terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Verso e reverso



 

Sabemos que a imagem é rainha nos tempos de hoje. Talvez mesmo imperatriz.

Mais ainda: sabemos que a imagem – com os seus significados e significantes – é bem mais antiga que a escrita, e que nós hoje quase que veneramos essas antiguidades.

Mas a história da imagem não é nem linear nem pacífica. O seu peso mágico ou místico nas diversas culturas foi variando com os tempos. Tal como as associações que cada uma e cada individuo fazia ou faz à imagem ou ao que ela representa.

Antes de endeusarmos a imagem nos tempos que correm, talvez seja útil termos uma ideia do que ela foi no passado.

Aqui, uma transcrição de parte do artigo sobre “iconoclastia” retirado da Wikipédia (que vale o que vale mas pode servir de pista para outros estudos ou cogitações).

 

Iconoclastia ou Iconoclasmo (do grego εικών, transl. eikon, "ícone", imagem, e κλαστειν, transl. klastein, "quebrar", portando "quebrador de imagem") foi um movimento político-religioso contra a veneração de ícones e imagens religiosas no Império Bizantino que começou no início do século VIII e perdurou até ao século IX.

Os iconoclastas acreditavam que as imagens sacras seriam ídolos, e a veneração e o culto de ícones por conseqüência, - idolatria.

Em oposição a iconoclastia existe a iconodulia ou iconofilia (do grego que significa "venerador de imagem"), ao qual defende o uso de imagens religiosas, "não por crer que lhes seja inerente alguma divindade ou poder que justifique tal culto, ou porque se deva pedir alguma coisa a essas imagens ou depositar confiança nelas como antigamente faziam os pagãos, que punham sua esperança nos ídolos [cf. Sl 135, 15-17], mas porque a honra prestada a elas se refere aos protótipos que representam, de modo que, por meio das imagens que beijamos e diante das quais nos descobrimos e prostamos, adoramos a Cristo e veneramos os santos cuja semelhança apresentam.

Em 730, o imperador Leão III, o Isáurio proibiu a veneração de ícones. O resultado foi a destruição de milhares de ícones pelos iconoclastas, bem como mosaicos, afrescos, estátuas de santos, pinturas, ornamentos nos altares de igrejas, livros com gravuras e inumeráveis obras de arte. O iconoclasmo foi oficialmente reconhecida pelo Concílio de Hieria de 754, apoiado pelo imperador Constantino V e os iconófilos severamente combatidos, especialmente os monges. O concílio não teve a participação da Igreja Ocidental e foi desaprovado pelos papas, provocando um novo cisma. Posteriormente a imperatriz Irene, viúva de Leão IV, o Cazar, em 787 convocou o Segundo Concílio de Niceia, que aprovou o dogma da veneração dos ícones, e recuperou a união com a Igreja Ocidental. Os imperadores que governaram após ela – Nicéforo I e Miguel I Rangabe – seguiram com a veneração. No entanto, a derrota de Miguel I na guerra contra os búlgaros em 813, levou ao trono Leão V, o Arménio, que renovou a iconoclastia.

Durante a regência da imperatriz Teodora, o iconoclasta patriarca de Constantinopla João VII foi deposto, e em seu lugar erguido o defensor da veneração Metódio I. Sob a sua presidência em 843, ocorreu outro concílio, que aprovou e subscreveu todas as definições do Segundo Concílio de Niceia e novamente excomungou os iconoclastas. Ao mesmo tempo foi definido (em 11 de março, data da reunião do concílio em 843) a proclamação da memória eterna da ortodoxia e o anatematismo contra os hereges, ainda realizada na Igreja Ortodoxa atualmente como o "Domingo da Ortodoxia" (ou "Triunfo da Ortodoxia").

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Ao colocarmos hoje no lugar de quase deus a actividade que fazemos (imagem, fotografia), convém que tenhamos a noção que tudo isso já foi pensado pelos antigos e que o verso e o reverso já foi ponderado.

Talvez que o problema da actual sociedade de informação (imagem incluída) seja a dificuldade de criarmos algum pensamento realmente original.

 

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domingo, 12 de janeiro de 2025

Dúvidas




E a pergunta é:

O que estarão eles a fotografar?

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


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quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

identidades




Ficam, uma vez mais, o mesmo tipo de testemunhos de gente que em momentos de desespero têm que abandonar tudo. Ou que lamentam não ter podido salvar.

