, 4 de junho de 2025

Cruzámo-nos




Cruzamo-nos várias vezes, umas pacatas e debaixo de telha quando falava do seu trabalho, outras pouco pacatas e cá fora quando fazia o seu trabalho.

Destas recordo a que foi, creio, a última em que nos encontramos nas ruas.

Decorria o plenário da Assembleia da República em que Passos Coelho e o seu governo foram derrubados.

Cá fora a polícia havia interditado o acesso à escadaria e largo frontais com barreiras anti-motim, ficando numa ponta os apoiantes e na outra os contestatários, criando-se entre ambas uma espécie de terra-de-ninguém atravessada apenas por quem os agentes da PSP entendiam que o poderiam fazer.

Depois de algumas fotografias iniciais do lado dos contestatários como eu, atravessei a barreira sem entraves e fui ao outro lado para fotografar. O ambiente era tenso e senti-me desconfortável ali, por entre saltos altos e polos laCoste. Regressei à origem.

Ao cruzar a barreira, mais alta que um homem e com uma porta onde só cabia um, cedi-lhe a passagem. Saudou-me e perguntou-me como estavam as coisas do outro lado. “Tensas mas ainda calmas” respondi-lhe. “Vou até lá” disse, e seguiu.

Poucos minutos depois vejo-o de regresso ao meu lado da barricada. “Então, já de volta?” perguntei. “Reconheceram-me e insultaram-me. Vi-me embora e nem os honrei com uma fotografia.” Foi a resposta.

E separámo-nos no meio da maralha, nem dando para usar a câmara de tão densa que estava.

Pouco tempo depois ouviu-se aquele grito espontâneo que se espalhou como fogo em palha seca: “Já caiu, já caiu, vão p’ra puta que os pariu!” Ainda me arrepio quando o recordo.

Dele, do Gageiro, perdi-lhe o rasto naquele dia. Não sei se terá gritado se terá fotografado. Talvez ambos.


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Guloso




É verdade que sim, sou guloso.

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4

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terça-feira, 3 de junho de 2025

O photógrapho

 



 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4


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segunda-feira, 2 de junho de 2025

Primas




Quando perdi o uso do olho direito zanguei-me.

Zanguei-me com a vida, zanguei-me com o mundo, zanguei-me comigo, zanguei-me com a fotografia. Logo eu, que fazia do fazer imagem técnica o alimento do corpo e o alimento da alma, havia de perder a capacidade de ver em três dimensões.

Zanguei-me!

A minha actividade profissional – vídeo – fui mantendo, com as adaptações possíveis, mas deixei a fotografia bem de parte. E assim foi durante algum tempo até me reconciliar com tudo com que me tinha zangado e regressei à fotografia. Desta feita no digital, aproveitando o que então era novidade e sem grandes rigores ainda.

Neste intervalo muita coisa aconteceu na tecnologia e disso nem me fui apercebendo. E quando regressei, não me preocupei com o que havia sido essa mudança nem o que de novidades tinham acontecido.

Foi assim que a época da Pentax com este tipo de câmaras e características foi um espaço vazio no meu conhecimento e experiência. E algum “não gostar” do aspecto e sensação de muito plástico, que me fez manter-me longe destas séries.

Até que há alguns anos, quando comecei a, primeiro a juntar, depois a colecionar, descobrir que estes aparentes “brinquedos”, para além de úteis, têm características simpáticas, mesmo que não sejam muito sólidas por fora e por dentro. E divertidos de usar.

Da série MZ tenho estas quatro “primas”, compradas no mercado de usados e feiras de rua, a preços quase escandalosamente baixos já que o digital veio quase extinguir o uso de película. É uma questão de oportunidade de mercado e de dinheiro disponível.

Sabemos que não é a ferramenta que faz o artista. E eu nem sequer sou artista. Mas dá-me prazer usar de quando em vez as que há uns anos produziam boas fotografias, sabendo tirar partido do que tinham nas mãos.

