domingo, 31 de janeiro de 2010

13 anos - Para H.


Já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro:
madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Já sou mulherzinha;
já trago sombreiro,
já bailo ao Domingo
com as mais no terreiro.

Já não sou Anita,
como era primeiro;
sou a Senhora Ana,
que mora no outeiro.

Nos serões já canto,
nas feiras já feiro,
já não me dá beijos
qualquer passageiro.

Quando levo as patas,
e as deito ao ribeiro,
olho tudo à roda,
de cima do outeiro.

E só se não vejo
ninguém pelo arneiro,
me banho co’as patas
Ao pé do salgueiro.

Miro-me nas águas,
rostinho trigueiro,
que mata de amores
a muito vaqueiro.

Miro-me, olhos pretos
e um riso fagueiro,
que diz a cantiga
que são cativeiro.

Em tudo, madrinha,
já por derradeiro
me vejo mui outra
da que era primeiro.

O meu gibão largo
de arminho e cordeiro,
já o dei à neta
do Brás cabaneiro,

dizendo-lhe: "Toma
gibão domingueiro,
de ilhoses de prata,
de arminho e cordeiro.

"A mim já me aperta,
e a ti te é laceiro;
tu brincas co’as outras
e eu danço em terreiro."

Já sou mulherzinha;
já trago sombreiro,
já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro.

Já não sou Anita,
sou a Ana do outeiro;
madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Não quero o sargento,
que é muito guerreiro,
de barbas mui feras
e olhar sobranceiro.

O mineiro é velho;
não quero o mineiro:
Mais valem treze anos
que todo o dinheiro.

Tão-pouco me agrado
do pobre moleiro,
que vive na azenha
como um prisioneiro.

Marido pretendo
de humor galhofeiro,
que viva por festas,
que brilhe em terreiro;

Que em ele assomando
co’o tamborileiro,
logo se alvorote
o lugar inteiro.

Que todos acorram
por vê-lo primeiro,
e todas perguntem
se ainda é solteiro.

E eu sempre com ele,
romeira e romeiro,
vivendo de bodas,
bailando ao pandeiro.

Ai, vida de gostos!
ai, céu verdadeiro!
ai, Páscoa florida,
que dura ano inteiro!

Da parte, madrinha,
de Deus vos requeiro:
Casai-me hoje mesmo
com Pedro Gaiteiro.


Texto by: António Feliciano Castilho
Imagem: by me

sábado, 30 de janeiro de 2010

Fósforos


I’m still trying to give up smoking! And I do understand that no one wants go keep my very dear lighter. After all, it is a very personal object.
So, here is another way of helping me to stop smoking: buy those matches!
As common as rain, they are a Portuguese product. At least one of them is working. As for the other 39, the odds are good, but I give no guarantee.


Texto e imagem: by me

Segurança


Foi num destes dias que li no jornal Público:

Privacidade não é direito maior que segurança
José Manuel Anes, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, comentava assim o alerta lançado pela comissão de protecção de dados para a crescente intromissão na vida privada das pessoas, sintoma de uma sociedade vigiada, e para a necessidade de estudar o impacto e as consequências das medidas de vigilância.
“Claro que os cidadãos têm o direito à privacidade, mas há outro direito que não dispensam que é o direito à segurança no seu quotidiano e nas viagens de avião”, afirmou. Admitiu, ainda assim, a possibilidade de minimizar os aspectos intrusivos dessas medidas, mas nunca acabar com elas. Para José Manuel Anes, são providências “absolutamente indispensáveis” e que terão de continuar, porque “as ameaças e os riscos estão a aumentar”.

A este respeito recordo uma frase, lida não faz muito, e que me ficou registada ad aeternum:
“A sociedade está podre quando, em nome da segurança, se prescinde da liberdade!”
E, sobre o mesmo tema ainda, um poema de Bertolt Brecht me vem à ideia:
“Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.”