Em tendo que escolher o que salvar, uma das primeiras opções são fotografias. Em paralelo com documentos.

Ouvimos isto de quem foge de incêndios devastadores na europa, na américa, na oceania. E de quem arrisca a vida atravessando oceanos, fugindo de guerras ou fome.

Quem somos e de onde vimos. A pergunta de milénios, agora suportada pelas técnicas contemporâneas.


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quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Velharias e histórias




Gosto de adquirir artigos usados presencialmente, mesmo que anunciados na web.

Confronto o interesse no artigo, o aparente estado de conservação e a minha disponibilidade económica e se as três linhas coincidirem algures num ponto combino um encontro.

Neste, e para além da certeza sobre o artigo e o seu estado, tenho a vantagem de poder conversar com quem vende. Fico a saber um pouco sobre o seu relacionamento com a fotografia e a história daquele artigo. Foi o caso.

Este visor em ângulo recto estava anunciado e com uma localização a que eu podia aceder. O preço era particularmente bom e, apesar de já ter um, este é anterior, com características diferentes. E, nas primeiras Pentax, o modelo actual não funciona e vice versa. Encontrámo-nos.

Em estado impecável, incluindo o estojo e a embalagem original, fiquei a saber que terá sido comprado por uma senhora, agora com mais de 80 anos, algures nos inícios dos anos ’70, ou no Japão ou numa das colónias africanas portuguesas, pois ela viveu por lá.

Mais tarde ofereceu-o, junto com três filtros Pentax (com os quais também fiquei) a uma amiga, mãe de quem estava a vender o conjunto.

Para além destes factos, é interessante perceber como estes itens atravessaram três continentes e três gerações e que chegam agora ao século XXI em tão bom estado de conservação. Praticamente novos. Naqueles tempos o equipamento fotográfico não apenas era caro como era algo para ser conservado por quem lhe tinha estima.

Sobre grande parte das peças que possuo tenho uma história. Ou porque vivida em primeira mão ou porque me a contaram. E das que me foram contadas, de algumas tenho dúvidas da sua veracidade. Ou porque inventadas para facilitar o negócio e inflacionar o preço ou para ocultar uma origem mais obscura.

Em qualquer dos casos, todas essas histórias dão um sabor especial ao que tenho aqui por casa.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


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domingo, 5 de janeiro de 2025

Confortos




Talvez porque o dia tem estado frio e húmido, com fortes bátegas ocasionais; talvez porque de manhã falei numa tampa de maionaise e de se ser rico ou pobre; talvez porque estive entretido com Boris Vian enquanto ouvia o saxofone de Rão Kyao; talvez...

A verdade é que me apeteceu uma gulodice de outros tempos: pão barrado com manteiga e polvilhado com açúcar branco e canela.

Lanche de conforto, que me transportou para uma adolescência dominical e invernosa de boa memória e os intervalos das Tardes de Cinema em preto e branco, embrulhados em mantas e a porta fechada para que o calor não escapasse.

Por vezes não é preciso muito.

Só lamento a fotografia, feita às três pancadas e a correr, impelido pela água que me crescia na boca e o receio de o pão arrefecer.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


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sábado, 4 de janeiro de 2025

Atrasos




Por vezes atrasamo-nos.
Perante compromissos com outras pessoas, trabalho, a vida, nós mesmos, a morte…
Apesar de não gostar de chegar atrasado, alguns atrasos aplaudi. Com a morte, por exemplo, que já me pediu explicações e a mandei bugiar, dizendo-lhe que lá chegarei mas só quando eu quiser.
O tipo de atraso que mais me incomoda, que mais me chateia, que me deixa mesmo fora do sério é aquele comigo mesmo. Que podemos sempre arranjar umas justificações, umas desculpas esfarrapadas perante terceiros, mas é sempre muito complicado mentirmo-nos.

O tempo não perdoa! Chegar atrasado ao encontro que temos connosco mesmos é muito mau!

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terça-feira, 31 de dezembro de 2024

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Qualquer um pode ensinar como fotografar, mas ninguém pode ensinar como sentir a fotografia, e é disto que são feitos os grandes fotógrafos.

domingo, 29 de dezembro de 2024

Velharias, melhor, antiguidades




Em Lisboa e arredores acontecem aos Sábados e Domingos diversas feirinhas de rua.

