quarta-feira, 30 de abril de 2014

1 euro de pão



Parece que está muita gente escandalizada com o aumento de 0,2 pontos percentuais na Taxa Social Única paga pelos trabalhadores.
Nem eu percebo bem porquê.
Façamos contas:
Num salário de 500 euros mensais, corresponde a um aumento de um euro em descontos. E isso equivale apenas a um dia de pão por mês para a família.

Sejamos honestos: para que raio precisamos nós de pão todos os dias? 

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Ingenuidade

Pensar eu que, ao fim destes anos todos, já seria difícil ficar surpreendido com a demagogia do poder político instalado. No governo ou na oposição.
Afinal, acho que ainda tenho uma longa jornada pela frente.

Tanto de um lado como do outro.

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Invejas



A grande vantagem que têm sobre nós é que não se preocupam com barreiras.
Nem com horários.
Nem com estações.
Formam-se, circulam, precipitam-se ou não e, quando se zangam a sério, a frase “Um raio que te parta!” não é apenas força de expressão.

Gostava de ser nuvem.

By me 

!



Por vezes é a única solução possível!

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terça-feira, 29 de abril de 2014

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“Governo poderá baixar impostos”
“Governo pondera aumentar Salário Mínimo Nacional”
“Governo não aceita imposição da Troika”

Alguém duvida da proximidade de eleições?????


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Linhas



Rectas, curvas e quebradas.

E linhas de gulodice.

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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Fruta



Fui às compras.
Nada de especial, apenas o necessário de frescos para casa: tomate, fruta, alface, batata…
Acontece que, mania minha, faço questão de comprar produtos nacionais. Eu sei que acabam por ser mais caros. Mesmo com os custos de expedição, alguns do outro lado dos Pirinéus ou do Atlântico, algumas frutas que por cá se produzem são mais caras. Coisas que produtores, distribuidores e grandes superfícies devem perceber perfeitamente, mas que a mim me escapam por completo. Ou talvez não!
Que os últimos governos tudo têm feito para transformar este país numa área de serviços, incapaz de se auto-suficiente em questões de alimentação.
Mesmo disto não encontrei nacional.

Mas isso é coisa que toda a gente sabe. Basta olhar em redor.

By me 

Pequeninas



Foi feita com uma pequena câmara de bolso.
E depois, qual é o problema?

As flores também eram pequenas…!

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domingo, 27 de abril de 2014

Viva

E pronto!
Quantos de vós se podem gabar de terem estado a escassos três ou quatro metros de um santo? Vivo, real, de carne e osso?


Viva eu!

!



Sejamos honestos:

A vida nada mais é que um interregno na eternidade.

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Preferências



Não quero ouvir falar de bola.
Não quero ouvir falar demagogicamente.

Prefiro acabar o dia como o comecei: olhando p’la janela.

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Acabou o Inverno!



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27 d'Abril



Eh pá! Hoje é Domingo, 27 de Abril e são oito da manhã.
Ao contrário de ontem, que foi Sábado, o dia acorda sorridente e luminoso. Frescote mas sorridente e luminoso.
E, ao contrário de anteontem, que foi sexta-feira, nada há a celebrar.
Enfim, alguns celebram porque estão vivos, outros celebram porque é domingo, outros ainda celebram porque o sol se mostra bonito. Mas, fora isto – que é importante – nada mais há a celebrar ou recordar.
Continua a ser escasso, se algum, o dinheiro para comer ou vestir, continua a ser difícil aceder a cuidados de saúde, continua a ser cada vez mais difícil o pensar-se num futuro condigno para os filhos, continua a ser torpe a “lisura” da (in)formação, continua a estar em cima da mesa a carta de despejo… Continua, pá!
Anteontem foi bonita a festa! Os que o viveram, recordaram; os que o não viveram, celebraram. Foram as multidões, os desfiles, os discursos, as bandeiras, as evocações.
E hoje, pá? Tens um futuro em vista que te faça sorrir?  