E se acredito e defendo as duas últimas citações, a primeira, mais que preocupado, deixa-me assustado. É que foi em nome da segurança, sob diversos aspectos, que se cometeram no último século, as maiores barbáries, incluindo a limitação ou cessação das liberdades, individuais ou colectivas.
No caso do artigo do Jornal Público, fala-se sobre o uso de scanners no acesso às viagens de avião. E, em nome da segurança colectiva, é justificada a violação, grosseira digo eu, da privacidade ou, pior ainda, da liberdade de cada cidadão exibir ou mostrar do seu corpo apenas aquilo que entender. E o corpo é a última posse do ser Humano, pelo menos após a extinção da escravatura.
Mas vou mais longe: Os conceitos subjacentes a esta afirmação legitimam toda e qualquer actividade preventiva das forças da ordem. Sobre quem quer que seja e seja qual for o argumento.
Por outras palavras, o conceito básico de um estado baseado na lei e na igualdade dos cidadãos cai por terra. Que, naquela afirmação fica implícito que todos são, ou podem ser, considerados culpados até prova em contrário. E, consequentemente investigados para provar da sua inocência.
E, na sequência desta inversão de valores, surgem com toda a naturalidade as polícias políticas, as prisões arbitrárias, os incentivos às delações anónimas. E instala-se o medo, em todos e cada um dos cidadãos, que nunca saberão se ou quando poderão ser a vítima seguinte ou se um qualquer gesto ou palavra sua poderão estar na origem das perseguições e destruição das suas vidas, públicas ou privadas.
É uma das técnicas mais comuns em qualquer ditadura a criação de um inimigo, preferencialmente sem rosto, que crie o medo generalizado nas populações e que leve os cidadãos a baixar a guarda, em nome da tal segurança, no tocante aos seus próprios direitos mais básicos, liberdade incluída.
Não gostaria de, uma vez mais, referir George Orwell. Mas cada vez mais o mundo tri-partido, a polícia do pensamento e a teletela obrigatória de ver e de duplo sentido, deixam de ser ficção. Transformaram-se em antecipação, assustadoramente próximas e reais!
E o Big Brother deixará de ser uma personagem de um livro ou o nome de um mau concurso televisivo.
Toda a minha vida tenho lutado contra isto! E sempre esperei morrer antes de dar esta guerra por perdida. Mas cada vez tenho menos ilusões!

Texto e imagem: by me

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Um olhar - Célia


By me

Compra de sapatos


Eu sei que sou um chato! Se em alguns aspectos sou condescendente até à estupidez, noutros sou exigente até à última pinguinha!
Em geral, a minha indumentária cabe na primeira categoria. Visto o que visto e que tenho mais à mão, sem me preocupar nada se esta peça, com esta cor, joga ou não com aquela outra. Desde que me sinta confortável…
Mas se, na minha indumentária haverá aspecto em que sou exigente é no calçado. Não que o seu aspecto seja importante, mas no seu conforto. Afinal, é em cima deles, dos pés e dos sapatos, que estou, e muitas horas por dia. Calçado desconfortável é algo que recuso, liminarmente. Devo mesmo dizer que tenho aqui um par que, por o comprei como confortável e acabei por constatar o contrário, estão ali sem uso.
Pois está na altura de comprar sapatos. Não é pressa, que quando os sinto bem nos pés até me custa trocá-los, mas antes que tenha que ser uma decisão rápida, vou olhando para as montras. E, se vir um par que aparente o conforto de que gosto, trato de saber o preço e, só depois disso, pondero a eventualidade de os comprar. Experimentando-os muito bem, claro.
Foi o caso de hoje: vi um par que parecia mesmo ter sido feito para os meus pés. E, estando dentro de valores comportáveis, entrei e pedi para os ver e calçar.
Saiu-me na rifa uma menina que, toda simpática e bonitinha de se ver, tratou de ir lá dentro trazer o tamanho que me servia: o 42. Regressa, minutos depois, com um par reluzente na mão, dizendo-me:
“O 42 já não tenho. Mas trago-lhe aqui o 44, pode ser que lhe sirvam.”
Fiquei a olhar para ela, incrédulo. Foi daquelas situações, raras, em que me faltou de imediato a resposta adequada.
Ainda pensei em perguntar-lhe se ela estaria a fazer alguma comparação entre o tamanho que ela gostaria dos meus pés com qualquer outra parte da minha anatomia. Ou ainda sugerir-lhe que ela poderia dar-me uma eficiente e agradável massagem nos pés até que eles crescessem e se adaptassem àquela medida. Mas qualquer uma destas respostas seria, para além de inconveniente, poucos conforme com o meu próprio comportamento e linguajar.
Acabei por ficar com cara de parvo e limitar-se a responder-lhe que, muito obrigado, mas que não costumo usar os dois pés num sapato só. E saí, lamentando de mim para mim que era pena que atrás daquele palmito de cara bonito de ver existissem apenas dois neurónios, e que ambos estivessem de férias hoje.
Vou acabar por continuar a usar por uns tempos estes dois, já velhotes, mas que se me fazem aos pés como se pele se tratasse e em que não penso quando os uso. E que, garantidamente, não deixarei abandonados numa qualquer rua do bairro.