Nelas podemos encontrar de tudo um pouco, desde antiguidades a velharias, passando pelas falsificações. Quem precisar de completar uma baixela porque se partiu um prato ou um copo, ou um faqueiro, ou candeeiro, ou uma peça de roupa, ou... têm de quase tudo, por vezes a preço da chuva, outras a preço de um ou dois rins.

Costumo frequentá-las, com os olhos abertos para artigos relacionados com fotografia: peças soltas, peças raras, livros... tenho encontrado alguns “tesoiros”.

Ao Sábado ou ao Domingo, em acordando, consulto a minha intuição e a minha bolsa. Se ambas estão de acordo, vou até à que esteja em funcionamento nesse dia. As mais das vezes acerto. Foi o caso de hoje.

Nada havia de peças: ou não me interessavam ou estavam em mau estado. Assim, dei mais duas voltas, desta vez com o meu “radar” mais alargado. E regressei com isto.

Uma fotografia de estúdio de uma senhora. E tem diversas peculiaridades, esta fotografia.

Desde logo a data, escrita na contracapa, a lápis e a caneta: 1/8/924. Feitas as contas, este objecto fotográfico tem cem anos. Em seguida a forma como está apresentada: recortada em oval e colocada em cartolina timbrada com o nome do fotógrafo, está protegida com papel próprio, daquele que eu usei nos meus tempos de escola ao aprender a fazer um album de fotografias. Por fim, todo o conjunto está colocado numa capa semi-rígida, protecção final contra vincos e envelhecimento devido à luz do sol.

Da fotografada nada sei. Não há nenhuma pista sobre quem será, mas é garantido que será alguém de um classe média ou superior. Se, por um lado, a gola do vestido está trabalhada de um modo a que dificilmente as classes trabalhadoras teria acesso, por outro o próprio facto de se ter feito fotografar denota posses, já não seria barato fazer um fotografia no estúdio de um fotógrafo.

Não tenho certezas do como esta fotografia foi para numa caixa com dezenas de outras numa feira de rua. Talvez fosse no recheio de uma casa de família que se quis ver livre de muita tralha. Mas sei que não foi no espólio do fotógrafo.

Sei, porque procurei na internete, que a casa comercial, situada na Rua da Junqueira, abriu portas em 1908 e fechou em 1986. O seus arquivo é composto de 100600 documentos fotográficos, de todos os formatos e suportes e foi adquirido em 1978, encontrando-se dividido entre os arquivos da Torre do Tombo e o Centro Português de Fotografia.

Infelizmente todo este acervo não está disponível ao público porque ainda não classificado. Seria interessante procurar também os descendentes desta senhora e fazer-lhes presente desta fotografia.

Em alternativa, fica no meu próprio arquivo.

 

Não faço ideia de qual a câmara ou os processos fotográficos para criar esta fotografia. Mas a imagem que aqui vêdes foi feita com uma Pentax K1 mkII e uma Pentax-M 50mm 1:4.


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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Formas de estar




É incrível a quantidade de pessoas que são anti. Anti-Qualquer-Coisa.
Anti-fascista, anti-racista, anti-capitalista, anti-comunista, anti-sistema, anti-euro, anti-violência,… anti!
O que é curioso – ou triste – é que ser anti-qualquer-coisa, por muito nobre que seja a causa, é viver num estado de luta ou confronto permanente. É estar sempre a querer acabar com aquilo de que se é anti. Seja lá o que for!
E ao estar-se em luta permanente na prática está-se em luta consigo mesmo. Porque o resultado de se estar sempre num estado de anti é não se estar pró na vida. Que quem luta sempre na vida acaba por não a viver, por não se aperceber de tudo ou grande parte daquilo que é positivo.
Tenho uma atitude diferente: sou pró! Sou pró-felicidade, sou pró-liberdade, sou pró-responsabilidade, sou pró-bem-estar, sou pró-criatividade. Sou pró!
Claro que tenham cuidado os que impeçam o atingir aquilo pelo qual sou pró! Estão tramados! Que sou anti todos eles, com tudo o que isso implique!

Dirão que é uma questão de semântica. Pois talvez o seja.

Mas entre estar em luta para ser feliz ou ser feliz estando em luta, prefiro o primeiro.

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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024