Se para alguma coisa servem as celebrações, para além de alegria, é para aprendermos com o passado. E é bom que tu, pá, penses no que fizeste ou deixaste fazer para que, nestes quarenta anos, passasses de um acreditar no futuro para um apenas celebrar o presente “inevitável” que construíste.
E não me digas que a culpa é deles, pá: a mão é tua! A que segura o cravo, a que empunha a bandeira, a que bate palmas.
Mas pá: também é tua a mão que se confina nos bolsos, que prime as teclas, que não segura a coronha.


Daqui por dez anos queres celebrar cinquenta ou dez? Ou nem isso, pá?

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sábado, 26 de abril de 2014

Sobre esta imagem - "Transbordou #6"



Normalmente quando se faz uma fotografia há uma leitura implícita do registado por parte de quem o regista.
Um sentimento ou uma mensagem implícita ou explícita. Por vezes será um detalhe que faz obturar, um instante que provoca o reflexo pavloviano do fotógrafo.
Claro está que as leituras por parte de quem vê depois a imagem poderão ser tantas quantas as mentes que a observem. Que cada interpretação - cada pensamento – é consequência dos estímulos exteriores (a fotografia, neste caso) relacionados com a memórias e experiências anteriores.
Mas complicado será quando o próprio autor da imagem vê no que fez variadas e opostas interpretações.

Esta fotografia foi feita na manhã deste 25 d’Abril.
Passei-a no Largo do Carmo e na Rua António Maria Cardoso.
A quantidade de gente por metro quadrado era assombrosa. Posso calcular, por alto, que estariam quatro a cinco pessoas por metro, tão apertadas ou quase que num transporte público em hora de ponta. O que me leva a deduzir que no Largo do Carmo e ruas adjacentes, tivessem estado qualquer coisa entre sete a nove mil pessoas. Assombroso, considerando o local e a forma como foram convocadas.
Ainda que tenha comparecido na qualidade de cidadão, não podia deixar de ir na qualidade de fotógrafo, mesmo que amador. E fui equipado como de costume para estas circunstâncias: uma DSLR com uma 70-300 (gosto de fotografar detalhes à distância, tendo na mochila objectivas mais curtas; e uma câmara de bolso, que costumo usar para perspectivas superiores.
Não consegui dar uso de jeito à reflex: a quantidade de gente era tão grande que quase que não havia como segurar a câmara, quanto mais distância prática para tal objectiva. Restou-me o recurso à compacta que, usada em cima ou ao nível dos olhos foi fazendo o que podia.
A imagem que aqui está foi a última que fiz. De algum modo consegui furar a multidão que enchia o espaço em frente à antiga sede da polícia política PIDE e caminhar à frente da velha Chaimime que costuma comparecer nestas datas. Estava lá eu e mais umas dezenas com câmara, pelo que conseguir ângulo para a 70-300mm estava fora de questão. Esta foi a possível, a uns dois metros e meio de altura com recurso ao monopé.
No momento do disparo tive a certeza que aquela era “A” fotografia do dia. Todas as outras mais não eram que de multidão, mas esta… simbólica para além dos limites. E parei com as obturações, sabendo que não faria melhor naquele dia.
Quando, mais tarde, a vi no ecrã do computador portátil, surgiram-me as dúvidas: “vejo” eu nela o que vi quando fotografei e “vejo” mais que na altura não senti. E ainda agora, bem mais de 24 horas depois, continuo a não saber, ao certo, o que quero dizer com ela, supondo que só quero dizer uma coisa ou mesmo que quero dizer alguma coisa.
Das fotografias que fiz nessa manhã mostrei ou publiquei seis. As que mais disseram ou que mais reacções provocaram referiam a multidão presente. Faz sentido: era impressionante. Tanto mais impressionante quanto todas as conversas e acções se suspenderam e todos, num coro que nunca assisti, se uniram para cantar o hino nacional. Sentido. Do fundo. Possante. As fotografias da multidão mostram isso, de algum modo.
Mas esta… esta mostra, direi eu, os dois extremos dos sentimentos que ali levaram aqueles milhares de pessoas. Sentimentos contraditórios, que não sei se os presentes se aperceberam de tal. Ou se não passará de impressão minha, eu que ali estive na qualidade de cidadão a fotografar ou de fotógrafo a exercer a cidadania.