E, no fim de contas, isso é o importante.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4 


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sexta-feira, 30 de maio de 2025

Brincando




Uma pequena brincadeira em honra dos fotógrafos clássicos e contemporâneos e dos seus métodos, semioticas e técnicas.

Dedicada a quem gosta e utiliza Pentax.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4



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quinta-feira, 29 de maio de 2025

É uma espiga




Lembraram-se do dia da espiga? Eu já nem me lembrava que ele existia.

Foi apenas quando me deparei com uma vendedora de raminhos da sorte, com três cestas cheias deles e vestida a rigor para o negócio, que a memória se me acordou.

De conversa com ela, fiquei a saber que também é o dia da nossa senhora da ascensão e que se celebram quarenta dias após a páscoa que, como sabemos, é feriado móvel.

Consultada a web, que mais a vendedoura não me sabia dizer, fiquei ciente que o dia da espiga é tradição bem anterior ao cristianismo e que popularmente se recomenda pendurar o raminho atrás da porta de casa e aí o manter até ano seguinte, como chamariz à boa sorte e à abundancia de víveres durante o ano.

Não sou supersticioso, mas mal não fará e sempre é algo bonito de se ver.

Em desmontando o set, agora que a fotografia está feita e o texto está escrito, vou tratar de encontrar uma forma de o pendurar onde deve estar e sem se estragar.

Boa sorte para todos, se for caso disso.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 10mm 1:4

 


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Amantes




Uma ocasião pediram-me, na escola onde antes havia dado aulas, para lá ir ajudá-los: havia reclamações, por parte das entidades onde eram feitos os estágios, quanto ao cuidado que os alunos tinham com os equipamentos.

Lembram-se de mim para fazer um workshop ou um mini módulo de várias horas, com o intuito de corrigir essa atitude dos alunos.

Eu não era conhecido dos jovens e qualquer referência que pudesse haver seria apenas dada pela escola e por quem ali lecionava. E aparecer assim de repente alguém para lhes falar de disciplina, método e cuidados com o equipamento não seria bem recebida pelos jovens, com poucos efeitos daquilo que se queria: mudar atitudes.

Lembrei-me eu de serem feitos alguns vídeos de curta duração, tantos quantos os grupos que surgissem, sobre o assunto. E dizer a estes mais velhos que os vídeos seriam usados como exemplo pedagógico para os mais novos. Pedir ajuda costuma resultar, e foi o caso.

Indo mais longe, o enredo, a realização, as vertentes técnicas, seriam feitas, concebidos e executadas por eles, bem com a interpretação. O meu papel seria “apenas” o dar apoio teórico ou prático onde eles tivessem mais dificuldades.

Usei como “engodo” adicional o facto de o projecto ter o nome formal de “A minha amiga, a câmara”, mas que era apenas formal, já que eu preferia chamar-lhe “A minha amante, a câmara”, mas que a escola não o aceitara. Mas que seria o nosso segredo perante a hierarquia escolar.

Bingo! Alinharam no projecto, arregaçaram as mangas e a coisa fez-se.

Claro que o meu objectivo era colocá-los a pensar seriamente no assunto e a interiorizar tudo aquilo que iram demonstrar aos mais novos: o cuidado a ter com o equipamento. Transporte, montagem e desmontagem, operação, limpeza prévia e posterior, segurança.

Vem tudo isto a propósito de, de facto, a câmara (vídeo, cinema, fotografia) ser a nossa amante. Aquele objecto, mais simples ou mais complexo, que tratamos com carinho e com o qual temos relações e comportamentos distintos de quase tudo resto na vida.

Não deixamos que qualquer um se encoste a nós, rosto incluído, a menos que seja por questão médica ou estética corporal. Até mesmo com os amigos mantemos alguma distância. Agora um amante, formal ou informal... o nosso desejo e prática é mater essa proximidade total que não permitimos aos demais. E o nosso rosto encostado à câmara como se amante fosse.

O mesmo se passa com os cuidados de segurança, de afagos, de manutenção: um amante, no sentido de se ter amor por, recebe de nós o máximo de atenção. Tal como a nossa câmara, mesmo que pareçamos displicentes no seu manuseio.