Texto e imagem: by me

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Meia na linha


Acaba por ter piada, esta meia na linha!
Dela tenho, pelo menos, um quarteirão de fotografias. Feitas em diversos dias, a diversas horas. De várias foram as vezes em que, chegando à estação de caminho-de-ferro do meio bairro, a vi caída na linha e a fotografei.
Poucas, se alguma, foram as que me convenceram. Ou era a luz, ou era a posição relativa dela com o brilho do carril. De todas elas fechei a câmara sem estar satisfeito. Esta foi a última. Que também não me satisfez, nem satisfaz.
Mas foi também a última que pude dela fazer. Que passados que foram mais de quinze dias em que aguçou a minha curiosidade de fotógrafo, hoje já lá não estava. A brigada de limpeza de via tinha já passado e levou-a.
Fica-me a dúvida, para além das eventuais estórias que esta meia possa contar sobre os pés e os caminhos que conheceu, onde terá ficado arrumada em definitivo, ela que ali jazeu chamando por mim.
Meia será, mas certamente que foi uma meia que conheceu e justificou o fim!

Texto e imagem: by me

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Coração na linha


Será este o coração do caminho de ferro ou alguém ficou de coração partido?
Pergunto-me quando me deixarei de surpreender com o que vejo entre chulipas.

Texto e imagem: by me

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Heroi!


Sou um herói!
Consegui deixar de fumar um montão de vezes hoje!


Texto e imagem: by me

domingo, 24 de janeiro de 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

Perspectives and points of view


There is this friend of mine. We start together working as TV cameramen, long time ago, and had the same passion for photography. And we shared also some photography jobs, as publicity, stage and newspaper.
But, mainly, we shared the willing for learning and lots of challenges and exercises.
One of them, and I still use it with my students, is “Time and Space”, if I can call it so. We choose a place – a square, a street, a park – we took the same amount of film and we decide for a certain period of time. Let us say two rolls and two hours. And we had to use it all, time and film. Latter, we compared our work, thinking of technical, aesthetical and semiotic issues.
The funny thing is that we end up sharing the same subjective points of view with different objective perspectives! Most of the time I used my Tamron 90mm and he his 24mm Cannon.
And, while he worked with his wide angle, showing strong foregrounds against distant background, me, with my narrow angle, showed the same thing isolating it from the background. While he integrated the subject into the surroundings, I separated it.
But, if the subjects were the same, if the stories told with our pictures were the same or almost the same, what was the main difference between us, besides the obvious visual? The way the viewer integrated himself with what he was seeing. My friend put them directly into the action, I lead them to a more passive and distant view. In his photos the subject reacts to the photographer, in mine they may not even notice me.
With those differences, witch were the best and the worst photos? I can’t say, I guess we were even, depending on the subjects and our moods.
And is also funny to find out that, after all those years, we still have the same general approach, either in photography, as TV cameramen and in life.
We have talked, through the years, about this. And we came up with a justification: the angle of our favourite lens is a reflection of our personality. Facing the same problem, professional, aesthetic, political or philosophic, and aiming the same kind of solution, we take different paths. And, being none of them perfect, they aren’t wrong also. They are just different perspectives to the same objective.