Fica a proposta – ou o pedido – aos que virem esta imagem e lerem estas linhas: deixem aqui a leitura que fazem sobre ela. Talvez que existam mais abordagens que não as minhas.


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Normalidade

Há toda uma multidão que, levianamente, confunde solidariedade com outras coisas.
Gente boa, inteligente, normal.
Mas, quem sabe, faz sentido:
Prática humana, suponho que desde sempre, é aquilatar e julgar a partir do que somos e conhecemos, no lugar de abrir o espírito a ventos que não os interiores.

Creio que só alguns o não fazem. E esses não são gente normal!

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Trocas



E se os deuses não quisessem que trocássemos os “Bs” com os “Vs”, não os teriam posto ao lado um do outro nos teclados!

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sexta-feira, 25 de abril de 2014

E transbordou!








E transbordou!
Encheu e transbordou o Largo do Carmo, de boa memória, encheu e transbordou a António Maria Cardoso, de má memória.

Pergunto se algum partido deste país, mesmo um dos maioritários, poria tanta gente na rua e de acordo na forma e no conteúdo, quanto esta convocatória de pouco mais de uma mão-cheia de gente, a quem calaram os partidos.

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Não é tempo de , mas antes de



Por esta altura, está uma boa quantidade de gente a celebrar o 40º aniversário da revolução d’Abril.
Espero que se divirtam, que entre sorrisos, algumas palavras d’ordem e bastante histeria colectiva, de pouco mais servirá.
Por mim, não quero celebrações. Ponto!
Quero acções!
Não quero ver o país a morrer como está, menos ainda com o sofrimento por que vai passando.
Quero, mais que celebrar o que foi, que se faça algo antes que de moribundo passe a defunto.
Terminar com o passado e partir para um futuro diferente com flores na mão é algo de tão raro que só acontece uma vez na vida. Vivi aquele e ainda não morri.
O momento não é, infelizmente, de festa ou celebrações: é de acções, antes que seja tarde demais!


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quinta-feira, 24 de abril de 2014

Selfie



Em tempos, por cá, chamávamos-lhes “auto-retrato”.
Já em terras de Sua Majestade, o nome era “self-portrait.
Hoje, p’lo mundo inteiro, é apelidada de “Selfie”.

Eu, que sou do “contra”, e considerando o actual estado do país e da vida, decido não mentir e não o fazer a sorrir.


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A chuva



A chuva é como tudo o mais no universo: borrifos ou tormenta, depende da importância que lhe damos e de como dela nos abrigamos.
O resto é questão de, cientes da sua inevitabilidade, sabermos seguir caminho.


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?

“Pode-se enganar alguns durante muito tempo;
Pode-se enganar muitos durante algum tempo.
Mas não se pode enganar muitos durante muito tempo.”


Trinta e tal anos não chegam?

Pentax



O olho e a mente têm comportamentos que sempre me conseguirão surpreender.
Vi esta fotografia na página electrónica de um jornal. Estava na página de entrada e, naturalmente, em tamanho pequeno.
Apesar de o assunto, ou o título, não me serem apelativos, a fotografia levou-me a querer vê-la maior. E não havia dúvidas:
A câmara que François Miterrand tinha nas mãos era uma Pentax. Igualzinha à minha primeira câmara reflex.
É bom ver que figuras pequeninas como eu e grandes no panorama político mundial partilharam os mesmos gostos e escolhas.
E recordou-me isto uma entrevista feita por dada por Sebastião Salgado e em Portugal e onde tive o privilégio de participar, em que ele desmistificou uma lenda urbano-fotográfica: a sua primeira câmara não foi uma Leica, como muitos insistem em afirmar, mas uma Pentax.
Pouco me importa as guerras de marketing ou as corridas desenfreadas às tecnologias de ponta:
Fotografia faz-se com o olho e a mente. O resto é: luz, perspectiva e afectos.


Imagem: jornal I
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Analogias



É sempre bera quando o dia começa assim: Chuvoso por fora e por dentro.

Resta-me a esperança de que, tal como as nuvens também se abrem para deixar passar um pouco de sol na rua, o mesmo se passe por dentro.

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Quem sabe...?