A maior parte dos que conheço no mundo da imagem técnica têm esses cuidados e intimidade com a sua câmara. Os que não têm é notório no resultado do seu trabalho. E raramente duram muito tempo no ofício ou nas empresas.

Não sei se será o vosso caso, mas aqui por casa tenho diversas amantes.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M Macro 100mm 1:4


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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Duas pequenas irmãs




Ninguém que só conheça a fotografia digital imagina o que significava ter este conjunto ou semelhante.
Por um lado o poder registar em cor e em preto e branco a mesma situação: uma câmara para cada.
Por outro, ter duas objectivas diferentes prontas a serem usadas, sem a perda de tempo para as mudar. Que as objectivas zoom eram caras e pouco comuns por cá.
Por outro lado ainda o ter um “power winder” ou um “motor” numa câmara, em regra a carregada com película em preto e branco, significava poder fazer diversas fotografias sequenciais e rapidamente sem retirar a câmara do rosto para armar o obturador e avançar a película.
Por fim, ou nem tanto, a posse deste conjunto era sinal de profissionalismo, já que quase só os profissionais ligados ao fotojornalismo tinham conjuntos assim.
Acrescente-se que o aparecer com duas câmaras ao pescoço era garantia, ou quase, de portas abertas para locais mais ou menos reservados, como eventos desportivos, encontros do jet set, salas de espetáculos... raramente se era questionado ou nos pediam pelas credencias. O mais que poderia acontecer era perguntarem-nos para qual jornal trabalhávamos, mas as mais das vezes nem isso era confirmado.
Nessa época, há quarenta e muitos anos, estes pedaços de equipamento eram caros. Bem mais, comparativamente, aos preços de hoje. Por isso, possuir duas SLR era coisa reservada aos profissionais, quantas vezes câmaras e objectivas fornecidas pelos jornais ou cedidas por fabricantes. 
Mas havia sempre quem conhecesse onde se vendessem em segunda mão. Como eu conhecia. E com quem se podiam fazer negócios fantásticos, com vantagens para ambas as partes. 
Hoje só possuem e/ou utilizam equipamento destes tempos os revivalistas de outras épocas, os que procuram as abordagens estéticas que a película permite ou os colecionadores. Eu encontro-me algures no meio destas três vertentes. 
Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4

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segunda-feira, 26 de maio de 2025

Pentax MF






Termos uma peça que, não sendo rara como alguns cromos, é realmente pouco comum, é algo que nos enche o ego.

É o caso desta câmara.

É verdade que precisa de revisão interna a vários níveis. É verdade que, do ponto de vista cosmético, denota bastante uso nem sempre o melhor. É verdade que está incompleta, faltando-lhe uma peça semelhante a uma objectiva e o que nela se coloca. Mas também quantos serão em portugal os que têm uma Pentax MF para fazer fotografias endoscópicas?

Trata-se de uma adaptação original de fábrica para receber uma sonda que seria introduzida no interior do corpo e fotografá-lo. Portanto o seu uso é exclusivamente médico.

Pelo muito pouco que encontrei on-line, usar esta câmara convencionalmente é algo de fora do comum, mesmo que se use uma objectiva ao invés de uma sonda. Desde logo pelo controlo de exposição. Seguindo-se pelo enquadramento, já que o visor não possui um despolido, como todas as outras SLR, mas antes produz uma imagem aérea com uma sistema ótico para tal e que necessita daquele “alto” junto à ocular. Some-se-lhe o produzir fotografias “half frame”, verticais e com metade da largura do habitual, coisa que para quem não está habituado é estranho. Esta marca fez mais tarde outra adaptação, também a partir de um modelo Pentax ME, mas produzindo fotografias com o formato a que estamos habituados – 24x30mm.

Do que consegui saber de quem ma vendeu, bem barata, terá pertencido a seu pai que tinha um laboratório de imagiologia que, com o passar dos tempos foi evoluindo, deixando de usar fotografia “analógica”. E isto ficou guardado algures por lá. Entretanto esse senhor faleceu faz tempo e o filho estava agora a desfazer-se do conteúdo em desuso armazenado no local.