Now, after telling you this personal story, I challenge you!
I challenge you to compare your favourite lens to your approach to life. Or, the other way around, how your personality leads your photographic work.
And, please, you don’t have to come here and tell us your conclusions. I suppose you getting to any will be more than enough.


Texto e imagem: by me

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Depois da chuva


Demasiadas vezes me pergunto porque terá uma fotografia que obedecer a regras – técnicas, estéticas, comunicacionais, semióticas.
Será que não basta que o fotógrafo que a fez se sinta satisfeito com ela? Independentemente da opinião que outros, especialistas ou não, possam ter?


Texto e imagem: by me

Zippo steel


Colector piece!
Full steel lighter with Cobi insignia, from Olympics ’92, playing Hockey.
Personal souvenir.
Why is it for sell? I’m trying to give up smoking.
Gas and glove not included.

Texto e imagem: by me

Zippo Brass


I’m still trying to give up smoking!
Classic model, brass and steel, long life companion, with some bruises but working like a Swiss clock.
Gas and glove not included.

Texto e imagem: by me

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Zippo


I’m trying to give up smoking! So I’m selling my lighter.
Old and faithful box, brand new machine.
Gas and glove not included!


Texto e imagem: by me

Um beco - Lisboa

By me

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Um olhar


By me

Não adianta!


Não adianta mesmo!
As notícias de abertura dos telejornais, bem como as primeiras páginas da imprensa, passa agora pela condenação de um assassino, pela condecoração de um ex-primeiro-ministro (que só o foi até ser demitido e que só tomou posse porque o antecessor se demitiu), e pela não recondução do director do Museu de Arte Antiga, em Lisboa.
Para segundo plano passou já a tragédia do Haiti e, não fora haver que justificar a presença no local de enviados especiais (e respectivos custos), creio até que nem teria tanto tempo ou espaço.
A chave para o sucesso dos media passa pela novidade, pelo diferente, por criar surpresa no público. A importância da actividade informativa subjuga-se à importância da actualidade política, dos interesses a ela associados e ao sensacionalismo demagógico.
É inútil esperar que os media pugnem pelas verdadeiras necessidades da humanidade, doméstica ou transcontinental.
E, a menos que o jornalista seja, ele mesmo, a notícia, não adianta falar, protestar, denunciar, boicotar!
É que não adianta mesmo!

Texto e imagem: by me

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Fotografia obrigatória


Poderá ser um vício como qualquer outro. Cocaína, Nicotina, Cafeína, etc.
Para além do café e do tabaco, tenho um outro vício, bem confessável este:
Dia em que não faça uma fotografia que seja, é um dia triste e desaproveitado. Quando me deito à noite, vou sempre com a sensação de que algo me falta, que algo ficou por fazer.
Mas basta que haja uma só oportunidade para “fazer um boneco”, mesmo que não seja uma obra-prima nem a tal tenha aspirações, para que o dia me pareça risonho, que o que mais dele tenha que viver parecer mais leve proveitoso. E à noite, antes de adormecer, fico sempre com um sorrisinho ao canto da boca, como petiz comendo um doce roubado.
O dia estava farrusco, com o céu coberto de nuvens, nem bonitas nem feias, apenas nuvens.
O saco, com a câmara fotografia e afins, bem como o portátil, viajaram como todos os dias no meu “lombo”. Dias há em que pesa toneladas, outros em que, havendo feito um “boneco”, nem parece ali estar.
Entre a cantina e a escada que me levaria à cave onde fica o estúdio de TV em que trabalho, o Sol rompeu e deu um ar da sua graça sobre estas flores.
Foi o tempo de pousar a mochila num sítio que não estivesse molhado, sacar da câmara e fazer isto. Entre os olhares meio estranhos de alguns colegas e os comentários de “Pronto, lá está ele outra vez!” de outros. E o céu fechou de novo, regressando à sua condição de céu invernoso.
Não será uma “grande fotografia”. Mas está suficientemente satisfatória para ter alimentado com sucesso o meu vício de fotografar.
E, como li durante muito tempo numa página web, “A Picture a day keeps the doctor away.