Se calhar é isto que acontece para que eu encontre sapatos solitários na rua:
São jogados fora em conjunto mas um deles, cansado de tanto andar sempre com o mesmo par, resolve partir para outras aventuras. Quiçá outras companhias.


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quarta-feira, 23 de abril de 2014

O stencil



Eram folhas de papel encerado.

Com uma área útil igual ao A4, possuíam ainda no topo um acréscimo de papel perfurado que servia para prender no tambor rotativo do policopiador.
Os textos eram ali escritos à máquina, sendo que cada erro tinha que ser tapado com um verniz especial. Tanto um como outro eram roubados na secretaria da escola que os pais de um de nós possuía.
Os tipos da máquina de escrever portátil agrediam a cera na garagem, onde era suposto estarmo-nos a divertir com as actividades normais para rapazes dos 15/17 anos. Na altura eu ainda me ficava pelos 14.
Copiado que estivesse o texto, era a vez do artista do grupo se chegar à frente para que, com um estilete, rasgasse na cera os traços que resultariam nos desenhos previamente criados. Originais ou apenas cópias de algum outro.
Com a folha feita e religiosamente guardada entre cartolinas para que não se estragasse, subíamos então para a secretaria. Como isto acontecia ao fim-de-semana, esta estava vazia, o que nos dava tempo de, a coberto da música dos EP’s ou LP’s da garagem, dar à manivela do stencil e imprimir duas ou três centenas de panfletos.
Distribuíamos o molho entre nós e cada um ficava encarregue de os colocar na sua escola ou liceu.
Uma ocasião fui apanhado por um funcionário do liceu, mas foi inconsequente.

E se não fossem estes panfletos, seriam os do MAEESL (muitas siglas se usavam então e muitas mais nos tempos que se lhe seguiram).
Deste movimento ainda fui assistir a algumas reuniões, algures ali para os lados da Estrela, sempre com sentinelas estrategicamente colocadas, não fossem as forças da autoridade, fardadas ou à civil, irromperem.
Recordo em particular algumas sebentas de textos para a disciplina de ciências que eles editaram. O livro que tinha sido adoptado era particularmente caro, pelo que se fizeram cópias e distribuíram pelos estudantes. Sempre com o risco de sermos apanhados pelas autoridades. Porque nos tinham visto ou porque tínhamos sido denunciados.
É curioso como, no Liceu Padre Antónia Vieira em Lisboa e ao contrário de outros, ninguém foi incomodado com esta sebenta. Até a minha professora tinha uma…

Até que um dia, ao chegar às aulas, nos disseram que não havia, que fossemos para casa, que tudo estava a mudar, que era chegado o dia…


Nota: a máquina era quase igual a esta, cuja fotografia fui surripiar da net.

By me

O monitor



Vi, on-line, um pedido de ajuda.
Alguém tinha tido uma avaria grave em algo importante. E precisava de algo que possuo.
E porque não? Conheço a pessoa, entendo que merece e posso ajudar.
Contactei a pessoa em causa, de imediato, e ofereci o empréstimo do que faltava até o assunto ficar resolvido de vez.
Que foi aceite, dependente apenas de alguns testes prévios, para se ter a certeza que o “mono” funcionava onde se queria.
A conversa faz hoje exactamente uma semana. E ainda aguardo uma resposta.

Em boa verdade, já não aguardo.
Aquilo que estava guardado (ou encafuado) para emergências vai continuar como tal: guardado para verdadeiras emergências.

Quanto ao resto, bom-dia e um queijo!

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terça-feira, 22 de abril de 2014

Os copos e o ar



Porque me pediram a opinião sobre um conjunto de fotografias, acabei por “dar ao dedo” e escrevinhar o que abaixo se encontra. Talvez que, para muitos, seja mais que sabido. Mas talvez que para alguns seja novidade.