Mais não pude saber, porque ele não sabia, nem mesmo onde estariam as restantes peças complementares.

Nem desconfio de quantas terão sido produzidas, considerando que o mercado para iste tipo de câmara é particularmente restrito. Mesmo no mundo inteiro. Mas trata-se de um “cromo difícil” que será muito bem estimado aqui por casa. Assim que for revisto e reparado naquilo que for possível, tratarei de fazer pelo menos um rolinho e disso dar conta.

E se, por mero acaso, alguém tiver por aí perdido o adaptador para a sonda endoscópica, por favor contacte-me. Ou mesmo o manual de instruções.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M Macro 100mm 1:4


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sexta-feira, 23 de maio de 2025

Relatividade




O tamanho é importante?

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M Macro 100 1:4


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Bi-Cromático




Era um exercício que eu propunha a aprendizes de fotografia, fosse qual fosse a idade ou equipamento: cores.

Num pequeno passeio mais ou menos aleatório pela cidade, fotografar o que se via tendo por base as cores do que estava visível. Mas com uma limitação: mostrar o que se queria mostrar mas com não mais que duas cores no enquadramento, excluindo o fundo. Não importava o quê, mas esta condicionante teria que ser cumprida.

O objectivo deste exercício com jogos de cor não era o equilíbrio ou desequilíbrio entre elas. Isto de nada importava. Aquilo que se queria era que se ganhasse o bom hábito de ver com olhos de ver todos os detalhes do assunto e inclui-los ou exclui-los no enquadramento de acordo com o pedido. Saber ver para além de olhar. Saber ponderar antes de obturar. Saber excluir o descartável.

Claro que isto implica também saber jogar com distâncias e perspectiva, por vezes também alguma ginástica acrobática para se conseguir o que se queria. Tal como o recusar premir o botão porque a norma não se cumpre.

Este treino visual e a disciplina que implica é importante para a prática da imagem técnica (fotografia, cinema, vídeo) para que não seja necessário uma multiplicidade de técnicas posteriores de remendar o que ficou roto na tomada de vista.

O passeio era antecedido de umas pequenas “brincadeiras” com smarties ou pintarolas e guardanapos coloridos para despertar a atenção para as cores. No final comiam-se os doces e limpava-se a boca.

 

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terça-feira, 20 de maio de 2025

Lixo de gente




Quando saí do café, onde fui por uma bica em jeito de fim de dia, parei cá fora e acendi um cigarro. Quedei-me ali um pouco, olhando em redor, na esperança de encontrar algo que justificasse a presença da minha câmara pendurada no ombro. Não tinha pressas.

De igual forma não tinha pressas aquele homem de uns 30 anos e envergando uma camisola da mesma marca do logotipo na carrinha comercial que acabara de estacionar. Vinha assoberbado com um saco de lixo e uma caixa de cartão cheia de mais cartões.

Chegou-se aos contentores, abriu o de “indiferenciados” e jogou o saco lá para dentro. Sem fechar a tampa, olhou em redor e jogou a caixa de cartão no mesmo lixão.

Ainda ponderei ir ter com ele e perguntar-lhe porque não usara o contentor de papel/cartão, mas parei a tempo. Juntou-se-lhe um outro e ficaram de conversa. Não iria servir de muito, até porque o lixão estava quase vazio pelo que eu havia visto uns dez minutos antes, e ele garantidamente não iria corrigir o erro. E, junto com o amigo, a reação iria ser bem mais veemente. É que são como as matilhas de cães: em conjunto são mais agressivas.

O meu caminho de volta a casa implicava passar junto a eles e, à media que o fazia, ouvi parte da conversa:

“Agora vão ter só uma amostra mas da próxima, em ganhando mesmo, vamos acabar de vez com essa esquerdalha de merda. Seremos os donos disto tudo e ninguém se meterá connosco!”

Fiquei esclarecido.

Já a fotografia fi-la da janela, em trocando de objectiva.

 

Pentax K1 mkII, Tamron Adaptall2 200mm 1:3,5


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