Texto e imagem: by me

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Uma questão de sorte


Não sou aquilo a que se pode chamar “um tipo com sorte”, no que a dinheiro respeita. Não ganho dinheiro ao jogo, nunca recebi uma herança, nunca me deram um aumento inesperado e só uma vez antes desta encontrei dinheiro no chão da rua.
Da vez anterior tratou-se de um (ou dois, não me recordo ao certo) cêntimos. Ainda que os tenha fotografado “para a posteridade”, lá ficaram, no cais de embarque da estação cá do meu bairro.
Desta feita foi esta moedinha que, além de ser Holandesa, é de um moeda que já nem está em circulação.
De facto, não tenho nenhuma sorte com o dinheiro!
Mas talvez que a minha sorte se manifeste de outras formas, não tão materiais, se o forem mesmo. Como aconteceu ontem:
Fui dar uma volta fotográfica no jardim da Estrela. Confesso que me ficou o vício e que anseio por melhores dias de sol para lá voltar com a minha caixa de madeira. Enquanto tal não sucede, volto lá de quando em vez para ver as novidades, as gentes e, se a coisa se propiciar, voltar com uma ou duas fotografias para me alimentar a alma.
Mas de tal forma vou conhecendo o jardim, que muitos são os que por lá conheço, de vista ou de conversa. E acabo sempre por ter que explicar que ainda não é por estes dias que ali acontecem as fotos do “Oldfashion”.
Pois ontem, e para além de tudo isso, acabei por reconhecer um bando de garotas, algures entre os dez e os quinze anos, que por lá aparecem aos domingos. São mocinhas cujas imagens não posso ou quero divulgar, que se encontram numa instituição de apoio à juventude em risco, algumas mesmo retiradas de suas famílias pelas autoridades. Imagina-se o que será ou terá sido as suas vidas.
De entre elas, uma há que sempre me ficou na memória. Mais velhinha que a maioria, sempre me impressionou o seu ar triste e alheado com que por ali estava, não reagindo, ou muito pouco, às brincadeiras e tropelias que as suas companheiras lhe faziam.
Pois este domingo tive a enorme alegria de a ver na brincadeira e correria com as demais, rindo de igual forma e, aparentemente, com igual gosto.
Não nos falámos, nem ela ou as amigas sabem do que eu sei. Nem sequer isso importa o que quer que seja. Mas saber que, de algum modo, esta mocinha está a encontrar, ou re-encontrar, um equilíbrio e as vivências próprias da sua idade…
Caramba! Se ter sabido disto não é sorte, não sei o que a sorte seja!
Quanto às moedas, bem podem ficar onde quer que estejam esquecidas!


Texto e imagem: by me

60-FQ-27

R. Correia Garção, Lisboa, 2010/01/17

Esta até que poderia ser apenas mais uma das lamentáveis imagens que AQUI vou deixando.
Acontece que este local é mesmo em frente ao edifício da Assembleia da República.
Ou bem que neste espaço, um dos mais vigiados e policialmente controlados do país, há tratamentos VIP, ou bem que os agentes da polícia andam distraídos.