Brincadeira que costumo fazer, quando estou com um grupo de gente e estamos a falar de imagem, composição, estética, comunicação… essas coisas. E isto tanto é válido em ambientes formais como em informais.
Tento descrever uma situação hipotética: um trajecto no metro. O centro da cidade, véspera de Natal, fim da tarde. As composições vão à pinha, entre gente e embrulhos bonitos, dentro ou fora de sacos.
E peço aos presentes que simulem estar na mesma carruagem nessas circunstâncias: de pé, agarrados aos varões, chocalhando ou não.
E, enquanto eles mimam situação, eu ralho com eles: é garantido que, nas condições descritas, não vão ter todo aquele espaço entre eles. E insisto que reproduzam o que supõem que aconteça, todos bem encostadinhos uns aos outros, no aperto de uma carruagem de metro super apinhada.
Aqui fazem-no e o resultado é o esperado, que trato de lhes fazer notar: por muito próximos que estejam, corpo com corpo, é certo e sabido que voltam a cara para o lado, garantindo uns vinte centímetros livres em frente do nariz. Mesmo que fiquem com ele apontado para o ombro.
Passada a brincadeira e o momento de aperto, explico-lhes sem mais delongas: todo o ser vivo (e até os objectos inanimados) têm um espaço próprio, que lhes pertence. Espaço esse que é sagrado e cuja intrusão ou é consentida (afago, maquilhagem, dentista…) ou é considerado uma agressão, que se evita.
Por outro lado, pouco nos importa o espaço que faca nas costas. Mais perto ou mais longe, e amenos que haja uma eventual situação de perigo, não lhe damos importância alguma.
A este espaço próprio damos o nome de “ar”. O “ar” que cada um necessita para respirar ou existir.
Na feitura de imagem, animada ou não, este espaço ou ar deve ser respeitado. Entenda-se, no entanto que o termo “deve” é relativo: pode não ser respeitado, sendo que mesmo isso tem significado.
Em termos práticos, imagine-se alguém de perfil. Com pouco espaço em frente do nariz, igual ou inferior ao que tenha atrás da cabeça, e haverá uma sensação de aperto, de abafamento, de falta de ar. Mas bastará que lhe seja dado mais ar em frente do nariz e logo passará a ter uma espécie de conforto.
O mesmo se passa com objectos. Inanimados ou não. Ver um ciclista em andamento com mais ar atrás que à frente e a interpretação que será dada, as mais das vezes, será a de que irá “estampar-se” na berma do enquadramento. Por outro lado, em tendo mais ar à sua frente, sentiremos
que está andar e que está tudo bem.
Mesmo um objecto inanimado necessita de ar. Uma cadeira, por exemplo, é usada pela frente, pelo lado oposto às costas. E, amenos que haja alguma mensagem meio escondida, se quisermos dar conforto a essa cadeira, haverá que respeitar esse espaço à frente da cadeira. Tal como um copo, com espaço acima, do lado da boca e não em baixo, na base.
Não há fórmulas absolutas nem regras inquebráveis. Há, antes sim, a necessidade de o produtor de imagem saber como ela é interpretada pelo público em geral e agir em conformidade. Presumindo que o objectivo da imagem é comunicar, agradando de algum modo a quem veja o trabalho.
Na sequência disto – de tudo ter um “ar” que lhe é próprio, acaba-se por chegar à conclusão que o centro da imagem será, talvez, o local menos “certo” para colocar algo. A menos, claro, que o “ar” em causa seja direccionado para a objectiva e que mais nada exista em redor que necessite de equilíbrio.

Em termos de exercício ou brincadeira, peguem num qualquer objecto. Pequeno ou grande, amovível ou não. Estudem-no ou analisem-no de modo a perceber de que lado é usado. E fotografem-no respeitando esse “ar” ou negando-o.
De seguida, consultem gente que não sabe do exercício e questionem-nos sobre qual das imagens é mais agradável, mais tranquila, mais estável. Ou, de outra forma, confrontem-nos com quatro ou cinco imagens e peçam para que escolham uma, justificando se possível.
Talvez que cheguem a algumas conclusões elucidativas de como as imagens são lidas em geral e de como podemos, quebrando o normal, conduzir o espectador a emoções controladas por nós.


Os meus cinco cêntimos


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Lido algures



A bondade que nunca repreende não é bondade: é passividade;
A paciência que nunca se esgota não é paciência: é subserviência;
A serenidade que nunca se desmancha não é serenidade: é indiferença;

A tolerância que nunca replica não é tolerância: é imbecilidade!

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Ladrão de tempo



Tenho para mim que, a seguir à figura humana, aos carros, ao vestuário e ao pôr-do-sol, o relógio será o objecto ou tema mais fotografado.
Esta ideia não se baseia em nenhum estudo científico ou sistematizado mas tão só no que vou vendo nos periódicos, publicidade, redes sociais e álbuns de família.
Presumindo que a fotografia é, em boa medida e para muitos, uma forma subliminar de manifestação de cobiça ou desejo de posse do objecto fotografado, é natural que os primeiros sejam recorrentes na fotografia.
A fotografia é o ícone daquilo que queremos ter ou ser: a pessoa amada ou a figura admirada, o símbolo de força e poder, a exibição de atributos ou ainda de manifestações da natureza que não podemos imitar.
Já com o relógio os motivos serão outros. Para além do desejo de posse do objecto, belo e tecnicamente rigoroso, existe também o desejo, nunca satisfeito, de controlo do tempo.
Esta quarta dimensão, não palpável mas apenas constatável, que vivemos transversalmente, que não controlamos mas que malbaratamos muitas vezes com actividades fúteis ou nefastas, é para nós, seres humanos, tão inatingível quanto o estado divino.
O mais que podemos fazer é constatar a sua existência, medir a sua passagem, incapazes de o parar, aumentar ou diminuir.
Daí que o relógio de pulso, de bolso, de parede, de torre, de corda, atómico ou de água esteja de uma forma ou de outra representado na fotografia.
Até porque, em última análise, a fotografia é a medíocre forma que o bicho-homem improvisou de congelar o tempo.

O fotógrafo mais não é que um “ladrão de tempo”, à imagem e semelhança do clássico “Estação de transito" de Cliford D. Simak ou “A máquina do tempo” de W.G. Wells ou ainda do fantástico “Um americano na corte do Rei Artur”, de Mark Twain.

Mas este “roubo” felizmente ainda não é punido e dá-nos, a nós fotógrafos, todo o prazer que sabemos e usufruímos!

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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Notícias



É assim que eu gosto dos noticiários televisivos: variados e surpreendentes.
Ao fim de quarenta minutos no principal espaço informativo de um canal generalista (não interessa qual) ouvi falar na vitória do Benfica, ouvi figuras gradas dos primeiros anos pós-revolução a dizer cobras e lagartos do actual governo, ouvi este falar em novas limitações à qualidade de vida dos portugueses, ouvi elementos da Troika a sugerir modificações legislativas em favor dos empresários e desfavor dos trabalhadores por conta de outrem e reformados.
Claro que a única novidade foi o resultado desportivo, p’lo que ocupou mais de metade do tempo.
O resto, são contas velhas. Ou talvez não, que ouvir um dos fundadores do partido com assento parlamentar mais à direita dizer que este governo é o mais direitista dos últimos quarenta anos…