Texto e imagem: by me

domingo, 17 de janeiro de 2010

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Peças raras

É a primeira coisa que deles sabemos: a música.
Os amola tesoiras e navalhas, bem como reparadores de guarda-chuvas virados ou revirados faziam-se, e fazem-se, ouvir com esta flauta de pan em plástico. O seu toque, tão característico quanto qualquer outro pregão arcaico, ecoa nas paredes dos prédios, fazendo chegar a sua mensagem bem dentro das casas. Principalmente aos ouvidos das donas de casa que estejam de janela aberta e possuam uma qualquer faca menos cortante. E que estejam de vontade de descer para fazer a reparação, no lugar de desistir da reparação e optar por ser mais um elemento desta sociedade de consumo acutilante, comprando uma nova e jogando fora a velha.
Estas atitudes impostas por governantes e empresários acabam por fazer extinguir estes ofícios que, para além de serem um elemento de poupança, são também a forma do séc. XX para os bufarinheiros, menestréis e outros que, indo de bairro em bairro ou de povoação em povoação, levavam as novas e velhas notícias, por vezes embelezadas com um toque pessoal de romance ou tragédia.
O toque da flauta de pan já quase não se ouve. No seu lugar ficaram os genéricos dos noticiários, por vezes tão ou mais fantasiosos quanto os reparadores errantes.
E as facas, aqueles instrumentos antiquérrimos da civilização humana, cujo uso é o de fraccionar controladamente o que quer que seja e só ultrapassados em idade pelo martelo ou equivalente, já não se afiam nem mantêm. São arrumados no fundo de uma qualquer gaveta ou caixa e substituídos por novos, com cabos mais modernos e atraentes, e cuja lâmina faz exactamente o mesmo que a sua predecessora.
Perde-se o prazer do manuseio de um objecto familiar e confortável na mão; perde-se a satisfação dos momentos de conversa enquanto o gume é recuperado ou a vareta endireitada ou substituída; perde-se um ofício que, em ultima análise, é ecológico.
Ganha-se o uso dos supermercados e centros comerciais, onde ninguém fala com ninguém; ganham-se objectos que sabemos durar pouco porque não os recuperaremos; aumentam os contratos a prazo e uma modernidade instável e fútil.





Texto e imagens: by me


terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Café sem manteiga


Já foi hábito meu, que ultimamente pouco tenho praticado: num balcão pedir um café sem manteiga.
Os motivos para tal são vários, que passam pelas brincadeiras e quebra de rotina para quem está do outro lado e terminam na rapidez com que sou atendido.
Por via desta expressão, aparentemente e absurda, tenho já vivido situações caricatas em que umas vezes sou eu a vítima, outras o empregado, outras ainda clientes ao meu lado.
Desta feita foi diferente:
Entro num café de estação onde sou cliente, digamos, uma vez em cada quinze dias. Mas acabo sempre por meter conversa o que, aliado ao meu visual, me transforma em tudo menos num cliente ocasional e anónimo.
Pois como a loja estava vazia, uma das mocinhas que ali está viu-me aproximar e tratou de fazer o expresso do costume. E quando encostei no balcão perguntou-me, sorrindo:
“Um café cheio, verdade?”
Não me fiquei e retorqui:
“Isso! E sem manteiga, por favor!”
“Sem manteiga?!”, espantou-se ela, como eu esperava.
“Claro! Já provou café com manteiga? Eu já e não gosto. Por isso peço sem manteiga.” Tudo isto dito com um ar perfeitamente impassível, ainda que rematado com um sorriso de orelha a orelha.
Foi a vez dela me deixar de boca aberta:
“Pois olhe que até já bebi café com manteiga e até gostava.” O seu sotaque brasileiro acentuou-se “ Quando era pequena o meu avô bebia disso de manhã e, só um pouquinho, deixava-nos provar.”
“Pois aposto que viviam no campo, o seu avô tinha animais de grande porte na quinta e as manhãs eram bem frescas, de Inverno!”
“Pôxa! Como sabe isso? O Paraná é parecido com Portugal e tínhamos cavalos na roça.”
“É que era isso que o meu avô fazia. Com um capote vestido por cima da roupa de dormir, à luz de uma candeia de petróleo, ia acordar e dar de comer às vacas antes do amanhecer. Mas antes de enfrentar o orvalho nocturno, bebia uma malga de café com uma colher de manteiga, para aquecer o corpo e a alma. Só depois de os animais terem forragem fresca na manjedoira é que regressava a casa, lavava-se e vestia-se comia o pequeno-almoço, na altura chamado de primeiro-almoço.
“É! Outros tempos e boas memórias!” E continuava a atender outros clientes que, entretanto, tinham chegado e queriam levar qualquer coisa no estômago na viagem que os levaria de volta a casa.
Quando me afastei do balcão, despesa paga, olhei em redor. Os que ficavam tinham cara de quem tinha passado todo o santo dia a trabalhar. Mas consegui vislumbrar em alguns, atrás do cansaço, um brilhozinho de nostalgia alegre.