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Interrupções



O meu prédio tem elevador. Aliás, tem três elevadores, que ele é grande e mora cá muita gente.
Apesar de prático, por vezes lamento não morar num prédio sem elevador. A minha condição física agradeceria, bem como a possibilidade de me concentrar sem interrupções inoportunas.
Era ainda de manhã, antes das dez, e eu estava naquele conforto epidérmico de nada ter em cima da pele que não o pelo e os óculos. E estava entretidíssimo de volta de um texto complicado. As ideias estavam cá, a sua forma é que teimava em não me brotar dos dedos. Acontece, de quando em vez.
Eis senão quando toca a campainha da porta.
Não gosto, raisparta o bicho! Não gosto de ser interrompido quando estou a tentar organizar ideias.
Nestas ocasiões costumo desligar o telefone. Ou deixá-lo tocar. Se quiserem, que deixem recado, que é p’ra isso que existem os “voice-mail”.
Mas o tocarem a campainha significa que está alguém, fisicamente, ali mesmo do outro lado. E que, muito naturalmente, ouvirá a música que tenho em casa, mesmo que baixo. Não atender é sinal de descortesia, coisa de que não gosto, também, de praticar. E lá fui.
Deixei-me ficar meio escondido atrás da porta. Não que tenha pudores do corpo. Sou o que sou e não há que esconder o que quer que seja. Mas sei que a maioria das pessoas não pensa assim e ficam incomodados quando alguém lhes abre a porta e lhes aparece assim, Nuzinho da Silva.
Do outro lado, no patamar, o casalinho jovem sorriu ao perceber a situação. Mas não desarmaram e avançaram com o que ali os trazia: uma mensagem bíblica qualquer, que haviam por força impingir aos que estivessem em casa num dia de semana a meio da manhã.
Estive vai-não-vai para recorrer a métodos extremos: dizendo-lhes que não estava interessado, deixar de parte qualquer resto de civilidade que tivesse sobrevivido à interrupção de que fora alvo e exibir-me na plenitude do que um qualquer deus, talvez mesmo o deles, me havia feito e moldado. Não o fiz.
Acabei por me conter, eivado de uns quaisquer preconceitos civilizacionais.
Fiquei-me por usar o processo habitual para cortar pela raiz o desenrolar destas conversas catequistas: “Que professo a religião shintoísta, que nada tem em comum com as cristãs, e que seria uma conversa inútil.”
Ficaram, como sempre, à toa. Que não sabem o que seja, mesmo que se trate de uma peta de todo o tamanho da minha parte. E zarparam com um “Que deus o acompanhe” também habitual.
Regressei ao meu texto e estive um bom pedaço a tomar balanço para o continuar.
Mas fiquei a lamentar morar num prédio grande, com elevadores. Se não os tivesse, não creio que tantos catequistas, de tantas confissões, subissem tantas escadas por dia. Que não me interromperiam, p’la certa.  


By me

!!!!!

Estou muito espantado!
Já passa das onze da manhã do dia seguinte à festa do Benfica e ainda não vi nem soube de nenhuma medida governamental que piore a nossas vidas.

Estará o nosso governo a perder qualidades ou entenderá que o Benfica não tem adeptos suficientes para que a sua festa colmate o prejuízo de tais medidas?
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Pedaços de que gosto



Foi em 2005: Nos arquivos da Antena 2 foi encontrada uma gravação de 1957 que se pensava perdida.
Tratava-se de uma interpretação feita por Victória de Los Angeles do tema “La Valse”, poema coreográfico de Maurice Ravel, registo feito pela então Emissora Nacional.
Nada teria de isto de especial não fora os especialistas terem considerado esta uma excelente interpretação, quiçá a melhor, desta peça musical e o seu registo, num sistema “multiplano”, ser de primeira água.
Deste registo, bem de outros então feitos e recuperados, seria feita uma edição limitada e fora do circuito comercial.
Soube eu disto num artigo de jornal e disso dei conta num blog que então alimentava. As coisas boas têm que ser divulgadas e isto era, e é, uma coisa boa.
Algum tempo depois recebo um e-mail. Enviado por um bibliotecário norte-americano residente em Nova Orleães, dizia-se melómano e fã de Victória de Los Angeles, gostaria de ter uma cópia do cd em causa, de que havia tido conhecimento pelo meu post.
Tentei, por todos os meios encontrar um exemplar para lho enviar, mas os meus esforços foram em vão. Acabei por lhe enviar por correio electrónico os temas, com a qualidade que consegui obter.
Passaram algumas semanas e recebo outra mensagem do mesmo senhor. Repetia ele os agradecimentos então feitos. E acrescenta que, de toda a sua colecção musical, o que lhe havia eu enviado fora das poucas que haviam sobrevivido, porque ainda no servidor de mail, ao furacão Katrina.

É importante esta estória? Nada, que não apenas para ele e para mim.

Mas é um daqueles pedaços de que gosto.

By me 

Pois!

“Ah, e tal… Isto está mal… tem que se fazer alguma coisa… assim não pode continuar…”
“Certo! E o que tens feito para mudar?”
“Eu? Nada! Que não valho nada, sou pequeno demais para isso. Mas tem que se fazer alguma coisa!”
“Pois! Então esperas que alguém faça alguma coisa por ti, mesmo que seja coisa pequena.”
“Não! Não é bem assim. Ehhhh… As coisas pequenas posso fazer.”
“Ah! E que tens feito para mudar?”
“Nada. Que isto tem que mudar e sozinho não posso mudar o mundo.”
“E o que tens feito para mudar o teu “pequeno”mundo, aquilo que está ao teu alcance?”
“Ehhhh…”

“Pois!”