Texto e imagem: by me

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Just a lens


What do you think it would happen to me if I arrive to some border or, even better, to some airport like this?
I guess I wouldn’t be here to tell you the story!
Never the less, I’m not a terrorist or a sniper. I’m just the guy that, after some years, got the chance of doing the electrical connection between his camera and his Novoflex 600mm f/8.
It has a trigger on my left hand and a focus trigger on my right hand. And it has to be hand held like this, or there is no balance possible.
Now, try to test this “toy” on a cloudy winter day, when there are no birds, or bees or even flowers available. I will put it back on its bag and wait for better days or light.
There is just one thing missing: the shoulder support, kept in some lost box around here. I hope I will find it some day.


Texto e imagem: by me

domingo, 10 de janeiro de 2010

E dão frutos


Quando os vi fiquei tão intrigado quanto qualquer outro. Que diabo seria aquilo?
Depois, em olhando com mais atenção, vi que mais havia. E de outros géneros: garrafas de plástico pintadas por dentro, luvas cirúrgicas cheias de algodão colorido, flores de papel de várias formas, tamanhos e cores, tiras de sacos de supermercado, umas brancas outras coloridas…
As árvores desta pequena rua pedonal, de seu nome Vilhena Barbosa, ali para os lados da praça de Londres, estavam repletas destes enfeites.
Eventualmente poder-se-ia pensar que estas árvores citadinas, fartas da poluição, estavam a produzir frutos de lixo, não deixando, apesar disso, de mostrar a suas cores.
Mas, em chegando ao topo constatei que se de um lado estava enquadrado por um liceu, do outro tinha uma escola do primeiro ciclo. E que tinha sido a pequenada desta que tinha saído para enfeitar a sua rua.
Um aplauso para eles e elas bem como para quem as apoiou nesta tarefa! A reciclagem não tem que acontecer apenas no vidrão e afins. Se bem usados, os detritos podem alegrar-nos a vida.
Mesmo que apenas pelo tempo que levamos a percorrer uma pequena rua!


Texto e imagem: by me

Não apenas sapatos!


Por vezes também meias!


By me

sábado, 9 de janeiro de 2010

Sábado no parque


Pequenas felicidades


E não é óptimo ver uma praça de toiros com o cartaz da programação em branco?
Bom seria ser sempre, mas sempre, assim!


Texto e imagem: by me

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Pensando


Por vezes, só por vezes, é o formato nativo do sensor da câmara que me convence. Não adianta dar mais espaço para os lados ou retirar espaço em cima ou em baixo.
Olhando para o assunto no visor, fico sem saber como enquadrar ou como irei re-enquadrar mais tarde. Uma dúvida que, passe-se a imodéstia, raramente me assalta, ainda que tenha uns casos por resolver.
Este foi um dos casos. Estive bem mais de quinze minutos de volta desta estátua, tentando encontrar a forma de a fotografar de acordo com os formatos assumidamente horizontais de que gosto. Não consegui!
Acabei por ficar com isto, purinho da Silva e sem enfeites que aqui vedes. Talvez um dia encontre a solução, quem sabe se pensando seriamente na questão.


Texto e imagem: by me

O acto de fotografar

By me

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Um olhar


By me

No jardim em verde


Há quem acredite, lamentavelmente, que em dia de chuva invernoso o equipamento fotográfico é para ficar em casa.

Não apenas não pode apanhar chuva como cá fora pouco ou nada há de interessante para fotografar.

Como estão enganados os que assim pensam!


By me

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Barreiras


O que está do outro lado? Tudo aquilo que quiserem imaginar e que, nos tempos que correm, queira ser mantido a salvo:
Uma instalação de gás canalizado, uma escola, uma instalação militar, uma embaixada, um aeroporto.
Estou em crer que enquanto se continuar a inventar e fabricar destas e de outras barreiras, as balas continuarão a venderem-se mais que papo-secos, a competitividade (económica ou outra) continuará a aumentar e os media continuarão a dizer que fulano foi abatido na sequencia de uma qualquer incidente.


Texto e imagem: by me

Atirado fora

By me

No jardim em vermelho


Há quem acredite, lamentavelmente, que em dia de chuva invernoso o equipamento fotográfico é para ficar em casa.

Não apenas não pode apanhar chuva como cá fora pouco ou nada há de interessante para fotografar.

Como estão enganados os que assim pensam!


By me

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

No jardim em branco


Há quem acredite, lamentavelmente, que em dia de chuva invernoso o equipamento fotográfico é para ficar em casa.
Não apenas não pode apanhar chuva como cá fora pouco ou nada há de interessante para fotografar.
Como estão enganados os que assim pensam!


By me

Sapato de mulher perdido


by me

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Na web


A estória é velha e já não sei quem ma contou:
Nos tempos em que nenhuma senhora se atrevia a ir onde quer que fosse sem um chapelinho na cabeça, esta recebeu um convite-surpresa para uma festa nessa mesma noite.
Aflita por não ter nada de novo para exibir, foi numa corrida ao que então existia, uma modista de chapéus, para que lhe fosse feito um, original.
Sentou-a a especialista numa cadeira e, tirando de um armário um rolo de fita de cetim colorido, começou a enrolá-lo na cabeça da cliente. Voltas e mais voltas até que, em acabando, rematou com um alfinete comprido e decorado. E deu o trabalho por concluído.
A dita senhora, encantada com a perícia e imaginação, teceu-lhe rasgados elogios e perguntou-lhe pelo preço. Mas, perante a enorme quantia que ouviu, indignou-se por ser tanto apenas por um rolo de fita e um alfinete de pechibeque.
A costureira não se atrapalhou: tirou o alfinete, refez o rolo de fita de cetim colorido e, prendendo-o com o tal alfinete, entregou-os à cliente, afirmando:
“Minha senhora: a fita e o alfinete são oferta da casa!”

Vem esta estória a propósito de um episódio recente:
Num fórum a que pertenço, veio alguém pedir ajuda sobre um tema premente e que atrapalhava. A terreiro vieram duas pessoas, eu mesmo e outrem, oferecendo ajuda à medida de cada um. De graça, de borla, a troco de nada. Apenas porque a vontade de ajudar existe e porque cada um de nós também sabe o que é estar-se atrapalhado e ter que pedir ajuda. Que a vida é assim e no âmbito profissional também.
O que me incomoda, no meio de tudo isto, é a ingratidão de quem pediu ajuda. Passados que são quinze dias, e sendo que sei que as ajudas disponibilizadas já foram usadas, não veio a terreiro dar um obrigado.
Não é importante nem é este e outros casos semelhantes que me, melhor, nos impedirão de continuar a ajudar quem nos pede e casos possamos ou saibamos como.
Mas é uma boa forma de definir o que se passa na web: a esmagadora maioria dos seus utilizadores parte do princípio que esta serve apenas para seu próprio benefício, sem se preocupar em, para além de consumir os conteúdos disponibilizados, contribuir com algum tipo de conteúdo ou mesmo retribuir o que recebe.
Ficam os actos para quem os pratica!

Texto e imagem: by me

Flor molhada


Para os que dizem que em Janeiro, em dia de chuva, não se pode vir para rua fotografar!

By me

Um olhar - Tonino


By me

Sapato perdido


Algures num bairro suburbano


by me

domingo, 3 de janeiro de 2010

Visita inesperada


Por vezes a mãe-natureza dá-nos uma ajuda.
Só estava à procura de gotas de chuva em flores e folhas quando apareceu.
Não pude recusar!
By me



Um olhar - Zoriana


By me