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domingo, 20 de abril de 2014

Quase dois meses



Há quase dois meses que ali está, solitário na beira do caminho-de-ferro da estação do meu bairro.

Com um pouco de sorte (e falta de reparo por parte de quem limpa estes espaços) baterá o recorde de um outro que já aqui esteve, quase, quase no mesmo local.

By me

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Vejo meio mundo a deliciar-se com as classificações dos clubes de futebol.
E outro meio mundo a chorar as classificações dos clubes de futebol.
Não vejo é sequer um terço do mundo a revoltar-se e fazer algo sobre o aumento de gente nas filas para uma refeição quente ofertada.
Apetece-me dizer, como alguns outros diziam:

“O futebol é o ópio do povo!”
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Diferente



Foi já há uns anos valentes. Estava em Barcelona e tinha comigo uma mocinha de onze anitos, filha de um casal amigo, que eu desafiara a ir até lá.
Um dos locais que visitámos, entre outros equivalentes, foi o Museu Picasso, onde eu, à guisa de guia, lhe ia explicando o que por lá havia, do pouco que sei.
No final, e em jeito de “revisão da matéria dada” que sempre fazia, perguntei-lhe o que mais havia gostado. A resposta deixou-me espantado, mas rapidamente a entendi:
“Dos quadros que pintava como as pessoas, quando era pequeno”
Faz sentido!
Vivemos num tempo em que a Imagem é rainha, de consumo rápido e pouco aprofundado. E quando ela, quer seja fruto da objectiva quer seja resultado de um pincel, obrigar a reagir especificamente, emotiva ou racionalmente, tentando descortinar o seu significado, desagrada à maioria do público.
Na imagem dita “real” (cinematográfica, videográfica ou fotográfica) isto ainda é mais notório.
Espera-se que seja “uma cópia da realidade” com contornos e assuntos reais e definidos, de fácil e imediata interpretação. E, perante uma imagem pouco definida porque desfocada, tremida, escura ou detalhada no micro ou macro cosmos, a pergunta surge, quase que invariavelmente: “O que é isto?”
Temos uma necessidade imperiosa de identificar, de catalogar, de interpretar tudo aquilo com que nos relacionamos, para só depois reagir com emotividade, gostando ou não. É confrangedor.
Porque, tratando-se de formas de comunicar, mas também de exprimir, necessita o seu autor normal de ter algum tipo de reconhecimento no seu trabalho. E quando a pergunta surge, deixando de parte as emoções e procurando a racionalidade, fica a comunicação comprometida. E, na esmagadora maioria dos casos, sobrevém algum tipo de frustração do autor.
A menos que este rompa com os cânones e decida pouco se importar com o reconhecimento. Deixando de parte a vertente comunicacional da imagem, importando-se primordialmente com o factor de expressão:
Aquela imagem, seja qual for o suporte ou técnica, corresponde ao que pensa ou sente. E pouco importa se os demais a entendem. Ou gostam.
Poucos são os que o fazem.
Formatados nas tecnologias de informação, nos padrões instituídos, na globalização da produção, imagem incluída, procura-se agradar aos seus iguais, usando de técnicas e estéticas padronizadas e testadas.
A experimentação, o deixar que as emoções interiores sobrevenham para além dos códigos, o encontrar satisfação no que se produz para além das opiniões do público, o usar da técnica em prol da alma e não de terceiros… é algo que poucos se atrevem a fazer.
Porque dá trabalho; porque exclui socialmente; porque obriga a pensar e sentir; porque é arriscado.

Numa sociedade em crise, de matéria e de valores, ser diferente é algo reservado apenas a dois tipos de pessoas: os que têm posses ou nome suficiente para serem reconhecidos por eles e não pelo que fazem; ou por aqueles que optam pelo seu próprio caminho, deixando de parte regras e imposições académicas ou industriais.

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E em chegando a casa...



... quedo-me na cozinha, ouvindo apenas o ruído de um computador, do outro lado da porta, e o suave cair de uma ténue chuva tépida lá fora.

E fui desligar a electrónica para que nem ela me estragasse o fim do dia.

By me